O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 97
Ruína da Folha - parte 7


Notas iniciais do capítulo

Olá a todos!

Eu tinha uma parte desse capítulo já pronto. Outras partes fora sendo construídas em dias aleatórios em que eu parava para escrever e as duas cenas finais foram escritas hoje mesmo. Desculpem não me demorar muito aqui; vou aproveitar que tô me sentindo no ritmo para continuar escrevendo XD antes que venha outro bloqueio criativo e, combinado com ele, o fim do feriado.

Boa leitura a todos o/



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Vila Oculta da Folha – vinte anos antes do ataque da Kyuubi.

Distrito Hyuuga

 

Éramos nós três, pelo que me lembro, naquele dia e em todos os outros. A brisa ainda era fresca, o sol poente ainda era mais alaranjado lá que em qualquer lugar da vila, a grama verde, mesmo à noite, parecia tão viva que dava vontade de ficar sentado ali para sempre.

“Hyuuga” significa “lugar ensolarado”, mas isso nunca pareceu ter sentido em nosso clã. Dentre todos os nobres clãs da Vila Oculta da Folha, os Hyuuga eram os mais sombrios, mais ortodoxos, os que mais estavam mergulhados no escuro profundo das tradições. Para mim, nunca teve nada de ensolarado em nossa história.

E vocês dois concordavam comigo... Hiashi, Hizashi.

Estávamos na mesma clareira de sempre em nosso pequeno bosque. No dia anterior, Hizashi havia recebido o Selo Amaldiçoado. Ele estava mais quieto que o de costume.

— Ninguém vai dizer nada? — perguntou Hiashi, ligeiramente incomodado.

Lembro-me muito bem da expressão que Hizashi tinha nos olhos quando ouviu aquela pergunta. Vazio. A mesma expressão que tive quando meu próprio pai, o conselheiro-chefe Sema Hyuuga, pôs o selo em mim. Eu era um ano mais novo que meu irmão, Liem Hyuuga. Por isso, não consegui herdar o direito de ser da Família Principal como ele e meu pai. Meu irmão, Liem, viria a falecer dois anos depois por uma doença que nascera com ele. Infelizmente, era tarde demais para mim. O Selo já havia sido posto.

— Dizer o quê? — falou Hizashi, finalmente.

Continuei em silêncio por mais algum tempo. Tempo esse que parecia ser eterno. Até o mundo a nossa volta não parecia andar. E, no fim das contas, isso não importava.

— Eu vou dar um basta nisso! — Foi Hiashi quem quebrou o silêncio. — Nosso clã precisa caminhar em direção ao futuro. Quando eu for líder, romperei com as tradições dos Hyuuga.

Tsc, eu me lembro bem dessas palavras. Infantis e sonhadoras. Você, Hiashi, pouco tempo depois iria começar seus estudos e treinamento para, futuramente ser o líder do clã. Quando éramos jovens, eu acreditei em você. Hizashi também.

Anos mais tarde, o tempo provaria o quão enganado eu estava.

 

País do Fogo — três anos antes do ataque da Kyuubi.

A Terceira Grande Guerra Ninja.

 

Estávamos perto de Oshai, um distrito pequeno com mais árvores do que habitantes. As cidades estavam longe e o céu limpo. Eu não poderia falar o mesmo do chão — sangue e corpos destroçados para onde quer que eu olhasse em um raio de cem metros.

Assim era a guerra; algo nada bonito de se ver.

Nosso destacamento, liderado por Hiashi, Jounin da Folha e recém-empossado líder dos Hyuuga, incluía apenas membros de nosso clã. Erámos em vinte, aproximadamente, e estávamos correndo por quase dois dias, com poucas pausas para descanso e alimentação. Segundo informações da Inteligência, era primordial que ocupássemos Oshai e estabelecêssemos uma posição solidificada ali. Assim, evitaríamos uma invasão inimiga pelo Norte.

A nossa desgraça se deu pelo fato de as informações terem chegado atrasadas. Nossos inimigos já esperavam por nós.

— EMBOSCADA! — Eu não me lembro de quem deu o grito e, sinceramente, isso não faz a menor diferença.

Dois batalhões da Névoa caíram sobre nós, como fantasmas do meio das árvores. Exaustas e pegas de surpresa, não demorou para que nossas forças caíssem. Os poucos de nós lutavam com bravura.

Até Hiashi ordenar a retirada dos membros da família principal.

Eu ainda estava em combate quando ouvi aquela ordem ridícula. Meu amigo de infância, que em um delírio de esperança jurou mudar as tradições de nosso clã — delírio esse que, na época, havia me contagiado —, em seus primeiros atos como líder, havia feito nada de diferente de seus antecessores. Como esperado de um verdadeiro líder Hyuuga.

Claro, Hizashi foi a exceção da regra. Hiashi não só permitiu, como ajudou seu irmão mais novo a escapar enquanto o resto de nós tombava para acobertá-los na fuga. Eu já deveria saber; estávamos condenados desde o nascimento. O selo amaldiçoado era só a prova disso.

Eu lutei, lutei e lutei. Matei tantos quanto pude, mas, no fim, eram muitos para lidar. Eu era, num piscar de olhos, o último Hyuuga em pé contra catorze membros mascarados da Névoa Sangrenta.

Naquele momento fático, olhando para meus irmãos e irmãs mortos, sacrificados, descartados, tudo pareceu clarear para mim. Muitos morrem para que poucos possam viver. É dever da família secundária ser o sustentáculo e o escudo da principal; sem qualquer mérito por isso. Nós vivíamos nas sombras, e ao invés de honra recebíamos uma marca para que nos lembrássemos da nossa inferioridade.

Naquele momento fático, eu desprezei Hiashi e todo o clã Hyuuga.

Aquela foi minha última batalha como membro dos Hyuuga, da Folha; aquele foi o dia em que aquele Kioto Hyuuga tinha desaparecido, dando lugar a uma outra coisa, um outro homem que, mais tarde, seria descoberto por Mira-sama.

 

 

País do Fogo

 

Meu pai, Sema, havia me ensinado a lutar. Como membro da família principal, ele tinha acesso à mansão dela. Em segredo, ele conseguiu roubar e duplicar o Pergaminho Hyuuga, onde estavam os jutsus que eram passados apenas aos líderes, geração após geração. Meu pai queria ensinar meu irmão Liem para que ele, assim, pudesse matar Hiashi e assumir, como legítimo membro da família principal, a liderança de nosso clã. Meu irmão, porém, morreu de doença. Então eu fui secretamente treinado; eu era o plano B.

— Você deve emboscar Hiashi e matá-lo. Se o líder do clã não tiver herdeiros, caberá ao chefe do Conselho assumir a liderança do clã. — Esse era o plano de Sema. Ele me dizia sempre, durante os treinos noturnos.

Eu tinha uma predisposição ao Taijustu e ao combate corpo a corpo. Sabia usar Ninjutsu e Genjutsu, mas tanto minhas notas na Academia, como meu desempenho usando estes outros atributos eram inferiores, principalmente Genjutsu; eu era péssimo em invocá-los, mas sabia me defender. O Byakugan é uma técnica ocular que não só permite enxergar o chakra sendo moldado ao redor, criando as ilusões, como também pode ver através da maioria delas — e até a distância em que o Genjutsu está sendo invocado. Eu não me preocupava em aprender Genjutsu, pois meus olhos poderiam ver através da maioria deles.

Meu sensei, assim como eu, tinha as mesmas predisposições, ou seja, tinha no Taijutsu seu ponto forte. Isso me permitiu aprimorar o Gouken — ou Punho Forte, o estilo de luta da Vila Oculta da Folha. Se por um lado eu aprendia Gouken com meu sensei, por outro, eu aprendia Juuken — o Punho Suave —, com meu pai. O treinamento árduo e solitário me fez ser quem sou: o Hyuuga mais mortal já nascido.

Mas uma coisa faltava: a perda. Isso o tempo trouxe na guerra. Eu perdi quem eu era e, sem olhar para trás, sobrevivi. Nasci sob uma maldição, fui forjado no combate, quebrado pela traição e refeito pelo ódio.

Este era o homem que agora eu havia me tornado. Mais que um Hyuuga talentoso, mais que um sobrevivente de guerra, mais que um homem declarado morto, mais que uma descoberta de Mira-sama, eu era Kioto Hyuuga, terceiro oficial dos Yuurei.

Quando meu pai e os outros conselheiros foram expulsos por Hiashi, após uma dissidência envolvendo Naruto Uzumaki e seu relacionamento com Hinata Hyuuga, eu os encontrei. Naquela noite, por ter me feito de ferramenta, eu matei meu pai e todos os outros. Eu sabia lá no fundo que eu era tão descartável para ele quanto fui para Hiashi, afinal eu era da família secundária. Sema Hyuuga me via como um meio para chegar à liderança do clã e nada mais. Eu nunca tive o amor de meu pai, apenas os punhos. Eu era a sombra de meu irmão mais velho, o “amaldiçoado que nasceu depois, mas que ainda poderia ser útil”, nas palavras dele.

Eu atravessei-lhes as gargantas com os dedos, perfurei-os nos corpos, furei-os nos olhos para que a Folha soubesse que um Hyuuga tinha feito aquilo. Para que você soubesse, Hiashi, que um dia eu voltaria para te matar.

 

 

                                                 * * *

 

 

Distrito Hyuuga, Vila Oculta da Folha.

Hiashi suprimiu o grito de dor que lhe viera à boca. Kioto olhava firme em seus olhos com uma frieza concentrada, seus dedos rígidos atravessavam como uma lâmina o ombro do líder dos Hyuuga.

— E-eu errei com você — dizia Hiashi, segurando no braço de Kioto. — Desculpe.

Com um puxão, Kioto desvencilhou-se do rival, saltando para trás.

A luta pendia para o lado do Yuurei, isso era fato. Apesar de ser considerado o possuidor do melhor Juuken da Vila da Folha, Hiashi era mais lento, mais pesado e tinha o corpo mais envelhecido. Kioto, por outro lado, tinha a experiência no corpo rejuvenescido, era mais rápido e versátil. Além disso, já tinha acertado Hiashi outras vezes, fora essa última. Ambos sabiam como aquilo iria terminar. Hiashi, em seu interior, só queria que acabasse logo.

— Eu esperei anos por este momento — falou Kioto, como se lesse a mente de seu adversário. — Não pense que isso será rápido.

O Yuurei avançou outra vez. Desferindo ataques ferozes. Hiashi, que há muito, havia adotado o combate passivo, segurava o que parecia ser um enxame de abelhas atacando-o. Os golpes vinham de todas as direções, quase ao mesmo tempo. Eram dolorosos o bastante, porém insuficientemente letais. Kioto queria ao máximo prolongar o sofrimento de Hiashi, e estava conseguindo.

— Uau. — Hana deu um sorrisinho. — Eu nunca tinha visto o lado sádico do Kioto-sama. Para ser bem honesta, eu nem sabia que ele tinha um.

Mira continuou indiferente. Seus pensamentos estavam longe dali.

Um golpe no estômago e Hiashi se dobrou, caindo de joelhos. Kioto estava diante dele, com o braço erguido como se fosse uma guilhotina.

— Arranque a cabeça dele, Kioto-sama, arranque a cabeça dele, arran-... — os sussurros de Hana se interromperam quando ela viu algo desagradável. Eram clones de Katsuuyu, a lesma de invocação de Tsunade. Estavam ao redor da barreira colocada por Mira, que prendia Hinata e Hanabi Hyuuga. — Hã, Mira-sama?

Mira se virou, sem nenhum interesse.

— Diga.

— Aquelas lesmas ali — apontou — estão tentando curar as Hyuuga que o Kioto-sama derrotou.

— Eu sei.

O combate seguia. Quando Kioto baixou o braço, viu surgir um tronco de árvore no lugar do corpo de Hiashi. Virou-se rápido e desviou de um golpe simples do líder dos Hyuuga. Depois, com um chute rasteiro, derrubou-o.

— Eu vou colocar essa lesma em Genjutsu. — Hana fez um selo manual. — Isso não só vai deixar que as irmãs Hyuuga continuem ferradas, como também vai acabar com os planos da Quinta Hokage de curar todos os feridos dessa vila.

Hana era uma mestra em Genjutsu e Mira sabia muito bem que ela poderia fazer aquilo sem o mínimo de esforço. Porém os danos que Kioto havia feito a Hinata Hyuuga eram mortais. Ela provavelmente morreria ali. Não que Mira se importasse, mas se ele sentisse o chakra de Hinata ainda, iria direto para ela. Por mais que a vice-líder dos Yuurei respeitasse Kioto, o objetivo pessoal dela estava, naquele momento, acima de tudo. Mira podia senti-lo. Ele vinha.

Por essa razão, Mira baixou a barreira.

— Mira-sama?! — Hana se virou para sua superior para contestar e recebeu um olhar repressor.

— Eu não entendo — continuou Hana. — A senhora poupou a Kurenai Yuuhi e agora poupa as duas Hyuuga. E nossa regra?

Mira se virou para os portões outra vez, olhando para os portões da vila. Hana se calou por um segundo, ponderando o que iria dizer.

— É ele. Não é, Mira-sama? — falou em um tom mais calmo e respeitoso. — O Alvo Primário. A senhora quer que ele venha direto para cá e então deixou iscas. Mas como é possível? Ele está do outro lado do mundo!

A madrugada evanescia devagar, à medida que os primeiros raios de sol ameaçavam surgir no horizonte. Mira os observava silenciosa.

— Taka está no portão, não é? — concluiu Hana. — Ele deveria estar no céu, mas não está. Duvido que aquele imbecil tenha sido derrotado. A senhora o deixou lá de propósito, não é? Para que ele fosse encontrado primeiro.

Mira continuou em silêncio. Hana suspirou.

— Mira-sama... se ele realmente vier, o Líder-sama não deveria ser reportado?

— Iori já está ciente — disse Mira, sem se virar. — Por isso te disse antes que nossa invasão estava próxima do fim.

— Entendo. — Hana olhou para onde Hinata e Hanabi estavam. Pela distância não era possível ver o quão avançados estavam os processos regenerativos das duas, mas claramente havia alguma melhora. Por outro lado, parecia que Kioto iria consolidar sua vingança naquele momento.

Hinata abriu os olhos. Seu corpo estava envolto por uma substância gelatinosa que, só segundos depois, percebeu se tratar de Katsuuyu. Não podia mexer nada além da cabeça.

— H-Hanabi...?

Viu sua irmã ao seu lado, também com uma parte de Katsuuyu envolvendo-a. Mas algo não estava certo com ela. Seu olhar estava vidrado, como se estivesse em transe ou em choque.

Então Hinata olhou para onde Hanabi olhava.

Não houve quebra de expectativa. Não houve tempo para implorar por misericórdia. Não houve grito ou qualquer outro som terminal. Já havia acontecido e, por uma visão mais fria, parecera algo tão simples do destino. Ele simplesmente fora lá e tomara uma vida, como faz cotidianamente. Não foi nada de especial ou significativo; apenas mais um morto dentre tantos desde que o ataque Yuurei havia começado.

Diante de suas duas filhas, Hiashi Hyuuga havia morrido em combate. Assassinado ainda de pé por Kioto. O Yuurei demorou-se mais dois segundos antes de soltar as pontas dos dedos da testa de Hiashi. Enquanto o corpo do líder dos Hyuuga cedia, Kioto posicionou os braços para uma técnica final.

— Sem deixar corpos, assim agem os Yuurei. — Os dedos, rígidos e prontos. —  Adeus, Hiashi.

Foi como uma pequena explosão de ar, terra e grama. Hinata não sabia dizer como exatamente aconteceu ou qual movimento foi usado pelo inimigo. Tudo o que ela viu foi seu pai desaparecer em um turbilhão criado por Kioto. Quando o ruído no ar cessou e a poeira baixou, não havia nada de Hiashi Hyuuga ali. Só Kioto, firme, como se nunca tivesse se movido. A expressão serena de término pairava em seus olhos. Pela primeira vez, desde que o havia enfrentado, Hinata via algo de humano naquele homem — uma espécie de felicidade sinistra.

Kioto Hyuuga havia conseguido, havia matado seu pai.

Apesar da dor que sentia em seu coração pela perda, o grito dado por Hanabi foi como uma espada lhe atravessando. Uma mistura de ódio e desespero. Lágrimas escorrendo como cascata dos olhos pequenos. Hanabi tremia sem conseguir se levantar. Ela não disse qualquer outra coisa. Nenhuma palavra de provocação ou desafiadora ao Yuurei. Nada além daquele grito horrível.

 

 

                                                   * * *

 

 

— Karin! — Ouviram uma voz. — Karin, é você?

Nenhuma surpresa para a ninja sensorial. Olhou para trás e conseguiu disfarçar o contentamento por aquele amigo idiota ainda estar vivo.

— Suigetsu.

O ex-companheiro do time Taka parecia muito bem aos olhos de Karin. Sem qualquer sinal de luta ou cansaço, não deveria ter cruzado com nenhum Yuurei. E conhecendo Suigetsu como Karin conhecia, a probabilidade de ele ter evitado propositalmente qualquer confronto e se escondido era bem alta.

— Onde estava? — perguntou ele.

Karin deu de ombros e apontou para Tenten.

— Ajudando. E você?

Ele fez uma careta, como se estivesse pensando em uma boa resposta para se mostrar útil.

“É, com certeza ele fugiu”, concluiu Karin.

— Estamos indo atrás do Chouji — falou Tenten, com certa urgência da voz. Suigetsu não pareceu reparar. — Seria bom ter você conosco.

— Chouji? O gordão? O que aconteceu com ele?

— Foi...

— ... Tenten e ele deram de cara com um dos inimigos — antecipou Karin. — Eu a ajudei.

Suigetsu suspirou fundo.

— Sei. — E agora ele parecia desconfortável. Sabia que isso resultaria em uma luta indesejada.

Tenten estava prestes a chamá-los outra vez quando Karin pediu para que ela se calasse. Suigetsu não questionou porque sabia que se tratava de mais uma das estranhezas de ninja sensorial de Karin Uzumaki.

Karin se virou para Tenten com urgência:

— Precisamos nos apressar.

Os passos de Suki eram vagarosos e ela gostava assim. Aquele era um momento a ser apreciado, apesar de, até ali, não ter enfrentado grandes desafios entre os ninjas da Folha. Se por um lado a invasão era a oportunidade ideal para acrescentar mais um Kage morto a sua lista, por outro, Suki até que se divertia com os insetos que cruzavam seu caminho, na vã esperança de tentar detê-la.

— Pensei que você tivesse morrido, mas vejam só.

Chouji Akimichi estava gravemente ferido e já inconsciente, porém ainda se apegava à vida por um fim fino de forças. Logo acima dele, a entrada do que ela sabia ser um esconderijo recheado de civis. O Monte Hokage e toda a sua imponência, várias vidas escondidas atrás das paredes de pedra e Chouji.

Suki precisava de um golpe para varrer todos.

Desatou o leque das costas com certa cerimônia, esperando, talvez, que Chouji estivesse consciente naquele momento derradeiro. Não. Mas para ela não importava. Abrindo o leque ao máximo, ergueu-o de uma vez.

— Adeus.

Fez o movimento e, no último instante, virou-se para trás — na direção da vila — e descarregou a onda de vento, varrendo terra, árvores e casas pelo caminho. Não atacou Chouji ou o Monte Hokage porque algo lhe chamara a atenção.

Quando a nuvem de poeira baixou, Suki viu uma espécie de escudo luminoso, “uma barreira”, pensou. Nas extremidades, correntes de chakra davam forma ao jutsu defensivo e, atrás da barreira, Tenten e uma jovem mulher que Suki conhecia: Karin Uzumaki.

— A mestra de armas vive, afinal. — Suki manobrou o leque. — E trouxe outra amiga para morrer.

Tenten estava com seus dois pergaminhos de armas nas mãos, ainda fechados. Havia notado Chouji atrás da inimiga. Seus movimentos deveriam ser precisos, se ela quisesse proteger Chouji e os outros e afastar aquela Yuurei dali. Dedilhou os pergaminhos e apertou-os devagar.

— Você consegue fazer isso? — perguntou à Karin sem se virar para ela.

— Eu não tenho escolha, tenho?

Era isso.

— Pois bem. — Tenten suspirou. — Abra.

Assim que Karin criou uma brecha em sua barreira, Tenten pôs a correr diretamente até Suki, que não pôde deixar de ficar surpresa. Aquilo era suicídio.

— Tudo bem — disse a Yuurei. — Se você quer morrer desse jeito...

Suki disparou várias ondas de ar pressurizado contra Tenten. Os ataques, no entanto, não tiveram qualquer efeito. Pares de correntes de chakra se levantavam do solo, formando pequenas barreiras capazes de bloquear todas as rajadas de ar que se aproximavam demais de Tenten.

— Entendo.

Suki brandiu o leque e disparou outra vez, agora projéteis minúsculos e quase invisíveis aos olhos de ar pressurizado. A ideia era mirar tanto em Tenten, que se aproximava, quanto em sua defensora, que estava longe.

Mas tanto Tenten quanto Karin já se encontravam protegidas por escudos de chakra que se formavam em suas frentes.

— Eu sou uma ninja sensorial, sua idiota! — gritou Karin. — Não me subestime!

Tenten já se encontrava a menos de três metros da Yuurei, quando lançou seus dois pergaminhos para frente, abrindo-os no ar. Fez um selo rápido com as mãos para invocar e gritou:

— Agora!

Dos pergaminhos não saíram armas, mas água. Uma mão gigantesca de água surgiu bem diante de Suki e, da onda que irrompeu, uma forma estranha segurando uma espada enorme. Suki bloqueou a lâmina com a haste metálica de seu leque e encarou seu atacante.

— Pegamos você — falou Suigetsu, com um sorriso de escárnio, e então gritou: — Pode mandar!

Suki não conseguia ver por trás do muro de água a sua frente, mas Tenten não havia conjurado apenas Suigetsu de seu pergaminho. Depois de tê-lo feito sair, e enquanto este confrontava a Yuurei, Tenten invocou sua arma preferida e, erguendo-a no ar, rezou para que o ataque não fosse forte o bastante para também atingir Chouji.

— Bashousen: Hi no Maki! (Bashousen: hélice de fogo)

Usando a arma do Rikudou Sennin, Tenten disparou um turbilhão de chamas vermelhas contra Suki e Suigetsu. Escolheu o elemento fogo em razão de Suki ser uma usuária de Fuuton (elemento vento) e Suigetsu ter seu corpo feito de água. Esperava realmente que a palavra dele, quando combinaram como atacariam, de que ele aguentaria o golpe, fosse mesmo verdade.

A fumaça baixou e Suigetsu apareceu caído ao redor de várias poças d’água. Ele respirava pela boca e, quando olhou para Tenten, fez um sinal de positivo. “Ótimo”, Tenten suspirou aliviada. Depois ergueu os olhos e agradeceu outra vez por seu ataque de fogo ter sido absorvido em parte por Suigetsu. Chouji ainda estava do mesmo jeito, o que significava que o plano tinha ocorrido bem. Agora precisavam tirá-lo dali o mais rápido possível. Olhou ao redor e nem sinal de Suki. Por isso, manteve os dedos pressionando a empunhadura do leque Bashousen.

Karin correu até onde Tenten e Suigetsu estavam com Chouji. Ela puxou a manga de sua camisa e pôs o braço direito na boca do rapaz, pressionando sua mandíbula para que ele a mordesse. Enquanto curava o Akimichi, Karin se virou para Tenten e meneou com a cabeça.

— Ela desapareceu — disse. — Não consigo senti-la em lugar nenhum. É como se ela não estivesse mais na vila.

— Então ela está morta! — falou Suigetsu num tom otimista. — Nós realmente vencemos uma Yuurei!

Tenten continuava pensativa. Algo estava errado. Como Suki poderia ter escapado de um ataque quase praticamente à queima-roupa sem poder vê-lo. Suigetsu estava de frente para ela, então saberia dizer se ela tivesse feito algum movimento evasivo, mas não; o rapaz comemorava a morte suspeita de Suki.

Foi quando Tenten se lembrou da visita dos Yuurei à Folha, quando deixaram para Naruto a cabeça da princesa Shion. Fora exatamente Suki quem estivera lá, junto com seu parceiro Taka Kazekiri. Pelo que Tenten se lembrava, a Yuurei havia surgido do nada naquele dia, bem como havia desaparecido junto com seu parceiro sem deixar qualquer vestígio. A ANBU não foi capaz de localizá-los justamente porque, como disse Karin, era como se eles não estivessem mais na vila.

E se tivesse acontecido a mesma coisa outra vez? E se, como antes, Suki tivesse desaparecido por meio de alguma técnica de teletransporte? Se isso era verdade, então a Yuurei estava muito viva.

Infelizmente, Tenten concluiu tarde demais. Ao mesmo tempo que viu Karin se virar às pressas para trás, ouviu uma voz feminina falar ao seu ouvido:

— Eu vou ficar com o seu leque, mestra de armas.

— NÃO! — gritou Karin, mas já era tarde.

Com horror, Tenten olhou para baixo e sentiu uma pancada, como se tivesse recebido um soco no estômago. Mas era muito pior que isso. Sua barriga ficou quente e sua roupa branca se sujou de vermelho na hora, rasgando-se à medida que a lâmina de vento se projetava para fora de sua carne. Suki a havia apunhalado por trás. Tenten arfou e cedeu.

Cerimoniosamente, Suki se abaixou e pegou seu espólio. Com a mão esquerda, ensaiou movimentos leves com Bashousen e, virando-se para Karin e Suigetsu, disse:

— Onde nós paramos?

 

 

                                                     * * *

 

 

O pássaro gigante cruzou o céu e desapareceu. O ninja que ele carregava saltou e aterrissou na cobertura do Edifício Hokage — Sai. O rapaz estava um bagaço, pelo que Tsunade percebia. Independente do que tivesse acontecido, ele não deveria estar ali.

— Sai?! O que aconteceu? Por que está aqui?

Ele demorou para falar, meneando negativamente com a cabeça. Olhou para os quatro capitães da ANBU que estavam junto da Quinta Hokage e, tomando fôlego, continuou:

— Fomos emboscados antes que pudéssemos nos separar — disse. — A ANBU foi aniquilada; só eu consegui escapar.

Yuugao foi a primeira a se manifestar:

— O que você disse, Sai?

O tenente contou o havia acontecido com mais detalhes: o momento em que foram emboscados, falou sobre o inimigo que enfrentaram, sobre o sacrifício da tenente Risa Tetsui para que Sai conseguisse fugir e relatar.

— Nossa adversária — prosseguia — era muito habilidosa com Fuuinjutsu. Os jutsus dela são parecidos demais... com os da Karin-san.

Os capitães se entreolharam, Shizune arregalou os olhos, Tsunade xingou e amaldiçoou os Yuurei em seus próprios pensamentos.

— Uma Uzumaki — falou Tsunade. — Era só o que faltava.

— Receio que esta seja a mulher a qual Garou-san se referiu como a vice-líder — lembrou Sai.

Tsunade assentiu, lembrando-se do espião Inuzuka que dissera ter encontrado com a dupla líder dos Yuurei semanas atrás. Ele havia rastreado fios de cabelo ruivo de uma mulher que, mais tarde, acabou encontrando na ilha Misuto.

— Isso explica muita coisa — comentou Tsunade, ainda incomodada com a notícia —, inclusive aquela coisa que está atrapalhando o Naruto de usar as Bijuu.

Sai percebeu que a Hokage levantou o olhar e, depois, ergueu-se num súbito. Atrás dela, Shizune pôs-se em posição de combate. Quase imediatamente, os quatro capitães da ANBU Yuugao Uzuki, Ryo Sarutobi, Choujuu Akimichi e Haru Nara cercavam a Quinta Hokage.

E Sai sentiu uma presença estranha. Era fria e pesada. Trazia a sensação de morte consigo. Virou-se, já em posição de combate, e viu o homem de manto negro e capuz os observando. Suas vestes tremezuliam, as sombras eram vivas ao seu redor. O que quer que fosse aquilo, pensou Sai, não deveria ser humano.

— Hokage Tsunade — dizia ele. — Nos encontramos.

A Quinta Hokage estreitou os olhos. Não estava com medo; sentia raiva. Apesar de suas suspeitas, perguntou:

— Quem é você?

— Eu sou Iori Kuroshini — respondeu. — Líder dos Yuurei.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. :) Eu queria mostrar mais uma cena, mas vou juntar com a do capítulo seguinte. Acho que será melhor assim.

Faltam três comentários do capítulo anterior que ainda não respondi. Não esqueci, não; só não consegui parar para respondê-los. Vou tratar disso já já. :)

Até o próximo capítulo o/



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