O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 66
Omake: A Dama que personifica a morte - parte 3


Notas iniciais do capítulo

Eu deveria estar dormindo. Mentira, eu deveria estar lendo A Ordem da Fênix; não terminei ainda.

Terminei esse capítulo ontem (quinta-feira). *Correndo para recuperar o tempo perdido* E, enquanto posto esse capítulo, estou a escrever o último. Finalmente, a história da Beni ruma para seu final.

Quero agradecer a todos que "escolheram esperar" e não me abandonaram. Foi mal, gente. Eu demorei muuuuuuito a postar. Fico feliz de ver alguns rostos conhecidos e outros novos por aqui.

Bem, não vou me estender muito nas Notas Iniciais porque por ser madrugada, muitos já devem estar exaustos (nem sei se há alguém online agora). Além disso, eu tenho que ler meu exemplar de A Ordem da Fênix o mais rápido possível.

Post Scriptum: eu odeio a Umbridge! Pata, Peta, Pita, Pota, Umbridge.

Bem, é isso. Nos vemos aonde? Isso mesmo! Notas Finais! o/



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— E se ele quiser tomar os olhos da Usui? — perguntou-se Boku, paranoico.

— Mas Boku-sama, o senhor não disse que os olhos dela estavam fora de cogitação?

— E estão! — frisou Boku. — Mas mesmo assim... ele nunca foi de avisar quando chegaria. O que deu nele?

— Talvez não seja nada de mais, Boku-sama. Quer dizer, ele... — As palavras de Komaki morriam à proporção que a frase se prolongava. Ele, assim como seu senhor, também via receio neste fato inesperado.

— Vamos aguardar. É o único jeito — disse, por fim, Boku Shishigawara. — De qualquer forma, devo garantir que Shozu Ibuke nunca se aposse do Sharingan de Usui. Ela é minha criada, portanto, o Doujutsu dela pertence a mim.

Era assim durante todas as noites. Beni sempre ficava acordada ate ter a certeza de que Usui voltara ao quarto. E, como sempre, a jovem Uchiha retornava muda, de expressão mórbida, quando não machucada.

Beni sentia raiva, mas, como Usui mesmo havia lhe dito, não havia nada que ela, Beni, pudesse fazer. A Makagawa estava fadada a se calar e ver a amiga, ou melhor, irmã, tornar ao quarto minúsculo, ferida física, moral e emocionalmente. Usui Uchiha se sacrificava dobrado para que Beni não fosse alvo de Boku.

Aquela vida era ingrata, pensava a menina enquanto via, por entre as cobertas, Usui se trocar. Não foram poucas as vezes que Beni flagrara a outra gemendo, chorando e tremendo, sendo a maioria dos casos após a avançada madrugada.

E aquele sentimento crescia dentro de Beni. Ela, definitivamente, passara a desprezar os homens que tentavam se apossar das mulheres como se estas fossem meros brinquedos, como se fossem seres a serem manipulados e, depois, descartados, podendo ou não ser usados outra vez.

A insatisfação crescia dia após dia, como um verme no interior da garota. Todas as vezes que Komaki abria a porta daquele quarto para buscar Usui e levá-la aos clientes, Beni o fuzilava com olhar, e não fazia questão de ser discreta. Ela tinha vontade de dar um fim ao sofrimento de Usui, tinha vontade de... matar. Sim, matar Boku, Komaki e qualquer homem que ousasse tocar pervertidamente Usui Uchiha, irmã de consideração de Beni Makagawa.

“A Usui-san não merece passar por essa humilhação. Ninguém merece” pensava Beni.

Olhou para as mãos enfaixadas. Enquanto esteve morando naquele lugar — há quase vinte dias —, Beni havia praticamente se esquecido da própria Kekkei Genkai, motivo pelo qual ela era odiada. Como pudera se esquecer? Seria ignorância? Ou apenas o simples fato de que Usui Uchiha pudesse lhe devolver algo que ela havia perdido há tempos: felicidade. Como na época em que Sasha estava viva, na época em que o Shinigami no Jutsu não passava de manchinhas inofensivas, nada a ser levado em consideração pela garota.

Beni sentia os olhos pesarem e em pouco tempo adormeceu.

Na manhã seguinte Beni levantou cedo. Procurou com os olhos Usui, mas esta não estava no quarto. O pequeno coração de Beni congelou de preocupação. Afinal, o que acontecera? Nenhum cliente costumava frequentar o bordel naquela hora, o que significava que Boku pudesse estar envolvido no desaparecimento da Uchiha. Agora, Beni tremia e temia pelo pior.

Não se contentou, contudo, em esperar, antes, porém, levantou-se e caminho até a porta.

O que Beni não esperava era que a porta fosse aberta primeiro. A pancada foi leve, mas a o suficiente para arrancar um grito de reclamação da Makagawa.

— Beni? Ah, céus, eu não sabia que você estava aí atrás! — Fora Usui quem abrira a porta. — Eu só abri a porta e... você está bem?

Beni concordou com a cabeça e perguntou logo em seguida:

— O que é isso? — Apontou para a bandeja embrulhada por um pano que Usui trazia nas mãos.

— Isso? Ah, eu acordei cedo e fui preparar — explicou Usui. — O que acha de café da manhã especial?

— Especial? — Beni a encarou com um olhar dividido entre o ceticismo e a diversão.

— Sim. Eu nunca fui uma boa combatente, mas sempre me saí muito bem na cozinha. Eu fiz pudim de cereja, seu prato preferido, Beni. — Usui removeu o pano de sobre a bandeja, revelando dois pequenos pratos com pudim. Ela tomou um deles e o entregou a mais nova, sorrindo.

Beni pareceu corar. Fazia tempo que não provava a comida preferida. Sem demora, a menina pegou o prato e pôs-se a comer. Usui, satisfeita, se sentou de frente para a garota.

— Você não se esqueceu de algo? — disse em tom brincalhão.

— Bem, eu... — Os olhos de Beni se arregalaram. Ela parou de comer na hora, juntou as duas mãos e fechou os olhos. — Itadakimasu (do japonês, “Obrigado pela comida”).

— Itadakimasu — repetiu Usui, sorrindo. — Agora sim, está tudo certo.

As duas comiam e conversavam quando a porta se abriu com furor. Detrás dela, o rosto seco e cínico de Komaki podia ser visto.

— Ei, Usui. O Boku-sama quer te ver.

Usui parou de comer na hora. Beni desviou o olhar — já raivoso — para Komaki.

— P-Por que o Boku-sama quer me ver agora? Ainda está cedo e...

— Sem mais perguntas! Apenas me siga! — ordenou.

A Uchiha estava receosa, mas, talvez, Beni estivesse mais. Acompanhava a irmã mais velha ser conduzida para fora por Komaki, o fiel subordinado de Boku. Antes da porta se cerrar definitivamente, Usui deu a Beni um olhar de confiança, como se quisesse dizer que tudo ia ficar bem.

Exatamente como Sasha fizera antes de morrer.

Beni também teve a impressão de ver Komaki lhe dirigir um sorriso maldoso, mas quando a Makagawa tentou se levantar a porta se fechou com um baque ensurdecedor e foi trancada por fora.

— Entre, Usui querida. — Boku abriu os braços; ainda estava sentado em sua poltrona.

A garota pareceu resistir, mas Komaki a empurrou para dentro da sala, trancando a porta logo em seguida. Usui engoliu em seco. Trêmula, ela deu tímidos passos para frente.

— Queria me ver, Boku-sama? — perguntou ela timidamente.

— Sim, Usui. Eu queria muito te ver. — ele sorriu de forma um tanto medonha.

— Não estou entendendo, Boku-sama.

— Não? — Riu-se Boku. — E se eu te disser... que você tem os olhos mais bonitos que eu já vi, Usui?

Aquelas palavras soaram geladas para Usui, que entendeu perfeitamente o significado delas. Era mais que um simples elogio. Boku Shishigawara não estava sendo cortês. Ele estava se referindo ao Doujutsu ocular de Usui, o Sharingan.

— O que tem o meu Sharingan, Boku-sama?

— Ah. — Boku se fingiu surpreso. — Finalmente compreendeu, minha querida Uchiha. Sim, é o seu Doujutsu que me interessa. Digamos que ele precise de... cuidados especiais.

— Cuidados especiais?

— Exato. Quero mantê-lo em segurança, afastado o máximo possível de uma certa pessoa. Apenas isso.

— O senhor se refere ao garoto titeriteiro que o visita periodicamente?

— Tão inteligente. — Confirmava com a cabeça. — Sim, é o “garoto titeriteiro” que me preocupa.

— Não se preocupe, Boku-sama. Meu Sharingan está muito seguro comigo. Seu amigo não irá tomá-lo de mim...

— Ah — desdenhou. — Seu Sharingan está seguro com você, Usui? Infelizmente, eu devo discordar. Creio que longe da dona ele estará melhor, mais bem guardado, entende?

O coração de Usui Uchiha acelerou instantaneamente. Boku Shishigawara se levantou da poltrona luxuosa e caminhou até a garota, mantendo nela o olhar fixo e sádico.

Usui recuou alguns passos, olhou para trás e viu Komaki bloqueando a saída. Não havia jeito: se quisesse escapar dali, teria que enfrentá-los, os dois.

— Acredite. É melhor cooperar. Você não vai querer que eu toque na sua amiguinha lá embaixo, vai? Ela é tão nova para sentir algumas coisas...

Aquelas palavras fizeram o sangue de Usui ferver à medida que a raiva crescia na garota. Tocar em Beni? Pôr aquelas mãos imundas e pervertidas nela, na sua irmã mais nova? Não. Isso seria imperdoável. Usui não aceitaria de jeito nenhum.

— O senhor... —dizia ela enquanto virava o rosto lentamente para Boku — não vai... tocar... na Beni.

Os olhos de Usui brilharam numa vermelhidão ameaçadora. Ela sentia o jutsu de Boku, Katon: Tenrou (Elemento Fogo: Prisão Celestial), queimar-lhe o corpo, mas ignorava a dor. No momento, a raiva importava mais, Beni importava mais. Usui estava disposta a sacrificar tudo em prol da irmã mais nova, até mesmo a própria vida.

— Entendo... — Boku formou um sorriso seco no canto da boca. — Você encontrou uma forma de resistir ao meu jutsu de tortura. Não tem problema, vai ser mais divertido assim... sua prostitutazinha imunda e medíocre.

Usui ergueu os punhos e atacou.

Beni não comeu mais nada desde que Usui fora levada por Komaki — há horas. Preocupada com a amiga, a Makagawa fazia o possível para escutar qualquer coisa dalém do quarto, mas era impossível, tamanho o estardalhaço vindo dos corredores; as outras garotas conversavam umas com as outras, provavelmente sobre o mesmo assunto que interessava a Beni.

As únicas frases que Beni conseguiu escutar claramente foram;

— Você está ouvindo? Vem da sala do Boku-sama.

— Será que tem alguém lutando?

— Eu vi o Komaki-san levar a Usui.

— Ela de novo? Será que tentou se rebelar mais uma vez?

As conversas paralelas continuaram por longos minutos, causando em Beni uma expectativa dolorosa. Afinal, o que teria acontecido? A garota temia a resposta;

Finalmente, de forma inesperada, todas as vozes cessaram.

O estalar da maçaneta se abrindo ecoou por todo o quarto. Beni se virou e viu Komaki mais uma vez. Ele arrastava algo — ou alguém, era difícil dizer — com repugnância em uma das mãos pelo chão sujo. Usui estava irreconhecível.

— Usui-san — Beni gritou indo de encontro à outra assim que Komaki a largou no chão como um animal semimorto. — Usui-san, o que aconteceu?

— Cuidado, garotinha — Komaki riu enquanto puxava fechava as amarras da calça. — A próxima será você. E eu terei o prazer de te estrear.

E fechou a porta com uma batida forte.

As roupas de Usui estavam horrivelmente rasgadas e sujas. Ela trazia hematomas por todo o corpo. Tremia, tremia demais.

— Usui-san. — A voz de Beni era chorosa. — Usui-san, o que eles...

Foi então que Beni viu o rosto de Usui.

— B-Beni... o-onde... e-está... você?

Onde deveriam estar os belos olhos de Usui Uchiha estavam, agora, covas completamente vazias. A carne viva ainda sangrava, certamente devido à uma extração grotesca e brutal. A expressão de Usui era de agonia e, ao mesmo tempo, preocupação.

Beni chorava enquanto vislumbrava o rosto deformado da única amiga que consegui fazer naquele lugar. Torturada, ferida, violentada; assim se apresentava Usui. O jutsu de tortura de Boku parecia ter sido usado ao máximo, tendo em vista as queimaduras absurdas que marcavam a pele da jovem Uchiha.

— B-Beni... você está aí? Aonde...

A voz de Usui se enfraquecia a cada palavra. Beni sentia naquele instante o mesmo que sentira quando viu a irmã morrer em seus braços. E para piorar, o esforço de Usui para chamá-la, para ter a certeza de que a amiga estava bem, doía em Beni, doía demais; cada palavra que a Uchiha pronunciava representava uma pontada de dor no pequeno coração da Makagawa.

Enfim, a mão trêmula de Usui encontrou o rosto de Beni, que ainda imóvel contemplava a outra se aproximar. Beni sequer tinha reação, não sabia o que fazer naquele instante.

— F-Finalmente... — Usui ergueu o rosto, fazendo Beni se rasgar em lágrimas. Era notório que a outra estava concentrando todas as forças para encontrar a Makagawa. — Finalmente eu te achei, Beni...

— U-Usui... — A pequena envolveu a amiga em um abraço. Beni chorava demais sobre os ombros de Usui. — Para... para com isso... você não aguenta mais, Usui-san... precisa descansar...

— Finalmente... — Usui deu um sorriso fraquíssimo. — Eu te encontrei, Beni. Não se preocupe agora... Eles não vão machucar você... você vai ficar boa...

E não disse mais nada.

Os olhos de Beni se arregalaram. Desesperadamente, ela pôs o ouvido sobre o peito de Usui, mas nenhum barulho — por mais fraco que fosse — se fez ouvir. O coração de Usui havia parado, ela estava morta.

Os dedos da garota se apertaram com uma força desesperada sobre os braços da morta, Beni gritou e chorou demasiado. A respiração estava pesada, os olhos ardiam, a garganta queimava à medida que os berros de horror da garota ecoavam pelo quarto.

Depois, os braços começaram a latejar. Beni não sentia mais nada, além de frio. Era a sensação da morte.

Komaki cometeu o erro de voltar e abrir a porta do quarto.

— Ei! O que está acontecen... O QUE É ISSO?

As ataduras que envolviam os braços de Beni haviam se soltado. A menina emanava um chakra gelado e negro, como um feixe. Tudo ao redor dela desaparecia, simplesmente era reduzido ao pó.

Beni virou o rosto para Komaki. O ódio fluía nos olhos dela.

— Você... tocou nela... — Beni sibilava vagarosamente. — não foi?

— V-Você... — Komaki apontava freneticamente para a menina, apavorado. — Você é a sobrevivente dos Makagawa! É você!

— Você tocou nela. Você a violentou... você e seu chefe a feriram. Não vou perdoá-los. Nunca.

A última visão de Komaki fora de Beni avançar contra ele.

* * *

— Você era valiosa demais para mim, Usui — meditava Boku. As mãos sujas de sangue seguravam dos globos oculares peculiares: os de Usui. — Imagine o que os clientes vão pensar quando souberem que você não poderá mais se deitar com eles? Ah, Usui... por que teve que resistir? Por que me fez usar tanto o Katon: Tenrou ao ponto de matá-la? Por que, minha querida?

— Que desperdício! Eu a achava bem bonita. — Uma voz fria foi ouvida atrás de Boku.

O homem se virou rapidamente. Lá, sentado numa cadeira, estava um menino de aproximados dez anos de idade, cabelos curtos e roxos, olhos frios e sanguinários, um boneco mumificado trazido às costas. Shozu Ibuke, o titeriteiro, observava Boku com certo interesse. — O que foi, Boku? Parece que viu uma assombração.

— S-Shozu!

— Sim, sou eu.

— V-Você disse que chegava amanhã!

—Surpreso? Ah, não se preocupe. Minha visita será rápida, você verá. — Shozu sorriu de uma forma inexpressiva. — Ah, por que não se senta, Boku?

Mirando a cadeira que Shozu lhe indicava, Boku se sentou, de modo que os dois se entreolhassem.

— O que o traz aqui mais cedo, Shozu? Já disse que minhas garotas estão fora de cogitação.

— Suas garotas? — Riu Shozu Ibuke. — Ora, bem, eu vim por uma em especial.

— Eu já lhe disse: minhas garotas não serão usadas nos seus experimentos bizarros, meu rapaz. Elas são minha fonte de renda...

— Sim, é claro — interrompeu Shozu —, mas você se esquece, meu amigo, que quem se livra dos homens do Hanzou para você manter essa espelunca funcionando sou eu. Vim apenas cobrar meu pagamento.

— Tenho quase 5.000 ryos disponíveis.

— Ah, não! Eu não quero seu dinheiro. Como já lhe disse: vim por uma garota muito especial.

— Se procura a Usui, saiba que ela...

— Foi morta por você. Sim, eu sei. Você se livrou da garota mais cobiçada neste prostíbulo apenas para tentar evitar que eu me apossasse do Sharingan dela, estou certo?

— Você... como você sabe...

— Você sabe das coisas, Boku Shishigawara, mas nunca estará um passo à frente de mim. Nunca. — E acrescentou. — Mas relaxe. Não vim pela Uchiha.

— Não... veio?

— Não, não vim.

— Então veio por qual delas? — Boku já não entendia mais nada.

— Diga-me, meu amigo Boku: você, como habitante da Chuva, já ouviu falar na Tragédia dos Makagawa? — Shozu inclinou o rosto para frente, olhando divertida e assustadoramente para o outro.

— Refere-se àquele clã de demônios amaldiçoados? O que têm eles?

— Você soube que houve uma sobrevivente? A caçula da família?

— Sim, é claro que soube. — O rumo daquela conversa era desconhecido por Boku. — Uma Makagawa sobreviveu ao massacre.

— E se eu te dissesse que esta menina, neste exato momento, está aqui, no seu bordel?

— Impossível! Eu saberia se tivesse acontecido — defendeu-se Boku.

— Minhas investigações apontam para uma criancinha de, aproximadamente, oito anos, cabelos negros e longos, olhos escuros, pele pálida. — Shozu se inclinou ainda mais para frente. — Conhece alguma menina assim, Boku?

— Existem centenas de garo... — interrompeu-se. — Não, não pode ser...

Shozu relaxou, abrindo um largo sorriso de triunfo.

— Pelo visto a descrição lhe é familiar.

— B-Beni... Sim! Tem uma garota assim aqui, mas porque acha que seja ela? Quer dizer, você tem certeza? Céus! Se for ela, irei matar aquela desgraçada agora mesmo e...

— Não, Boku. — A voz de Shozu era fria como gelo.

Perplexo, Boku se virou para o menino titeriteiro, que sorria astuciosamente.

— O-O que disse?

— Você me ouviu. Imagine o lucro que ela poderia me proporcionar sendo a última pessoa viva do clã. Além disso, eu estou projetando uma marionete nova, uma que jamais foi imaginada por qualquer titeriteiro, uma arma invencível. Preciso da sua garota para criá-la — Shozu se pôs de pé.

— O que disse?

— Que droga, Boku. Você, sendo muito mais velho do que eu, sempre foi tão lerdo para entender as coisas.

Os dedos da mão direita de Shozu fizeram um simples, e aparentemente inocente, gesto. Imediatamente, o boneco mumificado às costas do garoto se ergueu e, à uma velocidade absurda, se prendeu a Boku, enroscando os longos braços de madeira e metal em torno do homem, espremendo-o.

A marionete era do tamanho natural de um ser humano, com dois braços exageradamente compridos e finos, costelas expostas — usadas para auxiliar na captura das vítimas —, cabeça achatada e quatro longos olhos amarelados. Por mais franzino que fosse aquele boneco, ele era assustadoramente forte; Boku se debatia em vão.

— Eu lhe apresento Kyouka, uma das minhas marionetes preferidas. Ela ainda não está completa, é claro, mas já é muito útil pra mim. O que me diz dela, Boku? — Shozu sorria como um demônio frio.

— S-Seu moleque bastardo... Eu vou...

— Ficar quieto, acertei? — Riu o titeriteiro. — Kyouka é capaz de absorver toda e qualquer técnica lançada contra ela. Além disso, ela pode redirecionar estas mesmas técnicas contra seus respectivos usuários. — Shozu fez uma careta bizarra. — Se eu fosse você, não tentaria nada. Acredite, vai acabar logo.

— Não... maldito... não...

Shozu moveu os dedos indicador e polegar direitos, fazendo a marionete dobrar a coluna com brusquidão para trás. Por estar presa à Kyouka, a coluna vertebral de Boku Shishigawara foi igualmente torcida.

O garoto fez a marionete soltar o cadáver de Boku sobre o chão. Em seguida, andou pacientemente até ele e, abaixando-se, pegou os dois olhos de Usui — os Sharingan que Boku fizera de tudo para não cair nas mãos daquele que justamente agora os segurava com curiosidade.

— Sharingan... — Analisava os dois globos oculares nas mãos cuidadosamente. — Tenho certeza de que me serão úteis um dia. Agora — guardou-os em um pequeno frasco com líquido conservante —, vamos encontrar a garotinha Makagawa.

Os passos dele eram lentos e despreocupados. Caminhava em direção ao chakra medonho que podia ser sentido à distância — era forte, intenso, aterrorizante.

Shozu virou à esquerda. Mais à frente era possível ver um cenário de destruição: portas corroídas, paredes rachadas, cadáveres de guardas em alto estado de putrefação. Beni estava perto, Shozu podia sentir.

Não demorou muito e eles, enfim, se encontraram.

Beni o olhava com certa indiferença, não importava para ela quem era aquele garoto que bloqueava sua passagem. Shozu, por outro lado, sorria de forma aparentemente amistosa.

— Olá! — Ele acenou.

— Quem é você? — perguntou Beni.

— Você é bem direta, não?

— Por favor, saia da minha frente. Eu quero me encontrar com...

— Boku Shishigawara, correto? — completou Shozu. Beni se surpreendeu.

— S-Sim. Eu tenho que...

— Matá-lo. — ele adivinhou os pensamentos dela mais uma vez.

— Afinal, quem é você?

— Eu? — Shozu sorriu. — O garoto que matou Boku Shishigawara — e acrescentou depressa —, mas não se assuste; sou um amigo. Meu nome é Shozu Ibuke.

— Eu não confio em você. Saia da frente. Não quero te machucar. — ela dizia sinceramente.

— Sei que não, Beni-chan — a garota arregalou os olhos quando Shozu disse seu nome —, sim, eu sei quem você é: a última integrante dos Makagawa, a única sobrevivente de um massacre promovido pelo vilarejo de Nagare. Eu sei mais sobre você do que imagina.

— C-Como?

Shozu sentia o triunfo cada vez mais próximo. Conseguira implantar a dúvida no coração da menina, restava agora fazê-la confiar nele.

O garoto levou uma mão ao bolso e mostrou o pequenino frasco no qual trazia os olhos de Usui. Beni arregalou os olhos.

— Eu era amigo de Usui Uchiha — mentiu. — A Usui-san era muito especial para mim. Eu a conheci quando ela ainda estava na Vila da Folha. Quando soube que ela tinha sido sequestrada por Boku, vim o mais rápido que pude na esperança de conseguir salvá-la. — Shozu fingiu certa tristeza. — Eu... eu não consegui, não fui capaz de protegê-la. Estes olhos... eles são a única lembrança que temos da Usui, a única.

— Você... você veio salvá-la? — ela perguntou. Shozu confirmou com a cabeça.

— Beni-chan, me perdoe por não ter chegado a tempo. Eu falhei com a Usui, falhei com você. Por favor, me dê uma chance de me reconciliar. Deixe-me levá-la comigo.

— E-Eu... ir com você? — A pressão do chakra de Beni caíra abruptamente. Ela já não era uma ameaça.

— Sim. — A voz de Shozu era pomposamente terna. — Venha comigo. Eu sei que você deseja deixar este país; posso proporcionar isso a você. Deixe-me proteger o que mais importava para a minha amiga Uchiha: você. Juntos, Beni-chan. Você e eu.

— M-Mas... — a garota se sentia insegura — você não tem medo de mim? Dos meus poderes?

— Medo? Beni-chan, você é perfeita! Seus poderes são uma dádiva, não maldição! Venha comigo! Eu te ensinarei a lutar, te ensinarei a controlar seus poderes, te ensinarei a ser forte para proteger as pessoas importantes para você. Nunca mais alguém precisará se sacrificar por você, Beni-chan. Venha comigo! Eu vou cuidar de você, Beni-chan! — prometeu.

Shozu parecia sorrir amigavelmente para a menina. Beni, por sua vez, sentia que o garoto dizia a verdade. A inocência dela era seu principal pecado. E as palavras de Shozu Ibuke... soaram tão doces, tão verdadeiras que Beni não encontrou outra resposta além de uma positiva.

Olhou para trás mais uma vez. O quarto em que Usui e ela dormiam, o lugar onde passara os únicos momentos bons de sua vida naquele bordel — ao lado daquela que podia ser chamada de sua irmã, Usui Uchiha, da Vila da Folha. Beni sentia que estava deixando uma parte dela mesma para trás.

Com certa relutância, Beni suspirou e caminhou até Shozu.

— Eu irei com você, Shozu Ibuke. Por favor, me ajude a ficar mais forte — disse.

Shozu abriu um largou sorriso e envolveu os ombros da garota com o braço esquerdo.

— Claro, Beni-chan — falou com um sorriso. — Será um prazer.


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Notas finais do capítulo

Não, eu não sou mau. Eu não sou mau.

O que acharam deste? Enfim, os dois personagens principais deste Omake se conheceram. o que tem a dizer sobre o capítulo? E sobre o próximo? (Estou aberto à teorias.)

Falando no próximo, chegamos ao desfecho do Omake. Daqui a dois capítulos, a história retomará seu rumo.

E, don't forget, haverá uma Timeskip (na boa, já enchi o saco de vocês com isso, né? Podem falar, sou chato).

É isso, gente! Boa noite a todos!

Até o próximo capítulo o/