O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 67
Omake: A Dama que personifica a morte - parte 4


Notas iniciais do capítulo

IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIT'S TIIIIIIIIIIIMEEEEE (Leiam isso na voz de Bruce Buffer, locutor do UFC)

https://www.youtube.com/watch?v=ilpiYHKbSAw

Ai, ai, desculpem. Ainda estou em clima de UFC. Quem assistiu à luta do Anderson Silva ontem? The Spider come back!

* * *

Senhoras e senhores, chegamos ao último capítulo deste Omake. O desfecho da história da Beni, toda a jornada que ela trilhou até se tornar a Oukami que conhecemos hoje. Agradeço a todos os que participaram da votação do Omake, não somente aos que votaram na Beni, mas a todos mesmo. Infelizmente, só foi possível contar a história de um dos cinco lobos; eu também tinha altos planos para o Iruzu e para a Mera.
Espero que gostem deste capítulo. Nele verão o que Shozu Ibuke fez com nossa Makagawa

Sem mais papo, leiamos, pois. Nos vemos nas Notas Finais o/



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Deserto de Kushi arredores da Vila Oculta da Areia.

Quatro anos haviam se passado.

Beni, a menina que desde a infância presenciara a dor e a crueldade do mundo; vira os pais e a irmã serem mortos em sua frente; perdera o único lugar que podia ser chamado de lar; fora desprezara por pessoas iguais a ela; odiada por todos ao redor dela; cativara apenas a compaixão de uma Uchiha chamada Usui, morta mais tarde por Boku Shishigawara; a passos curtos e lentos, se dirigia à sala de seu novo companheiro, Shozu Ibuke.

Agora, com doze anos de idade, Beni se sentia outra pessoa se comparada àquela que outrora fora um dia — fraca, chorosa, melancólica. Conseguira, durante o período ao lado de Shozu, entender a própria Kekkei Genkai, bem como desenvolver novas habilidades.

E Shozu. Ele era gentil, cuidadoso e atencioso para com ela. Dedicava, se necessário, horas para acompanhá-la. O que Beni não entendia era o fato de, certas vezes, o garoto se trancar no laboratório particular. Nunca, desde que foram morar juntos, Beni entrara no laboratório do companheiro; era um verdadeiro mistério.

E a porta, naquele instante, estava entreaberta. Shozu estava fora; viajara até a Vila Oculta da Areia, como o fazia periodicamente.

Beni se via entre a cautela e a curiosidade. Decerto, Shozu se decepcionaria se descobrisse Beni ali, no laboratório, mas, por outro lado, aquela talvez fosse a única oportunidade da garota de conhecer mais a respeito do misterioso lugar de refúgio do titeriteiro.

Depois de considerar bastante, ela resolveu seguir até o laboratório.

O lugar era mal iluminado e cheirava a mofo. Algumas prateleiras estavam abarrotadas de poeira. O lugar era bastante espaçoso, o que o tornava ainda mais assustador.

Beni encontrou uma grande maca à frente. Perto dela, diversos aparelhos que a garota sequer havia visto na vida.

— Afinal, o que o Shozu-san fazia aqui.

A resposta da garota veio logo a seguir.

Mais adiante estava a maior marionete que a garota vira na vida. Media aproximadamente três metros de altura. Tinha aparência cadavérica, de rosto deformado e rasgado, cabelos amarelados e velhos, dentes saltando para fora da boca. Trajava vestes negras e empoeiradas, tinha braços longos, cujos dedos eram alongados. A marionete parecia produzir medo.

— O que é isso? — sussurrou consigo mesma.

— Gostou? — A voz de Shozu foi ouvida bem atrás de Beni.

A garota tremeu, olhando apressadamente para trás; Shozu a observava com uma expressão estranha no rosto, uma que Beni era incapaz de interpretar.

— Akuma — disse Shozu Ibuke. — Minha obra-prima.

— S-Shozu-san! Você voltou! Desculpe-me! Eu não deveria estar aqui, eu sei. E-Eu vou voltar agora mesmo. — desculpou-se Beni.

A garota deu a volta e se encaminhou para a saída. Shozu sorriu de forma maligna e, gesticulando, fez a porta se fechar com violência; Beni estava presa ali, junto com Shozu Ibuke.

“Ele controlou as portas com fios de chakra?!” analisou a garota.

Algo estava errado, muito errado. Por que Shozu não estava se importando com Beni ali? Por que a trancara junto com ele? E a marionete? Alguma coisa nela causava na garota uma péssima impressão.

— Está com medo, Beni-chan? — perguntou Shozu, se aproximando da garota.

— N-Não... não estou, mas...

— O Kazekage — interrompeu Shozu — se aliou ao Nukenin Orochimaru para destruir a Vila Oculta da Folha durante o próximo Exame Chunnin. Durante o ataque, o filho do Kazekage, o demônio em forma de criança, Gaara, será usado como a arma definitiva da Areia. Nosso líder ordenou que todos os ninjas se apresentem com força máxima.

— Destruir... a Folha? Mas, Shozu-san, você disse que era amigo da Usui-san. Ela era da Folha e...

— Beni-chan — Shozu deu mais um passo à frente, olhando nos olhos da garota — você é tão estúpida, não é?

Aquela pergunta maldosa foi um tapa para Beni. Mentira, ela pensou de imediato, uma longa mentira. Foi como se os quatro anos ao lado de Shozu Ibuke nada significassem, como se o Shozu Ibuke que ela conheceu sumisse repentinamente. Agora, por que ele a enganara?

— Você me enganou. — A voz de Beni se tornou grave, a expressão séria.

— Tão inocente, tão carente, tão fácil de ser engaçada. — Shozu fez uma careta de desdém.

— Seu... você se aproveitou da morte da Usui-san para me enganar, para tomar o Sharingan dela sem que eu me opusesse. — A garota avançou contra Shozu, que apenas riu da tentativa dela.

— Sim, mas não somente isso, minha querida Makagawa.

Apenas um gesto com as mãos. Shozu conseguiu parar Beni apenas com um único gesto de mãos. A garota estava imóvel no ar como se fosse um boneco sob o comando do titeriteiro.

— Meu corpo... não consigo me mover... o que você...

— Micromarionetes — revelou. — Eu as pus na sua comida durante anos, desde quando você veio até mim. Elas se instalaram dentro do corpo para que, quando chegasse a hora, eu não precisasse te enfrentar, Beni-chan. Em circunstâncias normais, provavelmente você me derrotaria, por isso, tive que garantir que você não fosse um problema para o que desejo fazer, o que eu sempre desejei fazer.

— Seu... do que você está falando.

— Seu Shinigami no Jutsu é evoluído, se comparado aos demais do seu finado clã. Eu pesquisei durante muito tempo a respeito da sua linhagem, Beni-chan. Sabe o que descobri? A cada cem anos, um integrante dos Makagawa despertará uma Kekkei Genkai superior a todas as outras de seus companheiros de clã. Isso significa que você, Beni-chan, é a Makagawa mais poderosa em cem anos. Seus poderes se desenvolveram quando você ainda era uma criança de oito anos, correto? Bem, eu devo dizer que, por se tratar de uma Kekkei Genkai mais forte, ela ainda está sujeita a mais evoluções. Você, minha garotinha, é incapaz de morrer. Tenho certeza que já sabia disso, certo? Não importa o quão ferida você fique, o seu, e apenas o seu, Shinigami no Jutsu irá curá-la de todo e qualquer dano. Além disso, temos ainda a habilidade de controlar os atributos de morte; principal habilidade da sua linhagem. Seu poder, Beni-chan, é divino. Eu o quero. Eu sempre o quis.

— Pra quê? Por quê?

— Porque pretendo assassinar o Kazekage e tomar a Vila para mim. E para isso, roubarei todo o seu pode e implantarei — Shozu apontou para a marionete Akuma — nela.

O coração de Beni disparou. Ainda estava sob o controle de Shozu Ibuke e se sentia incapaz de executar qualquer movimento. Vulnerável como sempre fora, enganada por aquele a quem chamara de amigo. Beni suspirava em meio à tensão.

— Eu não vou deixar você tomar meus poderes.

— Ah, vai, sim — ele sorriu para ela.

Controlando à distância o corpo da garota, Shozu fê-la deitar na maca ao lado de Akuma. Em seguida, com a mão livre, teceu fios de chakra e manipulou o maquinário para prender Beni. Travas de metal, cinturões espessos, um apertado e pesado capacete, uma mordaça; Beni era uma verdadeira cobaia do titeriteiro Shozu Ibuke.

Shozu assobiava e ria enquanto executava comandos no dispositivo. Neste meio-tempo, agulhas gigantescas se projetaram na pele da menina — do pescoço aos braços enfaixados.

— Beni-chan, você sabia que sua Kekkei Genkai é mais intensa quando suas emoções se afloram? Como pretendo tirar seu poder no auge, vou dar a você uma dose de... bem, pesadelos.

A garota era incapaz de mexer sequer o pescoço, mas se o pudesse, daria ao titeriteiro um olhar aterrorizado.

— O capacete que está usando — Shozu se aproximou da garota e socou o capacete repetidas vezes — vai acessar a sua memória e reproduzir suas lembranças mais tristes e dolorosas. Esse processo vai se repetir centenas de vezes. É provável que sua personalidade se altere um pouquinho, sabe — riu o garoto —, mas o que você não faz por mim, certo, Beni-chan? Você me adora, não é?

A menina se debateu em frenesi. Devido à mordaça na boca, os gritos de Beni se resumiam em grunhidos abafados. Shozu sorriu de forma sádica e anunciou:

— Bom, vamos começar.

O rapaz acionou uma manivela. O processo havia começado.

Beni sentiu o corpo em estado de choque. Todos os músculos pareciam querer explodir, a cabeça doía demais, Beni queria gritar, pedir para que Shozu parasse com aquilo, mas não conseguia, ela era obrigada a testemunhar tudo de novo. Tudo de novo...

O pai morrer em seus ombros, a mãe gritando pela perda do braço, a faca lhe cortando o pescoço, os gritos de Moa, chamando-a de demônio, a casa em chamas e fumaça, Sasha expirando em sua frente, asfixiada.

Beni também viu os sofrimentos que passou até encontrar Usui e, sem poder ver nenhum de seus momentos felizes ao lado da amiga Uchiha, viu diretamente a morte dela, o rosto sujo, sôfrego e cego de Usui Uchiha. Toda a tristeza e amargura que Beni Makagawa sentira voltaram à tona.

E depois, Beni foi forçada a assistir a tudo mais uma vez. E outra, outra e depois outra. Numa tortura psicológica que era infindável.

Já haviam passado quatro horas e nem um décimo do processo de extração do Shinigami no Jutsu estava concluído. Shozu parecia excitado ao ver o sofrimento da menina. Comia enquanto a via se debater na maca.

— Isso é tão divertido. Quando eu terminar, talvez eu corte os braços dela. Sem os braços de Shinigami, a Kekkei Genkai dela não poderá curá-la. Vai ser divertido vê-la sangrar e gritar. A Beni-chan...

Algo, porém, que Shozu não contava, aconteceu.

O titeriteiro sentiu um chakra hostil invadir o esconderijo. Para infelicidade do mestre de marionetes, ele conhecia exatamente quem era o invasor.

— Droga! — apressado, o garoto tomou um grande pergaminho e escondeu nele a marionete Akuma, interrompendo o processo de extração do Shinigami no Jutsu. A tortura de Beni, porém, estava ininterrupta — Esse mercenário maldito tinha que aparecer logo agora?

Shozu estava em fuga. Lutar estava fora de cogitação, principalmente se tratando daquele homem como oponente. Pegou as outras marionetes que possuía e, olhando mais uma vez para Beni, sofrendo com os pesadelos, saiu. Para o garoto, deixar a menina sofrendo ali poderia atrasar seu perseguidor.

— Nos veremos de novo, Beni. Nos veremos de novo. — Deixou o local enquanto Beni jazia na maca, ainda sofrendo com as lembranças reproduzidas.

Ela não sabia onde estava. A mente parecia estar em branco. O corpo queimava e tremia, mas ela não se importava — não sabia por quê. Levantou-se e se sentou sobre a maca. Por um instante, seus olhos negros se desviaram para a esquerda, onde um homem que ela nunca havia visto a observava com certa curiosidade. Era alto, de vestes ninjas de cor amarronzada, possuía cabelos brancos, olhos assassinos, uma espada negra presa à cintura.

— Finalmente acordou, pirralha. — ele disse.

— Quem é você? — a voz dela soou mórbida e baixa, muito diferente do normal.

— Isso pouco importa agora. O que aquele Shozu Ibuke queria com você?

Beni sentiu o rosto contrair ao ouvir aquele nome. Shozu... agora ela se lembrava de tudo; aos poucos, a mente clareava e as lembranças voltavam. Infelizmente, voltaram.

— Isso pouco importa — repetiu. — Eu só quero revê-lo.

— Revê-lo? — o homem gargalhou. — Garota, se não fosse por mim, você estaria se debatendo até agora nessa maca. Acha que seu namorado titeriteiro se importa com você?

— Eu quero revê-lo porque quero matá-lo.

Aquelas palavras agradaram ao homem, que se aproximou dela com um olhar de certo interesse.

— Você é a última Makagawa, estou certo?

— Sim, sou eu. — Beni se levantou. O rosto inexpressivo e frio estava parcialmente escondido sobre os longos cabelos negros.

— Que tal se juntar a mim, criança? Alguém como você certamente tem potencial para ser minha companheira.

— Da última vez que aceitei um pedido assim, fui traída e torturada, exatamente como você viu. Por que eu confiaria em você? — perguntou.

O espadachim sorriu e, antes que Beni reagisse, ele a perfurou com a espada negra. Um golpe rápido e seco.

O curioso era que Beni não sentia a lâmina cortar-lhe as entranhas. Era como se a espada não fosse feita de qualquer material físico.

Ele puxou a arma de volta com a mesma velocidade. Beni viu o corte se fechar assim que a espada deixou seu corpo.

— O que você fez?

— Removi todas as micromarionetes do seu corpo. Agora, quando vocês dois se encontrarem novamente, ele não terá qualquer domínio sobre você. Você poderá matá-lo da forma que preferir.

Era verdade. Todas as micromarionetes foram expurgadas do corpo de Beni. Ela estava livre do controle de Shozu Ibuke.

— Por que fez isso? Eu não aceitei o seu convite... estranho.

— Mas vai aceitar, não é mesmo, Beni Makagawa? — O homem sorriu para ela e embainhou a espada mais uma vez. Beni não parecia surpresa com o fato de aquele sujeito conhecê-la.

— Por que eu aceitaria?

— Porque posso dar Shozu Ibuke a você, e, além disso, posso levá-la de volta a Nagare. Você vai adorar destruir aqueles que promoveram uma campanha para destruir a sua família. — declarou.

Conseguira. Aquela proposta era demasiado tentadora. Não apenas Shozu Ibuke, mas toda Nagare. Beni já havia desejado destruir aquele vilarejo, mas agora tinha, realmente, a chance de concretizar o sonho.

— Eu não mato por prazer — disse ela.

— Mas pode matar por vingança — ele rebateu. — Você conhece o estilo de combate ninja, mas teve um Gennin prodígio como professor. Eu, por outro lado, sou um mercenário de Rank S no Bingo Book, sou líder de uma organização criminosa, sou o pior pesadelo de muitos nomes neste mundo ninja. Comigo, você se tornaria uma ameaça à humanidade, às Cinco Grandes Nações, sem exceção. Junte-se a mim, Beni, e eu completarei o seu treinamento.

Beni olhava-o friamente, analisando-o à medida que cada palavra saía da boca dele.

— Qual é o seu nome? — perguntou ela.

O homem deu as costas para a garota e, olhando-a com um sorriso por sobre os ombros, disse:

— Eu me chamo Iruzu Ibe.

* * *

A porta do esconderijo se abriu. Iruzu caminhou triunfantemente, Beni vinha logo atrás. Não se admirava por nada, nada lhe despertava o interessa; ela estava mudada, e sabia disso.

— Ei, Iruzu! — alguém gritou mais adiante. — Você demorou!

— Cale a boca, Raiga! — repreendeu Iruzu. — Não tenho tempo para você.

Raiga Takame, um homem loiro e forte, da mesma estatura de Iruzu, sorria desdenhosamente. Os olhos maliciosos e curiosos pairaram em Beni.

— Quem é essa? — ele perguntou, apontando para a garota.

— Ela é Beni Makagawa, nossa nova integrante. — informou Iruzu.

— Nova integrante? — uma garota apareceu ao lado de Raiga. Era morena e bonita, de vestido azulado e olhos um tanto sádicos. — Já estava na hora de outra garota entrar para este grupo.

— Beni, esta é Mera Kujiro — explicou Iruzu. — Nossa ninja sensorial.

— E quanto a mim, Iruzu? — A voz mais estridente que Beni já ouvira na vida ecoou pelo ambiente. Não demorou ao dono dela, um homem de mais de dois metros de altura, surgir no local. Era forte, de feição bruta. A respiração do homem era pesada. O tamanho dele o tornava capaz de fazer sombra aos dois companheiros.

— E Gura Kumatori — completou Iruzu, revirando os olhos com a cena.

Beni pouco se importou. Passou direto pelos três sem sequer cumprimentá-los. Gura se sentiu irritado e puxou o ombro da garota para trás.

— Ei, inseto! Não dê as costas para mim as...

Em um movimento rápido, Beni segurou a mão de Gura. O punho dela ainda estava envolto por ataduras.

— Eu não quero ser tocada por você — disse ela com uma voz baixa e assustadora. — Se fizer isso mais uma vez, farei com que se arrependa amargamente. — Beni apertou um pouco mais a mão de Gura antes de soltá-la. O gigante pareceu perplexo com aquela afronta, Mera riu do companheiro, Raiga arregalou os olhos e cochichou algo com Mera, Iruzu sorriu discretamente, satisfeito.

Beni deu as costas para todos os outros e deixou o local em silêncio.

Gura, como se saísse de um transe, comentou:

— Afinal, que inseto pertinente era aquele? Eu juro que vou...

— Eu não faria nada, se fosse você, Gura — Iruzu caminhou para frente, despreocupado. — Aquela garota é mais forte que qualquer um de vocês. Mesmo tão jovem, ela não pode ser subestimada.

— O chakra dela é medonho — Mera disse. A voz dela era séria; sugeria cautela. — Eu nunca senti nenhum parecido. Essa garota...

— Eu não acredito, Gura. E você foi chamá-la de inseto?! — Raiga gargalhou.

— Silêncio! — ordenou Iruzu. — Beni é uma de nós agora, uma Oukami. Com ela, nossa força sobe absurdamente; ela é nossa arma, cuidem bem dela. Agora não quero ouvir mais nenhuma palavra a respeito desse assunto! Eu fui claro?

— Sim — comentou Mera.

— Tá bem, você venceu — suspirou Raiga.

— Hum. — Gura revirou os olhos. — Sendo assim...

* * *

Iruzu abriu a porta do quarto. Dentro dele, jazia Beni de pé, contemplando o horizonte, sem mover um músculo sequer. O pescoço dela estava encurvado, como se ela quisesse esconder o rosto sobre os cabelos que lhe desciam pela cabeça.

O quarto de Beni era escuro, quase sem qualquer luminosidade. A Oukami exalava terror. Estava muito mais forte desde que entrara para aquela organização — completaria um ano nos Oukami em breve —, ao ponto de ser considerada a segunda maior força dela — título até então dado a Gura.

O líder, Iruzu, se aproximou da comandada preferida.

— Beni — chamou.

Em resposta, ela girou o pescoço para o lado de Iruzu.

— De olhos abertos — ela murmurava. — Só assim eu consigo dormir. Todas as vezes que fecho meus olhos eu me lembro deles... Lembro-me de todos morrendo, todos eles. Do meu passado que me atormenta mais do que nunca graças ao que Shozu Ibuke fez comigo. — Ela levantou a cabeça, encarando o espadachim.

— Você está pronta? — ele perguntou, evitando falar do passado conturbado da menina. — Nossos clientes concordaram em usar o Meiton (Elemento Escuridão) para transportar-nos até Nagare.

— O que pediram em troca? — perguntou Beni. Iruzu deu uma risada sem graça.

— Eles estão curiosos quanto a você. Tenho certeza de que pelo menos um d’eles estará lá, te observando. Se quiser causar uma boa impressão, sugiro que mostre o quanto você evoluiu. — Iruzu pôs as mãos nos ombros da garota. — Esmague Nagare.

As mãos de Beni se cerraram ao ouvir aquele nome. Os dedos frágeis estalaram sob as ataduras.

— Assim será feito — falou.

* * *

Arredores de Nagare Vila Oculta da Chuva.

O grupo se materializou das sombras perto do vilarejo, em uma das muitas montanhas que cercavam Nagare. Chovia, como de costume, o que causou em Beni uma péssima sensação de nostalgia.

— Argh! Eu odeio a Vila da Chuva! — reclamou Raiga. — É tão... sabe, chuvosa.

— Cale a boca, Raiga. — Mera revirou os olhos.

— Afinal, Iruzu, por que estamos aqui? — Raiga perguntou ao líder.

— Para assistir a um espetáculo — respondeu e, virando-se para Mera, perguntou logo em seguida — E então Mera, eles vieram?

A ninja sensorial fechou os olhos, concentrando-se ao máximo. Não tardou para as excepcionais habilidades sensitivas de Mera Kujiro desempenharem o papel a que foram responsáveis.

— Sim, um d’Eles veio também. Pelo chakra, eu diria que é o Kioto-sama — respondeu Mera com clara apreensão na voz. — Por que logo um dos membros seniores d’Eles viria aqui?

Iruzu sorriu desafiadoramente, mas, assim como seus comandados, estava apreensivo. De todos os seus clientes, Kioto, por ser um membro sênior, era um dos mais fortes.

— De todos os fantasmas, ele é o mais observador. Pelo menos não foi a Mira-sama ou a Suki-sama quem veio.

— Eu não gosto daquele cara — Raiga suspirou. — Ele dá medo. Mais medo que a Beni.

— É claro! — Gura comentou. — Ele é um Yuu...

— Não diga esse nome! — repreendeu Iruzu. — Mera, onde?

— Do outro lado do monte. — Apontou com o dedo indicador. — Ali.

Iruzu olhou para onde Mera indicava. De fato, uma figura de manto negro e encapuzada estava lá. Parecia observá-los. Iruzu engoliu em seco.

— Certo. Beni, já sabe o que fazer. O vilarejo fica ao pé desse monte.

— Entendido, Iruzu-san — disse a garota antes de desaparecer do meio do grupo.

Entrou no vilarejo sem qualquer dificuldade. Algumas pessoas pareciam notá-la, outras não. O vestido negro se arrastava pelo chão à medida que Beni caminhava, as mãos iam de encontro às ataduras, desatando-as lentamente. Pouco a pouco, os braços negros — o Shinigami no Jutsu — se amostravam à multidão.

Beni continuou caminhando por entre o local, esperando até que alguém notasse que uma Makagawa, um demônio — como preferiam chamar — ainda estava vivo. Não tardou para que isso acontecesse. Um dos homens apontou para ela e gritou, atraindo a atenção dos demais aldeões.

— Uma Makagawa! Ela é daquele clã amaldiçoado! — berrou.

Um dos homens do vilarejo veio correndo em direção à Beni, uma faca em punho.

— Morra, demônio! Deixe esse lugar! — investiu com um golpe desengonçado.

A garota desapareceu no último segundo, reaparecendo atrás do atacante. A mão fria tocava-lhe a nuca. Beni sussurrou para ele:

— Esqueça como se respira e morra implorando por ar.

O aldeão expirou, flexionou os joelhos e desabou sobre o chão. As mãos iam de encontro ao peito; agonizava, gemia, desejando respirar, mas sendo incapaz de fazê-lo. Não demorou muito para que ele, um homem relativamente jovem, parasse definitivamente de se mover.

O pânico foi geral. Todos gritavam e fugiam em desespero. Ninguém ousou atacar Beni, antes, porém, evitavam-na.

— Como eu me desesperei um dia, desespere-se agora, vilarejo de Nagare — ela sussurrou. — Não há escapatória; a morte veio até vocês.

As mãos, pausadamente, executavam selos. Por conseguinte, Beni levou as duas mãos ao chão.

— Kinjutsu: Kurushimi no Basho (Técnica Proibida: Lugar de Tormenta) — murmurou, conjurando o jutsu.

Imediatamente, todo o vilarejo escureceu; mergulhado nas sombras. Beni executara a técnica com tamanha perfeição que nenhuma área fora dos domínios de Nagare foi tocada por ela. Ao longe, nas montanhas, Iruzu e os demais Oukami nada mais viam a não ser um borrão preto que antes significava Nagare. Também ouviam gritos que, repentinamente, se silenciaram; vozes que nunca mais poderiam ser ouvidas.

Quando a poeira baixou e o efeito da técnica passou, tudo o que restara eram ruínas. Casas haviam se tornado montões de entulhos, árvores haviam secado, cadáveres podres jaziam espalhados pelo chão. Esse era o poder de Beni.

— Você viu aquilo? — perguntou Raiga a Mera. — Com um golpe ela... ela...

— Que tipo de monstro ela é? Eu nunca vi nada assim. Morreu todo mundo.

— Beni não é um inseto — Gura sussurrou. — Ela é realmente mais forte do que eu.

— Muito mais forte! — Raiga exclamou. — Iruzu, ela está no seu nível. Uma menina de treze anos está no seu nível!

Iruzu, porém, fixava os olhos na figura encapuzada ao longe. Ela não fez nenhum movimento estranho, permanecia calma. Dois segundos depois, um portal de escuridão se abriu atrás dela; desaparecera na escuridão.

“Será que ficou satisfeito com o que viu?” Iruzu meditava.

— Nunca mais vou irritar a Beni — dizia Raiga entre arrepios. — Nunca mais.

— Acho que a Beni merecia uma alcunha — disse Mera.

— Concordo. Ela merece — falou Gura.

— Que tal “A garota fatal”? — opinou Raiga.

— Você é um estúpido, Raiga Takame! Beni merece o nome de “A Esmagadora”! Ela esmaga qualquer inseto! — Gura criticou.

Mera via ao longe Beni se aproximando. As vestes negras lhe davam um aspecto fantasmagórico, sombrio, bem como as habilidades e a personalidade da menina.

— Beni — Mera murmurou —, a Dama que personifica a morte.

* * *

Três anos se passaram desde a destruição de Nagare. Beni, dezesseis anos, estava reunida com seus companheiros Oukami, aguardando Iruzu, que fora ter com os Yuurei.

— O que será que vão pedir dessa vez? — Raiga cruzou os braços.

— Da última vez foi que matássemos o maior número possível de pessoas na Vila da Folha. O chato do Iruzu quis ir sozinho, pegou toda a diversão — reclamou Mera.

— Eu queria ter ido também. Eu queria ter esmagado alguns insetos — Gura socou a parede, raivoso.

Beni nada disse. Estava acostumada com as discussões daquele grupo tão diversificado. Para ela, incitar uma conversa prolongada era algo sem sentido.

Iruzu abriu a porta do esconderijo. O corpo estava ferido devido a uma luta contra Kakashi Hatake durante a invasão à Folha. Matara Juugo, o bipolar, e só. Também trazia marcas de grilhões no corpo — consequência de ter falhado com os Yuurei.

— Finalmente voltou, Iruzu! — Raiga acenou desdenhoso. — Está mais arrebentado do que nunca, hein?

— Cale-se, Raiga! — repreendeu Mera. — Iruzu, quem fez isso? Os ninjas da Folha ou... Eles?

— Isso não importa — Iruzu cortou as chances para quaisquer perguntas posteriores. Beni, silenciosamente, agradeceu. — Temos outra missão, na qual não podemos falhar.

— Por que não estou surpreso? — Raiga bufou. — Eles só sabem pedir. O que Eles querem desta vez?

Iruzu jogou um envelope para Raiga, que o abriu de imediato. Entrementes, Iruzu relatava aos companheiros:

— Nosso alvo se chama Karin. Segundo nossos clientes, ela tem alguma relação com o Alvo Primário, Naruto Uzumaki. Eles não quiseram dar muitos detalhes a respeito.

— O que devemos fazer? — Mera perguntou.

— Capturá-la e, quando a Folha vier resgatá-la, matá-la. — respondeu Iruzu.

— Agora? — perguntou Gura.

— Não! — respondeu o líder dos Oukami. — Nossos clientes preferem que o façamos após o término do chamado Exame Jounin, que está acontecendo na Vila da Folha.

— Claro que querem. — Mera deu um sorriso nervoso. — Assim Naruto Uzumaki, Sasuke Uchiha e todos os melhores ninjas da Folha virão atrás dela.

— Está com medo, Mera? Logo você? — Gura perguntou.

— Não, seu brutamonte idiota. Mas quero ter sucesso nessa missão. Tenho medo d’Eles, me entende?

— Então não vamos falhar — Beni se pronunciou pela primeira vez. — Iruzu-san, o Exame Jounin termina quando mesmo?


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Notas finais do capítulo

O Omake: a Dama que personifica a morte chega ao fim. O que acharam dele? Gostaram? O que mais lhes chamaram a atenção na história dela? Comentem aí, pessoas!

No próximo capítulo, a história seguirá com o enredo original. Com dois anos (eu não me canso de dizer isso u-u) à frente.

Já viram a capa nova? Eu fiz uma capa nova em virtude do andar da história.

E, não sei se repararam, mas agora voltarei a postar o título do próximo capítulo nas Notas Finais.

Próximo capítulo: Dois anos depois

Até o próximo capítulo, pessoal o/