O verme demoníaco gargalhou.

— Então fui descoberto finalmente. Mas me diga, Sasuke Uchiha, como planeja me parar? Acha que seus olhos irão salvá-lo aqui? De mim?

Sasuke sequer se mexeu.

— Este olho... O Rinnegan — continuou. — Eu me lembro dele, sim, é idêntico ao que eu vi eras atrás. É igual ao dela...

— Sim. — Sasuke sorriu breve. — Igual ao de Kaguya Ootsutsuki.

O demônio roxo agigantou o corpo diante de Sasuke e Naruto, guinchando ruidosamente — por alguma razão, aquele nome causou-lhe um acesso de fúria. Toda a dimensão psíquica estremeceu pelos poderes do demônio roxo. Naruto desequilibrou-se um pouco; Sasuke pouco se importou.

— Parece que este nome lhe soa familiar — Sasuke provocou.

— Esse cara é grande mesmo. — Naruto arregalou os olhos. — É como o Juubi...

— Só que sem caudas — completou Sasuke.

— Sasuke Uchiha! — bradou. — Destruirei qualquer resquício de Kaguya, a começar por você!

As duas bocas sobrepostas do demônio se abriram a uma proporção absurda, esticando-se ao máximo. Nelas, uma rápida concentração de chakra assumia a forma esférica. Tanto Naruto quanto Sasuke sabiam o que aquilo significava.

— Sasuke — Naruto falou cauteloso. — Use o Susano’o.

Mas o Uchiha deu um sorriso desdenhoso.

— Não.

— Sasuke, você tá maluco?! — gritou estupefato. — Aquilo lá é uma Bijuu Dama! Se não usar o Susano’o, vamos morrer!

— Cale a boca, Naruto, e observe. Será rápido.

— Sasuke, seu...

A Bijuu Dama crescia exorbitantemente. A esfera de chakra negro estava quase tão grande quanto o corpo do demônio roxo.

— Espero que saiba o que está fazendo — murmurou Naruto.

— Eu também. — Sasuke mantinha o olhar firme ao monstro.

O demônio sacudiu o corpanzil viscoso, apontando a bomba para os dois ninjas. Sasuke, frio, sussurrou:

— Isso mesmo. Olhe para mim, desgraçado.

Com olhos nos do Uchiha, fixando o Rinnegan de Sasuke, a criatura disparou, com ímpeto, a Bijuu Dama.

Um estrondo ensurdecedor ecoou no ar, tudo clareou, Naruto sentiu calor, muito calor. Mas cego, não sabia dizer de estava vivo ou morto. Fechou os olhos.

Passado um tempo, Naruto resolveu abri-los. O que ele viu em seguida fez seu coração falhar em uma batida.

— Aí está você, Naruto. Faz tempo, não?

Todos estavam ali, todos eles, sem exceção. Em semicírculo estavam Shukaku, Matatabi, Isobu, Son Goku, Kokuo, Saiken, Choumei, Gyuuki e, também, Kurama; todos os noves e gigantescos seres de cauda, as Bijuu que Naruto tanto conhecia e amava.

— Aí está você, Naruto! Pensei que jamais iríamos te ver outra vez! — Saiken, com sua peculiar extroversão, falava alto.

— Naruto, o que houve? Você sumiu e... — Isobu tentou falar, mas Shukaku interrompeu-o.

— Você some desse jeito e nem dá satisfação? Que tipo de Jinchuuriki é você, seu moleque atrevido e...

— Shukaku, admita que também estava com saudades do Naruto — brincou Matatabi. — Fico feliz em revê-lo, Naruto. Muito mesmo.

— Agora sim! — Kokuo relinchou. — Estamos todos de volta! Bijuu e Jinchuuriki!

— Finalmente, eu não aguentava esperar! — comentou Choumei.

— Todos nós estávamos ansiosos, Choumei — acrescentou Son Goku. — Todos nós.

— Son tem razão! Eu, por exemplo, queria logo ver o Naruto e saber o que aconteceu — disse Gyuuki.

— Bom te ver de novo, pirralho. — Kurama deu uma risada amigável. — Seja bem-vindo outra vez.

Aquela cena tão saudosa, exatamente como ele havia imaginado, da mesma forma que sonhara, os Bijuu reagiram ao revê-lo, todos, todos eles; era como um sonho — e Naruto mal pôde acreditar. Depois de tanto tempo sendo atormentado por uma criatura desconhecida, o demônio roxo, seus amigos estava ali, diante dele, como sempre deveriam estar.

Caiu de joelhos diante de todos, trêmulo. Lágrimas de felicidade riscaram-lhe o rosto, e ele, maravilhado, sorriu.

— Pessoal... é muito bom ver todo mundo outra vez.

Mais afastado dali, Sasuke, que assistia à cena, sorriu também. Tinha conseguido ajudar o amigo.

* * *

— Mas nos conte de uma vez, Naruto — insistia Shukaku —, como conseguiu se livrar daquela coisa, o tal verme roxo?

— Ah, bem... — Olhou para trás. — O Sasuke me salvou. Se não fosse por ele, eu ainda...

Todas as Bestas de Cauda se voltaram para Sasuke que sabia, também, que era um objeto de incômodo; quando havia enfrentado Naruto após derrotar Kaguya, Sasuke se apoderou das Bijuu, controlando-as com Genjutsu. Receava que as Feras ainda sentissem certo rancor do que aconteceu dois anos atrás.

— Você — resmungou Kurama.

— Naruto! Ele? Aquele Uchiha desgraçado? — bradou Shukaku irritado.

— Basta! Vocês dois! — Matatabi censurou-os. — Naruto confia nele, então, como parceiros amigos do Naruto, devemos confiar também.

— Matatabi tem razão, o passado está morto — acrescentou Son Goku. — Além disso, se não fosse por esse Uchiha, ainda estaríamos sem ver o Naruto.

Kurama olhou frio para Sasuke — Naruto sabia que o Bijuu sentia um ódio particular pelo Sharingan, o Doujutsu que sempre o manipulou — e deu um rosnado, desistindo de atacá-lo. Shukaku, porém, ainda estava desconfiado.

— Tudo bem — confessou Kurama. — A Matatabi soube me persuadir.

— Fale por você, raposa maldita — resmungou Shukaku.

— Vocês não mudaram nada. — Riu Naruto. — Nem um pouquinho!

— Sasuke Uchiha. — Matatabi olhou-o. — Aproxime-se. Junte-se a nós.

Esperou — um pouco hesitante — até Naruto rir dele e convidá-lo a se aproximar. Sasuke, observando todos os olhares enormes a seguirem-no, postou-se ao lado de Naruto.

— Tão vendo, gente? — Uzumaki empurrou Uchiha para mais perto das feras; Sasuke detestou aquilo. — Foi graças a ele que eu reencontrei vocês.

— Naruto, você poderia ser menos...

Mas Sasuke se interrompeu quando o focinho monstruoso de Kokuo se inclinou para bem próximo dele, farejando-o. O Jounin até esboçou levar a mão às costas e empunhar a Katana, mas, no fundo, sabia que agir por impulso não acarretaria em boa coisa; calado, viu a Bijuu tocar-lhe com a cabeçorra.

— Ele cheira melhor que você, Naruto — comentou Kokuo.

— Ei! Eu não cheiro mal, não, seu...

— E é menos escandaloso também — acrescentou Matatabi. — Mas se bem que não precisa se esforçar para ser melhor que o Naruto neste quesito.

— Matatabi... — Naruto fez um muxoxo. — Você não é disso... Até você?

— Pelo menos o Naruto não deve feder tanto quanto o esterco do Son Goku — Saiken, que acreditava estar defendendo Naruto, só piorava a situação. — Porque o Son sempre teve problemas com...

— Saiken! — Son bradou, batendo no peito impetuosamente. — O que você disse?

— Começou... — Gyuuki bufou.

Em meio ao estardalhaço e as discussões, Sasuke cutucou Naruto que, até então, gritava com Kurama sobre aromas e fedores.

— Hã? Sasuke? O que foi?

— É sempre assim? Você e eles, eu quero dizer.

Naruto franziu a testa e, compreendendo, deu uma risada.

— Não, mas gosto de interagir com eles desse jeito de vez em quando. Saber que são meus amigos, que são partes de mim me alegra bastante. Era aqui, com eles, que eu queria estar, e foi graças a você, Sasuke. Obrigado.

Sasuke ficou um pouco surpreso com aquelas palavras, mas no fundo sabia — e sempre soube — o quão forte eram os laços que Naruto criava com aqueles que ele gostaria de ter por amigos; também foi alvo de Uzumaki neste ponto. Sentiu-se feliz, mesmo não externando tal, por ter realizado o desejo do loiro.

— Você não precisa agradecer, idio...

Toda a dimensão Bijuu chacoalhou de uma hora para outra. Por um instante, Naruto e Sasuke ficaram cegos devido a uma intensa e ofuscante luz que, tão rápido quanto veio, desapareceu para dar lugar às trevas densas e praticamente palpáveis. Os dois abriram os olhos outra vez e, para infelicidade de ambos, sabiam onde estavam.

— Não... — A voz de Naruto morria. — De novo não...

Sasuke olhou ao redor.

— Como pode ser? Eu mesmo desfi... Naruto!

O demônio roxo não os surpreendeu por muito pouco. Tinha surgido do nada exatamente à retaguarda dos dois, precipitando o corpo para frente com apenas uma intenção: esmagá-los. Por sorte, Sasuke percebeu a tempo de conjurar o Susano’o e impedir o esmagamento, esbofeteando a criatura e a jogando para o lado direito.

— Não acredito! — Naruto gritou, recuperado do susto. — Esse cara de novo! Mas como?

— Eu não sei... — Fuumetsu Mangekyou Sharingan e Rinnegan fixos à besta arroxeada, que se erguia outra vez, arrastando o corpo aleatoriamente. — Ele parece mais lento desde a última vez, mas ainda reage. Não entendo. Meu Genjutsu deveria tê-lo paralisado.

— E lá vem ele outra vez. — Naruto indicou.

— É estranho. É como se ele nos sentisse, mas não pudesse nos ver. E... Não acredito, ele ainda está sob o efeito do Genjutsu; ele não escapou.

Naruto estreitou os olhos para ver melhor e constatou que as cavidades na máscara do demônio que correspondiam aos olhos deste apresentavam o mesmo padrão ocular que o Rinnegan de Sasuke — o Genjutsu ainda estava de pé.

— Parece que uma parte da essência dele consegue se manifestar mesmo com o seu Genjutsu, Sasuke — Naruto comentou. — É a única explicação.

— É. — Sasuke juntou as duas mãos. — Que seja. Vou segurá-lo outra vez.

A criatura gritou — um ruído alto, como vozes de homem e mulher mescladas e, ainda assim, bestial. Sasuke finalizou a sequência manual.

— Venha logo, verme maldito — ele sussurrava concentrado no alvo. — Chegue mais perto.

O demônio roxo atacou às cegas, seguindo o próprio instinto. Sasuke sorriu triunfante, inspirou profundamente e anunciou:

— Katon: Gouka Mekkyaku (Elemento Fogo: Devastação do Inferno). — O fôlego do Uchiha, misturado ao chakra, tornou-se uma muralha de chamas avermelhadas largas o bastante para engolir todo o corpo do demônio. Ouviu-se detrás do fogo um guinchado agonizante. Para Sasuke, foi divertido.

“E ainda tem mais, verme”, pensou. Nas mãos do Susano’o o chakra se contorcia e solidificava, configurando-se em estruturas similares a shuriken encurvadas.

— Yasaka Magatama. — Sasuke continuou incisivo; o Susano’o disparou outro ataque às labaredas, onde o corpo da criatura arroxeada queimava sem parar.

Passado um tempo, o monstro tombou pesadamente sobre o chão.

— Está morto? — perguntou Naruto. — Não acho que dê pra matar aqui.

Sasuke, todavia, não disse nada. Os olhos mantinham-se voltados para a besta roxa, que não dava sinais de movimento até então. Ele aguardou e, por um instante, pensou que tivesse vencido.

Não poderia estar mais errado.

A criatura se reergueu, gritando ensurdecedoramente. Um ruído capaz de provocar rachaduras na camada externa do Susano’o de Sasuke — um feito que o surpreendeu, e também Naruto. Depois, o pescoço do demônio se dividiu, criando réplicas. Uzumaki e Uchiha, impressionados, deparavam-se com quase trinta cabeças mascaradas e bocas abertas — todas munidas de Bijuu Dama.

— Tá de brincadeira comigo! — Naruto exclamou. — São muitas!

— Droga... — Sasuke fez o Susano’o levantar voo e fugir, sem alternativas. No momento, competir com uma investida daquela magnitude era impossível.

Mal tiveram tempo de erguerem-se no ar quando foram atacados. Viram um clarão enorme, sentiram a pena queimar e mais nada depois.

* * *

Naruto despertou com um grito de dor. Olhou ao redor e viu-se novamente na sala de Tsunade. Todos estavam ali a observá-lo. Notou, também, que uma técnica de Mokuton o cercava naquele momento; Yamato, mais afastado, mantinha-se firme em um selo manual, olhando sem piscar para o Jinchuuriki. Sasuke, aparentemente tão sôfrego quanto Naruto, equilibrava-se sobre um dos joelhos ao lado de Sakura.

— Então, Yamato? — perguntou Tsunade ansiosa. — O que houve? O que foi aquilo?

O Jounin balançou a cabeça negativamente.

— Não fui eu, Hokage-sama. Ao que parece, interrompeu-se sozinho.

— Naruto-kun, foi você? — perguntou Shizune.

— Não... e do que estão falando? — Gesticulou. — Parei o quê?

Kakashi suspirou devagar e explicou:

— O chakra negro que estava fluindo pelo seu corpo. Por isso Yamato preveniu-se com o Mokuton. Naruto, você estava exatamente do mesmo jeito que quando destruiu sua própria casa.

— O quê...? Eu estava...

— É — antecipou-se Shikamaru. — Por isso o Mokuton, por isso termos usado apenas o Sasuke e não o Yamato-taichou junto para combater o que quer que esteja dentro de você, Naruto. Era importante que tivéssemos duas pessoas capazes de conter o poder Bijuu no plano psíquico e no mundo real também.

— Mas não foi ele. — Sasuke pôs-se em pé. — Eu estava lá. Naruto não fez nada. Se parou, foi espontâneo, não porque fizemos algo lá dentro.

— E... — Sakura olhou constrangida para todos. — Não sei se isso é relevante, mas o tempo em que o Naruto ficou exalando aquele chakra negro foi praticamente o mesmo que quando estava fluindo o vermelho.

Vendo que o Jinchuuriki não estava entendendo nada, Sakura explicou melhor.

— Naruto, poucos segundos após o Sasuke-kun ter usado o Sharingan em você, seu corpo fluiu o chakra vermelho, o que já era natural seu. Depois, a cor mudou para preto, e, quase agora instante, parou de vez, e você acordou.

— Bela observação, Sakura — Kakashi elogiou a antiga aluna. — Desde que Naruto foi afetado pelo Sharingan de Sasuke, ele ainda permaneceu com o chakra vermelho dele mesmo antes de apresentar sinais do chakra estranho. Como se fosse um...

— Rebote — concluiu Tsunade, espantando a todos. — Pela descrição, é um Selo Rebote.

— Selo Rebote? — Shikamaru estranhou. — Godaime-sama, eu nunca ouvi falar sobre isso.

— É raríssimo e complexo demais para ser usado por qualquer ninja, o que prova que os Yuurei têm, no mínimo, um usuário excepcional de Fuuinjutsu — explicou. — O Selo Rebote foi criado no antigo clã Uzumaki e, já que este foi destruído, pressupunha-se que ninguém mais apareceria com uma técnica dessas. Ela foi feita apenas para Jinchuuriki involuntários, ou seja, pessoas que eram raptadas por ninjas de outras vilas e clãs, tinham Bijuu implantadas em seus corpos para, depois, serem devolvidas às vilas.

— E serem usadas como armas de destruição em massa — Kakashi acrescentou. — Como fizeram com a Rin, minha ex-companheira.

Fez-se silêncio. Naruto olhou para Kakashi com certo ar de piedade, pois sabia que eram muitos — lembrou-se de quando esteve com o Sensei no Memorial da Folha e viu os diversos nomes ali gravados — os amigos que o antigo Ninja copiador havia perdido, sendo os mais prezados Obito Uchiha e Rin Nohara.

Percebendo o clima pesaroso, Kakashi, com voz mais tranquila, falou:

— Hokage-sama, sobre o Selo Rebote...

— Ah, sim, obrigada Kakashi. — Pigarreou. — Após retornarem às vilas ou clãs, as vítimas, inconscientemente, liberavam o poder Bijuu. Daí se teria uma calamidade tão grande quanto o ataque da Kyuubi.

— Então os Yuurei querem destruir nossa vila usando o Naruto? — perguntou Shizune.

— Ou aparentar fazê-lo, ou ainda ter este recurso como “outra saída” — deduziu Shikamaru. — Eles têm poder para nos invadir e destruir nossa vila quando bem quiserem, mas preferem perder tempo nos atacando um de cada vez. Bem curioso o plano deles, não?

— Estão nos cercando — disse Yamato. — O Naruto é o instrumento deles.

— Não é, não! — Tsunade repreendeu-o na hora. — E nunca será. Estamos aqui para isso, afinal! Para garantir que os Yuurei fracassem.

— Tsunade-sama está certa. Se pensarmos que o Naruto é uma arma deles, já estamos nos sentenciando à derrota — concluiu Sakura. — Faço as palavras do Sasuke-kun as minhas: se eu puder fazer qualquer coisa para prejudicar os Yuurei, farei isso com todo o prazer.

Sasuke olhou furtivamente para a namorada e sorriu discreto.

— Como se ativa o Selo Rebote? — ele perguntou. — Quem o conjurou dá o comando à longa distância, ou é algo que acontece devido a uma eventualidade, como quando eu suprimi a criatura dentro do Naruto?

— Já está ativado — Tsunade respondeu. — Sempre esteve, na verdade. Ele apenas se manifestou quando tentamos suprimir o que há no Naruto. Sasuke, você entrou na mente do Naruto e confinou o ser que havia lá. Quando isso aconteceu, criou-se uma contagem de tempo. Depois que ela terminou, o Naruto manifestou outra vez o chakra da criatura.

— Por isso nos separamos das Bijuu naquela hora, Sasuke. Deve ter sido isso. — concluiu Naruto. Sasuke concordou com a cabeça.

— E enquanto o chakra estranho se manifestava, havia outra contagem — Sakura ligava os pontos. — Quando esta terminou, o Naruto despertou aqui e o chakra parou de fluir pelo corpo dele... Não entendo. Por que os Yuurei usariam uma técnica que se interrompe deste jeito?

— Talvez para nos mostrar que, apesar de nossos esforços, eles ainda têm tudo sob controle. Se o Naruto tentar usar os poderes Bijuu normais dele, depois de um tempo pré-determinado, vai manifestar o chakra que os Yuurei implantaram. Ele não vai ter escolha — presumiu Yamato.

— Há um tempo-limite nesse jutsu — informou Tsunade. — Se o Naruto usar seus poderes Bijuu até certo tempo, nada acontecerá. O problema vai ser se ele extrapolar o próprio limite. Aí, sim, os Yuurei terão controle total sobre ele.

Foi inevitável todos olharem para Naruto se levantar, socar a palma de uma das mãos e perguntar:

— De qualquer jeito, eu estou satisfeito pelos Yuurei me darem a brecha pra ter meus amigos Bijuu de volta. E com eles eu me sinto mais forte outra vez. Quanto a esse tempo-limite, eu só preciso me adaptar a ele, ser mais rápido em combate por mim e por todo mundo. Se eu me acostumar, vou ser capaz de proteger meus amigos e lutar contra esses caras também. Eu estou cansado de ser humilhado por eles, cansado mesmo! Mesmo que eu não possa usar a força do Kurama e dos outros por mais tempo, só podendo falar com eles normalmente outra vez me alegra.

— Até que enfim — Sasuke comentou. — O idiota que eu conheço está de volta.

— Mas quanto tempo o Naruto-kun tem? — Shizune perguntou.

O clima, que parecia ter ganhado um pouco de euforia, estremeceu com a pergunta de Shizune, que, em silêncio, se amaldiçoou por isso.

Sakura respondeu.

— Bom, pelo que acabamos de ver, eu diria que o Naruto tem no máximo uns...

* * *

— Seis minutos — reportou Mira Uzumaki. — É o limite dele.

— Entendo. — A escuridão tremeluzia como um ser vivente às costas de Iori. — Bom trabalho, Mira. Precaver-se com o Selo Rebote foi uma ideia absolutamente perspicaz; uma característica típica de você.

— Obrigada, Iori.

— Então aquele Uchiha pensou que com seus poderes oculares poderia deter nosso parasita? Que deplorável. Tão deplorável que chega a causar piedade.

— Um Uchiha pensou ser melhor do que eu... — A vice-líder balançava devagar e negativamente com a cabeça. — Apesar dos poderes fantásticos, devo dizer, eles sempre foram inferiores aos parentes distantes dos Uzumaki, os Senju. É um fato, a história prova isso. Atualmente, quem detém o título de “Ninja mais poderoso do mundo” é um Uzumaki também, não um Uchiha.

Iori deu uma risada pesada.

— Claro. Nosso “Herói do Mundo Ninja”, nosso simpático Naruto. Particularmente, eu acho bem interessante esta fascinação que você tem por ele, Mira. Um Uzumaki assim como você, não é?

— Eu o acho um objeto interessante — ela disse. — Nada mais.

— É claro. Mas, pelo que sabemos, além do Naruto, há aquela mulher também, Karin. Não te vejo se interessar tanto por ela.

Mira olhava diretamente para o rosto de seu parceiro.

— Você sabe meu objetivo pessoal, Iori. Karin Uzumaki é irrelevante para mim.

Iori deu um sorriso discreto por debaixo do capuz.

— Apesar de tudo, porque não fez o Selo Rebote ter mais intensidade sobre Naruto, Mira? Alguém com os conhecimentos e capacidades que você possui teria sido capaz, não?

Mira negou.

— O Selo Rebote é diretamente proporcional ao período que a vítima usa seus dons naturais, e isso considerando que o tempo-limite seja desrespeitado. É uma regra que nem mesmo eu posso alterar. Além disso, mesmo que de forma ínfima e contornável, os olhos de Sasuke Uchiha bloquearam a ação do parasita. Meu selo impediu que a Folha tomasse a vantagem.

— Eu não poderia ter escolhido pessoa melhor como minha parceira — confessou Iori. — Fiz o certo ao trocar a Suki por você, afinal, agora estou diante da vice-líder ideal. Mais inteligente, mais calma, mais poderosa; você, Mira Uzumaki.

— Você me superestima, Iori. Às vezes, penso isso.

— Pelo contrário, minha cara; apenas sei o seu potencial.

— Sendo assim, sua parceira, quero determinar uma coisa.

— O destino do País dos Demônios, correto? — Por um instante, foi possível para Mira enxergar, debaixo do capuz, uma luz roxo-clara no olho direito de Iori; prova de que o Líder dos Yuurei havia conseguido tomar com sucesso a Kekkei Genkai da princesa Shion antes de matá-la. — Eu previ isso. Mira, você é boazinha demais.

— Instruí Kioto a ser responsável direto por ele. O povo não será ferido nem oprimido. Afinal, não são os civis nossos inimigos, não é? Não quero transmitir a mesma imagem cruel que as Grandes Vilas mostraram ao meu país quando eu era criança. Kioto será um administrador, eu governarei pelas sombras.

— Nada mais justo. Assim como você, Kioto Hyuuga não é sádico. Ele mata quando necessário, não o faz por diversão, diferente de muitos outros.

— Ele é centrado. E por isso e pelas habilidades de combate excepcionais, é o Terceiro Oficial. Irei até ele e o informarei outra vez. Depois, terei de fazer uma coisa.

Iori suspirou devagar.

— Vai visitar as ruínas do País dos Redemoinhos, estou certo?

— Sim. Sinto-me em paz indo para lá, mesmo sendo um local de tragédia.

— Vá. Não quero tomar o seu tempo, minha parceira.

— Obrigada, Iori. Estou indo.

* * *

— Então é isso? — Yamato perguntou desacreditado. — O Naruto só tem seis minutos?

— Parece que sim, Yamato-taichou — Sakura confirmou. — Naruto só pode usar os poderes Bijuu no máximo por uns seis minutos.

— E depois... — Shizune não completou a própria frase.

Mas Naruto estava decidido a levantar a moral de todos. Para ele, ser envergonhado e oprimido pelos Yuurei outra vez estava fora de cogitação. Se quisesse derrotá-los, teria de se adaptar à situação.

— Então eu só preciso derrotar um deles neste tempo. Só isso.

— Naruto... — Sakura falou baixinho. — É pouco tempo, até mesmo pra você e...

— Por agora, sim, Sakura-chan. Mas eu vou dar um jeito! O que eu não quero mais é ser pisoteado por aqueles caras. Cansei, cansei de verdade! Os Yuurei já feriram muitas pessoas com quem me importo e eu não pude fazer nada a respeito... Agora eu quero dar o troco. Quero sentir o gosto de derrotar um deles. Assim como meus amigos estão com medo deles agora, quero que os Yuurei sintam medo de mim também.

— O Naruto está certo — apoiou Sasuke. — Se temermos o inimigo, jamais nos sentiremos confiantes para vencê-lo. E eu matei um Yuurei, fi-lo queimar até desaparecer, sem deixar corpo, exatamente como eles fazem. Os Yuurei podem ser mortos, devemos pensar assim.

— Nosso contra-ataque começa agora — Naruto falou enérgico. — Nós podemos e vamos vencer!

— Que problemático — Shikamaru murmurou. — Você e essa sua empolgação não mudam nunca. Até eu me sinto melhor.

E todos se deram o luxo de rir. Era bom, afinal, principalmente para Naruto, sentir um pouco de alegria depois de tudo o que havia enfrentado. Ele se viu melhor.

Saindo do escritório da Hokage, Naruto abordou seu antigo professor, cochichando:

— Kakashi-sensei, posso falar com você?

— O que foi, Naruto?

— Eu tava pensando... Como eu não posso extrapolar seis minutos de uso das Bijuu. E minha velocidade extrema se deve a esses poderes. Então, Kakashi-sensei, eu quero te pedir um favor: me ajude a dominar o Shunshin no Jutsu (Técnica de Cintilação Corporal).

— Naruto, você sabe que o Shunshin no Jutsu que é requerido dos Jounin é bem básico. Já que você quer um aprofundamento, talvez fosse melhor procurar um usuário dele, não? O Sasuke, por exemplo, tem um Shunshin no Jutsu muito melhor que o meu.

— Eu sei, eu sei. Mas o Ninjutsu de Espaço-tempo do Sasuke é feito por causa do Rinnegan. E, fora isso, eu...

Kakashi riu.

— Entendi. Você não quer sobrecarregá-lo, não é? Ele já te ajudou contra aquilo que está dentro de você e, por isso, pensa que tem uma dívida com ele. No fim, vocês ainda mantêm aquela nostálgica rivalidade que eu conheci quando os ensinei, mesmo que não percebam isso.

Naruto não soube o que dizer.

— Está certo, Naruto. Vai ser como nos velhos tempos; você meu aluno e eu seu professor. Vou te ajudar no que puder.

— Sério, Kakashi-sensei? Você pode mesmo fazer isso?

— Sim, posso, sim. Podemos começar na manhã de hoje, se preferir.

— Mas é claro! Mal posso esperar por isso!

— Sabe onde me encontrar, não sabe?

Naruto parou, pensou um pouco e sorriu, afirmando com a cabeça.

— Ótimo — falou Kakashi. — Nos encontraremos lá, então. Agora vá descansar. Como sua casa foi destruída, a Tsunade-sama vai deixá-lo dormir aqui, no Edifício Hokage.

— É. — O rapaz riu, coçando a cabeça. — A Tsunade-obachan é legal. E eu tenho que me acostumar logo se quero vir pra este prédio todo o dia futuramente.

— Exatamente. Bem, eu vou indo. Amanhã o dia será longo. Boa-noite, Naruto — despediu-se Kakashi.

— Boa-noite, Kakashi-sensei!

* * *

Ela despertou cedo, mesmo tendo um péssimo sono. Os cabelos longos e bagunçados devido a uma noite mal dormida deixavam-na com uma aparência estranha e irreconhecível para alguém como ela, a Herdeira dos Hyuuga. Hinata coçou os olhos e se assustou com quem estava dentro do quarto do hospital, observando-a sem piscar.

— Papai?

— Olá Hinata. — O líder dos Hyuuga levantou-se com sua típica postura imponente. — Que bom que acordou.

— Por que veio tão cedo, papai? Ainda não deu o horário de visitas e...

— Hinata. — A moça estranhou a feição severa no rosto do pai; há tempos que ela não via aquele olhar, e não queria se lembrar dele.

— S-senhor, meu pai?

— Precisamos conversar.