Os Últimos Passos de Um Homem escrita por Bruno Silfer


Capítulo 9
Capítulo 9: Reações




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"Você já teve um amigo a ponto de dar a vida por ele?"

Essa frase foi o início do relato do tão enigmático assassinato que despertou tanta curiosidade. Gaara permaneceu de pé onde estava, mas agora olhava a estudante nos olhos. Ino deu três passos para trás e sentou-se na cama. Não levara o bloco de notas ou algum outro objeto; sentia que aquele depoimento de alguma forma mexeria com ela e não precisaria ser anotado. Respondeu:

– Não sei. Não sei se teria coragem.

Gaara, que já esperava essa resposta, retrucou:

– Então não sei se vai entender o meu lado.

– Você está enrolando?

Gaara sorriu de leve.

– Tem razão. - disse - Ainda estou meio nervoso.

– Confia em mim?

– Claro que sim. Por isso deixei você vir.

– Então - fez uma pausa para retomar o assunto - você teve um amigo de verdade mesmo?

Encostando-se com as costas na grade, respondeu:

– No meu caso foi uma amiga.

– Uma amiga?

– Isso mesmo.

– Não me diga que...

– Exato. Ela é uma das vítimas.

Ino ficou atordoada com essa frase. Ele notou e tratou de continuar.

– Vou contar do início. A mulher que morreu era minha amiga de infância. Nascemos e crescemos praticamente juntos. A gente era como unha e carne.

– Então você era o melhor amigo dela.

– Com toda a certeza. Ela sempre morou ao lado da minha casa. A cerca tinha até um buraco, que eu fiz, para ficar mais fácil passar de uma casa para outra. Como nossas famílias se davam muito bem, ficava muito mais fácil ir para a casa dela brincar.

– Continua. - disse Ino interessada.

– Por algum motivo nós sempre acabávamos atravessando o mesmo caminho. Na escola só não estudamos juntos na sétima série. Ela era ótima em ciências humanas e biologia e péssima em exatas. Eu era exatamente o inverso: detestava humanas e adorava exatas; assim, até nos estudos ficávamos juntos.

– Se vocês viviam sempre juntos nunca se apaixonaram?

– Por incrível que pareça não. Eu cheguei a pensar nisso, ela também, conversamos sobre isso e decidimos deixar o tempo cuidar de nós. Não nego que demos uns beijos mas nunca surgiu amor.

Ele agora estava bem mais à vontade. Falava fácil e com clareza, mas era nítido que segurava uma pontinha de saudade em sua voz. Continuou.

– Eu vi ela crescer, se desenvolver, se tornar mulher. Ela perguntava até o que eu achava dos namorados dela acredita? Sempre dei minha sincera opinião e ela levava a sério o que eu falava.

– Como assim?

– Ela considerava a minha opinião para confiar no namoro.

– Isso não era exagero?

– Sempre achei. Eu dizia que o namoro era algo sério e cabia a ela tomar as decisões, mas ela dizia que se sentia insegura. Daí aconteceu o pior.

– O que aconteceu?

– Ela conheceu um cara, que seria seu último namorado, com que se apaixonou de verdade. Eles namoraram, se davam bem; eu via que ela estava feliz, e eu também por ela. Mas em pouco tempo apareceu o defeito.

– Como assim "o" defeito? Só era um?

– Somente um, mas ele arrastou muitos outros.

– O que era?

– Ele tinha muito ciúme dela. Queria controlar. Ela que sempre viveu livre não aceitou. Assim eles terminaram com a mesma rapidez com que começaram.

– Ela não fez o certo?

– Fez sim. Mas ele não deixou ela em paz. Nunca aceitou o fim do namoro. Ela chegou a me dizer que o amor que um dia ela sentiu se transformou em medo.

– Nossa... mas o que aconteceu com a... como era mesmo o nome dela?
– Ah, esqueci até de dizer o nome. Ela se chamava Barbara, mas eu sempre a chamei de Babs (leia "Bebs"). Continuando: ele continuou a intimidá-la e fazer ameaças, até que um dia ele mandou uma mensagem para o celular dela dizendo que queria falar com ela no parque e que seria a última conversa deles. Lembro desse dia como se fosse ontem.

Flash back on

– Acho uma péssima idéia.

– Mas Gaara - respondeu Barbara - Eu quero resolver logo essa situação.

– E você acha que ele quer?

– Não sei... pelo menos vou tentar.

– Você vai?

– Vou. Hoje às três e meia da tarde.

– Eu vou com você e nem adianta impedir. Não vou te deixar sozinha com ele.

– Obrigada. Mas vamos conbinar o seguinte: você vai depois de mim. Espera uns cinco minutos pra ir. Tudo bem?

Flash back off

– Ela insistiu porque sabia que eu não gostava dele e poderia acontecer que eu discutisse ou brigasse mesmo com ele. Eu aceitei e esperamos chegar a hora indicada.

Ino esboçou dizer alguma coisa, mas o ruivo continuou a falar.

– Como combinado fui cinco minutos depois dela. Procurei os dois até ouvir um grito de mulher. Corri até o lugar e quando cheguei vi ele guardando um par de luvas e o corpo dela estendido no chão com uma faca cravada no peito.

– Que coisa horrível! Eles discutiram?

– Acho que sim, mas não ouvi. Eu fui até o corpo dela mas não havia o que fazer. Nessa hora tive um acesso de fúria como nunca tive antes. Tirei a faca do corpo e matei ele. Três golpes no peito e dois no pescoço.

Ino sentiu um frio na espinha quando ouviu isso. Então ele era realmente culpado! Aquilo ela não esperava.

– Quando a polícia chegou eu ainda estava com a faca na mão. Fui preso e agora estou aqui esperando a morte.

– Você se arrependeu?

– Não. Ele levou o que eu mais amei na vida. Faria tudo de novo se pudesse.

Nessa hora uma lágrima caiu no rosto do ruivo. Ele colocou o rosto entre as mãos e disse baixinho: "Sinto saudades Babs. Não cheguei a tempo de te salvar. Desculpa."

– Então porque... - disse Ino atordoada - Por que nunca me contou?

– Eu gosto quando você vem aqui. E faz tempo que notei que voce achava que eu era inocente. Tinha medo que quando soubesse a verdade não viesse mais aqui.

– Não vou deixar de vir. Mas agora a inocência que você jurou no tribunal foi pro buraco.

– Foi a mídia que publicou que eu aleguei inocência. Eu contei ao juiz a mesma história que você ouviu agora. Aliás não ligo de ser condenado. Só não queria que fosse a morte.

– Escuta. - Ino tocou o rosto do Gaara com as duas mãos - Pode parecer loucura mas eu entendo você. Não tenho como te tirar dessa, mas saiba que eu te acho um herói. Obrigada por me contar tudo. Agora preciso ir. - lhe deu um beijo no rosto e foi embora pensativa.

Herói... essa era a última coisa que esperava ser chamado. Como poderia ser herói se era um condenado com os dias contados? Era algo que perguntaria para a Ino quando ela voltasse. Fora isso estava feliz: finalmente achara a palavrinha que faltava na sua música.


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