O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 91
Ruína da Folha - parte 1


Notas iniciais do capítulo

Então... olá.

Sim, eu sei que sumi (pra caramba, já ia fazer um ano que eu não atualizo a história; o maior hiatus já vivido pela O Herói do Mundo Ninja, não é?), é verdade. Bom, aconteceu uma séria de coisas comigo durante este período. Algumas relativamente banais, outras mais graves, as quais eu não me sinto à vontade para falar aqui. E uma dessas coisas (essa eu tenho que contar; vocês merecem saber) foi o meu notebook ter pifado de vez. E demorou um tempão para eu conseguir comprar um novo e, mesmo assim, configurá-lo direitinho antes de copiar todos os dados do HD do antigo para o deste.

Enfim, gente. Demorou pra caramba, mas eu voltei. Eu já disse, não? Vou terminar esta história. Podem ter certeza disso.

O capítulo estava parcialmente pronto. Eu tive que reler algumas coisas para poder me situar antes de voltar a escrever. Foi interessante ler a minha história do ponto de vista do leitor. XD

Bom, chega de papo furado. E se alguém ainda lembra desta história e do que está acontecendo, espero ter atendido às expectativas.

Boa leitura para todos. Nos vemos das notas finais o/



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Era mais que um tique nervoso nos dedos. Naruto estava sem ação, sem saber o que pensar ou como agir. Havia entendido cada palavra de Ryuumaru e, pela expressão de Sasuke — que também não era das mais tranquilas, mesmo para alguém como ele —, sua conclusão estava correta. Realmente os Yuurei tinham atacado a Vila da Folha, aproveitando o momento em que seus dois melhores ninjas estavam fora. Naruto queria uma solução imediata, queria ser Shikamaru e pensar em algum plano mirabolante que desse certo, queria não estar ali naquela ilha afastada de tudo no mundo. Infelizmente, porém, a realidade lhe vinha quase imediatamente e o estapeava.

Olhou para Ryuumaru com ódio. O Yuurei, brandindo aquela espada enorme, mantinha o sorriso e a pose relaxada. Ryuumaru, o caçador de dragões, junto com Dairama Senju eram as distrações que atraíram e, também, mantinham Naruto longe de casa.

Distrações, pensou Naruto. Era isso. A luta contra Ryuumaru não era para ele, nunca foi.

— Sasuke! — Uchiha não precisou se virar para entender o que Naruto pensava. Desembainhou a Katana por completo e encarou o Yuurei, os olhos vermelhos; Sharingan. — Eu vou voltar para a vila. Esse cara aí é todo seu.

Exatamente o que Sasuke esperava Naruto dizer. Deu um sorriso quase imperceptível.

— Está atrasado, seu idiota. Vai logo.

— Isso é sério? — Ryuumaru gargalhou alto. — Vocês não se tocaram onde estão? Estão no lugar mais isolado do planeta! Na ilha mais afastada possível da Folha, no outro lado do mundo! Acha mesmo que pode simplesmente sair andando e crendo que chegará à sua vila no mesmo dia? Hein, Naruto Uzumaki? Responda!

Naruto já estava de costas quando foi chamado por Ryuumaru. Virou-se para encará-lo — como lhe era de costume, não sorria, mas se sentia confiante —, e disse:

— Acho. — Virou-se outra vez. Agora, para a espessa muralha de Mokuton.

Caminhou com os olhos fechados. Concentrava-se. Graças às aulas com a prima, Karin, Naruto havia melhorado consideravelmente as próprias habilidades sensoriais. De costas para Sasuke, Ryuumaru e os demais ali presentes, podia senti-los à retaguarda, a Mizukage, os demais ninjas da Força Tarefa e alguma coisa com uma quantidade maciça de chakra — a mesma sensação ancestral e sufocante que havia pressentido antes da muralha de Mokuton se erguer do nada; o outro Yuurei, o parceiro de Ryuumaru — à esquerda, e seres minúsculos, porém numerosos, à frente. O mar. A saída.

Quando Naruto deu mais um passo em direção à saída, sentiu calor, além de um movimento brusco e ofensivo, em seu encalço. Era Ryuumaru, revestido com algo similar à Raiton no Yoroi (Armadura de Relâmpago) do Quarto Raikage, Kira Ay. Havia rompido uma distância considerável em um piscar de olhos, e atacava Naruto pelas costas com a poderosa espada que empunhava.

Naruto não se virou um instante sequer. Percebeu o ataque-relâmpago do Yuurei.

E sorriu, enfim.

O choque das lâminas foi agudo. A lâmina gigante de Ryuumaru foi completamente bloqueada por outra menor, mas tão resistente quanto: Kusanagi.

— Sua luta é comigo, Yuurei. — Sasuke encarava friamente os olhos de Ryuumaru. — Não ouse atacar o meu amigo.

— Você é rápido, Sasuke Uchiha. — Ryuumaru, apesar do sorriso arrogante que ostentava, elogiou. — Conseguiu me bloquear bem com esse palito que você chama de espada.

Ainda de costas, sem ao menos olhar por sobre os ombros, Naruto perguntou:

— Sasuke, você consegue segurar esse cara?

— Você ainda está vivo, não está, idiota? — retrucou Sasuke. — Agora vá logo.

— Ir logo? — Ryuumaru fez força para baixo, jogando mais peso para o bloqueio de Sasuke, que trincou os dentes. — Essas paredes foram feitas pelo Dairama, seu imbecil! Mokuton, a mais poderosa Kekkei Genkai elemental! Acha mesmo que seu amigo vai sair daqui? Hã?

Naruto tomou para si o desafio. Cerrou o punho direito e o manteve firme. Com os olhos fechados e corpo imóvel por poucos segundos, pensou na vila, nos amigos — até nos civis, que não podiam se defender sozinhos —, em Kakashi, que agora deveria estar comandando a defesa da vila, pensou em Hinata, e quase imediatamente o rosto duro com uma cicatriz em X na bochecha lhe veio à mente. Naruto jamais se esqueceria da gargalhada desdenhosa de Taka Kazekiri.

E tornou a sentir ódio.

Abriu os olhos — agora amarelados — e ergueu o punho para atacar. Avançou com um salto para a compacta muralha de madeira.

Kokuo, eu preciso da sua força!

Naruto percebeu o chakra da Fera de Cinco Caudas fluir dentro de si, e se sentiu bem. Há muito tempo não usava as habilidades Bijuu, e mesmo que ainda estando restrito a meros seis minutos, via-se livre. Sentia-se forte, sentia-se ele mesmo.

Usando a força bruta de Kokuo somada ao Senjutsu, Naruto abriu um buraco de quase sete metros de diâmetro com um soco. Uma ruptura na prisão de Dairama e na hegemonia dos Yuurei sobre as Cinco Nações.

— Impossível... — Ryuumaru, por um instante, cessou a pressão que fazia sobre Sasuke, admirado. — Ele rompeu o jutsu do Dairama?!

Diferente de seu oponente, Sasuke não se espantou nem um pouco, muito menos perdeu a concentração no combate. Aproveitou o deslize do Yuurei para atacá-lo com Kusanagi. Ryuumaru voltou a si a tempo de evitar ser decapitado.

— Eu já disse, Yuurei, sua luta é comigo. — Enquanto cruzava lâminas com Ryuumaru, Sasuke estudava a feição dele. Sarcástica, arrogante, um tanto sádica. O tipo de inimigo que considera o combate uma espécie de diversão.

Analisando o sorriso desdenhoso do inimigo, Sasuke teve um pressentimento péssimo — que foi confirmado no instante seguinte.

Foi rápido. O Yuurei desapareceu da frente de Sasuke, que se desequilibrou e por pouco tombou por já não haver força contrária à Kusanagi. Teve de agir rápido; fez selos com a mão esquerda e, com as pontas dos dedos envoltas em chamas, tocou o chão.

— Katon: Uchiha Kaenjin (Elemento Fogo: Círculo de Fogo dos Uchiha).

O Yuurei apareceu à direita de Temari. Mesmo carregando uma espada enorme, Ryuumaru conseguia manejá-la muito bem — usando uma mão, até. Ele girou rapidamente a lâmina contra a Kunoichi, tornando seu ataque praticamente impossível de ser bloqueado com força física.

— Temari! — Kankuro, ao ver a irmã mais velha em apuros, lançou a marionete Karasu para frente, tentando antecipar o ataque inimigo de algum modo.

O que acontece, na verdade, foi Ryuumaru ter se interrompido com brusquidão. A lâmina a alguns centímetros dos olhos de Temari, e entre elas uma barreira cilíndrica de fogo vermelho.

— O quê? — Temari hesitou. Olhou para Kankuro e constatou que, assim como ela, ele estava cercado pela barreira de chamas. Darui também. — Ei, Sasuke! Foi você?

— Uma barreira? — Kankuro tentou puxar Karasu para si, mas os fios de chakra que se ligavam à marionete foram destruídos pelo fogo. Darui manteve-se em silêncio. Temari, porém, gritou enérgica.

— Você enlouqueceu, Sasuke? Vai enfrentar um Yuurei sozinho? — Usou a ponta da haste do leque para tocar as chamas e constatou que estas eram quentes o bastante para derreter metal instantaneamente. Curiosamente, porém, a temperatura era a mesma dentro da barreira. O fogo era um isolante infalível

Ryuumaru meneou vagarosamente a cabeça, apreciando as chamas que protegiam Temari.

— Esperto... — Voltou-se para Sasuke, com a espada sobre os ombros — e egoísta. Realmente levou a sério querer lutar comigo em um contra um. O que quer provar?

Sasuke deu um sorriso arrogante.

— Eu matei Juha Terumi, um Yuurei mais forte que você — disse. — Acredita mesmo que sou eu quem deve provar algo nesta luta?

O ar de Ryuumaru mudou; ficou mais sério.

— Vou me divertir enquanto te despedaço.

A distância entre os dois era considerável. Porém, no segundo seguinte, Yuurei e Uchiha estavam travando uma feroz batalha de esgrima. Ambos pareciam se intercalar entre ataque e defesa. Ryuumaru brandia a espada com uma leveza inacreditável, considerando o tamanho da arma. Sasuke, por sua vez, dava piruetas e giros horizontais; vez ou outra, também, trocava Kusanagi de mãos para confundir o oponente. Todavia este era um espadachim formidável.

De longe, Temari não escondia a própria insatisfação. O rosto dela era furioso e impaciente.

— Você está me ouvindo, Uchiha maldito?! Tire-nos daqui!

— Cale-se. — A voz tediosa de Darui contrastava com a repreensão. — Não há nada que possamos fazer agora. Ryuumaru, o caçador de dragões, é uma lenda na Nuvem. A velocidade dele rivaliza com a do Raikage-sama. Duvido muito que pudéssemos acompanhá-lo.

— Está dizendo que vamos só assistir? — Temari trincou os dentes. — Sem poder fazer nada? E se ele morrer? — Indicou Sasuke com a cabeça.

Darui se acomodou, sentando-se. Respirou fundo. Pareceu engraçado que o oxigênio não lhe faltava, mesmo cercado pelo fogo.

— Então estamos mortos também — falou. — Só podemos acreditar no Sasuke agora.

— Ele tem razão, Temari. — Kankuro manteve-se firme diante do olhar duro da irmã mais velha. — Veja você mesma. Jamais poderíamos lutar àquela velocidade.

Tentou acompanhar o combate, mas os dois espadachins pareciam máquinas, seus músculos, motores trabalhando incessantemente. Temari mordeu o lábio.

— Não há nada pior que ficar devendo uma para aquele Uchiha. — Ela soltou um suspiro. — É melhor ele ficar vivo.

— Ele consegue. — Kankuro tentou parecer otimista. — É o Sasuke, não é?

Quieto, com uma expressão enigmática, Darui assistia ao daquele embate de espadas.

                                                           * * *

“Eu já disse! Foi estupidez, Naruto!” gritou Son Goku à mente do Jinchuuriki. “A Folha está muito longe daqui!”

“Pare de reclamar, seu macaco velho,rugiu Shukaku. “Aconteceu, não é? Agora é tarde.”

“Naruto,” Matatabi mantinha a calma “como planeja chegar à Vila da Folha ainda hoje?”

Fez-se silêncio entre as Bijuu. Naruto, agora usando somente o chakra para Senjutsu restante para o Shunshin no Jutsu, corria enquanto organizava as ideias. Perder qualquer segundo era inaceitável.

Seis minutos. Este era o limite estabelecido para o uso de chakra Bijuu. Caso o tempo máximo fosse extrapolado, o chakra do “Demônio Roxo” — mesmo em Genjutsu, ainda estava dentro do corpo de Naruto — manifestar-se-ia, dando, desta maneira, o controle total aos Yuurei sobre o Jinchuuriki. Baseando-se nisso, Naruto pensava. Com certeza algo poderia ser feito durante os minutos de autocontrole. Tinha que haver algo a ser feito. Mas o quê?

O tempo passava e com ele a certeza de Naruto a respeito de ter sido melhor voltar à vila sem plano algum para tal. Acaso não teria agido por impulso mais uma vez? Aliás, desde sempre este tinha sido o atributo que os Yuurei mais haviam explorado nele: os sentimentos. Sim, os responsáveis diretos por fazerem Naruto, tantas e tantas vezes, agir sem pensar. Fosse por isso que Sasuke, desde a infância, era o superior.

Afinal de contas, valia a pena ser quem ele era? Sentimental?

Claro que sim, respondeu-se de imediato. Depois ralhou consigo mesmo. Outra vez tinha agido sem pensar. De fato, a frieza e a capacidade analítica de Sasuke lhe davam inveja às vezes. E falando no amigo, tinha sido ele quem o livrara, ainda que rudimentarmente, do Demônio Roxo. Sasuke salvou Sakura ao assassinar Juha Terumi, Sasuke tornou-se Jounin enquanto, secretamente, procurava o assassino de Juugo — Iruzu Ibe, o Oukami — na vila, Sasuke havia transportado a Força Tarefa até a Ilha Misuto em um dia — Naruto sentiu-se pior; viajar grandes distâncias em um curto período de tempo era outro feito que, mesmo usando o Shunshin no Jutsu aprendido, não estava executando muito bem; logo estaria exausto —, Sasuke estava lá, duelando contra outro Yuurei, Sasuke podia usar seus poderes normalmente.

Sasuke era o melhor naquele momento. Diferente de Naruto que contra os Yuurei sentia-se de mãos atadas sempre.

Mas você é um herói de guerra, derrotou os Oukami, derrotou o próprio Sasuke duas vezes, salvou a Hinata indo do País dos Demônios até a Folha em quatro dias, o que, até então, era impossível, pensou consigo mesmo. De nada adiantou, pois se lembrou de que, em nenhuma destas ocasiões tinha agido sozinho, pelos próprios méritos. Na guerra derrotou Kaguya graças a Sasuke — outro feito para a conta do Uchiha, pensou —; contra os Oukami houve as participações de dois times, um liderado pro Naruto, outro por Kakashi; contra Sasuke, nas duas vezes estava usando as Bijuu, sendo na última, o Exame Jounin, Sasuke não pôde usar o Rinnegan, ao passo que Naruto poderia usar até cinco Bijuu — e mesmo assim Sasuke deu trabalho —; salvar Hinata, por fim, foi mais mérito de Beni Makagawa, que usou o Shinigami no Jutsu para preservá-la viva — um feito que Naruto sempre iria admirar. Ainda, para serem somados à lista de fracassos de Naruto Uzumaki: Beni tinha sido deixada sozinha no País dos Demônios e, provavelmente, foi morta pelos Yuurei, e Shion, a princesa e amiga de Naruto, cuja cabeça foi parar aos portões da Vila da Folha; missão para protegê-la foi justamente a que a matou. Ponto para os Yuurei, fracassos e mais fracassos para Naruto.

“Um fracassado sempre será um fracassado. Você não pode mudar isso.” Naruto arregalou os olhos. A frase que, certa vez, tinha ouvido de Neji lhe tinha retornado à memória. Por quê? “Por que persiste em continuar?” A conversa que tinha acontecido há seis anos, durante um Exame Chuunin fluía como uma lembrança recente.

“Porque me chamam de fracassado. Vou mostrar que estão errados.”

Naruto cerrou os punhos, sentindo uma onda de confiança lhe tomar de repente. Parou de correr, visto que o chakra de Senjutsu havia se esgotado. Mas, independente disso, a determinação que lhe era uma marca, o desejo de vencer, de esmagar os Yuurei, o sentimento de nunca voltar atrás com sua palavra, a Vontade do Fogo que queimava em seu peito, a sensação prazerosa de ter socado aquela muralha de madeira — considerada até então impenetrável —, tudo isso fez Naruto se sentir melhor, pensar melhor. E isso para ele já era uma vitória sobre o inimigo.

“Atenção, pessoal!” falou às Bijuu em sua mente. “Já sei como vamos chegar à vila ainda hoje. Por favor prestem atenção.”

A seriedade incomum no rapaz foi perceptível para todas as Nove Feras de Caudas, que se mantiveram em silêncio para ouvi-lo falar.

“Tá certo,” continuou, “os Yuurei podem me limitar a seis minutos. Depois todo mundo já sabe o que acontece. Mas e se usarmos um intervalo de, sei lá, cinco minutos e alguns segundos?”

As Bijuu se entreolharam. Gyuuki perguntou:

“O que está sugerindo, Naruto?”

“É isso aí, Hachi-chan”, respondeu Naruto. “Vamos contar o tempo.”

Shukaku, dentre todos, foi o mais desfavorável à ideia de Naruto; era ridícula para ele.

“Você só pode estar zoando, não é, Naruto?” berrou Shukaku. “Quer que a gente conte um, dois, três agora? AGORA?”

O rugido interventor de Kurama fez tremer o plano psíquico inteiro.

“Feche essa sua maldita matraca de uma vez, Shukaku!” Com os dentes à mostra, Kurama vociferava. “Deixe o Naruto falar o que devemos fazer.”

Contra a própria vontade, Shukaku se aquietou. Mas retribuía o olhar assassino à Raposa de Nove Caudas.

“Continue, Naruto,” Matatabi falou branda, para amenizar o clima já caótico. “Achei a sua ideia bem... curiosa.”

“Valeu, Matatabi e, hã..., ah! Sim! Então, como eu dizia, vamos marcar o tempo. Cinco minutos e meio usando o chakra de um de vocês. Os outros vão acumular mais chakra enquanto isso. Desse jeito, todo mundo vai trabalhar junto e nenhum de vocês vai ficar cansado.”

“Cinco minutos e trinta segundos...” Kokuo refletia. “E depois?”

“Vou parar de usar o chakra de vocês por um minuto; será o meu descanso. Depois, tudo de novo, mas com outro de vocês me fornecendo. E assim vai. Com o Shunshin no Jutsu que aprendi e o chakra Bijuu, acho que vamos, sim, chegar ainda hoje à vila e, mais do que isso, vamos poder lutar juntos sem nos restringirmos a apenas seis minutos. O segredo vai estar no intervalo de tempo.”

Outra vez as Feras se entreolharam, analíticas. Estavam realmente considerando a possibilidade de dar certo. Entretanto, Son Goku tomou um passo à frente, inexpressivo, apesar de tudo.

“Você disse que, se nos intercalássemos, poderíamos todos nós termos a mesma carga de trabalho sem nos cansarmos. Mas Naruto... somos Bijuu, somos forças naturais. Isso não vai nos cansar tanto assim. Pelo menos se nos compararmos a você. Você é humano, Naruto Uzumaki. Já pensou nisso?”

“E não é só isso, Naruto,” Choumei completou, “Além de você ficar exausto usando nosso chakra repetidas vezes, pode acontecer de ‘Aquela Coisa’ querer sair enquanto estamos preocupados em te ajudar e você em utilizar nossos poderes.”

Sim, fazia sentido. Com o cansaço do Jinchuuriki e, ainda que se apegassem a uma interrupção momentânea de chakra, não havia garantias de que o Demônio Roxo se mantivesse completamente suprimido. Era outro risco no plano de Naruto. Um que ele estava disposto a correr.

“Não tenho escolha,” declarou Naruto. “Se eu não tentar, posso nunca mais ver a minha vila e amigos. Eu vou fazer isso.”

“Você sabe...” Kurama tomou a palavra; a voz imponente ante as demais Bijuu. “Sabe que, se conseguir chegar à Folha ainda hoje, ainda poderá encontrar os Yuurei lá. O líder deles, que, com certeza, não estará sozinho. Contra esses inimigos, só você poderá fazer uma frente considerável, o que significa que mais ninguém estará lá para ajudá-lo; a desvantagem numérica, e física também, é toda sua. Você sabe, não é mesmo, Naruto?”

Observaram-se em silêncio. Bijuu e Jinchuuriki sustentavam suas respectivas expressões inexoráveis, enquanto se analisavam com os olhares. Kurama, com seus olhos vermelhos e grandes, achava divertido alguém tão minúsculo ter uma coragem tão grande quanto às poderosas Bijuu, talvez maior. Certamente, Naruto Uzumaki seria o Jinchuuriki do qual ele jamais se esqueceria.

Naruto falou:

“Gosto de ver você preocupado comigo, Kurama,” disse. “Mesmo depois desses anos, ainda não me acostumei a isso.”

“Tsc, sempre fazendo brincadeiras.” Kurama sorriu. “É por isso que o Sasuke sempre foi melhor.”

“Ainda falta muito para o Maldito ser melhor que eu.” Com a voz mais relaxada, Naruto deu as costas às Bijuu, unindo as palmas das mãos. “Shukaku, você primeiro.”

“É claro que eu vou primeiro!” Apesar de, inicialmente, ter sido completamente contrário ao plano, o grito de Shukaku não foi respondido ou comentado pelas demais bestas.

“Ótimo.” Naruto estava concentrado. “Saiken, você gosta de contar tempo, certo?”

Novamente com a atenção voltada para o mundo real, o chakra espesso e de sensação arenosa de Shukaku transbordava dentro do corpo de Naruto. Com as energias renovadas, rompeu distâncias absurdas por meio do Shunshin no Jutsu. Não tardou a encontrar o mar, e na outra margem dele, a Vila Oculta da Névoa.

O primeiro estágio da longa jornada de volta à Folha.

 

                                                           * * *

Terror não era exatamente a palavra para ser usada naquele momento, e Mei não tinha nenhuma em mente.

A batalha contra Dairama Senju ia de mal a pior. Mesmo em clara inferioridade numérica, o Yuurei, sozinho, conseguia não só medir força contra seis outros ninjas — sendo uma deles a Mizukage —, como também se mostrava muito superior.

O terreno, que era inicialmente um campo cercado por muralhas de Mokuton, agora era uma floresta viva. Árvores gigantes e assassinas, estacas nascidas repentinamente do solo, raízes carnívoras, braços de madeira... E um Senju que, desde o começo da luta até aquele instante, sequer havia saído do lugar. Executava selos manuais sem ser incomodado; não havia brecha para atingi-lo.

— Pai, você está bem? — Kurotsuchi tinha incerteza na voz. Vez ou outra teimava em olhar para a estaca que havia atravessado a coxa esquerda de Kitsuchi; era uma visão insuportável, mesmo para alguém forte como ela.

— Estou bem, filha... Estou be-

— Cuidado! — Choujurou saltou e, usando a espada Hiramekarei para criar uma lâmina de chakra, interceptou dezenas de projéteis espinhosos lançados pelo galho mais próximo.

Mei liderou uma investida apoiada por Cee, da Nuvem, e o garoto-prodígio Yasuke. Desesperados, saltaram por meio de tentáculos de troncos esmagadores e espinhos disparados feito balas. Uma brecha; tudo o que a Mizukage queria.

Quando estavam a uma distância crítica do alvo, Cee atacou primeiro, sequenciando selos manuais.

— Raiton: Raigen Raikouchuu (Elemento Relâmpago: Coluna de Raios de Ilusão). — Um clarão extremamente brilhante emanou do corpo do Jounin. A luz, além de bloquear a visão humana por completo, tinha outra propriedade: capturava as vítimas em Genjutsu.

Vendo Dairama pôr uma das mãos à frente do rosto, Cee gritou imediatamente:

— Agora!

Mei e Yasuke atacaram juntos. O garoto disparou um jato ininterrupto e pressurizado de água, enquanto a Mizukage soprou uma baforada de lava fumegante. Algumas ramificações tentavam, inutilmente, conter os ataques, mas apenas sucumbiram despedaçadas pela pressão da água, ou queimadas pela lava.

A fumaça não lhes permitia ver o resultado da combinação. O ruído de água evaporando misturado ao de madeira em chamas era a única coisa a ser ouvida naquela hora. Nenhumas das criações de madeira se mexiam mais.

Mei estreitou os olhos, cautelosa.

— Você é Sensorial, certo? — perguntou a Cee. — Consegue sentir a presença do inimigo?

Cee combinou um selo de mãos e fechou os olhos, calando-se. Três segundos depois os abriu, e disse:

— Não, parece que consegui-...

Os olhares se arregalaram na hora. O sangue jorrava ferida abaixo à proporção que o emaranhado de galhos vindos do chão atravessava o abdômen de Cee, empalando-o lenta e dolorosamente até, enfim, suspenderem o corpo morto do Jounin da Nuvem em uma ramificação de árvore.

Um pouco mais à frente, um caule da árvore se abriu. De dentro dele, Dairama caminhou devagar; os olhos gélidos e anciãos. Encarou Mei e Yasuke.

— Um já foi — disse. — Restam cinco.

                                                           * * *

O pânico tomava as ruas da Folha. Por onde passavam, os Yuurei traziam tragédia e destruição. Fossem ninjas ou os desorientados civis, homens ou mulheres, crianças ou velhos; para os invasores não fazia a menor diferença.

Iori liderava o ataque, caminhando devagar, com o rosto encoberto pelo capuz. Enquanto andava, as sombras que o cercavam pareciam ter vida própria, pois sugavam e engoliam tudo em um raio de cinco metros do corpo do líder dos Yuurei. Em dois minutos e meio a escuridão vinda dele havia feito desaparecer uma casa de dois andares, na qual uma mulher de meia idade, acompanhada de outra, idosa, batia frenética nos vidros da janela.

E continuava andando e consumindo tudo ao seu redor, imparável. Mesmo quando as primeiras formas de supressão aos Yuurei vieram — um batalhão com aproximadamente vinte e cinco ninjas —, o poder de Iori não pôde ser contido. Era simplesmente impossível combater algo impalpável como o Meiton. De uma vez, os ninjas sumiram em uma nuvem de trevas vindas dos dois lados; Iori mesmo apenas caminhava.

Seguindo as ordens de seu líder, Suki e Kan rumaram para oeste. Ela conjurando poderosas lufadas de furacão com o leque, ele assassinando pessoa por pessoa com a foice — golpes mortais e rápidos, pois sacrificaria a Jashin apenas os “melhores” tributos, qualquer outro era morto ou por ferroadas na garganta, ou nas costas, ou decapitados; Kan somente matava.

Kioto foi para leste junto com sua parceira, Hana. A menina, empolgadíssima, contava piadas para arrancar um sorriso sequer do parceiro, mas os olhos de Kioto eram frios e focados — pareciam robotizados, programados para executar uma ordem específica. Coube a Hana Sakegari aniquilar todo e qualquer inimigo que se pusesse em seu caminho, o que ela fazia sem nenhuma dificuldade.

— Você está bem concentrado na invasão, não é, Kioto-sama? — perguntou divertida, após condenar um Genin à loucura.

Sem se importar com a automutilação do Genin enlouquecido por Hana, Kioto respondeu:

— Há algo que eu sempre desejei fazer, e hoje, depois de anos de espera, poderei concretizar.

— Seu objetivo pessoal, Kioto-sama? — Hana fez um selo, o Genin enterrou uma Kunai na própria garganta repetidas vezes até cair morto.

Kioto respirou fundo.

— Minha vingança.

Ainda nos portões tomados, Mira e Taka não tinham iniciado ataque. Ele, mesmo sendo advertido por Suki para não temer a vice-líder, sentia-se inseguro quando perto dela, ainda mais ali, sem a parceira para encorajá-lo.

— Mira-sama, a senhora está preocupada com algo? — Taka percebeu Mira olhando com certa admiração para o interior da vila invadida. De ar e feição enigmáticos, era impossível imaginar o que ela estava pensando.

— As ordens de Iori foram para que você atacasse pelo ar, correto? — Mira ainda fitava o rastro de destruição deixado pela escuridão devoradora do líder.

Taka gaguejou um “sim”. Imediatamente, corrigiu-se, gaguejando “sim, senhora, Mira-sama”.

— Ótimo — disse Mira, de costas para Taka. — Porque tenho um pedido para você, Taka.

— P-pedido, Mira-sama?

— Exatamente. Quero que você fique nos portões.

Taka não entendeu. Abriu a boca, mas não disse nada de imediato, temendo não usar as palavras apropriadas.

— Com todo respeito, Mira-sama, mas o Líder-sama foi claro quando...

— Você não desobedecerá a seu líder, Taka, se é o que lhe preocupa — interrompeu-o Mira. — Os céus serão seus, como devem ser. Vigie-os. Meu pedido é para que você permaneça protegendo os portões. Ninguém entra ou sai desta vila. Se tentarem, mate.

— Oh, sim. — Taka removeu as vestimentas superiores e ativou o selo de liberação de suas asas. Majestosas e brancas, elas se abriram às costas do Yuurei. — Mas quem poderia vir a essa hora? Talvez o líder dos Hyuuga, que viajou a Capital do País do Fogo?

— Ele também. — Mira encobriu o rosto com o capuz.

— “Também”? A senhora está pensando em mais alguém, Mira-sama?

A princípio, houve apenas o silêncio da vice-líder. Virou-se, depois, e respondeu:

— É uma sensação.

Deixou Taka ainda sem compreender e avançou vila adentro.

                                                           * * *

— Kakashi! — Tsunade, acompanhada por Shizune, abriu a porta do escritório bruscamente. Junto do Hokage estavam Shikamaru Nara, Gai Maito e Yamato — a guarda do Sexto — e os Quatro Capitães da ANBU.

— Tsunade-sama, chegou em boa hora. — Ergueu os olhos de um mapa da vila para o rosto inquieto da Quinta Hokage. — Preciso da senhora aqui.

— Esqueça isso por agora e me responda. Quantos inimigos?

Kakashi e Tsunade trocaram olhares ansiosos. Ele cedeu, por fim.

— Sete.

Tsunade xingou, depois procurou manter a calma e perguntou:

— Temos algum plano de ação? — Olhou para Shikamaru.

— Ainda não — respondeu Shikamaru, com os olhos no mapa. — Pelo menos nenhum consistente. Até agora, de acordo com o reportado pela ANBU, somente três alvos foram identificados. — Posicionou o dedo sobre a representação mapeada da entrada na vila. — Taka Kazekiri, o mesmo Yuurei que veio nos entregar a cabeça da princesa Shion, o mesmo que venceu a Hinata meses atrás. — Arrastou o dedo um pouco para a direita. — A parceira de Taka, Suki, se me lembro bem, e o servo de Jashin, Kan. Conseguimos identificar esses três até agora.

— Indo a leste da vila estão outros dois — informou Ryo Sarutobi, capitão da Segunda Divisão da ANBU. — Um adulto, provavelmente homem, e uma adolescente.

— Nível de periculosidade? — perguntou Tsunade.

— Parecem fortes — respondeu Ryo. — Muito. O adulto não fez nada até agora, mas a garota derrota todos em seu caminho. Sozinha.

Tsunade soltou um suspiro irritado.

— Onde esses malditos conseguem gente assim?

— Tsunade-sama... — Shizune olhava aflita para o mapa. — Os tais Kan e Suki estão muito próximos de chegarem ao...

— Eu vi. — Tsunade fuzilou Kakashi com os olhos, pois tinha sido chamada por ele. — O Hospital. E à Academia também.

Kakashi se manteve firme diante de Tsunade, mesmo com o olhar hostil vindo dela.

— Sinto muito ter que tirá-la do Hospital, Tsunade-sama. Mas eu realmente preciso da senhora aqui. Além de ser mais seguro, quero mantê-la no Edifício Hokage para...

— Já sei o que tem em mente, Kakashi — Tsunade falou com ar grosso. — Mas acredito que seria melhor ter me deixado defender o Hospital.

— Não. A senhora é a ninja médica mais experiente que temos. Preciso de suas habilidades, Tsunade-sama.

— E a Sakura?

— Sakura estará em combate — respondeu Kakashi. — Tratando-se de força bruta, o Byakugou no Jutsu dela superou o da senhora. Mas, apesar disso, ela não tem o conhecimento nem a experiência médica da senhora, Tsunade-sama.

Parcialmente convencida, Tsunade preferiu não persistir naquele tópico, até porque era Kakashi o atual Hokage e, portanto, mesmo com todas as opiniões dadas por ela, a palavra final sempre seria a dele, o Sexto.

Visto que a antiga Hokage não se oporia àquela parte da estratégia, Kakashi prosseguiu:

— Conforme disse Ryo, temos também dois inimigos a leste, o adulto e a garota. As habilidades dele são um completo mistério, mas as dela... Ela parece enlouquecer as vítimas antes de matá-las.

— Genjutsu — concluiu Yuugao.

— Sendo assim — opinou Shikamaru —, melhor atacarmos com quantidade e qualidade juntos. Considerando que, até agora, ninguém conseguiu vencer essa garota, vamos atacá-la em sua própria zona de conforto. Genjutsu contra Genjutsu.

— Está sugerindo que todos que usem Genjutsu ataquem-na, Shikamaru-kun? — Choujuu Akimichi, da Terceira Divisão da ANBU, perguntou.

— Isso mesmo. Os que puderem usar Genjutsu, ou que forem muito bons em bloqueá-los. Se pudermos ocupar a garota, vamos descobrir os poderes do parceiro dela.

— E se não conseguirmos? — Haru Nara, capitão da Quarta Divisão, perguntou ao companheiro de clã. O olhar frio de Shikamaru já dava a resposta.

— Talvez sacrifiquemos muitos soldados. — Shizune encolheu os braços ao redor do corpo. — Enfrentando só uma garotinha.

— A essa altura, Shizune-san, não nos restam muitas alternativas. — Shikamaru virou-se para Kakashi, que aprovou o plano.

— Vou mandar a Primeira atrás deles — propôs Yuugao. — Sou boa em Genjutsu, posso ser útil. Com sorte, também farei o outro Yuurei mostrar as habilidades.

— Não — desaprovou Kakashi. — Os quatro capitães têm outra obrigação: proteger a Tsunade-sama.

Tanto Yuugao quanto a própria Tsunade se sobressaltaram, surpresas. A Quinta Hokage, outra vez, pôs-se contra.

— Isso é desperdício de soldados, Kakashi. Não preciso ser protegida, e mesmo que precisasse, na situação atual, isso seria irrelevante.

— Como eu disse, Tsunade-sama, preciso da sua experiência médica. Irei deixar Yuugao e os outros cuidando da senhora. — Inspirou fundo. — Isso é uma ordem, Tsunade-sama.

A Quinta Hokage deu uma risada meio sarcástica.

— Está certo. É o seu julgamento.

— E os outros dois a oeste? Kan e Suki? — Yamato perguntou.

— A Segunda Divisão dará conta deles — falou Kakashi. — Todos da Segunda são combatentes de longa distância, o que nos dá uma vantagem pelo menos sobre Kan. Já Suki será um problema.

— Com isso, sobram três inimigos. — Gai coçava o queixo de nervosismo. — Um está vigiando os portões... mas e os outros dois?

— Não temos contato com um deles, mas o outro... — Yuugao olhou com certo medo para Kakashi, atual Hokage e seu ex-capitão ANBU quando ela era novata. — Está vindo para cá. Digo, para o Edifício Hokage.

Silêncio, olhares arregalados e ansiosos.

— Este Yuurei é diferente — continuou Yuugao. — Quando ele anda, consome tudo ao redor. Como um buraco negro. Até agora nada conseguiu pará-lo.

— Meiton... — concluiu Kakashi, com olhos cansados. Virou-se para Tsunade e, pela primeira vez, viu medo nos olhos dela. Todos ali sabiam o que aquilo significava, mesmo antes de Yuugao completar:

— Este homem é, possivelmente, o líder deles. O líder dos Yuurei.

Kakashi Hatake sabia muito bem que era o centro das atenções mais uma vez. Como Hokage, como ninja, ele sabia exatamente o que precisava ser feito. Sinalizou para Yamato e Gai, que corresponderam com discretos acenos de cabeça.

— Eu vou atacá-lo. Gai e Yamato virão comigo.

— É suicídio, Kakashi — Tsunade falou baixo. — Não, vamos fazer o mesmo que planejamos para a garota Yuurei, enviar tropas primeiro. Depois nós...

— Não há nada a ser feito, Tsunade-sama — interrompeu-a Kakashi. — Sabemos a habilidade do inimigo: Meiton, o Elemento Escuridão. Mas desconhecemos os limites dela. Mesmo se enviássemos outros, se ele não foi parado até agora, duvido que fosse com mais dezenas de ninjas o atacando. Não... Ele quer o Hokage. Daremos isso a ele.

Tsunade pensou em argumentos, mas ela sabia que, no final, seria impossível convencer Kakashi a mudar de ideia. Tão teimoso quanto o aluno, pensou desgraçadamente.

— Você me disse que esperava passar o título de Hokage para o Naruto, Kakashi — lembrou Tsunade. — Não morra antes disso.

O jovem Hokage sorriu por debaixo da máscara.

— Como desejar, Tsunade-sama. — Virou-se para Shikamaru. — Você é nosso melhor estrategista. Organize nossas defesas, Shikamaru. Conto com você.

O líder do clã Nara soltou o típico suspiro tedioso.

— Que problemático. Mas darei o meu melhor.

— Quanto a vocês — dirigia-se, agora, para os quatro capitães —, façam o que eu disse: protejam a Tsunade-sama a qualquer custo. Ordenem às suas divisões para que façam o combinado, mas vocês não se intrometam na batalha.

— Entendido, Hokage-sama — disseram em uníssono.

Após todas as ordens dadas, nada mais deveria ser feito ali. Kakashi ajeitou cuidadosamente a máscara no rosto, dando uma última olhada nos olhos de sua antecessora, Tsunade.

— Vamos, Gai, Yamato.

— Certo.

Os três desapareceram em microexplosões de fumaça.

— Shikamaru — chamou Tsunade. — Vou deixar você aqui. Estou lá em cima.

— Como quiser, Tsunade-sama.

A Quinta Hokage saiu com Shizune e os capitães; Shikamaru estava sozinho no escritório. Pegou o celular e clicou em um rosto conhecido. Quando a voz da colega atendeu, ele foi direto: — Ino, preciso de você aqui no Edifício Hokage agora. Se encontrar algum Hyuuga no caminho, traga também. E não demore.

                                                             * * *

Na cobertura do edifício, Tsunade encarava quarenta soldados mascarados de formas variadas. Toda a ANBU da Vila da Folha, de joelhos, ouvia a voz estridente da Quinta Hokage.

— Escutem! O Sexto está combatendo o inimigo na linha de frente, logo, na ausência dele, vocês respondem a mim. Primeira Divisão, ao leste da vila, próximo ao Distrito Inuzuka, uma dupla hostil está em marcha. Sabemos que entre eles há uma Yuurei muito hábil com Genjutsu. Até que os reforços dos Corpos Jounin e Chuunin cheguem, serão vocês os responsáveis por combatê-los. Doem suas vidas, se necessário, mas acabem com o inimigo.

Ouviu-se um brado de concordância dos ANBU liderados por Yuugao Uzuki. Tsunade prosseguiu:

— Segunda Divisão, ao oeste, nas proximidades do Hospital e da Academia, outros dois inimigos estão atacando. O objetivo de vocês é interceptá-los antes que cheguem a estes dois locais.

Outro grito uníssono, agora vindo da Segunda Divisão da ANBU.

— Terceira e Quarta Divisões. Temos dois inimigos restantes. Um deles está nos portões, o outro ainda não foi localizado. Encontrem, enfrentem e destruam-nos. Não há nada que precise ser dito além disso.

As quatro divisões bradaram juntas. Máscaras postas, sabres de prontidão.

— Vão! — ordenou Tsunade.

Dezenas de vultos irromperam vila adentro. Ali restavam apenas a Hokage, sua assistente e os capitães. Tsunade foi até a beirada, mordeu o polegar, e sequenciou selos.

— Kuchiyose no Jutsu! — Katsuyu apareceu com uma cortina de fumaça. Por meio dos tentáculos ópticos, ela observava preocupadamente sua invocadora.

— Aconteceu alguma coisa, Tsunade-sama? — perguntou.

— Katsuyu, mais uma vez vou precisar de você. — Tsunade iniciou outra sequência manual, mais complexa que a da Técnica de Invocação. — Sabe o que fazer.

— Compreendo, Tsunade-sama. — O corpo gelatinoso da lesma se desconjuntou em uma, duas, dezenas de milhares de partes menores instantaneamente. — Vou encontrar todos os feridos agora mesmo.

Tsunade se sentou sobre o chão e cruzou as pernas, mantendo o selo manual. Shizune via a tensão nas costas da mestra; ela não precisava olhar para o rosto de Tsunade para saber como ela estava por dentro.

— Isso é tragicamente familiar, não é? — Tsunade perguntou à assistente sem se virar.

Shizune fez silêncio por alguns minutos. Sabia exatamente de qual familiaridade Tsunade estava se referindo: o ataque da Akatsuki anos antes, no qual Pain invadiu a Folha, matou milhares de pessoas — a própria Shizune, inclusive — e, por fim, reduziu a vila a escombros com um único Shinra Tensei. E, assim como antes, Naruto não estava lá.

Só que, diferente de antes, Naruto não poderia voltar à Vila da Folha por meio de uma Técnica de invocação. Eles estavam sozinhos desta vez.

— Sim, senhora — Shizune disse, por fim.

Tsunade relaxou os ombros e suspirou.

— Espero que estejamos erradas. E mais, que este ataque consiga ser defendido. Não temos o Naruto, ou o Sasuke, por perto.

— Tsunade-sama... — Shizune hesitou. — Acredita que vamos sobreviver?

Silêncio.

Shizune amaldiçoou-se em pensamentos por ter feito aquela pergunta quando a voz de Tsunade lhe chamou a atenção.

— Isso é algo que vale a pena apostar. Só espero que, desta vez, os azarados sejam os Yuurei.

E fechou os olhos, concentrando-se ao máximo no Ninjustu médico.

                                                * * *

Hinata respirou fundo, procurando mostrar a todos uma tranquilidade que ela, no fundo, não tinha. Convocar todos do clã, famílias Principal e Secundária, para um comunicado na madrugada em um lugar não tão apropriado como a frente da mansão principal já era algo preocupante por si só. Fazer isso com diversas colunas de fumaça claramente visíveis do resto da vila era bem pior. E Hiashi não estava ali para ajudá-la, o que significava que ela estava assumindo as responsabilidades de um líder de clã bem antes da hora.

E em uma péssima hora, pensou.

— Atenção, por favor — falou com a voz mais confiante que possuía. — O motivo de eu tê-los chamado aqui não poderia ser mais grave. Como já deve ser de conhecimento da maioria, nossa vila está sob ataque.

Murmúrios entre os membros do clã. Hinata via muitos rostos preocupados. Tudo o que ela não precisaria agora seria piorar a situação com pânico. Como líder provisória dos Hyuuga, cabia a ela tranquilizar seus companheiros.

— A mansão principal estará aberta a todos — Hinata disse com firmeza. — Por favor, entrem e protejam-se.

A ordem foi cumprida de imediato. De aproximadamente oitenta membros, Hinata agora se via diante de vinte e oito homens e mulheres, todos Chuunin. Kou e Natsu Hyuuga estavam entre eles.

Antes que Hinata perguntasse, Kou se justificou:

— Vamos proteger as senhoras, Hinata-sama e Hanabi-sama. — Não havia qualquer hesitação em sua voz, nem nos rostos dos demais. Kou olhava firme para Hinata, sua senhora e protegida. — Este é o propósito dos membros da Família Secundária; estamos dispostos a morrer pelas senhoras, Hinata-sama e Hanabi-sama.

Hanabi olhou de Kou para Natsu, que era sua guarda-costas. Hanabi sabia muito bem que Natsu era uma mulher jovem e tinha uma vida inteira frente, assim como Kou e todos os demais.

— Eu sei cuidar do meu próprio traseiro. Natsu, deixe de ser minha babá de uma vez por todas.

Natsu sorriu nostálgica. Em sua memória, ela se via acompanhando uma jovem barulhenta e talentosa de cinco anos. Agora Hanabi tinha catorze; era uma adolescente que, apesar do jeito extravagante, sabia agir como uma mulher madura. E ali estava Natsu, pronta para morrer por ela, sem qualquer dúvida.

Hinata, por sua vez, mostrou mais sensibilidade. O dogmático sacrífico da Família Secundária pela Principal era uma regra atormentadora para ela. Mesmo que não quisesse, o rosto de Neji, seu primo, sempre lhe vinha à memória.

— Não é, Kou — negou Hinata. — Ninguém deve morrer por nós da Principal. Esta é uma regra cruel e eu não vou tolerá-la aqui.

Kou sorriu gentil. Assim como Natsu conhecia Hanabi desde pequena, Kou conhecia Hinata; sabia como ela se sentia sobre aquilo.

— Nós todos aqui não estamos sob uma lei, Hinata-sama — disse. — Nós escolhemos isso. Não podemos permitir que a senhora e Hanabi-sama fiquem em perigo. Vamos protegê-las com nossas vidas.

— A senhora nos deu a segurança da mansão principal, Hinata-sama — disse Natsu. — Deixe-nos lhes dar a segurança de nosso Juuken em retribuição. Eu sei que a senhora estava planejando interceptar o inimigo sozinha, caso ele venha para o Distrito Hyuuga. É muita coragem. A senhora é uma verdadeira líder, Hinata-sama.

— Natsu... — Hinata não sabia como se expressar.

— O inimigo não a tocará, Hinata-sama — Kou garantiu. — A senhora tomará posse do título de líder dos Hyuuga em breve e eu a verei governar e ser feliz. A senhora, mais que qualquer um de nós, merece.

Sentiu-se uma criança outra vez por meros segundos. Apegou-se às palavras de Kou e jurou para si mesma que seria assim. Ainda que a cerimônia de posse estivesse sendo adiantada por Hiashi contra a sua vontade, Hinata via que ainda poderia superar os problemas e ser feliz. E para isso tinha que sobreviver àquele dia.

Jurou isso também.

— Todos nós seremos — disse, por fim.

                                                           * * *

Estava quase na hora do grupo se dispersar. Parte para leste da vila, outra para oeste, outra para o sul. Toda a ANBU da Folha se mobilizava em um objetivo: encontrar, atacar e matar os Yuurei.

Saltavam ligeiros por sobre os prédios, máscaras postas. O calor do caos era muito bem visto e ouvido à medida que o grupo avançava.

Sai estava tenso. O rapaz que um dia alegou não ter qualquer sentimento, por baixo da máscara ANBU, escondia toda sua preocupação. Ele mesmo havia testemunhado o poder dos Yuurei quando encontrou a dupla Kan e Juha Terumi, e depois o homem chamado Kioto, que havia bloqueado um ataque duplo de lâminas dele e de Sasuke juntos só com os dedos. Saber que reencontraria gente assim fazia seu estômago revirar. Saber que, não dois, mais sete inimigos atacavam sua vila naquele exato momento multiplicava o incômodo.

Um comportamento inapropriado para o tenente da Primeira Divisão da ANBU, pensou.

— Estou com medo. — Sai ouviu alguém dizer ao seu lado. Era Risa Tetsuki, a tenente da Segunda Divisão. Ouvir que alguém de mesma patente admitia isso a ele o fez se sentir um pouco melhor.

— Vamos ficar bem. Temos que considerar que também somos fortes — disse à outra.

— Eu sei — Risa confessou. — Só não quero morrer aqui, Sai. Tenho dois meninos que, neste momento, estão sendo levados às pressas para o abrigo de civis junto com meu marido. Quero voltar para eles.

— Você vai — Sai prometeu. — Vamos vencer.

O ponto de separação estava a poucos metros à frente: uma pequena praça com um lampião e bancos de design antigo, Sai já conseguia vê-los.

— Atenção, divisões! Preparar para disper-

Sai parou de falar no instante que seus olhos encontraram a mulher de cabelos ruivos parada em pé próxima ao lampião. Ela também estava olhando para o grupo ANBU. E com a mão direita mantinha um selo manual.

No instante seguinte, Sai se viu dentro de uma espécie de bolha vermelho-transparente. Era larga o bastante para englobar um quarteirão inteiro além da praça e alta o bastante para cobrir um prédio de vinte andares. A formação ANBU se desmantelou na hora que o Fuuinjutsu de Mira Uzumaki se ergueu. Os ninjas se amontoaram nas coberturas dos edifícios próximos à praça.

Toda a ANBU estava presa na Técnica de Barreira de Mira.

— O que é isso? — um ANBU perguntou desorientado.

— É Fuuinjutsu — outro respondeu. — Aquela mulher, ao que parece, foi quem nos prendeu aqui.

Ouviu-se um riso nervoso.

— Só pode ser brincadeira. Olha o tamanho dessa coisa. Eu nunca vi uma barreira tão grande assim. Não uma feita por um ninja sozinho.

Sai se esgueirou para a beirada da cobertura para ver a praça. Mira estava exatamente no mesmo lugar, olhando para cada prédio onde ela sabia haver ninjas da Folha.

— A ANBU da Folha — ela disse em clara voz. — Eu ouvi falar que só os melhores podem ser admitidos. Digam-me: é verdade? Eu tenho os melhores diante de mim?

Uma provocação, Sai percebeu. Olhou para seus companheiros ANBU, agora misturadas as divisões, e se imaginou ao lado de Yuugao Uzuki, sua capitã. Procurou transmitir a recém-obtida confiança para os demais.

E levantou-se para que a Yuurei o visse.

— Cada um deles — respondeu Sai. — Os melhores assassinos da Vila da Folha.

— Sim — Risa exclamou ao lado de Sai. — Estamos em quarenta; você é uma só. Nos parar não foi a melhor estratégia. Agora você está presa aqui conosco.

Naquele momento, já não somente Sai e Risa, mas toda a ANBU estava de pé sobre os prédios. As máscaras encarando a vice-líder dos Yuurei.

Mira sorriu.

— Oh, não — ela disse. — São vocês que estão presos aqui comigo. E eu garanto: nenhum de vocês sairá vivo daqui. Nenhum.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Eu imaginei uma quantidade bem significativa de possíveis batalhas para esta parte da história. Algumas eu já sei o resultado, outras, bem pouquinhas, eu preciso repensar um ou dois detalhes. Mas é isso. Espero postar o próximo capítulo em breve. Não tenho uma data certa (calma, não vai ter outro hiatus) porque tenho que me reorganizar agora que voltei a escrever.

Se possível, falem nos comentários o que acharam deste capítulo. Eu gosto bastante desse feedback ^^

É isso, minha gente. É muito bom rever vocês. Ah, eu não esqueci. Se eu ainda não respondi o seu comentário em qualquer história minha, pode deixar que vou responder. ^^

Próximo capítulo: Ruína da Folha - parte 2

Até o próximo capítulo o/