Capítulo 2

Logo após decolarmos, o Soldado Stolks se levanta de seu acento e vem até onde estou sentada.

“A senhorita está bem?” - diz. Acho que percebeu que estou verde de tanto medo; nunca voei de avião. Antes de responder observo como ele é alto e forte; Creio que deve ter 1,85 metros de altura, com olhos castanhos e cílios enormes, – bem maiores que os meus - moreno. Ele sorri, então observo que existem covinhas em seu rosto, aparenta ter uns 22 anos; parece ser inteligente, com olhos grandes e traços bem definidos, um homem bonito – mas aparência não diz tudo.

“Sim, obrigado” - respondo rapidamente.

“A senhorita Ally irá te servir” - diz e volta ao seu lugar. O Soldado Stolks tem uma maneira engraçada de andar, como se desejasse desesperadamente ir ao banheiro e seus braços não se mantêm ao lado do corpo, penso que deve ser por causa dos músculos – que são enormes.

“Soldado Stolks?”

“Sim, senhorita Scarlett?” - diz novamente se sentando.

“Qual é o seu nome?” - nunca gostei de formalidades; Papai e mamãe me ensinaram todas as etiquetas que eu preciso durante todo esse período em que me entendo por pessoa, mas nunca gostei de não saber o primeiro nome das pessoas. Se os primeiros nomes não fossem importantes eles não existiriam.

“Brian senhorita” - sorri e as covinhas aparecem; Sorrio de volta - “Obrigado”. De longe vejo uma garota, que deduzo ser Ally, empurrando um carrinho. Lindos olhos verdes, como se fossem duas esmeraldas em forma de bolinha de gude, sua boca perfeitamente desenhada e rosada, seu rosto arredondado, usa franja reta na altura das sobrancelhas e cabelo na altura dos ombros, loiros, muito magra, mas alta, sorridente - até agora -, parece ser uma pessoa muito legal.

“Oi senhorita Scarlett” - diz Ally

“Oi Ally, é uma prazer conhece-la” - ela faz uma pequena reverência.

“O prazer é todo meu senhorita” - o uniforme que ela esta usando não favorece em nada sua beleza, ao contrario, a deixa mais velha, cinza nunca é a cor de ninguém, principalmente quando você trabalha num Palácio.

“Eu serei uma de suas criadas no Palácio, como na nova edição da Seleção, as selecionadas não podem se conhecer até a Recepção, fui designada para acompanha-la e servi-la durante o voo” - Ally puxa algo da poltrona da frente que se parece como uma mini mesinha, pega uma toalhinha e passa sobre a mesa. Logo depois coloca uma toalha de renda branca e sobre ela vários talheres prateados, um prato recheado de comida e uma taça com que creio que seja vinho.

“Coma senhorita, temos uma viagem longa pela frente” - ela me dá um sorriso e se retira rapidamente. Não penso em mais nada, apenas obedeço e tento acabar com toda a comida que esta na minha frente – não tinha percebido o tamanho da minha fome – em menos de 15 minutos eu estava na sobremesa, um tipo de torta feita de amendoim com um creme delicioso que nunca comi.

“Ally e Soldado Brian vocês precisam experimentar essa torta, venham!” - digo, e faço gestos com as mãos freneticamente para que se aproximem, os dois me olham como se eu fosse uma espécie de outro planeta, mas se aproximam, pego o garfo e dou para Ally que ainda com receio retira um pedaço da torta e coloca em sua boca, percebo que gostou, pois seus lábios abriram um pouquinho um sorriso. Ela passa o garfo para o Soldado Brian que retira um pedaço da torta, coloca em sua boca e mastiga devagar – imagino que seja para acabar devagar, nunca comi algo tão delicioso.

“É bom, não é? É como se você estivesse flutuando em um arco-íris e de repente achasse o fim, e no fim tivesse essa torta como um presente dos deuses” - os dois sorriem para mim, depois olham um para o outro e dizem em unisom

“Sim, senhorita Scarlett” - Soldado Brian se retira.

“Preciso falar com você senhorita” - diz Ally, eu encosto a mão esquerda na poltrona do lado.

“Senta aqui comigo” - ela se senta

“Como a senhorita é a ultima selecionada a ser levada ao Palácio...” - eu era a ultima? Meu Deus, eles são rápidos - “... não dará tempo de se preparar como as outras, pois quando chegarmos à senhorita terá que seguir para a Recepção de imediato, com isso eu tomei a liberdade de fazer o seu vestido, bom, eu vi sua foto e fiz o melhor que pude, mas só vou mostra-lo para a senhorita depois”

“Um vestido para mim?” - adoro vestidos, mas nunca usei um como os da realeza, estou muito curiosa para o ver

“Sim, senhorita”

“Que maravilhoso obrigado” - a abraço

“Está tarde, vou deixa-la dormir, porque amanha, a preparação começa” - ela se levanta, faz uma pequena reverencia e some na escuridão do avião. Fico encarando a poltrona da frente até que não lembro mais onde estou o que me espera e o que vou fazer, apenas lembro Tenho que dormir, e é o que eu faço, durmo.

Acordo quatro horas depois e Ally já está acordada, como também o Soldado Brian.

“Bom Dia Senhorita Scarlett” – diz Ally trazendo o café da manha

“Bom dia Ally, dormiu bem”

“Sim Senhorita, nós chegaremos em uma hora, enquanto a senhorita toma seu café irei te explicar o que irá acontecer” – ela me entrega uma bandeja prateada com bolo de chocolate, suco de laranja e muitos doces diversos, começo a comer, como será que ela adivinhou que eu amo chocolate? Não importa, quero comer. Ally sorri e se senta ao meu lado

“Bem senhorita, daqui a pouco irá tomar banho, logo depois irei te deixar perfeita para a Recepção. Como já lhe disse todas se encontraram na Recepção, quando a senhorita chegar vai ser conduzida ao seu quarto para os últimos detalhes, logo depois vai ser levado ao Grande Salão onde irá acontecer a Recepção, onde vai conhecer o Príncipe, a Rainha, o Rei e todas as outras 34 Selecionadas, espero que goste da sua estadia no Palácio.”

Depois de tomar meu banho, estou esperando que Ally traga o meu vestido. Como não tem quartos em um avião, o que eu acho que seria uma ideia bem legal, o Soldado Brian foi ficar na Cabine do Avião;

“Aqui está senhorita” – diz Ally segurando o vestido mais lindo que já vi na vida. É um vestido preto com cinza, o corpete parece uma borboleta cinza, o decote coração sem ser muito grande, há dois triângulos na parte da cintura de cor preta, na parte do decote, também de cor preta desce até a separação do corpete com o resto do vestido e cria outro triângulo da mesma cor, fazendo com que a borboleta fique em evidência.

Na cintura há uma pequena fita com strass dourados, da cintura para baixo o vestido vai se abrindo em cor degrade, do preto ao cinza claro, consigo ver seis linhas, separadas por 20 centímetros cada, sendo que o espaço central é de 40 centímetros, nesse espaço o tecido não é como o outro, parece vários galhos se interligando, o vestido se abre como se fosse uma flor, nas costas vejo um grande laço na altura da cintura, de cor cinza claro, como a borboleta. Não sei o que dizer há Ally, esse vestido é a coisa mais linda que já vi, ela percebe que estou atônita.

“Não precisa dizer nada senhorita, apenas vista” – como se estivesse hipnotizada obedeço. E em alguns minutos já estou com o vestido em meu corpo, ele caiu perfeitamente em mim, como se existisse porque eu existo.

“Nossa Ally, eu amei, obrigado, muito obrigado mesmo” – eu a abraço, ela retribui.

“Quando o fiz, pensei que ficaria perfeito na senhorita, eu estava certa, agora sente para que eu possa fazer um penteado no seu cabelo para que a máscara fique no lugar certo, aliás, será um baile de máscaras” – sento e deixo que ela faça a sua mágica. Enquanto ela mexe em meu cabelo, tento acalmar meus nervos, afinal, daqui alguns minutos a minha vida vai mudar. Fico perdida em meus pensamentos por mais alguns minutos até que Ally termine seu trabalho.

“Pronto senhorita, antes que se olhe no espelho, coloque a luva e a máscara” – ela me entrega um par de luvas do mesmo tecido da parte central do vestido, que vai até o meu cotovelo, a máscara é dourada com strass como a pequena fita que separa as duas partes do vestido. Eu as coloco e me levanto, Ally segura um espelho, quando eu me olho, não consigo acreditar que sou eu mesma. Meu cabelo esta dividido da direita para esquerda, sendo que há uma pequena quantidade de cabelo no lado direito e na esquerda uma grande quantidade. O lado esquerdo está preso com uma pequena presilha de modo que se fundisse com a cor do meu cabelo, a máscara parece à continuação do vestido e vejo a cor vermelha dos meus lábios, como se uma rosa permanece-se em minha boca.

“Estou linda Ally, muito obrigada” – dou pulinhos de alegria.

“As senhoritas terminaram?” – pergunta o Soldado Brian da cabine.

“Sim Soldado Stolks” – responde Ally

“Então, peço a gentileza de colocarem o cinto, em cinco minutos iremos aterrissar” – daqui 5 minutos toda a vida que eu conhecia vai mudar, olho para a janela e vejo o avião pousar lentamente, eu quero, eu quero mudar.

Logo após aterrissarmos sou levada ao meu quarto. O quarto não é como eu havia imaginado se é que eu havia imaginado, se eu o fiz, superou todas as minhas expectativas. Um verdadeiro quarto da realeza, tudo o que se imagina de bom, uma cama enorme, digna de bons sonhos, uma pequena escrivaninha de madeira entalhada com perfeição, tudo o que se tem de melhor.

“Agora que conheceu o seu quarto, tenho que apresentar suas outras criadas” – diz Ally, agitando as mãos para que duas garotas acredito que quase da mesma idade que a minha entrar. Observo as três figuras a minha frente, com seus vestidos cinza, Ally sempre sorridente, a segunda, morena de cabelos negros como seus olhos, diria enigmática, e a terceira, morena, com os olhos verdes claros, a beleza das três me faz ficar sem graça, afinal, qualquer um se apaixonaria por elas, acredito eu.

“Mary Lancaster e Judy Spencer” – as duas fazem uma reverência, retribuo.

“Prazer em conhecê-las” – digo abraçando-as energeticamente. Abraçar criadas deve ser proibido, pois Ally me olhou intrigada, Mary e Judy se recompõem e adquirem uma imagem mais profissional.

“O prazer é nosso senhorita Scarlett” – diz Mary. Com mais atenção observo as minhas criadas, Mary é muito mais alta que eu, seus cabelos vão até a cintura, seus olhos são puxadinhos como uma asiática, um sorriso maroto em sua boca e seus lábios carnudos; Judy parece ser a mais responsável, ela tem postura totalmente ereta, como se uma corda estivesse a puxando – de acordo com meu pai eu deveria andar assim sempre, mas cansa – seu rosto com expressão forte e seus olhos totalmente meigos, se ela não fosse uma criada, seria uma bela princesa.

“Senhorita, temos que conduzi-la para a Recepção, ao chegar perceberá a presença de um soldado de prontidão na porta, a senhorita deverá dizer seu nome a ele” – eu não preciso dizer mais nada, elas me conduzem até o corredor que preciso seguir e como se uma corda estivesse me puxando fui em direção ao final do corredor.

Chegando a uma curva no final do corredor me deparo com uma fila cheia de belas moças, em vestidos de gala. Ninguém repara na minha chegada, estão preocupadas consigo mesmas; As Selecionadas se aproximavam do soldado, diziam seu nome e este o anunciava para que entrasse no Grande Salão. Conto 29 Selecionadas na minha frente, sendo que 4 já foram anunciadas.

“Está nervosa?” – alguém me cutuca, viro-me e vejo a garota mais alta que já vi. Parece uma modelo, não consigo ver seu rosto, mas consigo ver sua boca com uma pequena cor alaranjada, enquanto eu não falo nada, ela apenas fica me olhando passando a língua sobre os lábios e os mordendo.

“Um pouco” – respondo

“Devia estar.” – eu não sei o porquê ela me disse isso, e perco o interesse no momento em que consigo ver seu vestido. Nunca vi um vestido tão justo quanto o dela – acho que devia ser proibido usar um vestido desse aqui – é tão justo que consigo ver suas costelas, é longo e vermelho, mas a partir das suas coxas o vestido vai se abrindo de modo que suas pernas estão aparecendo e também há um grande decote que vai até o umbigo, mas todo esse caminho do decote é apenas visível partes de seu corpo, pois é tampado com uma renda preta finíssima, de modo que quando se olha a única coisa que consegue observar são as partes que os homens mais gostam: peito, e pernas. Para mim, não há mais nada sensual que aquele vestido.

“Com certeza, obrigado por me avisar.” – viro-me para frente e espero minha vez para ser anunciada. Escuto vários nomes, como Emily Bonan, Veronica Waters, Mary Margareth, Victoria Mills, Elizabeth Osborne, Marlene Richard, Sarah Levesque, Annie Sanders, Nicole Evans, Sophie Thorn, Micaella Hutch, Linda Born, Rachel Madox e finalmente escuto o soldado dizer: Senhorita Scarlett Müller. Respiro pelo nariz e solto pela boca repetidas vezes e penso para ficar calma, mas toda calma se foi quando eu vi várias pessoas olhando para mim. Não sei para onde ir, então sigo a ultima Selecionada anunciada, tenho sorrir para todos que me olham; De longe vejo 35 poltronas azuis e três tronos, um para o Rei, uma para a Rainha e outra para o Príncipe. As Selecionadas foram se sentando em cada uma das poltronas azuis, sento na minha e tento não pensar muito, tento ficar calma, eu preciso ficar calma, minhas mãos não param de tremer e a suar frio, parece que estou à beira de um ataque – Eu consigo, penso, Eu consigo.

“Senhoras e Senhores, todos de pé para receber a Rainha America, Rei Maxon e Sua Alteza o Príncipe Noah” – todos se levantam rapidamente e os três adentram o salão com grande graciosidade.

A Rainha America como sempre está em um vestido de baile de cor marfim, seu cabelo preso em um coque e com o sorriso mais doce que já vi. O Rei Maxon com aquele olhar sincero e generoso. Agora, não sei como descrever o Príncipe Noah, seus olhos azuis pareciam gelo, sem nenhuma reação, sem nenhuma demonstração de sentimentos. Ele apenas caminha até seu lugar, se senta e a Recepção começa.

Olho a minha volta, vejo pessoas que não conheço, pessoas conversam comigo e eu nem sei seus nomes. Sinto-me mal, não sei o que fazer neste lugar, me sinto sufocada por tantos vestidos, e porque esse vestido ficou tão apertado de repente? Tudo esta girando, preciso sentar; mais que depressa me sento em um sofá afastado de todos, no fundo do salão, onde ninguém pode me ver.

“Por que está se escondendo?” – alguém diz. Assusto-me e olho em volta, mas não consigo ver ninguém.

“Olha para trás” – viro-me e vejo alguém no escuro perto das cortinas

“Não estou, é só muita pressão” – digo brincando com os galhos entrelaçados do meu vestido.

“Entendo, estou recebendo muita pressão ultimamente” – percebo que esse alguém é um homem, pois acredito que mulher não usa sapatos enormes de homem.

“Cheguei há algumas horas no Palácio e estou quase tenho um ataque anafilático, sabe o que poderia ter nesses bailes para extrair toda a pressão do momento?” – me levanto. O alguém sai das sombras, olhos azuis me olham atentamente com curiosidade.

“Perdoe-me Alteza, não sabia que era o senhor” – eu não sei o que dizer. Quando não consigo pensar no que dizer a alguém peço desculpas, perdão, falo algo sem noção e sem sentido.

“Não há nada pelo que se perdoar, a senhorita me dizia, o que precisa ter nesses bailes?” – diz com uma sensualidade incrível, apesar de não ser proposital.

“Bom, diversão, Alteza, diversão” – digo sorrindo – “Se me permite?” – faço uma reverência e peço o seu braço, ele assente. Passo meu braço direito pelo seu braço esquerdo.

“Vou lhe mostrar” – sigo em direção aos músicos. Antes de chegar perto demais peço que o Príncipe espere e vou falar com os músicos.

“Os senhores poderiam me emprestar o violino?” – no começo me olham com descrença, depois olham para o Príncipe e depois para mim novamente.

“Claro, senhorita” – pego o violino e começo a tocar a música mais divertida e animada que eu conheço.

“Senhores, conseguem me acompanhar?” – pergunto aos músicos, sem me responder cada um pega seu instrumento e começa a tocar a mesma melodia que eu, entrego o violino para seu dono e digo para continuarem a tocar. Volto para onde o Príncipe está e neste momento ele me olha como se fosse o ser mais estranho que já viu.

“Preparado para a diversão Alteza?” – pergunto ao me aproximar.

“Sim, senhorita” – e é nesse momento que vejo um pequeno sorriso imperceptível se formar em seus lábios.

“Siga-me”