O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 80
Penas e Palmas


Notas iniciais do capítulo

"Penas e Palmas,
Palmas e Penas.
Vão-se as almas,
Terminam-se as cenas.
O espetáculo termina quando a pena cai,
Quando a palma humana ao solo vai.
Para nunca vai se erguer.
E agora? Estou sem ela!
O que irei fazer? Juntar-me-ei a ela?
Oh, isso significa morrer.
Penas e Palmas
Palmas e Penas..."

(Alves, Victor - capítulo de hoje)

Boa-noite, gente!

Eae, gostaram do poeminha (Nãããããão! Cai fora, seu babaca!). Eu sei, foi improvisadíssimo, tipo, questão de dois minutos atrás. Mas, enfim, ele (o poema) traz um pseudo-spoiler do que vai acontecer neste capítulo. Caso não se veja preparado, recomendo lê--lo de novo antes de começar a ler o capítulo de hoje.

Ah, Victor, você vai matar alguém hoje?

Hum... Quem sabe.

Ah, Victor, este título me fez pensar numa luta entre o Taka e a...

Eu sei, foi proposital.

* * *

Enfim, acho que, devido às horas vou deixá-los com o capítulo. Nos vemos nas Notas Finais. Mas vou avisando: provavelmente HOJE vocês vão dormir querendo a minha cabeça. Hoje eu não escapo, hehe. o/



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Shion estava assentada na mesa acompanhada de Naruto e de Hinata. Juntos há bastante tempo, aguardavam a chegada de Burami Satsuki, que, naquela manhã, demorava, para o estranhamento da princesa.

— O Burami-san não costuma se atrasar — murmurou Shion. — O que será que aconteceu?

— Vai ver ele dormiu mais que a cama hoje. — Riu Naruto. — Acho que foi isso.

— Não sei, Naruto. Eu conheço o Burami-san há bastante tempo e, pelo que sei, ele sempre foi muito rigoroso nos horários... Não sei por que, mas tenho um pressentimento ruim.

— Ah, relaxe, Shion! — Naruto gesticulou com o braço, desdenhando. — O que poderia ter acontecido com...

A porta do salão se abriu com força. O pequeno Doru, o filho de Burami, a atravessou correndo. No rosto do menino não havia nada além do mais profundo terror.

— Hime-sama! Hime-sama! — o menino berrou desesperado e assustado. — P-por favor! T-tem um homem... Ele... Ele...

— Doru! O que aconteceu? — Shion se levantou às pressas da mesa, assim como Naruto e Hinata. — O que houve? Respire e conte-me o que aconteceu!

O menino recobrou o fôlego pondo as mãos sobre o peito. Depois, um pouco melhor, voltou a exclamar:

— O meu pai! Tem um homem estranho com o meu pai... Está machucando ele!

— Homem estranho? — perguntou Naruto urgente. O menino assentiu depressa.

— Sim... De roupa preta... E capuz...

Aquela descrição foi suficiente para a mente de Naruto ligar o suposto homem com tudo o que havia pensado e sonhado nos dias recentes. Sem pensar mais um segundo sequer, saltou para a porta. Às mãos, uma kunai.

— Hinata! — ordenou Naruto. — Fique aqui! Proteja a Shion!

— M-mas Naruto-kun, eu vou...

— Obedeça, Hinata! — Naruto gritou impaciente. — Eu cuido disso! Se for o que eu estou pensando que é...

Naruto não concluiu o próprio raciocínio. Temeroso, ele partiu imediatamente. Doru projetou-se para seguir Naruto quando Shion gritou:

— Doru! Fique aqui! É perigoso!

Mas o menino negou com a cabeça.

— Não! Hime-sama, eu preciso ir também! É o meu pai!

— Você é idiota? — berrou Shion. — Eu disse que é perigoso! Pare de tentar bancar o herói e fique aqui! Deixe o Naruto resolver isso!

Doru olhou para a princesa e novamente para a porta.

— Não! Eu vou, Hime-sama!

— Doru!

Tarde demais. O menino havia cruzado a porta e deixado o salão também, restando ali apenas Shion e Hinata.

— Aquele moleque... No que ele está pensando? — lamentou Shion. — Hinata-san, por favor, vamos atrás dele!

Hinata, para a infelicidade da outra, negou com a cabeça.

— Desculpe-me, Shion-san. Devo protegê-la e mantê-la a salvo aqui.

— O quê? Por quê? O Doru é só um garotinho! Ele... Ele... Ele está correndo perigo se sair...

— Você muito mais, Shion-san. — A princesa parecia não acreditar na frieza da Hyuuga naquela situação. — Se sairmos também, estaremos no território inimigo, uma vez que desde antes do ataque estávamos neste salão. Se eu deixá-la aqui para ir atrás do Doru-kun, estaria te condenando ao inimigo também. Desculpe-me, mas devemos permanecer aqui até o Naruto-kun voltar.

“E se o Naruto não voltar?” Shion estava prestes a perguntar a Hinata, mas deduziu que esta não estava pronta para tal questionamento, ou, pensou que aquele não era o momento a se indagar aquilo.

— Me pergunto... — Hinata analisava a situação tentando transmitir calma e confiança à princesa do país. — O Burami-san me disse que havia pessoas dentro do palácio por trás dos atentados contra você, Shion-san... Corruptos, traidores, impostores, talvez?

— Impostores... — Um pensamento ridículo, mas incômodo veio à mente da princesa naquele exato momento. — Hinata-san... O Doru nunca me chamou de “Hime-sama”...

— O que disse? — Hinata questionou na hora.

— É verdade. — A feição de Shion era confusa e temerosa. — Ele sempre me chamou de “Hime” ou de “Shion-oneechan”. Nunca de “Hime-sama”. O que isso quer dizer?

Hinata abriu a boca, incrédula. Como pudera ser tão desleixada? Ela, justamente ela? Viu Shion aparentar mais preocupação que o comum e notou que, assim como a princesa, ela também estava temerosa por Naruto.

A confirmação de todos os temores de Hinata veio quando ela ativou o Byakugan e viu o que se passava alguns metros ao norte. Abruptamente, postou-se à frente de Shion, protegendo-a, e assumindo postura de combate.

— Shion-san — Hinata disse mais séria do que nunca. — Por favor, fique atrás de mim.

 

 

                                                                           * * *

 

 

Naruto abriu com brusquidão a porta do quarto de Burami. O que ele encontrou lá dentro foi algo indescritivelmente horripilante. Viu vísceras humanas espalhadas pelo chão e pelas paredes, sangue manchando o ambiente até no teto, ossos espalhados, roupas rasgadas...

E viu pedaços dos corpos de Burami e Doru Satsuki emparedados, presos nas mãos e nos pés por... penas cinzentas.

— Mas que merda é...

A porta às costas de Naruto bateu com força, fechando-se. Surpreendido, ele se voltou para a porta e tentou abri-la. Em vão, pois nada que o Jounin tentava estava funcionando.

— O quê?! Por que isso...? Abre! Ei, abre! — Naruto socou a porta, jogou o corpo contra ela, tentou destruí-la com ferozes ataques, mas ela permaneceu intacta. Nas paredes também o mesmo problema.

Naruto estava selado dentro do quarto. Do lado de fora, penas cinza-claras estava recém-cravadas à madeira da porta.

— Então, hora de brincar com as garotas.

O falso Doru deu meia-volta, rumando para o salão onde estavam Shion e Hinata.

 

 

                                                                        * * *

 

 

A porta se abriu lentamente, rangendo melancólica. Diante de Hinata Hyuuga e de Shion, o rosto sorridente de Doru.

— Eu voltei! Exatamente como você pediu, Hime-sama. — Ele sorria.

— Quem é você? — antecipou-se Hinata.

— Oh, que droga... Eu fui tão óbvio, né? — A risada já não era mais infantil, mas grotesca e madura.

A carne das costas do falso Doru se abriu. Um par de asas verde-musgo brotou dali. Eram imensas, robustas, assombrosamente elegantes, com seus nove metros de envergadura. O rosto do menino sorria diabolicamente antes de ser ocultado pelas penas enormes. Quando as asas se reabriram, não revelaram o corpo de uma criança, mas de um homem alto, forte, de rosto severo, manto preto e capuz abaixado nos ombros.

Taka Kazekiri.

— Muito prazer, meninas. — Irônico, ele simulou uma reverência. — Sou Taka Kazekiri; parceiro de Suki, a Assassina de Kages; membro Junior e Nono Oficial dos Yuurei.

Nem Hinata nem Shion disseram algo.

— Ah, é falta de educação não se apresentar às pessoas, sabiam? Temos aqui uma princesa a ser coroada rainha e uma herdeira de clã. Onde está a cortesia de vocês?

— O que fez com o Naruto, com o Burami-san e com o Doru, desgraçado? — gritou Shion à retaguarda de Hinata. Taka arqueou a sobrancelha e disse debochado:

— “Desgraçado”? Onde está a cortesia nisso, Hime-sama?

— Responda a pergunta! — ordenou Hinata. O Byakugan indo de encontro aos olhos do Yuurei, que, mais interessado, dirigiu-se à Hyuuga.

— Oh, Hinata-chan... Não, melhor, Hinata Hyuuga... — Riu desdenhoso. — Deixe-me adivinhar, você deve ser o casinho do Naruto, não é? Você é bonita mesmo...

— Fale! — Hinata disse ríspida. — O que fez com o Naruto-kun e com os outros?

Taka bocejou e observou as próprias unhas.

— Ora, deixe-me ver... Naruto Uzumaki está selado a alguns metros daqui... Burami e o pirralho dele estão estripados e emparedados...

— O que disse?! — exclamou Shion, estupefata. — O que você fez, seu demônio?!

— “Demônio”? — Taka riu mais uma vez. — Ora, Hime-sama, eu prefiro... “Fantasma”, entende? Enfim, eu vim aqui por um motivo muito especial! Hime-sama, você virá comigo. Não é um pedido, me entendeu? Despeça-se da Hyuuga e venha comi...

— Não! — berrou Shion. — Eu não vou com você! Seu maldito! Eu não...

— Hime-sama, eu fui escolhido dentre todos os demais membros Juniores para vir capturá-la. Não posso falhar, entende? Então, quer fazer o favor de vir aqui comigo?

— Ou o quê? — desafiou Shion.

— Destruirei o seu amado país — respondeu Taka. — Varrerei, pessoalmente, o País dos Demônios do mapa. A começar pela Jounin da Folha que está te protegendo.

Taka olhou diretamente para Hinata, que, firme, sustentou o olhar para o Yuurei sem se intimidar.

Shion reconsiderou. Olhou para a janela, de onde era possível ver a campina verdejante do país. Também fitou as costas de Hinata, que permanecia em postura de combate até aquele momento. Tentou imaginar o horror que seria perder todas as vidas inocentes de seus compatriotas, seus amigos, seu lar. E, depois, imaginou o que Hinata estaria pensando naquela hora. Seria o mesmo? Seria na própria vida? Não, certamente que não. E Shion não queria ter o peso da vida de Hinata nos ombros, definitivamente não. Pensou em como Naruto se abateria caso ela não voltasse para ele.

E, ainda, pensou especialmente em Hinata Hyuuga — ela era uma boa amiga; uma rival no amor, diga-se de passagem, mas, ainda assim, uma excelente amiga. Shion adorou tê-la conhecido.

Decidida, a princesa deu um passo à frente.

— Tudo bem. Eu irei com...

Shion parou de falar. O braço direito de Hinata, estendido, bloqueava-lhe a passagem.

— Não, Shion-san — disse a Hyuuga ainda sem tirar os olhos do Yuurei. — Para trás de mim, eu não lhe disse?

— O quê? Não, Hinata! Você não está pensando em...

— É, Hinata... — Taka fez uma imitação pífia da voz de Shion. — Você não está pensando em enfrentar o Taka-sama, está? Ele é tão forte, tão poderoso...

O Yuurei pôs-se a rir.

Mas Hinata, serena, revidou:

— Que patético. Precisa imitar a voz dos outros para se ver reconhecido pelas outras pessoas, Taka-san. Desculpe-me, mas é realmente patético.

O rosto de Taka tremeu de ódio.

— Sua vadia peituda... O que você disse? — ele rosnou.

— Hinata-san, por favor — insistiu Shion. — Por favor, deixe-me ir. Esse homem neutralizou o Naruto. Você não é adversária para ele...

— O Naruto-kun foi enganado e selado — persistiu Hinata. — Meu Byakugan viu tudo; não houve luta. Este homem, Taka Kazekiri, é um covarde. Os Yuurei são covardes, não querem enfrentar o Naruto-kun diretamente, então, atacam os que são próximos a ele. Eu estou certa, não estou, Taka-san?

O Yuurei trincou os dentes e cerrou os punhos, raivoso.

— Covarde, é? Pois bem, esta será a última vez que você abriu essa sua boca para falar merda, vadia peituda. Quando eu terminar, você vai implorar para que eu seja rápido. Vou fazer você suplicar para morrer. Eu vou fazer você engolir tudo o que disse nesta manhã... e o Naruto vai ouvir tudinho... Seus gritos, seu choro, tudo. Apenas ouvir enquanto eu acabo com você.

As asas de Taka se estenderam ao máximo, mudando de cor de verde-musgo para amarelo.

— Nos Yuurei, há um Hyuuga que desejo derrotar por ter sido desrespeitoso com a minha Suki-senpai. Enquanto não o enfrento, espero que você dê para o gasto, vadia peituda. Espero que esta luta me dê prazer, não desânimo. Será que você consegue me aguentar?

Hinata respirou fundo. Buscou esvaziar a mente e focar-se apenas naquele duelo. Com os braços erguidos para frente, o rosto sério, ela respondeu simplesmente:

— Ataque.

 

 

                                                                     

 

Contar era impossível, dadas as circunstâncias. Centenas de penas amarelo-douradas voaram faiscantes contra Hinata. Disparando-as, um sorridente Taka Kazekiri.

— Engole essa, sua vadia peituda! Duvido muito que consiga segurar todas elas ao mesmo tempo.

As penas estalavam ferozes. Se não fosse pelo Byakugan, Hinata jamais conseguiria enxergar todas, nem estudá-las.

“Entendo... Então, é assim que ele ataca”, meditou Hinata.

Taka parou de sorrir. O que ele testemunhava naqueles minutos era algo até então jamais visto. Com as mãos nuas, Hinata desviava as trajetórias de todas as penas. Ela não perdia uma sequer; antes, porém, todas eram golpeadas pelo Juuken apurado de Hinata Hyuuga. As mãos trabalhavam freneticamente, desviando, golpeando, tocando... Após alguns minutos, Taka Kazekiri viu aos pés da mulher todos os projéteis disparados contra ela.

— Então... — Hinata ergueu os braços, postando-se em guarda outra vez. — Era só isso, Taka-san?

O Yuurei, por dentro, queimava de ódio, amaldiçoando Hinata Hyuuga. Por fora, esboçou um sorriso arrogante.

— Impressionante... Tá aí! Acho que vou adorar te trucidar e...

Por um segundo o Yuurei havia a perdido de vista. Virou-se abrupto, vendo a Kunoichi já às suas costas. Hinata tinha as mãos unidas à lateral do corpo, concentrando energia. No espaçamento entre as palmas dela, o ar distorcia-se.

— Mas que isso...?

— Hakke Kuuhekishou (Ataque da Grande Barreira de Ar)!

Hinata liberou de uma vez toda a energia acumulada entre as mãos. O Hakke Kuuhekishou consistia em uma versão muita mais destrutiva do Hakke Kuushou (Palma de Ar), podendo ser usado a qualquer tipo de alcance. O ruído provocado pela colisão do jutsu da Hyuuga com uma das asas do Yuurei foi gravíssimo, de doer os ouvidos.

— O quê? — Hinata arregalou os olhos, incrédula. — Ele...

— E aí, vadia peituda? — Gargalhou Taka. — Maneiro, não?

A asa que havia protegido o Yuurei do impacto do Hakke Kuuhekishou adquirira outra coloração, agora cinza-escura.

“Meu ataque foi à queima-roupa, mas ainda assim o Taka-san sequer cambaleou um passo para trás! E aquela asa... aquilo é...” Taka fez as asas mudarem de cor outra vez, agora, para vermelho vibrante.

— Vamos esquentar as coisas por aqui agora!

 

                                                                  ***

 

 

"Explosões!" Os tímpanos de Naruto doeram durante alguns segundos. Qualquer coisa que estivesse acontecendo lá fora, fosse o que fosse, tomava grandes proporções.

— Droga! — Outro Rasengan inútil contra a porta e as paredes intransponíveis. — Por que essa porcaria não quer abrir? E quem era aquele desgraçad...

— Eu disse a você, não disse... Naruto Uzumaki?

Duas vozes, masculina e feminina, falavam juntas na cabeça de Naruto. Ele sabia: era o demônio roxo.

 

 

                                                            

 

— Cale a boca! — gritou Naruto. — Eu não quero ouvir você!

— Não quer? — Riu-se a fera. — Infelizmente, isso está fora do seu poder de decisão, Naruto Uzumaki. Afinal, somos um ago...

— Eu não sou nada seu! Bicho desgraçado, cai fora da minha cabeça!

— Não estou só na sua cabeça, seu tolo minúsculo... Eu sou sua raiva, seu ódio, sua tristeza, sua angústia... sua escuridão. Eu... sou... você.

— Não é, não! Eu sei lá que porcaria os Yuurei fizeram para você vir parar dentro de mim, mas saiba que nada vai funcionar, entendeu? Nada! Eu vou...

— O quê? — questionou o demônio irônico. — Vai o quê? Diga-me.

Naruto ficou em silêncio. Sentindo o sabor da derrota, viu a criatura arroxeada serpentear ao seu redor.

— Claro, você não pode dizer nada. Sabe por quê? Porque assim como suas palavras, assim você é: nada! Você nada disse, você nada é contra mim nem contra os Yuurei. Não pode derrotá-los, Naruto. O que houve durante a tentativa fracassada do resgate de Killer Bee mostrou isso, não? Com muita sorte vocês conseguiram derrotar o Juha, mas e aí? E agora? Acham que conseguiram intimidar os Fantasmas com aquela sôfrega vitória que custou a vida daquele menino patético chamado Omoi? Não, meu pequeno Jinchuuriki. Eis a sua resposta: não.

No plano psíquico, Naruto viu o monstro mascarado se aproximar a ponto de estar a menos de dez centímetros de diante da face grotesca, pegajosa e fedida do demônio roxo. As duas bocas — uma atravessada à outra — sorriam para o rapaz.

— É aqui que você costumava se reunir com seus amiguinhos Bijuu, não é? Que triste! Eles não podem mais vir salvá-lo! E falando em salvar... Eu tenho muito mais do que esperava: as duas mulheres mais importantes para você neste palácio.

— Maldito! — Naruto trincou os dentes, os dedos estalaram com o fechar dos punhos. — Deixe-as em paz!

— Em paz? Oh, mas e minha promessa? Eu não lhe disse que a Hyuuga morreria e que você a ouviria morrer?

— Se você tocar a Hinata, eu prometo: vou te estripar; você e todos aqueles Yuurei de merda!

O demônio gargalhou com a dupla risada.

— E a outra mulher? Que destino é o mais aceitável a ela?

— Deixe a Shion fora disso! Ela é minha amiga! — berrou Naruto o mais alto que pôde. A criatura nada fez além de rir outra vez.

— Sua amiga? Ah, Naruto Uzumaki... É exatamente por isso que ela me interessa! É exatamente por isso que a Hyuuga me interessa. Eu lhe disse, não? Seus amigos, todos aqueles que você ama; tudo que significa luz para você... eu vou devorar, vou reduzir a nada; e vou te arrastar para mim, Naruto Uzumaki.

— Seu bosta! Eu jamais deixarei...

A voz de Naruto morreu; e o semblante do rapaz ficou vazio. Seus ouvidos captaram um som inconfundível. As mãos de Naruto Uzumaki tremeram, as pernas ameaçaram cair, o coração palpitou mais rápido.

E o demônio sorriu com as duas bocas sobrepostas. As vozes feminina e masculina vindas da criatura, num sibilar horrendo, ressoaram às densas trevas que obscureciam os olhos descrentes de Naruto.

— Eu avisei — gargalhou. — É delicioso, não?

Muito longe dali, Hinata soltou um grito de dor.

 

 

                                                              * * *

 

 

— Hinata-san! — berrou Shion.

A Hyuuga, ofegante, se apoiava sobre um dos joelhos enquanto premia o braço esquerdo com a outra mão, cobrindo uma terrível queimadura de Segundo Grau.

Taka gargalhou.

— É horrível, não é? As queimaduras de Segundo Grau são as mais dolorosas que existem. São muito mais terríveis que as de Primeiro, mas não tão danosas quanto às de Terceiro, que não causam dor. Sabe por que, vadia peituda? Porque as de Terceiro Grau destroem tanto a pele ao ponto da vítima sequer sentir algo na região afetada.

Hinata mordeu com força o lábio inferior. Não queria pensar na queimação avassaladora no braço esquerdo; era em Taka que ela queria se focar. Se conseguisse detê-lo, ou pelo menos desgastá-lo, talvez fosse possível encontrar um modo de deixar Shion em segurança e salvar Naruto.

— Suas penas... — Hinata sussurrou ofegante. — Eu... as entendi.

— Oh, entendeu a minha técnica? — desdenhou Taka. — Fabuloso! Eu só a usei quatro vezes na sua frente. Mas e aí? Isso por um acaso significa que você tem alguma chance de vitória? Hein, vadia...

Taka parou desentendido. Viu Hinata golpear o próprio braço esquerdo em três pontos ao redor da queimadura. O bíceps dela tremeu antes de relaxar outra vez; estava inoperante.

“Ela... paralisou o próprio braço? Usando o Juuken?!” Taka não entendeu o raciocínio de Hinata.

— Garota estúpida! Pensa que pode lutar comigo usando apenas um braço? Se nem mesmo com dois você conseguiu segurar minhas penas de fogo, imagine com um só!

As asas se ergueram outra vez, as penas vermelhas brilharam inflamadas antes de voarem como um enxame contra Hinata.

Quieta, sem esboçar recuo, Hinata aguardou. As penas se aproximavam.

E Hinata não se moveu nem mesmo um centímetro. Permaneceu firme.

“Ela quer morrer?” Taka franziu a testa.

O ataque do Yuurei estava a menos de um metro de atingir Hinata em cheio. Mas ela girou o corpo em 360 graus; e o braço direito — o único que podia ser utilizado — erguido, com a palma estendida na direção do inimigo:

— Hakke Kuushou (Ataque da Palma de Ar)!

— O quê?! — Surpreendido no último instante, Taka viu suas centenas de penas flamejantes se arremeterem contra ele outra vez, redirecionadas pelo ataque de Hinata. O Yuurei teve só dois segundos para se cobrir com as asas — agora cinzentas — antes de ser engolido pelas chamas das penas vermelhas que voltaram contra seu arremessador. Neste meio tempo Hinata agiu com extrema rapidez e eficácia: abriu o estojo de acessórios às costas, pegou um pequeno pote amarronzado, abriu de vez com uma mão, tomou a pomada nos dedos e passou na região da queimadura. Depois, envolveu com ataduras a área em que passara a pomada curativa.

Por fim, tocou novamente os próprios músculos com Juuken. Sentiu um formigamento incômodo no bíceps e no tríceps, mas logo recuperou a movimentação do braço esquerdo.

O fogo cessou. As asas se abriram e, dentro delas, via-se o rosto roxo e consumido por ódio de Taka Kazekiri.

— Espertinha, não é? Aproveitou para me surpreender e conseguir medicar o próprio braço... Uma ninja médica, que bonitinho!

Hinata negou com a cabeça.

— Eu não sou ninja médica, Taka-san — disse. — Não sei qualquer Ninjutsu dessa natureza. Precavi-me com pomada curativa preparada no meu clã; sempre trago comigo em missões. Se eu fosse uma ninja médica, teria agido muito mais rápido, sem precisar inutilizar momentaneamente o meu braço, inclusive.

— Entendo... — Riu desgostoso. — Você agiu por instinto. Não, você pensou rápido. Até mesmo eu, um Yuurei, valorizo este tipo de atitude. Você é uma boa Kunoichi, Hinata Hyuuga; o que me deixa ainda mais excitado para te matar.

Taka formou um selo nas mãos. As penas nas asas tornaram-se roxas. Hinata analisou:

“As penas verde-escuras davam-lhe habilidades de transformação. As amarelas, o poder da eletricidade; as cinza-escuras, metal; as vermelhas, fogo. O que as roxas podem fazer?”

O Byakugan de Hinata analisava pena por pena, bem como o chakra presente no corpo de Taka. Estudar o corpo daquele Yuurei estava sendo a coisa mais complicada que Hinata já havia se lembrado de fazer.

“O chakra dele... Muda toda a vez que as penas mudam de cor. É como se ele tivesse mais de um tipo de chakra diferente! E tem outra coisa... dentro deste homem: um chakra escuro, repugnante. É esmagador! É como o chakra de um...”.

— Morra! — berrou o Yuurei, disparando cerca de trezentas penas de uma só vez. Outras nasciam quase instantaneamente no lugar, mantendo bem operante o arsenal de Taka Kazekiri.

— Hakkeshou: Kaiten! — A defesa absoluta do clã Hyuuga. O Kaiten de Hinata tomou forma: um turbilhão impenetrável de chakra. Era grande; todas as penas ricochetearam voando para as mais diversas direções. Shion, protegida atrás da mesa derrubada, não foi atingida por nenhuma pena perdida; a luta também estava a uma distância considerável dentro do enorme salão de jantar.

E Taka sorria enquanto, calmo, observava o Kaiten de Hinata Hyuuga ainda girando.

“Como esperado, o Kaiten. Como esperado...”.

O turbilhão giratório cessou muito antes do previsto por ela. Hinata caiu para trás, arremessada devido a interrupção abrupta e descontrolada do próprio jutsu. O corpo estava doendo — e muito —, mas não pela queda; era outra coisa.

— O-o quê...? — Viu as pontas dos dedos escurecerem; as veias contrastarem com a pele clara, apresentando um roxo escuro e assustador que lhe invadia e subia, percorrendo-lhe o corpo. — Isso é...

Taka assentiu risonho.

— Exato. — Sorriu malicioso. — É veneno.

Os temores de Hinata se confirmaram naquelas palavras simples.

— Eu disparei uma quantidade absurda de penas envenenadas — continuou Taka —, para que você não pudesse fugir e fosse obrigada a se defender. E pelo que sei dos Hyuuga, vocês usam muuuuuuito os braços.

E Hinata entendeu; caíra na armadilha do inimigo.

— Você... se aproveitou do meu Juuken... — Ela evitou soltar um grito de dor que lhe inflamara desde as entranhas. — E usou um ataque exatamente... para atacar os meus braços...

Taka concordou.

— Eu sabia que, sem poder fugir, você usaria seu Juuken para se defender. Não seria aquela Palma de Ar porque lancei muitas penas contra você. Logo, o Hakke Kuushou jamais cuidaria de todas elas. Então, tive certeza de que seria o Kaiten ou qualquer outro tipo de defesa. O problema era: enquanto repelia meus ataques, seus braços tocavam, mesmo que de leve, as minhas penas envenenadas. Isso foi o bastante pra mim!

O veneno se espalhou rapidamente. Em questão de segundos, todo o corpo de Hinata estava contaminado com a substância tóxica. Os músculos queimavam como se estivessem em chamas; a carne parecia estar se corroendo; o sangue parecia ácido dentro das veias e artérias; o ar tornava-se escasso; a respiração, sôfrega; as entranhas reviravam-se nela. Hinata gritou em meio à própria tortura, gritou muito, de forma que lágrimas descontroladas desceram-lhe pelos olhos.

— Monstro! — berrou Shion, desesperadamente. — Pare com isso! Pare com isso agora!

Mas Taka gargalhou, olhando irônico para a princesa.

— Pare... — Os olhos marejados de Shion se fecharam, desejando não ver aquilo. — Por favor, pare com isso...

O Yuurei sequer demonstrou compaixão; antes, caminhou a passos lentos, apreciando e bebericando com sadismo o sofrimento de Hinata Hyuuga. Quando a jovem esteve aos seus pés, Taka se abaixou e a segurou com força pelo pescoço. Por fim, aproximou a boca do ouvido dela, sussurrando:

— Tá doendo, né? Mas relaxa, vadia peituda. Esse veneno não foi feito pra matar, não... — O hálito seco e malcheiroso a nauseava. Maliciosamente, deliciando-se com o sofrimento da vítima, Taka lambeu a pele abaixo do ouvido de Hinata, rindo da careta enojada que Hinata fazia. — Sabe por que meu veneno não vai te matar, vadia? Porque disso cuidarei eu!

Com a outra mão, o Yuurei desferiu um soco fortíssimo na boca do estômago de Hinata, fazendo-a tombar por sobre os próprios joelhos, sem ar. Ela caiu e foi cruelmente chutada e pisada no rosto pelo inimigo, que gargalhava.

— Sabe por que as pessoas gritam quando sofrem? — Ele falou risonho, chutando a barriga da mulher. — Porque o grito é uma forma de extravasar a dor, de liberar a sensação de sofrimento para fora do corpo... A Suki-senpai sempre me disse que brincar com a comida antes de devorá-la é muito mais prazeroso, muito mais saboroso. Mas diferente da minha parceira, não são todos os gritos de dor que deixam excitado, não. E se quer saber...

Taka deu leves chutes nas nádegas da garota.

— Eu estou adorando te ver gritar, vadia peituda — completou ele. — Isso me deixa todo duro.

E novamente Taka premiu o pescoço de Hinata, que tentou de tudo para se libertar. Porém, fraca e terrivelmente machucada, sequer significou ameaça para o Yuurei. Taka ria das mãos inofensivas dela tentando desfazer o aperto que ele lhe dava no pescoço.

— O Naruto deve estar louco pra me matar. — Riu o Yuurei. — Acho que ele tem razão. E falando em matar...

As asas do Yuurei se abriram ao máximo. Brancas e majestosas, elas fizeram Taka Kazekiri voar ao teto do salão. Ele ainda sufocava Hinata.

— É regra, né, vadia peituda? Tudo o que sobe, desce.

Aconteceu rápido. Shion gritou em apuros. Hinata viu de relance o sorriso maligno do Yuurei, sentiu o aperto no pescoço afrouxar...

Mas Taka não a soltou.

— Não — ele disse no ouvido dela. — Não vou te matar tão fácil.

E o Yuurei, no alto, arremeteu contra o piso do salão, pondo Hinata na frente, de modo que ela recebesse todo o impacto da queda.

— Hinata! — Shion gritou antes de arregalar os olhos e pôr as mãos à boca; não acreditou no que viu.

O som de partir de ossos foi alto. Taka estava de pé, ileso. Sob os pés dele, Hinata estatelada no piso. Ela não se movia mais, uma poça de sangue escorria pela cabeça da Kunoichi.

— Hinata... Hinata... Não... — Shion caiu ajoelhada, chorando.

Taka olhou para ela. O olhar do Yuurei dizia à princesa com clareza: “Eu te avisei”. O ninja deu um sorriso sarcástico.

— Sem deixar corpos, assim agem os Yuurei.

Quando as asas tornaram-se vermelhas, Taka disparou dezenas de penas de fogo à queima-roupa no corpo inerte de Hinata, que foi consumida pelas chamas.

Longe dali, selado dentro de uma sala, Naruto pressentiu uma pontada mortal no próprio peito. Sem palavras, sem chão, sem nada, sentiu que algo muito importante havia sido arrancado dele naquele exato momento.

— Hinata... — A única palavra que ele conseguiu dizer em meio ao mórbido silêncio.


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Notas finais do capítulo

Antes de saírem me xingando, me amaldiçoando, antes de acharem que devem parar de ler esta história eu lhes convido a ouvir (no caso, ler) estas minhas palavras:

"O mal acontece só para os maus? Não. Os finais felizes só acontecem para os bonzinhos? Também não. Não é novidade que A se deu bem quando deveria estar completamente ferrado, que B, que merecia estar bem, na verdade, não está. Achar que em uma história apenas os vilões vão se dar mau é inverossímil, galera. Não, não é assim. Se o fosse, além de vivermos e lermos um universo previsível, estaríamos abordando algo enfadonho, chato, monótono. Em certos casos, não são as tragédias causadas pelos vilões (sim, aqueles que dizemos odiar) que nos cativam a ler/ver determinada coisa, que nos faz ficar parados, assistindo, para descobrir o que vai acontecer em seguida, nem que seja para saber como o tal vilão vai perder? Claro, isso se ele perder? Não é assim, gente?"

Ah, mas tanta gente... e você vai na Hinata?! E NaruHina? Parei! Não quero mais saber! Vou esquecer esta história!

Sobre isso, gente, eu não posso prendê-los aqui comigo. Confesso, eu queria poder fazê-lo, tê-los perto, conhecer a todos pessoalmente, mas não posso; o máximo é estar com vocês aqui. Agora, vocês têm total liberdade para abandonar esta história caso ela não os esteja agradando. Agora, perdoem-me pela sinceridade, eu acho a morte de um personagem ser motivo para abandonar um autor (seja de fanfic, seja de livros) pífio, pequeno e, talvez, infantil. Não vou mudar, até porque isso me comprometeria e esta história também. Peço desculpas se, porventura, estou sendo rígido com as palavras (acreditem quando digo que não o quero ser), mas este é meu pensamento. Torno a dizer: não são apenas os vilões que se dão mal. Isso é pensamento para desenho animado livre para todos os públicos.

*Suspira*

Como eu já disse há um tempão, galera, os demais capítulos já estão prontos. Não, eu não vou mudar nada neles. Nada.

Próximo capítulo: O desejo de Kioto

Para os manolos que gostam de teorizar, duas palavras-dica: "parceiro" e "mão".

Tá, isso aparentemente não tem nada a ver com nada. Eu sei, mas, creiam, tem sentido.

Espero que me desculpem por qualquer coisa. Longe de mim ofender alguém; só estou dizendo que, como autor, não posso me valer de matar apenas os vilões.

Provavelmente vocês vão me querer ver morto, pra variar. Se bem que eu já tinha avisado muito antes que vocês iriam me odiar bastante neste último arco.

Amo vocês! Desculpem-me. E, para aqueles que não saibam, eu sou shipper NaruHina assumido. Quem é meu amigo sabe muito bem disso. Sabe, também, que a Hinata é minha Kunoichi preferida.

Enfim, deixá-los-ei a pensar. Só não me odeiem *fica de joelhos*

Até o próximo capítulo o/