Os Últimos Passos de Um Homem escrita por Bruno Silfer
Algo fora do comum acontecia. O simples fato de se colocar uma adolescente para acompanhar um assassino era algo para, no mínimo, ser muito bem observado. A partir da segunda visita, ela anotaria o que fosse necessário e, a partir dessas anotações, o conheceria cada vez mais a fundo, o que facilitaria muito o seu trabalho. Na prisão era hora do banho de sol. Junto ao tabuleiro de xadrez Gaara jogava com seu “amigo de cadeia” Sasuke, condenado a vinte e seis anos de prisão por seqüestro e formação de quadrilha, e ao mesmo tempo conversavam sobre quase tudo: futebol, a vida que tinham fora da cadeia e, principalmente, sobre a Ino.
– Cara... – começou Sasuke – Eu ouvi falar que a sua conselheira é uma gata. É verdade?
– Não nego que ela é linda. – respondeu Gaara – Mas senti um tom de segundas intenções nessa pergunta.
– Com certeza, mas não é pra mim. É pra você.
– Como assim?
– Ora. Já que você vai morrer mesmo não custa nada dar um trato nela uma hora dessas.
– Ih o cara... a gente só se falou uma vez e o cara já pensa besteira...
– Vai dizer que não sente desejo por ela?
– E eu lá tenho cabeça pra desejo pô!
– “Cabeça” tem, só falta colocar pra funcionar. Hahahaha.
Mesmo com as visitas, Ino continuava a freqüentar as aulas. Todos os estudantes souberam o que ela estava fazendo e sempre faziam muitas perguntas. Por um lado ela gostava dessa “fama” repentina, mas tinha plena consciência que ainda estava muito insegura e isso era algo a ser corrigido.
– Ino?
Uma garota de cabelo rosado, estudante de história, a chamava. Não conseguiu desviar a atenção da loira de imediato, então teve que chama-la mais uma vez para ser notada.
– Hã? Ah, oi Sakura.
– Oi né? Ta com a cabeça nas nuvens hein? Quase não me vê aqui.
– Desculpa mesmo. É que eu me distraí.
– O que está acontecendo Ino?
– Como assim?
– Desde que começou a visitar esse preso você está diferente. O que está acontecendo?
– É que desde antes que eu começasse sempre me passaram a imagem que ele era um assassino violento e tudo mais.
– E não é?
– Pode ser, mas não foi isso que eu vi. Quando nos falamos ele me pareceu uma ótima pessoa. Me fez rir várias vezes.
– E o que isso quer dizer?
– Não devia, mas estou começando a desconfiar se ele é realmente culpado.
– Como desconfiando? Não viu os jornais?
– Claro que vi. Aliás vou levar um pra ele.
– Pra que?
– Quero ouvir a versão dele dessa história.
– Faz sentido. Apesar que não vai mudar nada mesmo.
– Não importa. Eu preciso saber.
– E quando você vai lá?
– Hoje à tarde, depois da aula.
– Então até amanhã.
Elas estudavam em uma bela universidade. Tinha um dos melhores níveis de ensino dos Estados Unidos. E isso fazia a diferença. Gaara, porém, antes de ser preso também fazia um curso superior, mas Ino ainda não sabia disso.
O dia da visita chegou e a partir de agora Ino levaria seu bloco de notas que poderia ser útil em qualquer momento. A aula terminara e ela estava no quarto, diante do espelho terminando de se arrumar. Resolveu se vestir de branco e amarrou o cabelo em um rabo de cavalo antes de entrar no carro e seguir para o presídio. Gaara estava no banheiro da cela fazendo a barba, algo que ele sempre detestou, e terminou o serviço com um saldo de dois pequenos cortes no rosto.
– É uma droga mesmo. – disse ele ao sair – Não sei pra que nasce cabelo na cara. Só pra ocupar espaço e atrapalhar. Lugar de cabelo é na cabeça; não debaixo do braço, na cara ou no...
Nessa hora o policial abriu a cela e perguntou:
– Falando sozinho?
– Só filosofando um pouco.
– Pois vá filosofar com sua conselheira. Ela acabou de chegar.
Ele gostou de conversar com a Ino, por isso não resistiu e acompanhou o policial até a sala de visita onde a estudante se preparava para a conversa. Estava tão distraída que só voltou à realidade ao ouvir o ruivo bater no vidro e mostrar o telefone.
– Boa tarde. – disse a loira.
– Boa. – respondeu – Estava longe hein?
– Desculpe. Me distraí um pouco.
– Não faz mal.
– Então como você está? Tudo bem?
– Bom... tirando o fato de estar preso e esperando a morte... é, estou bem sim.
– Parece que não se importa muito com isso.
– Não me importo mesmo.
– Por quê?
– Ponha-se no meu lugar. Alem de condenado, me deram só um ano de vida. Não tem muito o que fazer em um ano.
– Se sente injustiçado?
– Lógico! Outros só morrem dez, quinze anos depois de condenados. Por que comigo foi diferente?
– Entendo. Mas não é estranho se sentir injustiçado e, ao mesmo tempo, não se importar?
– Pra mim não. Eu tenho base pra pensar assim.
– Que tipo de base?
– A minha versão dos fatos. O que realmente aconteceu naquele parque.
– E o que aconteceu?
Eles olharam fixamente para os olhos um do outro com se estivessem se estudando. Até que o silêncio foi quebrado.
– Não vou contar pra você.
– Por que não?
– Não mudaria nada. Eu contaria e você não poderia fazer nada pra me tirar daqui. Melhor deixar assim.
– Pelo menos seria mais fácil entender você.
– Você não me entenderia. Ninguém entende.
– Me deixa pelo menos tentar?
Antes que pudesse responder, acabou o tempo que tinham para conversar. Ino logo percebeu que ele parecia sentir um misto de revolta e satisfação. Revolta por receber uma pena tão dura e satisfação não sabia por quê, e para descobrir precisaria de mais que dez ou quinze minutos de conversa for telefone. Esses planos em mente a fizeram esquecer até do jornal que trouxera consigo para mostrar a ele. Algo mais ousado ocupava sua mente naquela hora.
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