O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 90
O monstro e o caçador


Notas iniciais do capítulo

Boa-noite!

É com imensa insatisfação que eu venho informar que este é o fim.

"Fim da fanfic, Victor?"

Claro que não, jovens. Fim de semana mesmo. E eu tenho que ficar aqui, zumbificado nas madrugadas estudando ("ah, mas você postou capítulo! E, ei!, por que não respondeu os comentários?" Calma, calma! Vou chegar lá). Bom, não sei se a frase inicial destas Notas pegou vocês de surpresa. Se pegou, ótimo!, trolagem efetuada com sucesso.

Bom, por quê não respondi os comentários ainda? Falta de tempo. Sério. Eu já li todos, mas ainda não parei e sentei para responder nenhum. Creio poder começara respondê-los hoje, sábado. De boas, então, galera?

E, desculpem outra vez, este foi o mais rápido que consegui ser para escrever e postar. Acabou que não revisei. Qualquer errinho, favor dirigir uma MP ou uma review. Vai me ajudar.

E, ah, talvez esse título tenha soado estranho, mas vocês entenderão por que ele. E, bom, como estão as expectativas para a missão na Ilha Misuto? Tenho um presente para vocês neste capítulo. Espero que gostem :D

Sem mais delongas, bora pra leitura. Nos vemos nas Notas Finais o/



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Pela segunda vez, desde que havia retornado, Garou Inuzuka se viu insatisfeito com seus compatriotas. Agora, porém, não era Sasuke Uchiha quem o olhava desconfiadamente. Kakashi Hatake e Tsunade Senju pareciam perfurá-lo com os olhos. Isso o deixava incomodado. Era frustrante saber que, mesmo com todos os esforços aplicados, desconfiavam dele.

— Esta é a história, Rokudaime-sama, Godaime-sama. — O dedo indicador, inquieto, de Tsunade no próprio braço era um sinal de alerta. Como se a qualquer momento a antiga Hokage o mandasse prendê-lo.

Kakashi era mais frio. Observava-o, piscando pouquíssimas vezes. Garou terminou de falar e aguardou um dos dois se pronunciarem. A cada segundo de silêncio que se passava, mas ele temia pelo que os dois Hokage teriam em mente.

Por fim, Kakashi esboçou um maior sinal de vida: respirou profundamente, endireitando-se na cadeira.

— Você tem uma família na Ilha Misuto, Garou. — Ele parecia digerir a informação lentamente. — Este foi o motivo de ter ido lá antes de voltar para a vila?

— Sim, Hokage-sama.

— E por que, Garou — Kakashi apoiou o queixo sobre as costas das mãos, os olhos fitos à frente —, você se desviou da missão? Mais do que isso, por que só agora você mencionou a sua família?

Procurando refúgio, Garou preferiu se virar para Tsunade, o que não ajudou muito. A Quinta Hokage tinha o olhar muito mais severo que seu sucessor. E por estar de pé, aparentava ser mais imponente.

— O que o levou a omitir esta informação de nós, Garou? — perguntou Tsunade. — Aliás, podemos confiar nela?

— S-sim, claro que sim, Godaime-sama...

— Mesmo? — A voz de Tsunade saiu mais ríspida.

— S-sim, eu... — Garou perdeu a fala, hesitante. A cabeça doía. — Eu não falei de minha esposa e filha antes por que não queria me lembrar.

Kakashi e Tsunade se entreolharam, confusos.

— Não queria se lembrar... do quê, Garou? — Kakashi indagou.

O punho trêmulo se fechou. Os dentes grandes de Inuzuka se trincaram com força. A respiração pareceu mais difícil.

— De como os Yuurei me descobriram na Ilha, Rokudaime-sama. E o que eles fizeram depois.

Tsunade deu um passo à frente.

— A sua família, Garou, ela...

— Isso mesmo, Godaime-sama. — Com os olhos vermelhos e chorosos, Garou encarou Tsunade. — Eu visitei minha esposa e minha filha, que por seis longos anos escondi da minha vila por temer que algo acontecesse a elas, e enquanto as abraçava, as vi serem devoradas por um fosso escuro vindo do além. Meu braço direito foi logo depois, assim como Midorimaru, meu fiel cachorro. Isto que está diante de vocês, Godaime-sama, Rokudaime-sama — apontou para si mesmo —, é tudo o que conseguiu escapar dos Yuurei.

Parecia que tanto Kakashi quanto Tsunade haviam sido esbofeteados no rosto. As palavras cheias de amargura retiradas à força da memória dolorosa de Garou Inuzuka foram mais que suficientes para convocar um silêncio mórbido. Se quando recém-chegado da missão Garou aparentava autocontrole, agora mostrava claramente que fazia força para não gritar.

— Eu peço desculpas, Godaime-sama, Rokudaime-sama... — Tentou se recompor. A palidez ainda predominando em seu rosto.

A notícia trágica os havia pegado de surpresa realmente. Kakashi e Tsunade haviam cogitado praticamente qualquer situação possível antes de requisitarem outra vez a presença de Garou. Contudo uma família assassinada tinha passado despercebido. Poderia ser mentira, mas havia algo na voz de Garou — angústia, talvez — que fazia daquelas palavras tão verdadeiras, indubitáveis. Felizmente, poderiam contornar qualquer dúvida com apenas uma ordem.

— Garou, vamos fazer uma avaliação rápida em você — falou Kakashi. — Depois estará livre para ir.

A tal avaliação dita por Kakashi era de conhecimento de Garou. Ele já a tinha visto antes. Já sabia o que era e quem a fazia. Não discordou, afinal, ele entendia que a Folha — agora mais do que nunca — estava em guerra contra os Yuurei. Toda e qualquer fonte de informação deveria ser avaliada. Caso contrário, outra vez mais o inimigo prevaleceria contra uma investida da Vila Oculta da Folha.

Kakashi autorizou outra pessoa a entrar no escritório. A avaliadora de Garou, a filha unigênita de Inoichi e agora a jovem líder dos Yamanaka, Ino. Ela inclinou a cabeça respeitosamente para os dois Hokage e depois para Garou, que retribuiu.

— Garou-san, está pronto? — Ino perguntou.

Ele fez que sim. Ino pôs a mão direita sobre a cabeça dele, fechando os olhos em concentração.

Ino viu um vilarejo simples em meio a campos de arroz, com casas pequenas de no máximo três cômodos. O verde se estendia por todo o horizonte e árvores vistosas complementavam a flora local. Apesar da vastidão, pouquíssimas pessoas eram vistas colhendo — seis. Dentre elas, uma mulher meio curvada. O semblante dela era bonito, mas triste. Ino a viu encher um grande cesto e pô-lo nas costas. Viu-a, também, se dirigir ao vilarejo, dobrar uma esquina e entrar em uma das casas. Lá dentro, uma menina — certamente a filha da mulher — saltitava de alegria. Sem entender, Ino a ouviu perguntar à filha o porquê de toda aquela felicidade. Foi quando um homem surgiu de trás de uma das cortinas, o sorriso gentil.

Garou Inuzuka correu e abraçou a esposa. A pequena menina tentou envolver os pais em um abraço uno. Um cão — o qual Ino sabia se chamar Midorimaru — latiu da porta. Todos riram. Ino, que, como um espectro, acompanhava todo o desenrolar das memórias de Garou, viu um beijo. Ouviu mais latidos. Um muxoxo infantil.

E viu um fosso escuro e gelado se abrir do nada para devorar a mulher a filha de Garou. Ouviu as vozes delas sumirem à medida que despencavam rumo à morte e ao esquecimento eterno.

Garou gritou de desespero e Midorimaru latiu — agora não em felicidade, mas por ferocidade — para as duas figuras trajadas de preto no fundo do casebre. Garou mal teve tempo para se virar quando Midorimaru foi definitivamente silenciado um dos Yuurei. Tentáculos de escuridão vindo de todas as direções despedaçaram o cão, fazendo as partes do animal morto sumirem logo em seguida. Foi rápido.

Você é um Inuzuka, não é? Somente um Inuzuka usa cães-ninja — Um dos Yuurei perguntara. Pela voz, tratava-se de um homem. — Sabe quem eu sou... ninja da Folha?

Mas Garou era incapaz de falar qualquer coisa naquele momento. Estava ali, perante os assassinos de sua família, e completamente impotente. Era horrível saber que, por mais que desejasse, não podia fazer nada.

Aqui temos olhos em tudo, caro Inuzuka. — A outra pessoa de preto, uma mulher, dissera desta vez. — Achou mesmo que sua presença aqui nos passou despercebida?

O rosto de Garou se contorceu em sofreguidão. Ele ofegava bastante quando berrou “Eu não vim aqui por vocês, seus malditos! Não vim aqui por vocês!” Os dois Yuurei se observaram com os rostos cobertos. A mulher, então, prosseguiu:

Entendo. Sua vinda aqui não passou de uma trágica coincidência. Uma pena, eu devo dizer...

“Pena?” Ino estranhou o que a Yuurei tinha acabado de dizer. E, conforme a cena avançava, Garou tinha reagido àquela palavra também. Infelizmente, devido às perdas recentes, não pensou direito e avançou contra a mulher, berrando de ódio e brandindo apenas uma Kunai.

O homem Yuurei movendo quase imperceptivelmente a cabeça para Garou, a sombra da parede criando vida e se projetando para defender a outra Yuurei, um urro de dor, um braço decepado no chão, o sangue empapando a manga intacta da camisa de Garou... Ino estremeceu. Aconteceu tão depressa. Mais rápido que o fosso que tragou a família de seu compatriota. Agora sim, perante a dupla implacável, o Garou sem braço que Ino conhecia gemia agonizante.

As Cinco Nações são terríveis, não são? — A mulher Yuurei perguntou com voz inflexível. — Obrigam seus ninjas a irem a missões suicidas em busca de informações consideradas mais importantes que os próprios seres humanos. Sua vila o mandou atrás de nós, caro Inuzuka. E você alcançou seu objetivo: encontrou a nós. — Ela indicou a si mesma e o parceiro.

Nós somos os dois líderes dos Yuurei, Inuzuka — revelou o outro Yuurei. — E esta ilha é nosso esconderijo. Isso, com certeza, é muito mais do que você poderia ter imaginado encontrar em sua missãozinha fútil.

Enquanto a cena avançada, Ino tentou ver através dos capuzes que cobriam os rostos da dupla líder, mas não conseguiu. Sua única alternativa foi continuar observando as lembranças.

Por que digo isso? — o líder perguntou retoricamente. — Porque, como já deve ter constatado, você jamais escapará daqui com vida. Não há necessidade de nos preocuparmos com você.

Todas as sombras irromperam das paredes, móveis, chão e teto contra o fraco de Garou Inuzuka. Antes de ser perfurado em todo o corpo, ele encarou o rosto oculto do líder dos Yuurei.

E sorriu.

No lugar do corpo de Garou, um cesto com grãos de arroz se esvaziava devagar. Kawarimi no Jutsu, a Técnica de Substituição. Quando os dois Yuurei encontraram o verdadeiro Garou, ele já havia lançado a bomba de fumaça no piso. Depois deste feito, não houve mais contato com o inimigo, de modo que Ino já tinham mais razão para ler a mente de Garou Inuzuka. Ela desfez o contato telepático.

Kakashi e Tsunade observam-na aguardando a possível confirmação de tudo o que Garou havia testemunhado em favor próprio. Caso isso não acontecesse, ele seria tomado por traidor e encerrado na prisão; eram as regras. Mas Ino agora sabia o que tinha acontecido na Ilha Misuto. Tudo o que Garou tinha testemunhado ela também, desde o momento em que o havia tocado na cabeça. Ino conhecia a verdade e Garou não era um mentiroso. De fato ele encontrou os líderes dos Yuurei. E sobreviveu ao encontro, pagando o alto preço que equivalia as vidas de sua mulher e filha, de seu cão-ninja e de seu braço direito. Tudo em nome da Vila da Folha.

— Ino? — Tsunade perguntou ansiosa.

Demorou, ainda com as lembranças do compatriota fluindo em sua mente, mas Ino respondeu, fazendo que sim com a cabeça.

— É verdade, Tsunade-sama — disse. — O Garou-san é inocente.

— Bom, sendo assim — Kakashi falava brando —, você pode ir, Garou. Obrigado pela colaboração e pelo esclarecimento.

Um belo discurso do Hokage, pensou Garou Inuzuka. Uma bela frase que só servia para mascarar o ávido desejo de descobrir a verdade. E como fazê-la? Desenterrando a recente e horrenda história na qual a tragédia da família de Garou era narrada. Não era Kakashi ou Tsunade — Ino talvez, mas não tão intensamente — quem agora estava sendo atormentado pelas próprias memórias. Era ele, o reconhecido espião Inuzuka. Sem cachorro, sem braço, sem família, sem propósito; os Yuurei já tinham sido localizados, afinal.

Como um morto-vivo, Garou arrastou-se até a porta sem se despedir dos demais ali presentes. Quando saiu, Kakashi pigarreou e perguntou a Ino:

— Muito bem, Ino. O que realmente aconteceu?

Ela se sobressaltou.

— Hokage-sama?

— O que Kakashi quer dizer, Ino, é que não deveríamos ter aparentado aversão a qualquer palavra do Garou enquanto ele estivesse aqui. Se ele mentiu para nós, é agora, quando ele não está mais presente, que conversaremos a respeito — explicou Tsunade.

— Mas Tsunade-sama — Ino hesitou —, o Garou-san encontrou mesmo os líderes dos Yuurei e conseguiu escapar.

— Escapou dos líderes? — Tsunade franziu a testa.

— Sim, senhora. Eu vi tudo o que aconteceu. O Garou-san não mentiu ao que parece.

— Mas como isso é possível? — Kakashi questionou. — Se os dois líderes estavam lá, é realmente surpreendente o Garou ter obtido êxito em escapar. A menos que...

— ... Que os Yuurei o tivessem deixado ir — completou Tsunade. — Ino, eles sabiam que Garou era um de nós?

— Sim. Um deles o chamou claramente de “ninja da Folha” e a outra, a mulher, de “caro Inuzuka”.

— Eles o deixaram mesmo ir — concluiu Kakashi. — E isso aumenta e muito as chances de eles estarem nos esperando na Ilha Misuto.

— Os Yuurei podem ter fugido a essa altura, Hokage-sama — disse Ino. — Já se passou muito tempo desde que o flagraram na ilha.

— Eu duvido que tenham fugido — resmungou Tsunade. — Eles tinham plena consciência de que sabíamos a localização deles no País dos Demônios e mesmo assim ficaram lá. No fim, foi a nossa ANBU que foi esmagada. Os Yuurei pouco se importam com quem vamos enviar, pois acreditam que vão vencer de um jeito ou de outro.

— Até mesmo o Naruto e o Sasuke-kun? — perguntou Ino.

Silêncio momentâneo. Kakashi suspirou.

— Até o Naruto e o Sasuke. Eles não têm medo dos poderes do Naruto. Do Sasuke talvez, pois foi ele quem matou um deles. Mas não tenho certeza se o Sasuke é tão intimidador assim para os líderes.

— Mas agora não serão apenas os dois, certo? — Ino intensificou o tom de voz. — As Cinco Grandes Vilas vão enviar ninjas também. Podemos vencer!

— Podemos, sim. Como não podemos também. — Kakashi falou um pouco mais tenso.

— Com todo respeito, Hokage-sama, mas não acredito que os Yuurei vençam desta vez. — Ino riu de nervoso. — Quero dizer, são o Naruto e o Sasuke-kun, os dois melhores ninjas do planeta de quem estamos falando. Tudo bem, na primeira vez que encontraram um Yuurei não terminou muito bem e a Sakura acabou sendo ferida e dois ninjas da Nuvem foram mortos. Mas agora é diferente, não?

— Ino... — Tsunade a encarou com certa frieza. — O inimigo não pode mais ser subestimado nem por um momento sequer. Sim, Naruto, Sasuke e toda a Força Tarefa podem sair vitoriosos. Mas considere: se eles forem derrotados pelos Yuurei, os líderes!, vale lembrar, todas as Cinco Grandes Vilas vão perder suas respectivas duplas mais poderosas. No nosso caso, perder Naruto e Sasuke seria mais que desastroso. Seria fatal para nós.

— Esta é uma batalha que poderá custar toda a nossa luta contra os Yuurei, Ino — continuou Kakashi. — É com certeza a batalha mais importante. Se vencermos, teremos derrotado os dois líderes dos Yuurei. Se formos derrotados... bom, todo o mundo ninja perderá dez de seus melhores Shinobi, além de a Névoa perder a Mizukage, já que será ela quem liderará a ofensiva na Ilha Misuto.

— Se esta missão fracassar, nossas defesas contra um ataque Yuurei se reduzirão para quase nada. Porque sem Naruto e Sasuke, receio dizer que nenhum de nós pode competir contra os poderes deles — Tsunade finalizou.

Era verdade. Sasuke Uchiha e Naruto Uzumaki eram de longe os ninjas mais poderosos do mundo. Kakashi e Tsunade foram estritamente claros em seus discursos. A sobrevivência da Folha e das Cinco Nações dependia do sucesso daquele ataque. Sem saber o que dizer, Ino se curvou ante os Hokage, desculpando-se.

— Perdão, eu não pensei desta forma. Sinto muito — falou baixinho.

Tsunade amenizou a feição, esboçando um discreto e solidário sorriso.

— Está tudo bem, Ino. Está tudo bem.

— Eu vou me retirar agora, Tsunade-sama, Kakashi-sama.

— Está bem. Pode ir, Ino. E obrigado.

Esperaram-na fechar a porta do escritório. Tsunade respirou suspirou exausta.

— Ela estava tentando ser otimista — disse. — Pobre Ino.

— Tsunade-sama, se me permite dizer, otimismo é dispensável neste caso.

— Eu sei, Kakashi. E é uma pena isso acontecer.

* * *

Era tarde, aproximadamente 16h, quando o time da Folha se reuniu junto com o Hokage Kakashi e sua antecessora, Tsunade, nos portões da vila. Sasuke, de vestimenta escura, colete com emblema dos Uchiha e a espada Kusanagi embainhada nas costas, aguardava em silêncio. Parecia entediado.

Naruto também não estava com a melhor de suas expressões faciais, entretanto, diferente do companheiro, tinha os olhos mais focados que tediosos. Ele conferia cada item que levaria na mochila enquanto ouvia as últimas considerações do Hokage.

— E lembrem-se — resumiu Kakashi, por fim —, se conseguirem derrotá-los, poderemos dar um fim nos Yuurei nesta ofensiva.

— Tenham cuidado — advertiu Tsunade. — E boa sorte.

— Naruto, Sasuke — chamou Kakashi pela última vez. — Eu acredito em vocês. Sempre acreditei.

Naruto, extrovertido, sorriu e acenou em positivo.

— Vai ser moleza, Kakashi-sensei. Anote o que estou dizendo.

— Não fique tão cheio de si, Naruto. — Sasuke deu as costas para os dois Hokage. — Vamos, Naruto. A viagem será longa.

— Vejo vocês em breve, Kakashi-sensei, Tsunade-obachan.

— Até breve, Naruto. — Tsunade acenou para o loiro que ela tanto adorava.

Os dois haviam acabado de cruzar os portões quando uma figura aterrissou diante deles. A jovem de cabelos rosados cruzou os braços enquanto os encarava com ar embravecido. Naruto franziu a testa. Sasuke se manteve calmo.

— Nenhum dos dois foi falar comigo antes de partir. — Sakura pisava forte no chão à medida que andava na direção deles. — Isso é importante, droga!

— Err... Sakura-chan, eu nem... — Naruto coçava a cabeça enquanto procurava palavras para se explicar.

E ficou surpreso. Sakura correu e abraçou os dois de uma vez só. Ela não dizia nada, mas Naruto sentiu, por tocar a pele da amiga, que ela tremia. Medo. Era isso que Sakura Haruno estava sentindo naquele momento.

— Vocês vão ficar, não é? — ela perguntou ainda sem encará-los. — São vocês dois. Vocês podem com eles.

Naruto e Sasuke se entreolharam. Naruto parecia incerto quanto ao que dizer, Sasuke sustentava a expressão fria; era a forma preferida dele de esconder os sentimentos.

— Ei, Sakura-chan... — Naruto envolveu a amiga em um abraço. — Eu prometo que vou tomar conta do Maldito para você, tá bom? E não se preocupe comigo. Eu jurei que iria vencer, e vou vencer.

— Naruto... — Sakura sorriu gentil, com os olhos nos de Naruto. — Obrigada.

Ela virou para o lado e viu o namorado sério — como sempre —, a observá-los. Ficou ali parada, admirando os olhos negros e o rosto indiferente. Por alguma razão, Sakura achou certa graça na pose de Sasuke Uchiha.

— Boa sorte, Sasuke-kun — ela disse, não estando mais abraçada a Naruto.

— Obrigado.

Apesar de estarem frente a frente, Sasuke estava sendo frio demais para com Sakura, na opinião de Naruto. E isso o irritava.

— Ei, Sasuke, a Sakura-chan veio se despedir de você. Esqueceu que tem namorada?

Os olhos ferozes de Sasuke se dirigiram a Naruto, que não temeu a encarada do companheiro. Sasuke o observou por um bom tempo até, finalmente, sentir os lábios de Sakura lhe tocarem na bochecha. Virou-se para ela e a viu sorrir tímida.

— Eu entendi por que deste comportamento, Sasuke-kun. Eu me sentiria estranha se não entendesse.

Sasuke não disse nada.

— Tome cuidado — ela continuou —, e cuide do Naruto também. Sabe como ele é.

Calma, Sakura se afastou dos dois sem olhar para trás. Já estava bem longe quando Naruto vociferou em clara irritação.

— O que foi isso, Maldito? Ela veio se despedir da gente... de você! É o namorado dela!

Sasuke suspirou lentamente.

— Eu sei, Naruto.

— Então por quê? Por que tratar a Sakura-chan daquele jeito?

Sasuke meneou, vagarosamente, a cabeça em negação.

— Porque eu a amo.

Como era de se esperar, os olhos de Naruto refletiam o que passava em sua cabeça. Incompreensão. Sasuke deu as costas para Naruto, caminhando devagar. Não para provocar Naruto, mas por julgar mais importante não perder tempo ali.

— Eu estou partindo em uma missão para matar o líder dos Yuurei, Naruto — enquanto andava, dizia. — Minha cabeça deve estar focada apenas nisso.

— Apenas concentração? — Naruto ficou lado a lado com o companheiro. Sasuke olhava para frente. — Por isso aquela frieza toda?

Sasuke assentiu.

— Mas mesmo assim, Sasuke... era a Sakura-chan.

— Sakura é importante para mim, Naruto. Vou me manter concentrado na missão para poder voltar e vê-la de novo. Isso é tudo.

Naruto franziu a testa, surpreso. Imediatamente, abaixou a cabeça, envergonhado.

— Desculpe. Eu agora te entendi, Sasuke. É só que...

— Você queria que a Hinata viesse se despedir de você. Por isso se chateou com a forma que tratei a Sakura — deduziu Sasuke, agora olhando para o amigo.

Encabulado, Naruto confirmou com um aceno tímido de cabeça. Se fosse Hinata a se despedir dele nos portões, ele com certeza a abraçaria, beijaria, prometeria voltar bem. Por mais que tentasse, não conseguiria ser tão impessoal como o talentoso Sasuke Uchiha; não era a natureza de Naruto. Ele, decerto, seria o mais carinhoso possível se Hinata estivesse naqueles portões. Se ela estivesse...

— Ela vai completar dezenove anos no dia 27, sabia? — Naruto deu um sorriso fraco. — Vou estar em missão no dia do aniversário da Hinata.

Sasuke estudou a feição de Naruto calmamente antes de falar.

— Talvez seja melhor assim — disse. — Pior seria se você tivesse ficado na vila. Seria mais complicado, já que você não é mais nada dela.

— É...

— Mas sabe, Naruto, quando esta missão terminar e os Yuurei forem derrotados, avise-me o dia que você decidir ir enfrentar o Hiashi pela Hinata. Irei com você.

O sorriso de Naruto melhorou consideravelmente.

— Meu melhor amigo disse que eu não posso sair invadindo os distritos dos outros clãs. Isso só dificultaria minhas chances de virar Hokage — falou Naruto.

— Meu melhor amigo disse que desistiria de virar Hokage se isso significasse poder envelhecer ao lado da Hinata Hyuuga. — As palavras de Sasuke não poderiam ter sido mais reconfortantes aos ouvidos de Naruto naquela hora.

— Sasuke...

— Não faça essa cara, idiota. — Apesar da repreensão, Sasuke falou tranquilo. — Concentre-se na missão.

— Certo, mas pare de querer dar ordens.

* * *

A entrada para a Vila Oculta da Névoa consistia em um largo corredor de terra ladeado por gigantescos paredões. Os portões cinzentos se podia ver a imensidão do vale o qual representava toda a área urbanizada local. Construções, em sua maioria, cinzentas em contraste com a vegetação verde e exuberante. Montes cujos cumes eram ocultos pela neblina circundavam a vila inteira, dando-lhe uma aparência um tanto fantasmagórica, mas ainda assim exótica.

— Bem-vindos! — Mei saudou-os cordialmente. — Apesar de atrasados, é bom vê-los aqui, Naruto e... Sasuke.

Foi perceptível a todos a mudança na voz da Mizukage quando falou o nome do Uchiha. Soou mais distante. Naruto pensou a respeito e se lembrou do Yuurei oriundo da Vila da Névoa, Juha Terumi, o irmão de Mei. Morto por Sasuke.

— Ei, Yasuke! É você! — Propositalmente, Naruto exclamou o mais alto possível quando notou a presença do menino prodígio da Névoa. Assim, toda a atenção estaria voltada para si e não para o provável remorso da Mizukage. — Olha só o quanto você cresceu!

— Naruto — apesar de gostar de ter revisto Naruto Uzumaki, Yasuke não era do tipo extrovertido —, é bom te ver também.

— Não vai falar com a gente, Naruto? — Virou-se à direção da voz e encontrou Kankuro (um pouco mais alto desde a última vez que o vira) e Temari, os irmãos de Gaara.

— Kankuro! — Naruto sorriu. — E Temari também!

— Como vai, Naruto? — Ela estava mais bonita que Naruto conseguia se lembrar; era uma adulta completa.

— Eu estou ótimo! E vocês e o Gaara? Aposto que ficaram bastante irritados com ele por ele ter enviado vocês dois, que são os mais velhos, pra cá. — Riu.

Temari e Kankuro se entreolharam.

— Na verdade, não — Temari disse.

— Ah, imaginei... e quem mais está...

Mei pigarreou, de modo um pouco impaciente. Com todos lhes dando atenção, ela prosseguiu com as instruções.

— Mais uma vez agradeço por todos aqui presentes. Creio que todos aqui me conhecem desde a guerra, mas, para formalizar nosso encontro, permitam-me que eu me apresente. Sou Mei Terumi, Godaime Mizukage da Vila Oculta da Névoa e líder desta Força Tarefa.

A concordância estava em todos os olhares, e isso era satisfatório para Mei. Aparentemente, todos poderiam funcionar como uma equipe.

— Como sabem, também, esta missão tem por objetivo capturar, se possível, ou matar os dois Yuurei que acreditamos ainda estar na Ilha Misuto. Conforme nossas instruções, devemos considerar que o inimigo sabe de nós e, ainda assim, permanece na ilha.

Alguns olhares se encontraram. Mei prosseguiu.

— A Ilha Misuto fica a doze horas de viagem daqui. Se navegarmos, poderemos fazer a metade do tempo. Mas temos aqui conosco dois recém-chegados de viagem. — Olhou para Naruto e Sasuke. — Viajar agora seria mais cansativo para vocês dois. Yasuke, meu aluno, sabe Ninjutsu médico e pode ajudá-los a recuperarem as energias. Apesar disso, eu sugiro esperar mais um pouco. O que me dizem vocês dois?

Naruto se virou para Sasuke, que deu de ombros sem pensar duas vezes. Resolveu, então, voltar-se para Mei e lhe dar seu típico sorriso confiante.

— Vamos ficar bem. Melhor irmos logo antes que eles resolvam fugir.

Àquela altura, a hipótese de fuga Yuurei era quase remota. Naruto sabia disso tanto quanto qualquer outro ali, citando-a apenas para transmitir a sensação de confiança aos demais — e a si mesmo. Temia, apesar de tudo, não ver muitos daqueles rostos dos presentes. Temari e Kankuro eram amigos seus amigos há um bom tempo; Yasuke era muito novo; Mei era uma Mizukage jovem também, portanto, poderia governar por muito mais tempo antes de nomear o Sexto — provavelmente Choujurou, o garoto magrelo que representava o último resquício dos lendários Sete Espadachins da Névoa; Darui e Cee, com quem Naruto não tinha tanta intimidade, mas os prezava por Bee; Kitsuchi e sua filha, Kurotsuchi, juntos, eram a família do velho Tsuchikage Oonoki ali; e, por fim, Sasuke.

Ainda pensava quando a voz de Mei, crescente, o despertou:

— Naruto!

— Hum... Hã? Desculpe, tia Mei.

Por alguma razão, os olhos de Mei se fixaram nele friamente. Naruto não entendeu, mas Choujurou e Yasuke, que conheciam bem a Mizukage, compreenderam no ato. Até podiam ver acima da cabeça dela a lógica sequencial: tia, ficar para tia, solteira, relacionamento, casamento.

Mei suspirou vagarosamente, as mãos se abrindo e se fechando em um processo repetitivo.

Naruto se chegou para Sasuke e cochichou:

— Foi alguma coisa que eu disse?

— E eu vou saber? — cochichou de volta.

— Naruto... — A respiração de Mei Terumi estava sôfrega. Ela demorou consideráveis minutos para conseguir se recuperar. — Eu perguntei... se está tudo bem navegarmos para vocês dois.

Sasuke meneou negativamente a cabeça. Mei arqueou a sobrancelha. Naruto soltou uma risada.

— Vamos agora mesmo — falou Naruto. — Nem correndo, nem navegando. Vamos pelo ar.

— O quê? — Choujurou coçou a cabeça.

— Do que está falando, Naruto? — perguntou a Mizukage.

— Sasuke — pediu Naruto —, é com você.

Enquanto a maioria ainda virava a cabeça na direção do Uchiha, o chakra já havia fluido pelo corpo de Sasuke, extravazando para fora e assumindo forma e cor. Primeiro, o esqueleto arroxeado, depois músculos de chakra puro, e por último uma armadura completa. A Força Tarefa se via flutuando em uma camada de chakra na cabeça de um ser humanoide colossal com um par de asas. Susano’o.

— Espero que estejam todos prontos. — Sasuke não fez questão de se virar. — Estamos partindo agora. Preparem-se. Não sabemos o que o inimigo preparou.

Sem pedir autorização, o Susano’o subiu ao céu da Névoa.

* * *

Esperavam encontrar tudo: rastros de incêndio, erosões das mais variadas, fumaça negra e cinzas, monturos de casas. Porém quando o Susano’o de Sasuke aterrissou, fez mais estrago no local que os Yuurei em sua estadia.

— Esses caras são mesmo fantasmas, não é? — Kurotsuchi comentou trivialmente. — Nem parece que estão aqui.

Temari riu sem graça.

— É. O problema é esse.

— Quietos — ordenou Mei. — Sasuke, vamos sair. Duvido que nos ataquem enquanto estivermos protegidos pelo Susano’o.

— O quê? — Choujurou se virou para Mei. — Mizukage-sama, vamos sair?

— Afinal, garoto, você veio aqui para quê? — repreendeu-o Kitsuchi. — Eu não conheço uma forma de vencer um inimigo só se defendendo dele.

— Está bem, vamos sair. — Sasuke desativou seus poderes oculares. Gradativamente, o Susano’o se desfazia. — Mas tomem cuidado. Tenho certeza de que eles sabem que estamos aqui.

Naruto apertou o nó do próprio protetor ninja.

— Finalmente.

Já fora do Susano’o, o grupo explorava a ilha. Mei liderava com Choujurou e Yasuke a guarnecendo. Naruto vinha logo atrás, seguido por Temari e Kankuro, Darui e Cee, Kitsuchi e Kurotsuchi. Sasuke estava na retaguarda.

Percorreram uma distância considerável pelos arrozais. Notaram alguns cestos arrebentados ao longo do caminho, mas sem qualquer sinal de presença humana. O céu escurecia. As nuvens negras engoliam a lua, estrelas e qualquer fragmento de beleza celestial.

Avançaram mais alguns metros — já chegando ao vilarejo local —, ainda sem qualquer sinal dos Yuurei ou dos moradores da ilha. Não havia nem animais em meio àquela vastidão de verde.

— Naruto — chamou Mei —, consegue senti-los?

Mas ele negou com a cabeça.

— Nada. Não sinto nada.

— É estranho — Cee falou em meio ao grupo. — Este lugar deveria estar habitado por qualquer coisa, sei lá!, pelo menos por formigas. Nem insetos eu encontrei.

— Um vilarejo-fantasma... — Kankuro riu de nervoso. — Bem propício, não?

— Os cidadãos morreram? — Choujurou perguntou e, instantaneamente, foi xingado por Temari. — Hã, quero dizer, eu... É por que não encontramos nada até agora.

— Estas casas não vieram do nada — ralhou Kurotsuchi. — Alguém as fez, e agora não habita mais nelas. E o motivo é óbvio, pelo menos para a gente.

— Malditos Yuurei... — Mei encontrou, caído em uma das ruas, um velho ursinho de pelúcia com uma fitinha cor-de-rosa na cabeça. A criança que o possuía, contudo, não estava mais lá.

Ainda caminhavam em perfeita formação quando uma sensação estranha fez Naruto parar de andar. Era uma mistura estranha de ancestralidade, peso esmagador, sufocação e calor. A respiração, de uma hora para outra, tornou-se difícil.

— Naruto, o que hou...

O irromper de raízes de árvore do subsolo fez qualquer grito de surpresa parecer mero silêncio. As ramificações grandes e largas como edifícios contorciam-se e engoliam tudo à volta. Mais e mais brotavam da terra, emparedando e desmantelando a formação da Força Tarefa — agora dividida completamente pelas paredes de troncos.

— Ei, ei! Estão todos bem? — Naruto gritou para aqueles que estavam ali com ele: Sasuke, Temari, Kankuro e Darui.

— O que foi isso? — gritou Temari.

Uma risada aguda se ouviu metros à frente. Alguém — pelo que parecia, um homem —, de vestes negras e capuz gargalhava da situação. O Yuurei portava uma espada tão grande quanto ele mesmo, apoiando-a nos ombros.

— Olha só! Tirei a sorte grande, afinal! — disse o Yuurei. — Naruto Uzumaki, o Alvo Primário, em pessoa. E Sasuke Uchiha, o assassino do Juha-sama. Quem diria que os dois cairiam comigo depois desse reboliço maluco, hein!

— Você é o líder dos Yuurei? — Darui perguntou.

O espadachim soltou uma risada debochada.

— O Líder-sama estava certo. Vocês, das Cinco Nações, engoliram a isca sem pensar duas vezes. Estavam tão desesperados para nos encontrarem que se esqueceram de raciocinar. — Riu. — E aí, quando receberam nosso recadinho de que o Líder-sama estaria aqui, vieram às pressas, não é?

— Responda logo quem é você, desgraçado! — Kankuro já tinha dois pequenos pergaminhos em mãos. Temari, seguindo o irmão, abriu seu leque ao máximo. Darui sacou sua espada. Naruto e Sasuke ficaram a postos.

— Quem sou eu? — O Yuurei removeu o capuz com a mão esquerda. Tinha um rosto duro e feroz. Cabelos azuis e olhos penetrantes. — Eu sou só o caçador, caras. O “monstro” está do outro lado. — Indicou a parede esquerda de madeira. — Foi ele quem fez isso. É, um usuário de Mokuton (Elemento Madeira). São raros de se encontrar, sabiam?

Do outro lado da muralha, Mei tossia e se levantada devagar. Esfregou os olhos. Estava dentro de uma espécie de cúpula circular de madeira, com muros de galhos altíssimos. Junto com Mei se encontravam Yasuke, Choujurou, Kitsuchi, Kurotsuchi e Cee. Recuperavam-se da queda — Yasuke tinha pequenos arranhões no braço, mas estava bem.

— O que foi isso? — perguntou Kitsuchi. — De onde veio toda esta madeira?

— Mokuton no Jutsu... — Mei mordeu o lábio, nervosa. — Até isso os Yuurei têm?

— Droga... — Kurotsuchi estremeceu. — Olhem lá!

Para onde ela indicava um homem alto, forte e um pouco obeso os encarava. Estava sem o capuz. Tinha a pele morena, olhos atemporais e uma barba negra e espessa.

— Bem-vindos, Cinco Nações — ele saudou. — Esperávamos por vocês. Eu sou Dairama Senju, membro Sênior e Quinto oficial dos Yuurei.

Senju. Um sobrenome poderoso por si só. O antigo clã da floresta que, desde os tempos remotos, rivalizava com os Uchiha. Considerado o clã mais poderoso da história, abaixo apenas dos lendários Ootsutsuki, o clã Senju tinha grau de parentesco com outro poderosíssimo, o clã Uzumaki. Além disso, dos Senju vieram ninjas lendários como o Primeiro Hokage Hashirama, o “deus dos Shinobi”, Tobirama, irmão de Hashirama e Segundo Hokage, e mais tarde Tsunade, Quinta Hokage, Sannin Lendária e, para muitos, a melhor Kunoichi do mundo. Saber que um Yuurei descendia de tal clã era mais que desmotivador — era assombroso — para Mei e os demais.

— Quinto oficial? — Mei procurou manter a calma. — Onde o está o líder de vocês?

Dairama sacudiu pesada e vagarosamente a cabeça. Depois fechou as mãos no selo da Cobra.

— No momento, eu sou a única preocupação de vocês. Se vocês querem tanto o Líder-sama, sobrevivam a mim.

Ramificações grotescas erguiam-se à direita e esquerda de Dairama Senju — largas e espinhosas. O Yuurei fixou os olhos em seus alvos, e disse:

— Agora vamos começar.

A madeira assassina investiu contra todo o grupo de uma vez.

* * *

Ryuumaru cravou a espada em terra. Encarava seus inimigos, em especial Naruto e Sasuke, com certo deleite. Retirou as longas vestes com capa e capuz porque preferia lutar sem elas. Agora, vestindo uma camisa preta sem mangas, reempunhou a espada. Até girou-a rapidamente ao redor do corpo, exibindo-se.

Enquanto se fixava nos olhos azul-elétricos do Yuurei, Naruto pensou ter visto um risco de relâmpago percorrer o peito de Ryuumaru.

— Caçador? — perguntou Naruto.

Ryuumaru riu.

— De dragões — falou. — Uma alegoria com meu animal de Invocação. Era assim que me chamavam na minha antiga vila.

Darui arregalou os olhos, desacreditado. Lembrou-se da expressão dita por Ryuumaru. E dele também.

— Você... é Ryuumaru, o Caçador de dragões! Mas isso é impossível! Eu ouvi sobre você quando eu era criança! Como...? Você deveria ter a idade do Raikage-sama.

Ryuumaru se pôs a rir outra vez. Agora, apontando a ponta da espada para Darui.

— Um pirralho da minha vila me reconheceu, que memorável. Sim! Eu sou aquele Ryuumaru que vocês, moleques, tanto ouviam falar na Academia. Surpreso por me ver tão... novo em folha?

— Você é um Edo Tensei? — perguntou Kankuro.

— Não, não... Eu estou muito vivo. Todos os Yuurei também, com exceção de um. Juha-sama. E o assassino dele... — Ryuumaru se voltou para Sasuke, risonho — está bem aqui.

Cautelosamente, Sasuke segurou na empunhadura da própria espada. Os olhos sem perder o Yuurei de vista.

— Onde está o líder de vocês? Ele não está aqui, nesta ilha, está?

— Ah, mas é claro que não, Sasuke Uchiha! — respondei Ryuumaru.

— Então onde ele está?

A resposta demorou. O Yuurei, misterioso e zombeteiro, distribuía olhares de satisfação. Ora para Darui, ora para os ninjas da Areia, ora para os da Folha.

— Vocês caíram no verdadeiro dilema, não é? Realmente o Líder-sama esteve aqui, e foi ele quem quis que a informação se espalhasse. Vocês, das Cinco Nações, desesperados para conseguirem qualquer informação sobre nós, não poderiam ficar parados. Mas, obviamente, não poderiam enviar meros ninjas em uma missão desse porte. Vocês não tinham escolha. Então, criaram a Força Tarefa, certo? Com os dois ninjas mais fortes de cada vila...

Ryuumaru balançava a cabeça em sarcástica desaprovação.

— Quer saber onde está o Líder-sama, Sasuke Uchiha? Eu vou contar a você. Mas antes olhe bem a situação. As Cinco Grandes Vilas sem seus ninjas mais fortes. Naruto Uzumaki e Sasuke Uchiha, considerados os dois Shinobi mais poderosos do mundo inteiro... estão tão longe de casa, não?

O rosto de Naruto empalideceu. Sasuke ficou estático. A ficha havia caído, e Ryuumaru riu alto. Agora todos sabiam. Desde o começo se tratava de uma armadilha. A Ilha Misuto era a mais isolada no País da Água, e este, por sua vez, era o mais afastado dos demais. E se Naruto e Sasuke estavam ali...

* * *

Vila Oculta da Folha.

Enfim, o dia havia chegado. 27 de Dezembro. Hinata ainda sonhava quando a porta abriu com brusquidão em plena madrugada. Hanabi correu e saltou sobre a cama da irmã, despertando-a no ato.

— Feliz aniversário, Nee-sama!

— Hanabi! — Hinata gritou assustada. — O que você está...

— Fazendo? — Riu da irmã mais velha. — Ora, queria ser a primeira a te parabenizar. Não é todo dia que se completam dezenove anos, certo?

— Hanabi, são 01h da manhã...

— Eu sei. — Deu de ombros. — Mas tive que esperar você pegar no sono para ter graça.

— O papai não vai gostar de... — Hinata se interrompeu, e suspirou triste. Dois dias antes, Hiashi tinha ido à capital do País do Fogo tratar de assuntos, segundo ele, benéficos aos Hyuuga. Em outras palavras, já estava preparando tudo para a posse de Hinata como nova líder do clã.

Hanabi percebeu a mudança de comportamento da irmã e a beijou no rosto. Hinata se virou e viu a caçula lhe dando um sorriso e acenando positivamente.

— Vai ficar tudo bem — disse Hanabi. — Você vai ser uma líder excelente.

— Eu não queria, digo, não agora — confessou.

— Eu sei. Mas pense positivo. O papai reconheceu você como a melhor para liderar. Você, Hinata-neesama. Ele confia na sua capacidade.

Hinata negou com a cabeça. Hanabi não sabia como tinham sido as últimas conversas entre líder e herdeira dos Hyuuga. Diferente do que ela imaginava, Hiashi estava agindo por qualquer coisa, menos por confiar na filha mais velha.

— Vamos mudar de assunto? — pediu.

— Oh, tudo bem, Nee-sama. Então, soube que o Konohamaru decidiu dominar uma natureza de chakra? Ele quer adicionar ao Rasengan dele. Ele me disse que isso era o que...

— O Naruto-kun ensinou para ele, certo? — Antes de Hanabi se repreendesse por entrar em outro assunto complicado, Hinata fez que não para a irmã. Sentia-se mais à vontade para falar sobre o antigo relacionamento.

— Isso. O Naruto.

— O Konohamaru disse que ele saiu em missão, uma de Rank S, junto com o Sasuke Uchiha. — Hanabi assobiou. — Quero saber que tipo de missão exige o trabalho conjunto dos nossos dois ninjas mais fortes.

Hinata sabia a resposta.

— O Hokage-sama planejou...

Um ruído estrondoso acompanhado de uma lufada incomum de vento foram sentidos do quarto de Hinata. Algo havia acontecido. As irmãs Hyuuga correram em direção a janela e abriram as cortinas.

— O que houve? — perguntou Hanabi. — O que foi isso?

— Não sei, mas... Olhe! Lá, está vindo dos portões — indicou Hinata.

Fumaça negra subia ao céu em uma coluna. Os gritos aumentavam a cada segundo.

— Será que foi um incêndio? — Hanabi coçou a cabeça.

Hinata ativou o Byakugan para verificar. O que ela viu estava além de qualquer expectativa. Os olhos pareceram estar em algum tipo de transe, a boca aberta em estupefação e pavor. Hinata só conseguiu dizer uma palavra:

— Não...

À entrada da vila se instaurou o caos. Os majestosos portões foram arremessados cidade adentro. A cabine onde deveriam ficar os vigias desaparecera. Por toda parte rastros de morte, sangue e destruição. Gritos de pânico ecoavam na madrugada. Os responsáveis, os sete vultos trajados de preto, pareciam admirar a obra.

— Invasão bem-sucedida — falo Suki após dobrar o leque outra vez. — Os portões foram derrubados.

— Bom trabalho, Suki. — Iori liderava o ataque à Vila Oculta da Folha. Com passos frios e autoritários, ele assumia a frente do grupo composto ainda por Mira Uzumaki, Kioto Hyuuga, Suki, Hana Sakegari, Taka Kazekiri e Kan. — Vamos nos dividir de acordo com o combinado. Eu irei, pessoalmente, até o Hokage, Kioto e Hana atacarão tudo a leste, Suki e Kan a oeste. Taka atacará pelo alto e Mira... destruirá tudo em seu caminho.

Kan rodopiou a foice monstruosa de seis lâminas. Ria em êxtase.

— Olhe para mim, Jashin-sama. Hoje eu mostrarei, em sua homenagem, a esses pagãos a dor cruciante.

Iori pôs o capuz, ocultando o rosto por completo.

— Lembrem-se. Sem deixar corpos, assim agem os Yuurei.


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Notas finais do capítulo

Então... é isso. Para quem sentiu falta deles, ei-los aí. E, uau, em um bom número, não? Sete? Isso aí rapaziada, eles invadiram. Tenho certeza de que muitos esperavam que isso fosse, em algum momento, acontecer. Espero atender às expectativas de vocês. E, sim, finalmente eu apresentei o Ryuumaru e o Dairama. Como alguns já haviam palpitado, ele é um Senju. E domina o Mokuton. O Ryuumaru... bom, vocês vão ver as técnicas dele.

Ah, estou pensando em muitas combinações de combates possíveis. Lembram-se daquela última enquete que fiz? (sussurra: pra quem participou...) Pois é. Ela me foi útil, sim! Algumas lutas eu já tinha em mente, outras resolvi analisar na cabeça, outras mais estou a pensar sobre. Por se tratar de uma invasão, haverá mais combates coletivos que individuais, mas pensei nestes também. Aliás, há um que todos, praticamente, desejam ver nesta parte, certo?

Quero informar, também, que chegou a hora de reviver um velho hábito meu. Os leitores que me conhecem bem sabem do que estou falando (sorri de forma maligna, enquanto afia a Foice).

Bom, vai ser difícil intercalar vários focos de batalha (incluindo os da Ilha Misuto; acontecerão ao mesmo tempo), mas prometo me esforçar ao máximo. Conto, também, com o apoio de vocês (chama todos os leitores).

Próximo capítulo: "Ruína da Folha - parte 1"

Bom, é isso.

Até o próximo capítulo o/