O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 96
Ruína da Folha - parte 6


Notas iniciais do capítulo

Mais cedo do que vocês previam, né não?

Desculpe não responder ainda aos comentários, pessoal. Minha semana de provas está para começar e eu fiquei meio enrolado nos estudos. Até queria ter postado este capítulo antes (no domingo, como fiz com o outro), mas não deu. Foi mal. Bom, de qualquer forma, estamos aqui.

Uma observação que retoma às primeiras postagens desta história: como todos sabem, eu sou torcedor do Bayern de Munique de coração, além de um odiador de morte do Real Madrid, então, peço consideravelmente que se juntem a mim e a toda Baviera para que, se Deus quiser, nós saiamos do Santiago Bernabéu classificados para a final da Champions League, em Kiev.

Obs.: qualquer um que fizer piadinha com "Hala Madrid" ou coisa do tipo vai ler a morte do personagem preferido da pior forma imaginável.

Bricandeirinha! (vocês estão de sobreaviso :v)

Não, agora é sério. Espero que gostem!. ^^ Prometo que, até a noite, terei respondido a todos os comentários do capítulo passado. É isso. Mia san Mia e nos vemos nas notas finais. o/



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Derrubar o inimigo do céu, você diz? — Taka riu de desdém. — Nunca te ensinaram que quem tem o ponto mais alto está em vantagem?

O Yuurei juntou as mãos, formando o selo do Dragão. Suas asas vermelhas se abriam em envergadura máxima. Taka bradou a plenos pulmões:

— Katon: Souzou Hyou no Jutsu! (Elemento Fogo: Técnica da Saraiva de Gênese)

As asas se bateram, fazendo chover penas inflamadas que explodiam ao mínimo contato com algo sólido. Taka ria da chuva de fogo que havia criado, enquanto os ninjas da Folha buscavam abrigo e fugiam das explosões.

Passada a primeira onda, Taka olhou para baixo e viu nada além de destruição, fumaça e grama queimada. Estreitou os olhos, procurando suas presas.

— Vocês não podem ter morrido com isso. Não seriam tão fracos. Onde estão?

Foi quando viu, à medida que a fumaça baixava, um besouro de quase oito metros de comprimento. Tinha todo o exoesqueleto vermelho e preto e, mais abaixo dele, Taka pôde enxergar algo semelhante a um pedaço de roupa.

— Entendo — disse o Yuurei, já sequenciando outros selos manuais. — Os Aburame têm um animal próprio para técnicas de fogo. Que engenhoso! Mas como lidarão com isso?

A cor das asas mudou outra vez. Agora eram cinzentas-escuras. O Yuurei, mirando na carapaça do besouro, invocou o jutsu:

— Kouton: Tetsuame no Jutsu. (Elemento Metal: Técnica da Chuva de Ferro)

E, outra vez, as penas se precipitaram contra o solo, mas agora eram direcionadas ao animal gigantesco. Como flechas enormes, as penas metálicas se cravavam no esqueleto externo do besouro, mas não causavam dano, para a surpresa de Taka, que assobiou impressionado. Embora, para ele, não fizesse diferença.

O próprio jutsu, com certeza, iria fulminar os ninjas da Folha.

— E agora... Relâmpago.

Juntou as mãos outra vez, mas antes de terminar a sequência, virou-se para trás e viu novamente a serpente de Anko Mitarashi, com a boca monstruosa aberta e a língua sibilando.

Anko estava sobre a cabeça do animal, com as mãos juntas em um selo. Os olhos da Jounin se encontraram vagamente com os do Yuurei, que não tardou de provocá-la:

— Não vi seu animal de invocação lá embaixo — dizia, com o tom de voz maldoso que Anko rapidamente passara a odiar. — Me diz, você faz cobras desaparecerem?

Aquilo foi, para Anko, bem oportuno. Taka estranhou quando a viu sorrindo.

— Sim — disse ela. — E adivinha: eu as trago de volta.

A serpente gigante deu um brado agudo à altura do Yuurei e, neste curto instante, da bocarra do animal, dezenas de pequenas cobras foram sopradas para Taka que, surpreso, fez uma manobra evasiva e perdeu altitude. A cabeça da serpente-mãe mergulhou no ar, caçando o Yuurei para abocanhá-lo. Antes que Taka pudesse ter a chance de ganhar altura outra vez, Anko estendeu a mão esquerda na direção do inimigo:

— Sen’ei Tajashu! (Técnica das Serpentes Múltiplas das Sombras) — Da manga do casaco, Anko conjurou uma legião de cobras finas, porém de corpo longo. O enxame estava a menos de dois metros no ar de envolver o Yuurei, que se virou bruscamente e disparou penas metálicas contra algumas cabeças. Depois, em uma rápida sequência, trocou a cor de suas asas de volta para vermelho e deu um rasante na direção do besouro vermelho.

— Você pode ser resistente a fogo por cima, mas e se eu voar abaixo de você?

Foi quando o animal explodiu em uma nuvem escura. Já não havia besouro gigante nem nada. Apenas insetos, dezenas de milhares voando ao redor do Yuurei. De longe, os cinco Aburame liderados por Shino sequenciavam selos específicos.

A nuvem de insetos, gradativamente, cerrava-se ao redor de Taka. Voavam tão próximos que sua visão estava comprometida; seus zumbidos eram tão agudos e irritantes que a audição já não se tratava de um sentido confiável; e o odor nauseante vindo dos insetos servia perfeitamente para bloquear o olfato do Yuurei.

Os cinco Aburame terminaram suas respectivas sequências de selos manuais e aguardaram. Diante deles, uma esfera rubro-negra de insetos trazia em seu interior o falcão dos Yuurei, Taka Kazekiri.

Shino, afastado de todos os demais, acenou positivamente com a cabeça. Imediatamente, os cinco Aburame bradaram em uma só voz:

— Dai Mugidama no Jutsu! (Técnica da Grande Bomba de Insetos)

— E é assim, Taka Kazekiri — Shino falava para si mesmo — que derrubamos você do céu...

O rapaz olhou para cima, em um curto devaneio.

— Agora morra.

A serpente monstruosa invocada por Anko Mitarashi desferiu um bote certeiro, abocanhando toda a esfera de insetos. O animal ergueu a cabeçorra e, em um movimento programado, enroscou-se como em um abraço apertado. Anko tomou impulso e saltou para trás, para bem longe do réptil. Enquanto aterrissava, a Jounin executava selos de mãos o mais rápido possível. Terminou a sequência no instante exato que seus pés encostaram no solo queimado.

— Ninpou... (Arte Ninja...) — dizia Anko. — Bakujisatsu Hebi no Jutsu (Técnica da serpente explosiva suicida)

No segundo seguinte, todo o corpo da serpente desapareceu em labaredas avermelhadas.

Shino deu um suspiro frio e quase inaudível.

Anko, por sua vez, experimento olhar para as próprias chamas. A escama queimada lhe trazia uma sensação misturada de satisfação e advertência. Talvez porque, no fim das contas, havia acabado de explodir um Yuurei.

Sussurrou para si mesma:

— Queime, seu desgraçado.

Shino escutara. Olhou para ela com uma expressão neutra.

— O inimigo, Anko-san, está bem vivo.

A Jounin virou-se para ele abruptamente. E antes que tivesse a chance de dizer qualquer algo, testemunhou o Yuurei Taka Kazekiri emergir das chamas, como um demônio alado. Estava ileso! Sequer suas roupas haviam chamuscado.

Não houve contra-ataque para os ninjas da Folha. Taka era a morte que vinha do céu. Com as asas estendidas ao máximo, e usando a coloração branca nas penas — sua forma de invocar o chakra de Fuuton —, o Yuurei parecia voar à velocidade do vento.

Precisou de onze segundos para matar todos os liderados de Shino e capturar Anko, segurando-a pelo pescoço metros acima do chão. Os olhos da Jounin estavam tão sôfregos quanto surpresos; tinha sido tudo tão repentino que mal teve tempo para processar o que acontecera. De repente, estava no ar, sendo sufocada.

Para Taka, aquilo era bastante familiar. Lembrava-se bem do duelo contra Hinata Hyuuga no País dos Demônios e de como tudo terminou: Taka tinha Hinata pelo pescoço, a metros do chão. Mas a luta contra Hinata tinha sido mais excitante aos olhos do Yuurei. Hinata fora criativa para se curar dos danos iniciais, bem como rapidamente e, mais importante, sozinha, conseguira entender a técnica das asas de Taka. Ter Anko Mitarashi e alguns Aburame mortos desde que a invasão Yuurei à Folha tinha começado não era nada emocionante.

Mais irritado, Taka espremeu mais o pescoço de Anko.

— Você não é ela, mulher — falou. — A Hyuuga era melhor de se brincar.

Os olhos de Anko perdiam a cor devagar. Mas algo aconteceu um pouco antes da hora em que um indivíduo qualquer, nas circunstâncias em que Anko Mitarashi se encontrava, deveria se render a inconsciência: o corpo da Jounin estremeceu. Estremeceu e dilatou.

Para Taka, não foi mais surpreendente que nojento.

A boca de Anko se abriu como se fosse de borracha, crescendo mais e mais. A pele gelatinosa e gosmenta estava derretendo na mão do Yuurei, que soltou o que quer que fosse aquilo. O “corpo” da Jounin capturada tombou no chão e se esparramou em sangue, água e uma substância viscosa que Taka jamais saberia dizer o nome. No entanto, já vira aquele jutsu. E teve certeza disso quando viu outra Anko Mitarashi, sem qualquer hematoma ou sinal que indicasse um recente aperto no pescoço, sair da boca alargada do primeiro corpo.

Não foi à toa que Shino Aburame sequer se importou em reagir ao ver a companheira em suposto apuro. Taka deveria ter percebido.

— Entendo — falou para si mesmo. — Você sabe o Jutsu de Substituição do Orochimaru.

No solo, Anko ofegou e apoiou as mãos sobre os joelhos.

— Eu não sei você, mas eu não quero prolongar essa luta. — Ergueu o corpo, não tirando os olhos de Taka. — Esse jutsu de substituição é o melhor, mas consome chakra demais.

Taka aterrissou a poucos metros a frente dos dois. Deu um sorriso provocativo, de como alguém que espera o que virá em seguida.

Anko olhou meio aflita para Shino.

— Esse cara é problemático. Eu tenho chakra suficiente para tentar aquele jutsu. Proteja-me e...

Shino ergueu o dedo indicador, sugerindo a Anko que se calasse. A Jounin olhou severa para o jovem, mas por fim acatou.

— Eu disse que ninguém morreria hoje e falhei, Anko-san. Não se sacrifique também.

— Eu sou uma ninja! Estou preparada para...

Shino pigarreou.

— Enquanto lutavam — prosseguiu, assim que Anko se calou outra vez —, não pude deixar de prestar atenção no estilo de luta do inimigo. E saber que este Yuurei, em específico, já enfrentou a Hinata, minha companheira de time, facilita as coisas.

Ditas estas palavras, Shino deu três passos à frente, agora olhando diretamente para Taka, que arqueou a sobrancelha, surpreso.

— Eu serei seu oponente.

— Oh — Taka gargalhou, estendendo os braços. — Decidiu lutar, esquisito?

Shino sempre fora um bom observador. Suas habilidades perceptivas somadas a uma calma aparentemente estática o puseram como um dos ninjas mais promissores de sua turma de Academia. Diferente do companheiro Kiba Inuzuka, Shino sabia como lidar com lutas prolongadas. Era paciente e sabia esperar a oportunidade certa.

Era exatamente por isso que, naquele momento, ele era o oponente ideal para Taka Kazekiri. E, assim como Hinata, precisou de poucos minutos para entender como o jutsu do Yuurei funcionava.

Seu corpo quase não se movia. Debaixo das lentes escuras, os olhos de Shino Aburame fixaram-se no inimigo. Calmamente, o rapaz retirou os óculos e os guardou. Taka estava prestes a perguntar qual a real necessidade de toda aquela cerimônia quando Shino finalmente disse:

— Certa vez, parti em missão com Naruto e outros companheiros para resgatar Karin Uzumaki. Naruto era nosso capitão. Acabaríamos por enfrentar uma organização criminosa chamada Oukami.

Taka deu de ombros.

— Eram nossos subordinados — disse o Yuurei. — Iruzu Ibe, o líder dos Oukami, recebeu ordens nossas para sequestrar aquela garota.

— Este não é o ponto. — Taka não entendeu. — E Iruzu Ibe não foi um Oukami de meu interesse.

Taka sorriu, compreendendo, enfim, aonde Shino Aburame queria chegar.

— Beni Makagawa — Taka pronunciou o nome com um pomposo adoçamento na voz.

Shino assentiu.

— A dama que personifica a morte. A Oukami mais poderosa.

— Poderosa? Fui mandado para matar aquela pirralha e os demais Oukami depois da guerrinha que eles tiveram com vocês.

Shino estreitou os olhos.

— E, aparentemente, não completou a missão, suponho.

O coração de Taka acelerou.

— Como você?...

— Você é arrogante, Taka Kazekiri — disse Shino. — Provocativo e falastrão. Se tivesse obtido êxito em matá-la, o teria dito. Mas você disse apenas que foi enviado para matá-la, como que para disfarçar sua própria falha. Então das duas uma: Beni Makagawa fugiu de você ou... você foi derrotado por ela.

Taka trincou os dentes.

— Eu? Um Yuurei? Derrotado por uma ninguém? Jamais!

Shino sorriu, quase imperceptivelmente.

— Entendo. Ela escapou de você.

— Ela não estava lá! — frisou Taka. — Mas não importa. Está sozinha por aí. Vou matá-la um dia.

— E por que esperar?

Taka estranhou em um primeiro momento. Depois, desconfiado, viu o ninja da Folha executar uma sequência de selos manuais. A cada posição de mão nova, Shino recitava uma palavra específica e, tanto o Yuurei quanto Anko, que assistia a tudo a uma posição recuada, sabiam que aquilo, fosse o que fosse, tratava-se de um Jutsu Proibido.

— Eu perdi para a Beni — falou Shino. — Fui morto e ressuscitado pelo Shinigami no Jutsu dela. Esta foi uma derrota da qual jamais me esquecerei.

Com um arrepio de repugnância, Taka viu algo semelhante a um besouro preto, do tamanho de uma mão adulta, brotar da carne de Shino. O inseto caminhou com passos estalados até se alojar na nuca de seu invocador.

— Kikaichuu é o principal inseto usado pelo clã Aburame. As fêmeas do Kikaichuu põem ovos uma vez por ano, podendo chegar a soma de mil ovos por postura. No entanto, é possível que haja uma segunda postura no mesmo ano. Se isso acontecer, as fêmeas de Kikaichuu são capazes de pôr apenas mais um ovo.

Taka intercalava olhar ora para Shino, ora para o inseto que pendia no pescoço dele. Apesar de tudo, era um ninja da Folha com um modo de se portar arrepiante.

— Chou Kikaichuu: o rei de todos os insetos parasitas. Este inseto não se alimenta do meu chakra, mas do meu sangue, e apenas do meu. Em troca, me abasteço do chakra dele.

Shino fez um último selo, dando início ao seu jutsu. O Chou Kikaichuu imediatamente obedeceu e, cravando as presas laterais na carne da nuca do ninja, pôs-se a se alimentar do sangue que escorria das feridas.

Para Anko, aquilo foi um espetáculo medonho. Conhecia muitos ninjas do clã Aburame, mas nenhum que fosse capaz de usar algo semelhante àquela técnica. Era um jutsu completamente inédito para ela. Já para Taka, tudo o que o Yuurei sentia era uma vaga sensação de familiaridade.

— Entendo — disse ele, por fim. — Foi por isso que você mencionou a Beni. Essa técnica... você desenvolveu baseando-se do Shinigami no Jutsu dela, certo?

Foi como se, de repente, Shino tivesse acessado uma fonte oculta de poder. O Yuurei presenciou as costas do ninja da Folha se encurvarem para frente — como Beni costumava andar —, os dedos alongarem, os olhos se subdividindo até se tornarem milhares de minúsculos omatídeos, similares às facetas visuais das moscas, a pele de Shino Aburame escurecer e arroxear.

— Kinjutsu: Ouchuu no Jutsu (Técnica proibida: Rei Inseto). — A voz de Shino era zumbida; parecia um inseto com capacidade de fala.

Taka bateu palmas, risonho.

— Impressionante. Mas como espera...?

O ninja da Folha desapareceu diante do Yuurei, que prontamente alçou voo para obter uma visão periférica do campo de batalha. Nada. Shino tinha desaparecido como se fosse um espírito.

E ressurgiu. A mão roxa e os dedos alongados apareceram a um palmo do rosto do Yuurei. Taka reagiu rápido, mesmo com o susto, e deixou-se cair alguns metros. Ainda no ar, manobrou e conseguiu as costas de Shino.

— Bom movimento! — Taka conjurou as penas metálicas. — Agora morra!

Como uma guilhotina, a asa esquerda desceu verticalmente e partiu o corpo de Shino ao meio. A carne do ninja da Folha explodiu em milhares de seres pretos voadores.

— Um clone de insetos?! Quando ele?...

Parou de falar quando sentiu algo grande se movimentar acima de sua cabeça. Taka estava certo. Shino caía sobre ele girando no ar. Tinha as mãos estendidas, como se quisesse apenas tocar o inimigo.

Taka gritou e, com as asas avermelhadas, disparou penas flamejantes que trataram de explodir não mais que outro clone de insetos de Shino.

Errar estava irritando o Yuurei.

— Apareça! — Fez um selo de mãos. — Covarde!

A coloração das penas do Yuurei mudou outra vez, agora clareando para amarelo. Taka olhou ao redor, mas Shino pareceu desaparecer por completo. Só que desta vez, não houve qualquer ataque repentino.

Passados mais de dez minutos, a impaciência possuiu Taka Kazekiri. Quando a luta havia começado, era ele quem detinha a vantagem e eram os ninjas da Folha aqueles com a preocupação de se adaptarem ao estilo de luta do Yuurei. Mas, uma vez Shino invocando o Ouchuu no Jutsu, os papéis inverteram-se completamente. Era agora Taka quem se preocupava em se adaptar à luta proposta por Shino Aburame.

Taka estava fazendo movimentos forçados, estava reagindo; e isso era inadmissível.

Não sabia como forçar Shino a aparecer diretamente, então resolver apelar para ataques indiretos. Olhou para baixo e percebeu Anko Mitarashi ainda por ali. Ela o observava, mas, diferente de antes, não parecia estar preocupada apenas com ela, mas com o desenrolar da luta em si. Passara a ser mera espectadora do combate.

— Hora de te trazer de volta ao jogo, mulher das cobras.

E Taka deslizou pelo ar em um rasante agudo. As asas do Yuurei cortavam o ar provocando ruído assobiado. Anko percebeu que Taka estava em seu encalço tarde demais. Cinco metros, quatro metros... voava rápido como uma flecha.

Taka estendeu o braço para pegá-la quando foi surpreendido por um vulto ligeiro que atravessou seu campo de visão. Taka sentiu uma fisgada na articulação da asa esquerda e, dois segundos depois, capotou sobre a grama queimada.

O pior golpe foi a surpresa. Taka ainda não assimilava o que havia acontecido porque mesmo ele não vira muita coisa. Recuperou-se do tombo e olhou ao redor.

Anko estava no mesmo lugar. E Shino interpunha-se diante dela.

Completamente levantado, o Yuurei sacudiu as cinzas do rosto e cuspiu antes de perguntar ao ninja da Folha o que ele havia feito.

— Veja você mesmo — foi a resposta.

Institivamente, Taka virou o rosto para a parte posterior da asa que o havia incomodado. Entendeu no minuto que seus olhos encontraram a mancha roxa sobre a plumagem amarelada.

— Rinkaichuu. — Shino indicou a mancha roxa na asa de Taka. — É uma espécie de besouro venenoso nanométrica que, diferente das demais usadas pelo clã Aburame, não se alimenta de chakra.

Taka sentiu o músculo das costas fisgar e urrou de dor. Apoiou-se sobre um dos joelhos e, depois de pôr a mão das costas, viu sua mão também colorir-se de roxo. Depois de poucos segundos, a mão do Yuurei pareceu estar mergulhada em ácido.

— O Rinkaichuu — continuou Shino, indiferente — se alimenta de carne. Apesar de ser um inseto, ele atua como um vírus: alimenta-se das células da vítima e as destrói em seu processo de multiplicação.

Em meio a um uivo de dor, Taka juntou forças para fazer um selo com a mão direita. Mas aparentemente o que havia planejado fazer não funcionou.

— É inútil. Hinata me contou que, quando o enfrentou, você era capaz de usar veneno como parte da habilidade de suas asas. Usá-lo agora não irá salvá-lo, Taka Kazekiri. Seu veneno é insuficiente, assim como qualquer coisa que você possa invocar das suas asas. Uma vez dentro do corpo da vítima, é impossível erradicar o Rinkaichuu.

Durante o vagaroso processo de assassinato do Yuurei, Shino se permitiu dizer:

— Você já estava condenado no momento que enfrentou Hinata Hyuuga. Sinta-se grato por eu tê-lo encontrado primeiro, Taka Kazekiri. Eu o matarei antes que Naruto possa fazê-lo.

Ouvir aquele nome reuniu todo desgosto que o Yuurei sentia naquele momento. Por segundos que pareceram intermináveis, Taka se permitiu esquecer da dor e focar na figura de Naruto Uzumaki. A lembrança de tê-lo tapeado e selado em uma sala no País dos Demônios para que, assim, pudesse enfrentar Hinata Hyuuga isoladamente lhe veio por acaso. Desde aquele dia, havia declarado uma guerra particular com Naruto Uzumaki. Uma guerra na qual não deveria haver intrusos — nem mesmo Mira Uzumaki, a vice-líder que detinha uma obsessão pelo Jinchuuriki. Este seria o certo: Naruto e ele, apenas ambos em uma rivalidade mortal em que somente um deles poderia sobreviver.

Este era o certo, e ninguém iria atrapalhar.

Mais da metade do rosto de Taka Kazekiri estava completamente tomada pelo Rinkaichuu quando o Yuurei, já prostrado no chão, fez um selo com a mão direita e sussurrou:

— Yami no Fuuin: Kai! (Selo da Escuridão: liberar)

Shino foi lançado para trás com a explosão de chakra. Mesmo longe, Anko sentiu a pressão maligna lhe percorrer a pele. Era rude e assustadora. Taka Kazekiri havia se mostrado um oponente duro, mas aquilo era algo completamente diferente.

Ela deu uma rápida olhada nas costas de Shino Aburame. O inseto gigante Kikaichuu ainda estava lá, alimentando-se do sangue de seu hospedeiro indiferente ao que acontecia ao redor.

“Você não queria que eu me sacrificasse, mas olhe só para você”, pensava Anko, com receio do que via. “Este seu jutsu te dá uma capacidade incrível, mas por um curto período de tempo, não é? Uma hora você terá que desfazê-lo para não morrer com a própria técnica. Shino... quem está se sacrificando, afinal?”

Uma coluna de chakra negro subiu ao céu da madrugada. Shino sentiu um arrepio aterrorizante descer por sua espinha. Pela primeira vez naquela luta, desejou finalizá-la rápido.

“Então este é o poder oculto dos Yuurei? Aquele que faz frente ao Naruto e ao Sasuke?”, pensou.

O turbilhão de chakra escuro se dissipou, e Taka ressurgiu.

Não havia qualquer sinal dos insetos de Shino no corpo do Yuurei. Taka Kazekiri trazia um par de listras negras que saiam de sua testa, cortavam-lhe os olhos e corriam pela face. A pele estava mais pálida, quase branca. As pupilas estavam dilatadas, as íris eram brancas como algodão; as escleróticas, pretas como a noite.

As asas de Taka também apresentaram mudanças notáveis: as penas assumiram a cor preta e pareciam ter ampliado a envergadura; tinham uma aparência mais demoníaca.

— Estou desapontado por ser forçado a isso — disse. — Mas eu preciso sobreviver para matar Naruto Uzumaki. Não será você que ficará no caminho.

Taka, por meio de um selo de mão, ordenou que suas asas se abrissem por completo. A envergadura total era assombrosa: mais de dez metros de ponta a ponta. E, com o bater delas, uma parede de ar pressurizado arremessou Shino Aburame, Anko Mitarashi e tudo no caminho para quase a entrada da Vila da Folha.

Um ataque. Shino precisou de apenas um ataque para saber que as coisas estavam completamente fora de controle agora. Sentia que sua técnica estava prestes a terminar, enquanto a do Yuurei tinha acabado de ser invocada. Teria que dar um fim àquela luta antes de cair totalmente inconsciente pela perda excessiva de sangue. Caso não fosse assim, estariam mortos, Anko e ele.

Olhou para ela. Sangue escorria do alto da cabeça. Ela percebeu o olhar do rapaz e disse:

— Relaxe. A essa altura, é tarde demais para usar meu jutsu suicida. E, devo dizer, acho que estamos mortos.

Shino se levantou.

— Talvez estejamos. Mas ficarei satisfeito se puder levá-lo comigo.

Anko olhou rapidamente para Taka. O Yuurei estava no ar agora.

— É... moleza.

De longe, Taka Kazekiri executou uma sequência curta de selos manuais. Depois, mergulhou. As asas rasgavam o ar ao redor, produzindo um ruído mais agudo que antes, como um grito.

— Aí vem el...

Shino não sabia como, mas Taka agora estava no alto atrás dele e de Anko, dentro da Vila da Folha. Não conseguiu se virar a tempo de reagir e pagou por isso.

A pena de metal negro se cravou no corpo do Chou Kikaichuu, que guinchou de dor e desprendeu-se da nuca de seu hospedeiro. Com a morte do inseto, todo o poder de Shino se esvaiu em um processo ligeiro, mas ainda assim sôfrego. A interrupção indevida da técnica do Ouchuu no Jutsu causou um rebuliço dentro do sistema de chakra de Shino Aburame, fazendo-o arfar e suprimir um gemido doloroso.

Anko, porém, reagiu como pôde. Sem muito chakra restando, ela saltou para um ataque direto ao Yuurei. Depois de sequenciar rapidamente as mãos, inspirou todo o ar que conseguiu e, tão desesperada quanto furiosa, bradou:

— Katon: Ryuuka no Jutsu (Elemento Fogo: Técnica do Dragão de Fogo).

A rajada de fogo vermelho engoliu o Yuurei por inteiro. Anko tomou fôlego e disparou uma segunda vez, com a boca aberta ao máximo.

Ao aterrissar, ela correu para socorrer Shino. Mas antes que pudesse perguntar sobre o estado dele, viu, assombrada, um Yuurei voar para acima do fogo completamente ileso. Depois, estender as asas e liberar algo que semelhante ao Amaterasu de Sasuke Uchiha.

— Fogo preto?!

Shino pensou rápido e ergueu entre eles e o fogo uma parede de insetos. Anko havia reparado que agir daquela maneira tinha sido difícil para ele; Shino estava mais lento e, provavelmente, ainda sofrendo os efeitos colaterais do próprio jutsu.

A defesa de insetos não durou muito. Bastou uma segunda onda para que o muro de insetos ruísse completamente. Desprotegidos e, praticamente, sem chakra para moldar qualquer jutsu, Anko e Shino eram, agora, presas fáceis do Yuurei.

Taka sabia bem disso e aproveitou cada segundo.

— Agora... eu vou quebrar vocês. Exatamente como fiz com a vadia peituda.

 

                                                    * * *

 

 

— Hanabi!

Hinata viu a irmã ser lançada para trás apenas com um golpe da palma nua de Kioto Hyuuga. A garota voou e caiu feio no chão, rolando na grama. Uma visualizada rápida com o Byakugan permitiu a Hinata saber que Hanabi estava bem ferida, mas estava viva. No segundo seguinte, a Herdeira dos Hyuuga estava lutando para se manter de pé.

Kioto era imprevisível. Hinata, desde pequena, havia enfrentado diversos usuários do Punho Gentil, além de ter passado por um treinamento árduo com Hiashi nos últimos dias. Mas o Juuken que Kioto estava apresentando era algo além das expectativas. Não era padronizado, mas ainda assim era harmônico. Como se cada movimento, ainda que evasivo, estivesse perfeitamente ligado com o próximo a ser feito pelo Yuurei.

Os dois trocavam golpes. Kioto metralhava a defesa de Hinata, que, apesar da pressão, não cedia. Era duríssimo para ela se manter tão passiva em um combate, no entanto, era uma lutadora perspicaz e paciente. Diferente de Hanabi e, até mesmo, Naruto.

O problema, porém, era que Kioto não cansava.

O ritmo dos golpes era o mesmo. Ataques velozes, precisos e variados. Hinata há muito já havia abandonado a teoria de combate do Juuken e usava a própria criatividade para interceptar a chuva de palmas desferida por Kioto. Os braços dele eram mais pesados, mas ainda assim mais rápidos que os de Hinata. Hora ou outra um golpe acabava entrando.

E Hinata mordia o lábio com força enquanto lutava. Dizia a seu próprio corpo para se manter de pé. Manter-se em pé ainda por mais tempo.

Kioto girou no alto, chutando à altura da cabeça de Hinata, que bloqueou o ataque com os dois braços. Ainda no mesmo salto, Kioto girou outra vez e chutou com a outra perna no intervalo exato em que os braços de Hinata se abaixaram centímetros por causa do primeiro golpe.

Ela caiu para trás, levantando-se de imediato com um salto para frente. Quando ergueu a cabeça, viu a palma de Kioto a um segundo de atingi-la. Esquivou por reflexo, passando por baixo do braço do Yuurei e, com o próprio braço estendido por cima do de Kioto, uniu os dedos indicador e médio para pressioná-los por cima do bíceps desprotegido de Kioto.

— Peguei você!

Hinata não soube como, mas sentiu seu golpe furtivo atravessar o vazio. Kioto fora mais rápido para remover o braço do alcance de Hinata. Sem tempo para se surpreender, ela viu o mesmo braço avançar contra seu abdômen. Com a mão esquerda, defendeu-se daquele ataque.

— Lenta.

O Yuurei desapareceu como um vulto. Antes que Hinata reagisse, sentiu o chute rasteiro derrubá-la no chão. Olhou para cima e quase não teve tempo de desviar do chute aéreo giratório do Yuurei. A perna de Kioto afundou do solo com violência.

“Gouken (Punho Forte)”? Ele pode usar ambos?”, Hinata concluiu nos poucos segundos que teve para respirar.

Kioto puxou-se para fora do buraco feito com o ataque e, com um salto elegante, parou diante de Hinata.

— Eu sou melhor usuário de Taijutsu entre os Yuurei — falou ele. — O Juuken dos Hyuuga e o Gouken da Vila Oculta da Folha, eu domino ambos.

Mais por determinação que pela capacidade, Hinata ousou ficar de pé, frente a frente com Kioto. Era nítida a diferença entre ambos; ela estava sôfrega, ele sequer havia suado. Ela apresentava vermelhidões na pele clara, ele tinha poeira e barro nas vestes negras.

Olhou ao redor. Corpos e mais corpos de ninjas da família Secundária espalhados pelo chão esverdeado. Irmãos de Hinata, dentre os quais se destacavam Kou, seu fiel guarda-costas e amigo, e Natsu, a guarda-costas de Hanabi e empregada na casa da família Principal. Hinata crescera com ambos e, agora, lá estavam os dois. Mortos sobre a grama, como se não fossem nada.

Hanabi ainda estava caída no chão, mais ao longe. Estava inconsciente, pelo visto. Em seu íntimo, Hinata preferia assim. Encontrava dificuldades diante de Kioto e, por mais que Hanabi julgasse desnecessário, Hinata Hyuuga não poderia deixar de se preocupar com a irmã mais nova.

Com o Byakugan, viu todos os membros não combatentes que estavam abrigados na mansão principal por ordem dela. Percebeu que eles a viam também. Torciam silenciosamente, lamentavam e apoiavam por detrás das paredes do casarão. Era um alívio saber que estavam todos bem.

O distrito Hyuuga era o mesmo, não fosse ele: Kioto. O filho pródigo dos Hyuuga, ressurgido pela vingança. Hinata sentia ódio frio na respiração do Yuurei. E sabia quem era seu alvo: Hiashi Hyuuga, líder do clã. Aquele segredo, o que quer que fosse, incomodava-a. Hinata já havia visto o pai reagir ao nome de Kioto, agora estava vendo a forma de se portar do Yuurei. Ela precisava saber o que tinha acontecido entre eles.

— Eu respeito você, Hinata Hyuuga. — Kioto parecia penetrar-lhe a alma com o olhar. Hinata sentiu um incômodo subir pela espinha. — Você luta com coração, luta por sua família, seu clã e, ainda que diga o contrário, luta pela Folha. E luta por seu amor: Naruto Uzumaki.

Um ligeiro momento de descontrole. Hinata fechou os olhos e, inevitavelmente, viu Naruto em seus pensamentos. Doía lembrar da separação forçada, mas, naquele momento, era algo menos importante.

Suspirou, procurando se acalmar e disse:

— Por favor, deixe o Naruto-kun fora disso. Eu quero saber algo.

O olhar de Kioto não se alterou.

— Minha relação com o seu pai, Hiashi Hyuuga.

Hinata assentiu.

O Yuurei permaneceu em silêncio por alguns instantes. Hinata sabia que ele não estava sequer considerando falar ou não; parecia ser um homem decidido demais para se permitir um momento de dúvida. Ao que tudo indicava, Kioto falaria, mas não naquele momento.

Tinha razão.

— Você é diferente do seu pai. Parece mais com Himori.

— Sim, eu sou mais parecida com minha mãe. — As veias ao redor dos olhos de Hinata pulsaram e se abriam na pele à medida que ela ampliava o alcance do seu Byakugan ao limite. — Mas também tenho algo de meu pai. E de mim mesma. Vai me matar por isso?

O Byakugan de Kioto mirou o de Hinata.

— Seu destino está em minhas mãos, Hinata Hyuuga. Irei apresentá-lo a você.

O instinto de Hinata foi correto ao fazê-la esquivar a cabeça para o lado, pois Kioto, no segundo seguinte, perfurava o ar com o Juuken. Contra-atacando imediatamente, Hinata desferiu um ataque cruzado com o Juuho: Shoushiken (Punho dos Leões Gêmeos), visando acertar a parte lateral esquerda da cabeça do oponente.

O ataque falhou, e Hinata ficou perplexa quando viu por quê.

Kioto tinha o dedo indicador esquerdo pressionando o pulso de Hinata. Quando isso aconteceu, todo o chakra moldado no Juuho: Soushiken se esvaiu como fumaça e o jutsu foi desfeito.

— C-Como? Você não acertou nenhum Tenketsu! — Hinata estava certa.

Kioto olhou-a nos olhos.

— Pressionei a veia de chakra entre os Tenketsu de sua mão e os dos seu antebraço — disse ele. — Não é suficiente para desestabilizar seu sistema de chakra interno, mas é eficaz para neutralizar o fluxo de chakra do oponente na hora. Por isso seu golpe se desfez.

Hinata saltou para trás e checou o pulso. Não havia vermelhidão onde Kioto acertara, tampouco nos Tenketsus ao redor; tudo o que o Yuurei tinha feito fora para interromper o jutsu dela. Nunca tinha visto um Hyuuga fazer aquilo com Juuken. Nem mesmo seu pai ou seu primo Neji.

A técnica de Kioto, Hinata sabia, estava além da de qualquer membro do clã Hyuuga. Não poderia haver vitória ali. Estava ciente disso, entretanto, era ela a última linha de defesa entre Kioto e o resto do clã. Hinata era a Herdeira dos Hyuuga e, mesmo que nas últimas semanas, evitasse pensar isso, era igual a Naruto. Ela jamais iria se render.

Olhando para Kioto, Hinata fez uma sequência rápida de selos manuais e, ao terminar, levou as mãos ao lado do corpo, concentrando a maior quantidade de chakra possível nos punhos. A energia ao redor fluía. Feixes de eletricidade cortavam o ar ao redor as mãos de Hinata Hyuuga. Kioto estreitou o olhar.

— Raiton: Juuho Soushiken! (Elemento Relâmpago: Punho dos Leões Gêmeos)

Com um salto, ela encurtou a distância que mantinha de Kioto. Os Leões de chakra e raios pareciam vivos e rugiam em um som tão bestial quanto tempestuoso. A densidade de chakra usada por Hinata naquele golpe era a maior deste o começo da luta. Tão grande, que, à medida que avançava, o chão era escavado pela força dos relâmpagos.

— Entendo. — Kioto assumiu posição. — Você aplicou sua natureza de chakra à sua técnica de Juuken para, assim, aprimorá-la. Como Naruto Uzumaki fez com o Rasengan.

Hinata afastou os braços para trás, projetando o golpe.

— Impressionante, mas...

O Yuurei girou rápido e estendeu as duas mãos para a barriga de Hinata. Sem olhar para ela, sussurrou:

— Hakke: Shitne Kuushou (Oito Trigramas: Super Palma de Ar).

Foi como se Hinata sentisse todo o peso de um turbilhão sobre ela. Uma rajada conjunta de ar pressurizado por chakra arremessou Hinata para longe e varreu tudo no caminho. O chão se abriu com o sopro do golpe, que também foi capaz de lançar árvores fortemente enraizadas para trás como se essas fossem de papel. A área residencial da família Secundária ruiu de uma vez. Diante de Kioto Hyuuga, havia uma trilha de destruição.

Hinata jazia inconsciente e gravemente ferida. Fora lançada com violência pela onda de ar e a queda tinha sido feia. Apresentava cortes por todo o corpo, costelas quebradas e sangramento interno. Sobrevivera, no entanto.

Kioto se aproximou devagar da garota. No rosto dele, não havia qualquer sinal de emoção.

— Você usou seu jutsu para absorver a maior parte do impacto. — Olhava para o rosto desmaiado dela. — São raros os ninjas que conseguem pensar rápido contra um inimigo superior. Você, Hinata Hyuuga, é uma Kunoichi excepcional.

— HINATA! — Kioto se virou rápido e evitou o ataque de Hanabi pelas costas. A caçula havia despertado com o estrondo do último golpe de Kioto. Recobrava a consciência devagar até que ver a irmã estendida no chão lhe deu um surto de adrenalina, temor e ódio. Hanabi arfava mais de raiva que de dor.

— Não ouse tocar da minha irmã, desgraçado! — vociferou. — Eu juro... eu mato você!

Kioto nada disse. Encarou Hanabi com um silêncio hostil.

Hanabi olhou mais uma vez para Hinata. Ver seu coração ainda batendo era um alívio para ela, contudo, o Byakugan de Hanabi também revelava o estrago causado por Kioto. E Hanabi Hyuuga não conseguia parar de tremer de tanto ódio que fervia dentro de si.

Por outro lado, Kioto via em sua nova adversária o espírito de Hiashi. Diferente de Hinata, que se assemelhava a Himori Hyuuga, Hanabi era quase uma cópia do pai. E isso já era razão suficiente para Kioto querer a morte dela.

Antes que Hanabi atacasse, o Yuurei surgiu ao lado da garota. Hanabi gelou pela surpresa. Kioto atacou imediatamente.

— Juuken: Ichigekishin (Punho Gentil: Golpe de Corpo Inteiro).

O Yuurei envolveu Hanabi em um abraço mortal. Hanabi sentiu cada músculo de seu corpo queimar, como se estivesse sendo perfurada por mil facas ao mesmo tempo. Foram três segundos infindáveis para a pequena Hyuuga.

Por fim, Hanabi desabou aos pés do Yuurei.

— Entendo — disse ele. Vocês duas são mais fortes do que eu imaginava.

Hanabi ainda estava consciente. Seu corpo tremia com a tensão recebida. Prostrada, Hanabi vomitou sangue e chorou de dor. Não conseguia falar devido aos danos.

Do outro lado, atrás de si, Kioto enxergou com o Byakugan uma Hinata desperta. A situação dela era deplorável: se arrastava sobre o chão e sangrava pela boca, cabeça e corpo. Seus olhos, lacrimejados, iam ao encontro da irmã menor.

Kioto suspirou e cerrou os punhos. A fera interior despertara dentro dele, há muito ansiando por aquele momento. Não era Hinata nem Hanabi, mas a terceira figura que surgira dentre o bosque do distrito Hyuuga e agora estava ali, ereta, encarando-o por trás. Olhou para Hinata, para Hanabi e, por fim, para as costas do Yuurei.

— Eu sabia que voltaria — disse Kioto. — Mas você não entrou aqui pelo portão principal da Folha. Eu vejo um dos nossos lá. Diga-me: como chegou aqui, Hiashi?

Hinata achou ter delirado. Mas era verdade. Ao lado dela, de pé, estava seu pai, Hiashi Hyuuga, o líder do clã. A expressão em seu rosto era severa, mais do que de costume. E havia mais, algo semelhante a arrependimento e nostalgia.

— No templo dos Hyuuga — dizia Hiashi — há um túnel subterrâneo que dá para o muro externo da vila. É uma passagem selada para não ser vista pelo Byakugan. Um segredo passado entre os líderes do clã, de geração a geração. No entanto, você e eu sabíamos desde crianças de lá. Admira-me você não se lembrar que costumávamos brincar ali quando jovens.

Kioto suspirou, virando-se para encarar seu algoz.

— Meu passado morreu junto com o Eu que lutou durante a Terceira Guerra Ninja. Eu revivi como um fantasma que jurou matar você. E agora, irei realizar meu propósito.

Hiashi ativou o Byakugan. As veias se abriam nas laterais dos olhos até o máximo. E com um ar de desconfiança, viu outras duas figuras recém-chegadas sobre o teto da mansão principal. Pelas roupas pretas, estavam com Kioto.

— Kioto... — Mira Uzumaki fez um selo manual. — Você deveria ter matado os insetos menores antes de esmagar o maior.

O Yuurei olhou para as irmãs Hyuuga indiferente.

— Mira-sama, por favor, sem intervenções.

A vice-líder dos Yuurei assentiu de longe. Ela, mais do que qualquer um, respeitava a solenidade do momento de Kioto.

Com um selo na mão direita, executou um jutsu. Correntes de chakra ergueram-se ao redor de Hinata e Hanabi Hyuuga, formando casulos de chakra azulado. Eram barreiras postas pela Yuurei para que não houvesse qualquer interferência, por mais improvável que fosse.

Aprisionadas e seriamente feridas, Hanabi e Hinata assistiriam ao pai enfrentar aquele que já era o mais habilidoso Hyuuga visto por elas. Não poderiam fazer nada senão rezar.

Hana Sakegari sorriu discreta ao lado de Mira.

— O Kioto-sama está com o ar diferente — falou. — Esta batalha não durará muito.

No solo, Hiashi assumiu postura de combate.

— Você assassinou Sema Hyuuga e os demais conselheiros que eu expulsei do clã. Seu ódio é contra mim, velho amigo. Por que os demais?

Kioto olhou para Hinata de relance. O momento de responder à pergunta que lhe fora feita havia chegado.

— Assassinei Sema Hyuuga, meu pai, junto com seus colegas de Conselho para transmitir uma mensagem a você. Eu não sou mais o mesmo desde aquele dia. Você, Hiashi, teve mais participação no nascimento do Yuurei que eu sou hoje do que qualquer um.

E mais intensamente, Hinata viu o semblante do pai instabilizar em arrependimento.

— Na guerra... não devia tê-lo deixado para morrer. Achei ser o certo. Eu sinto muito.

Hinata estremeceu. Lá estava a resposta. Seu pai havia largado Kioto, o melhor amigo, à própria sorte durante da Terceira Grande Guerra Ninja. E, de algum modo, Kioto sobrevivera e se juntara aos Yuurei.

Sem olhar para trás, Kioto enxergou a dúvida nos olhos das irmãs Hyuuga. Hinata sentia um incômodo quase compartilhado com Kioto; Hanabi, por sua vez, via a imagem do pai ser desconstruída em sua mente. Apesar de já ter catorze anos, ainda via algo de heroico na figura paterna. Uma nobreza que mesmo os mais árduos treinamentos impostos a ela e a Hinata não tinham sido capazes de tirar. Agora, aquilo morria dentro de Hanabi.

— Você é uma doença, Hiashi Hyuuga — disse Kioto. — Sua mão se estende sobre os outros para ferir. Fez isso a mim, impôs isso a suas filhas e aos membros da Secundária. Diga-me que estou enganado.

Hiashi não parecia mais o homem inflexível que Hinata conhecera. No entanto, seu pai não ousou responder.

— Você sabe o monstro que você é — falou o Yuurei. — Mas não se preocupe, irei dar um fim aos tormentos de sua consciência hoje. E suas filhas o verão morrer.

Sem qualquer aviso, Kioto atacou.


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Notas finais do capítulo

Aos fãs do ship perdido "Shibeni" (sério, isso ainda existe? After all this time?), um presente de coração do autor mais lindo que vocês respeitam. XD Não consegui colocar algo mais concreto porque, bem... não vejo como isso seria possível. De qualquer forma, achei lógico o Shino, que foi o primeiro a "encarar" a Beni, criar um jutsu baseado nela. E caiu como uma luva! Torune Aburame, na história original, tinha a habilidade de usar os insetos Rinkaichuu para infectar as vítimas com o toque.

Não, não criei a Beni na época porque lembrei do Torune (que deixou de ser importante quando Tobi o matou). Na verdade, a inspiração para criar a Beni veio de, pasmem!, o filme da Electra (é, aquele antigão e, provavelmente, o único que ela tem).

Estou divagando, permitam-me voltar ao que eu estava dizendo... ah, sim!, espero que os fãs de Shibeni tenho gostado. Lamento se não for possível criar mesmo o casal.

Se bem que o Chouji, no fim da história, ficou com a Karui (???), então, quem sabe? Tenham esperança.

A invasão dos Yuurei está chegando ao fim. Preciso apresentar alguns pontos que ficaram pendentes e concluir. Depois, a história tomará outro rumo.

Ah, fiquei na dúvida de qual Natureza de Chakra usar no jutsu da Hinata. Pra quem não sabe, de acordo com os Databooks, ela é apta para Katon e Raiton. Talvez eu explore isso mais tarde também. De qualquer forma, ver um Hyuuga usar um jutsu diferente do Juuken é, na minha opinião, interessante. E vocês? Digam que acharam. Sintam-se à vontade até para me xingar (mentira, não façam isso) ou me ameaçar por... sei lá, que eu fiz?

Mas, por favor, nada de "Hala Madrid!".

É isso, gente. Obrigado pela companhia. :)

Até o próximo capítulo o/



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