Quarto andar – Salão de artes – Shino Aburame vs. Raiga Takame.

Raiga avançou ferozmente contra Shino. Brandia as duas lâminas de forma ameaçadora, contudo, Shino estava incrivelmente calmo. O Jounin estendeu as duas mãos contra Raiga, ordenando aos seus insetos que atacassem o inimigo.

Um enxame de pequenos besouros avançou contra o loiro que, girando suas lâminas, matou todos os insetos. Shino franziu a testa, levemente impressionado.

— Você é rápido. — Comentou o Aburame.

— Você ainda não viu nada. — Raiga lançou as duas armas para o ar e sequenciou selos manuais rapidamente.

— Kenshiki no Jutsu! (Técnica da Espada Ceifeira). — Assim que Raiga reempunhou as espadas, as lâminas delas perderam o caráter metálico, assumindo a coloração branca e sobrenatural.

Raiga sorria confiantemente. Não estava interessado nem tampouco preocupado com Shino Aburame. Avançou velozmente e conseguiu golpear o rival na barriga. Shino tentou evitar o golpe lançando o dobro de insetos contra Raiga, mas os besouros morriam instantaneamente ao serem tocados pelas lâminas. O corte recebido por Shino era superficial, mas letal o bastante para a técnica, considerando a técnica de Raiga. O garoto cambaleou e caiu no chão; estava ofegante.

Raiga gargalhou ao ver o Aburame no chão. Uma risada alta e aguda.

— Já? E você ainda queria enfrentar a Beni, homem-inseto? Que imbecil!

Shino olhou mais uma vez para Raiga. Pouco a pouco o corpo do garoto se desfazia em escaravelhos. Raiga suspirou, descontente com o que via.

— Era falso. — Raiga revirou os olhos.

Passos eram ouvidos detrás de Raiga. Por instinto, o Oukami saltou para trás. Quão grande foi a surpresa do Takame ao encontrar Shino às suas costas. Golpeou o garoto em vão, pois o corpo de Shino novamente se desfez em escaravelhos.

— PARE DE BRINCAR COMIGO! APAREÇA, HOMEM-INSETO! — Raiga berrou para o ar, irritado.

— Mugi Bunshin no Jutsu (Técnica dos Clones de Inseto). — Cinco cópias de Shino Aburame surgiram e, após cercarem o Raiga repentinamente, disseram. — Eu agora, além de conseguir abrigar um número doze vezes maior de insetos em meu corpo, posso controlar vários espécimes diferentes. — Os cinco diziam em uníssono. Raiga estava encurralado.

— Desgraçado! Esse é um daqueles joguinhos de “Descubra qual é o verdadeiro”, não é? Tudo bem! Eu vou matar todos os cinco! Não vai sobrar nem falso nem verdadeiro para contar história. — Raiga cuspiu as palavras.

— Você não entendeu mais uma vez. — Os cinco disseram ao mesmo tempo — Todos nós somos falsos. O Shino verdadeiro sequer entrou neste salão.

Raiga arregalou os olhos, abismado com o que acabara de ouvir. Desde o momento em que se apresentara ao ninja da Folha até agora, estava lidando com sósias. Tudo não passava de uma interação quase teatral entre Raiga e os insetos de Shino, o tempo todo Raiga estava sendo enganado. O Oukami mordeu o lábio inferior furiosamente.

— SEU BASTARDO MALDITO! ONDE ESTÁ SEU CORPO ORIGINAL? — Raiga perguntou aos cinco clones de Shino.

— Perto deste salão, do lado de fora. — Disseram os clones — Ele está por perto porque deseja ter a certeza de que você não sairá vivo desta luta, Raiga Takame.

— MALDITO! NÃO ME SUBESTIME! — Berrou Raiga.

O corpo do Oukami vagarosamente se transfigurava e perdia matéria até finalmente se assemelhar a uma projeção, uma assombração, um espírito.

Bem mais rápido do que antes, Raiga, em sua forma espírito, ignorou os cinco clones de Shino e voou rumo à entrada do salão. Iria assassinar o Shino original de uma vez. Um dos clones apenas balançou a cabeça negativamente e depois estalou o dedo.

Antes que Raiga escapasse, um muro de insetos negros se interpôs entre Raiga e a saída mais próxima do salão. O Oukami olhou ao redor e surpreso com o que via amaldiçoou Shino; todas as paredes, o teto e o chão estavam completamente tomados pelos insetos de Shino Aburame. Nenhuma cor além do preto do exoesqueleto dos insetos se via naquele ambiente. O zumbido dos animais irritava, e muito, Raiga, assim como aquela técnica e seu invocador.

— Acha mesmo que usando legiões de insetos para me cercar vai vencer o meu Reika no Jutsu, moleque? Eu posso passar por eles quando eu quiser! — Raiga menosprezou.

— Não pode. Seu Reika no Jutsu (Técnica da Transformação em Espírito) consiste em transformar o corpo do usuário em chakra puro. Neste instante, sua forma espírito nada mais é que um corpo de chakra. Você se implanta no corpo das vítimas e transforma o chakra delas no seu. É a chamada “possessão”. Com isso, você pode controlar livremente o corpo das vítimas, estou correto? Entretanto, por ser um corpo feito de chakra, você se torna incapaz de escapar dos meus insetos, uma vez que eles se alimentam de chakra. Você não será capaz de fugir, Raiga Takame. Tente atravessar o meu jutsu e será completamente destruído antes mesmo que consiga sair deste salão. Técnicas de Barreiras é a fraqueza do Reika no Jutsu. Você está fadado a cair nesta batalha. — Os cinco clones afirmaram em única voz.

— Você está me subestimando, homem-inseto!

— Não, Raiga Takame, foi você quem cometeu o erro de subestimar o oponente.

— Quando você implantou todos os insetos aqui?

— Assim que o primeiro clone entrou neste salão. Enquanto conversávamos, meus insetos se escondiam pela estrutura desta sala. Desde o começo, você estava em minhas mãos, Raiga Takame. Esteja honrado, pois você é o primeiro lobo a estar na minha colmeia. — Os cinco clones disseram antes de se desfazerem em insetos e se misturarem às centenas de milhares que sitiavam Raiga dentro daquele lugar.

— Nunca cometa o erro de me subestimar, Aburame! — Raiga ameaçou.

Todos os insetos avançaram contra o Oukami, de modo que não havia escapatória para ele. Uma formação esférica constituída puramente de insetos se formou no local. Dentro dela Raiga estava aprisionado.

Shino entrou calmamente no salão de artes da mansão. Com as mãos descansando dentro dos bolsos do casaco, ele observava despreocupadamente a esfera orgânica que continha o inimigo.

O garoto ajeitou os óculos calmamente enquanto dizia em baixa voz:

— Mugi Dama no Jutsu (Técnica da Bomba de Insetos).

A enorme esfera decresceu drástica e imediatamente ao comando de Shino. O tamanho dela agora era um pouco maior que o de uma bola de tênis. Segundos depois, um contingente visivelmente desproporcional a tamanho minúsculo da técnica se dissipou dela. Como se fosse estilhaços de uma explosão, os insetos se dispersaram torrencialmente para todas as direções, deixando caído no chão o corpo demasiadamente ferido de Raiga.

O loiro sangrava por todo o corpo e suava. Estava exausto. Era impressionante que ele havia conseguido sobreviver à técnica de Shino. Este, por sua vez, dominava o combate sem a menor dificuldade.

— Estou impressionado. Você é o primeiro a sobreviver à minha Mugi Dama, Raiga Takame. Talvez seu Reika no Jutsu não seja de todo ruim. — Falou Shino.

O Oukami trincou os dentes de dor e de ódio. Ele, Raiga Takame, humilhado daquele jeito tão ridículo, tão patético, tão simples? Inaceitável! Ele era um Oukami!

Fuzilou o Jounin da Folha com olhos turvos.

— M-Maldito seja... — Raiga soluçou — S-Seus insetos... ESSES MALDITOS DEVORARAM A MINHA PERNA! — Raiga berrou em meio a dor para Shino. Lágrimas dolorosas escorriam pelos olhos do homem.

Era verdade. Raiga conseguira sobreviver miraculosamente ao último ataque de Shino, mas, no processo, sacrificara involuntariamente a perna direita. A ferida sangrava copiosamente. Se não fizesse algo urgentemente, morreria devido a hemorragia.

— Olhe para a sua posição patética. Adorou ter feito uma garota indefesa chorar de terror, mas agora vive a mesma situação. A vida dá muitas voltas, não é mesmo? — O Jounin da Folha falou de friamente para o homem.

— E-Eu... Eu vou... Eu vou te matar, seu desgraçado de merda. — Raiga murmurou.

Como antes, Raiga transformou o corpo em espírito e recuou para dentro de uma estátua de bronze. A obra metálica media aproximadamente doze metros de altura e retratava um guerreiro de armadura, espada e escudo. A estátua ganhava algo que nunca possuíra: vida; a vida sob o poder do Reika no Jutsu de Raiga Takame.

O gigante de bronze se ergueu gloriosamente. A cada passo que dava o chão estremecia. A estátua parou a dois metros de Shino. Sorria.

— O que achou do meu novo corpo, homem-inseto? — Raiga riu — Agora que assumi esta forma, nenhum de seus insetos pode me ferir. Nem minha ferida importa mais. Morra de uma vez, ninja da Folha!

A estátua brandiu a espada de bronze contra Shino. Raiga conseguiu mesclar o Kenshiki no Jutsu (Técnica da Espada Ceifeira) a ela, amplificando de forma significativa o alcance da técnica.

Shino recuava saltando e manobrando no ar. Raiga atacava contínua e incessantemente, buscando matar o garoto a qualquer custo. Era pressão total do Oukami para cima do ninja da Folha.

“Só preciso de uma ínfima brecha. Se eu a conseguir, vencerei esta luta.” — Analisava Shino ao mesmo tempo em que desviava, com um giro horizontal, de mais um ataque de Raiga.

— Morra logo, homem-inseto maldito! — Raiga rosnava.

A enorme estátua ergueu a espada e atacou verticalmente. Um golpe poderosíssimo, capaz de fincar a lâmina no chão. Shino saltou para o lado direito, evitando por muito pouco ser atingido.

Raiga tentava a todo custo puxar a espada presa ao solo e retomar o ataque. Shino, percebendo, avançou; a oportunidade de contra-atacar surgira.

Com chakra concentrado nos pés, o Jounin escalou o corpo da estátua, pousando sobre a cabeça dela. Tocou-a com os punhos cerrados e anunciou a técnica:

— Kidachuu: Mushikui (Grande Parasita: Picada de Inseto).

Dois segundos após Shino declarar o jutsu, dois besouros gigantes emergiram do corpo da estátua, devorando-a de dentro para fora. Eram fortes o bastante para triturar o metal com a mesma facilidade que conseguiam devorar folhas. O novo corpo de Raiga era rapidamente destruído. Sem alternativas, o espírito do Oukami deixou a estátua.

Raiga não foi capaz de manter a forma espectral por mais tempo; a técnica estava desfeita. O Oukami caiu de costas no chão.

— Maldição! O tempo acabou... — Murmurou Raiga, suas feridas tornaram a sangrar.

— Parece que sua técnica o abandonou, Raiga Takame. — Shino sinalizou com as duas mãos, ordenando aos dois besouros que cercassem o inimigo — Você está gravemente ferido e definitivamente derrotado.

— Seu moleque bastardo. Tá se achando... Eu vou te matar... Eu juro que vou te matar, ouviu? Eu vou te matar! — Disse Raiga com voz fraca.

— Diga-me, Raiga Takame, onde Karin Uzumaki está sendo mantida prisioneira? — Shino interrogou.

— Eu... Eu não vou fa...

— Ela está no porão. — Interrompendo Raiga, uma terceira voz, sombria, mórbida, vazia e feminina, se manifestou bem atrás de Shino.

O rapaz mal teve tempo de reagir. Quando se virou, foi tocado no rosto pela mão gelada de Beni Makagawa.

— Adoeça, enlouqueça e morra aos poucos. — Foram as palavras ditas por Beni.

Imediatamente, a pele de Shino empalideceu de um modo absurdo, os olhos do garoto converteram-se em vermelho-sangue, o Jounin suava por todo o corpo, saliva escorria pelos cantos da boca dele. Desabou no chão enquanto sofria as consequências tenebrosas da técnica de Beni.

Beni passou por Shino indiferentemente. Os olhos desprovidos de qualquer sentimento não se comoviam com a dor da vítima.

Os dois besouros, vendo que seu hospedeiro estava em gravíssimo perigo, avançaram contra a Oukami. Beni tampouco se importou. Três segundos bastaram para que destruísse os enormes insetos. Desapareceu em um súbito, reaparecendo um segundo depois sobre o corpo do primeiro, tocando-lhe com a mão nua. No instante seguinte, Beni repetiu o processo com o outro animal. Os hexápodes apodreceram de forma tal que vestígio algum sobrou de seus corpos. Esta era Beni Makagawa, a segunda maior força entre os Oukami, a Dama que personifica a morte.

— Tão patéticos. — Murmurou a garota.

— B-Beni! V-Você... Você está aqui? — Perguntou Raiga.

— Raiga. — Beni observava serenamente o companheiro caído.

— O-O que você está fazendo aqui? E-E o seu oponente? Você já o matou?

— Não. Eu os aprisionei com o genjutsu Kokuangyo no Jutsu (Técnica da Escuridão Infinita). Eu tinha assuntos que necessitavam mais da minha atenção, portanto deixei meus dois adversários para depois. — Respondeu Beni.

— V-Você veio me ajudar? — Esperançoso, Raiga perguntou — Rápido! Eu preciso de aju...

Raiga parou de falar, pois o terror lhe tomara o corpo e lhe paralisava os sentidos. Com a mão que não estava coberta pelas ataduras, Beni o havia tocado. A pele de Beni era incrivelmente pálida, com exceção dos braços, que desde a altura dos cotovelos até a ponta dos dedos eram negros como o céu sem estrelas, negros como a morte. Esta era a Kekkei Genkai de Beni Makagawa.

— O-O que é isso, Beni? O que está fazendo? — Desesperado, Raiga perguntou.

— Raiga... — A garota ergueu os olhos negros como pérolas raras para o companheiro, observando-o com uma frieza sepulcral — Você me desobedeceu. Você fez mal àquela garota.

O coração de Raiga disparou de medo. Beni havia descoberto o que ele tinha feito à Karin Uzumaki. Os olhos do loiro eram suplicantes, imploravam misericórdia. Ele sabia que jamais poderia vencer Beni. Era o fim.

—B-Beni... Eu não fiz n-nada de mais... Eu... Eu... — Raiga lacrimejava ante ao terror chamado Beni. Esta permanecia fria e inflexível.

— Eu conheço todos os menores detalhes do ocorrido, Raiga Takame. Mesmo dormindo, não há nada que me esteja oculto. Você fez o que não devia, tentou possuir uma garota à força. Mesmo ciente da minha proibição, você não hesitou. Raiga, eu não vim aqui para derrotar Shino Aburame por você. Eu vim aqui apenas para te matar. Claro, eu esperei o término da sua luta contra o ninja da Folha para te matar, o que, convenhamos, foi uma demonstração clara da sua fraqueza. Sua derrota foi patética; você manchou o nome dos Oukami — Declarou Beni.

— P-Por... Favor, Beni! Me dê outra chance! E-Eu não vou te desobedecer! Tenha misericórdia, eu te imploro! Eu te imploro, Beni! — Raiga chorava, apavorado como uma criança prestes a receber o devido castigo.

Beni ficou calada por alguns instantes, pensativa.

— Eu não vou mais desintegrar o seu corpo, Raiga Takame. — Afirmou. Raiga olhou incompreensivamente para a pequena.

— Não vai?

— Não. Homens que fazem garotas sofrerem desta forma tão repugnante merecem morrer de uma forma bem pior. — Anunciou com frieza enquanto premia ainda mais a pequena mão sobre o tórax de Raiga.

— POR FAVOR, BENI! NÃ...

— Agonize, sinta suas dores se intensificarem ao extremo, sangre lentamente até a morte, até seus ossos virarem pó. — Beni sentenciou.

Após a ordem da Makagawa, pelos olhos, ouvidos, nariz, boca, as pontas dos dedos e pelas feridas obtidas durante a batalha contra Shino, Raiga sangrava vagarosamente. O loiro gritava, urrava de dor, parando apenas após engasgar com o próprio sangue. Debatia-se agonizantemente sobre o chão.

Beni, calma e indiferentemente, desenrolava as ataduras do braço direito, até removê-las por completo. Caminhou tranquilamente até a porta que levava às demais dependências da mansão. O longo vestido negro alisava o chão conforme a garota caminhava. Ela tocou com o dedo indicador na porta, apodrecendo-a em dois segundos. A nobre madeira de mogno, após o leve toque de Beni, esfarelou como poeira.

— Agora devo recepcionar devidamente meus dois adversários. É chegado o momento de conhecê-los pessoalmente. — Beni dizia consigo mesma enquanto rumava para a biblioteca da mansão, onde os ninjas da Folha, Sai e Ino Yamanaka, eram mantidos em um genjutsu.