Os Últimos Passos de Um Homem escrita por Bruno Silfer


Capítulo 3
Capítulo 3: Busca




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Algo fora do comum acontecia. O simples fato de se colocar uma adolescente para acompanhar um assassino era algo para, no mínimo, ser muito bem observado. A partir da segunda visita, ela anotaria o que fosse necessário e, a partir dessas anotações, o conheceria cada vez mais a fundo, o que facilitaria muito o seu trabalho. Na prisão era hora do banho de sol. Junto ao tabuleiro de xadrez Gaara jogava com seu “amigo de cadeia” Sasuke, condenado a vinte e seis anos de prisão por seqüestro e formação de quadrilha, e ao mesmo tempo conversavam sobre quase tudo: futebol, a vida que tinham fora da cadeia e, principalmente, sobre a Ino.

– Cara... – começou Sasuke – Eu ouvi falar que a sua conselheira é uma gata. É verdade?

– Não nego que ela é linda. – respondeu Gaara – Mas senti um tom de segundas intenções nessa pergunta.

– Com certeza, mas não é pra mim. É pra você.

– Como assim?

– Ora. Já que você vai morrer mesmo não custa nada dar um trato nela uma hora dessas.

– Ih o cara... a gente só se falou uma vez e o cara já pensa besteira...

– Vai dizer que não sente desejo por ela?

– E eu lá tenho cabeça pra desejo pô!

– “Cabeça” tem, só falta colocar pra funcionar. Hahahaha.

Mesmo com as visitas, Ino continuava a freqüentar as aulas. Todos os estudantes souberam o que ela estava fazendo e sempre faziam muitas perguntas. Por um lado ela gostava dessa “fama” repentina, mas tinha plena consciência que ainda estava muito insegura e isso era algo a ser corrigido.

– Ino?

Uma garota de cabelo rosado, estudante de história, a chamava. Não conseguiu desviar a atenção da loira de imediato, então teve que chama-la mais uma vez para ser notada.

– Hã? Ah, oi Sakura.

– Oi né? Ta com a cabeça nas nuvens hein? Quase não me vê aqui.

– Desculpa mesmo. É que eu me distraí.

– O que está acontecendo Ino?

– Como assim?

– Desde que começou a visitar esse preso você está diferente. O que está acontecendo?

– É que desde antes que eu começasse sempre me passaram a imagem que ele era um assassino violento e tudo mais.

– E não é?

– Pode ser, mas não foi isso que eu vi. Quando nos falamos ele me pareceu uma ótima pessoa. Me fez rir várias vezes.

– E o que isso quer dizer?

– Não devia, mas estou começando a desconfiar se ele é realmente culpado.

– Como desconfiando? Não viu os jornais?

– Claro que vi. Aliás vou levar um pra ele.

– Pra que?

– Quero ouvir a versão dele dessa história.

– Faz sentido. Apesar que não vai mudar nada mesmo.

– Não importa. Eu preciso saber.

– E quando você vai lá?

– Hoje à tarde, depois da aula.

– Então até amanhã.

Elas estudavam em uma bela universidade. Tinha um dos melhores níveis de ensino dos Estados Unidos. E isso fazia a diferença. Gaara, porém, antes de ser preso também fazia um curso superior, mas Ino ainda não sabia disso.

O dia da visita chegou e a partir de agora Ino levaria seu bloco de notas que poderia ser útil em qualquer momento. A aula terminara e ela estava no quarto, diante do espelho terminando de se arrumar. Resolveu se vestir de branco e amarrou o cabelo em um rabo de cavalo antes de entrar no carro e seguir para o presídio. Gaara estava no banheiro da cela fazendo a barba, algo que ele sempre detestou, e terminou o serviço com um saldo de dois pequenos cortes no rosto.

– É uma droga mesmo. – disse ele ao sair – Não sei pra que nasce cabelo na cara. Só pra ocupar espaço e atrapalhar. Lugar de cabelo é na cabeça; não debaixo do braço, na cara ou no...

Nessa hora o policial abriu a cela e perguntou:

– Falando sozinho?

– Só filosofando um pouco.

– Pois vá filosofar com sua conselheira. Ela acabou de chegar.

Ele gostou de conversar com a Ino, por isso não resistiu e acompanhou o policial até a sala de visita onde a estudante se preparava para a conversa. Estava tão distraída que só voltou à realidade ao ouvir o ruivo bater no vidro e mostrar o telefone.

– Boa tarde. – disse a loira.

– Boa. – respondeu – Estava longe hein?

– Desculpe. Me distraí um pouco.

– Não faz mal.

– Então como você está? Tudo bem?

– Bom... tirando o fato de estar preso e esperando a morte... é, estou bem sim.

– Parece que não se importa muito com isso.

– Não me importo mesmo.

– Por quê?

– Ponha-se no meu lugar. Alem de condenado, me deram só um ano de vida. Não tem muito o que fazer em um ano.

– Se sente injustiçado?

– Lógico! Outros só morrem dez, quinze anos depois de condenados. Por que comigo foi diferente?

– Entendo. Mas não é estranho se sentir injustiçado e, ao mesmo tempo, não se importar?

– Pra mim não. Eu tenho base pra pensar assim.

– Que tipo de base?

– A minha versão dos fatos. O que realmente aconteceu naquele parque.

– E o que aconteceu?

Eles olharam fixamente para os olhos um do outro com se estivessem se estudando. Até que o silêncio foi quebrado.

– Não vou contar pra você.

– Por que não?

– Não mudaria nada. Eu contaria e você não poderia fazer nada pra me tirar daqui. Melhor deixar assim.

– Pelo menos seria mais fácil entender você.

– Você não me entenderia. Ninguém entende.

– Me deixa pelo menos tentar?

Antes que pudesse responder, acabou o tempo que tinham para conversar. Ino logo percebeu que ele parecia sentir um misto de revolta e satisfação. Revolta por receber uma pena tão dura e satisfação não sabia por quê, e para descobrir precisaria de mais que dez ou quinze minutos de conversa for telefone. Esses planos em mente a fizeram esquecer até do jornal que trouxera consigo para mostrar a ele. Algo mais ousado ocupava sua mente naquela hora.


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