Os Últimos Passos de Um Homem escrita por Bruno Silfer


Capítulo 11
Capítulo 11: Sonhos




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Cinco e quarenta e cinco da manhã. Gaara acabava de acordar por causa de um pesadelo e resolveu permanecer acordado. Como ficar deitado faria o sono voltar, saltou da cama, acendeu a luz e ficou a organizar as coisas que estavam na cela, inclusive as que ele mesmo trouxera. Roupas, livros, o violão que merecia lugar de destaque, e outras coisas mais simples; aliás, as mencionadas roupas não tinham utilidade alguma já que ele usava o uniforme de preso.

As horas passavam e Gaara estava diferente dos outros dias. Comeu pouco e não falou quase nada durante a manhã. Ele era forte, sem dúvida, mas como todo ser humano também tinha um ponto fraco: lembrar que vai morrer sem realizar seus sonhos que há um ano atrás eram projetos e hoje são frustrações.

– Ficar o dia todo sozinho não é mole não. – dizia ele mesmo sem ninguém ouvir.

Pouco a pouco com a ajuda da Ino e principalmente do tempo seus verdadeiros sentimentos apareciam. Um deles era detestar ficar muito tempo sozinho, pois assim sempre lembrava que só tinha três meses de vida. Uma coisa era certa: tudo o que tinha era poucos amigos, algumas coisas e teria que deixar tudo isso para trás. Seus pensamentos foram interrompidos quando Ino chegou e disse:

– Bom dia!

– Bom dia. Está alegre hoje...

– Estou. Mas me disseram que você está triste.

– Eu não estou triste.

– Não precisa esconder nada de mim. O que aconteceu?

Movido pela confiança que tinha pela garota, Gaara resolveu contar.

– Não sei porque, mas hoje eu fiquei passando o dia pensando na vida que eu deixei lá fora. E essas lembranças me apertam o coração.

– Falando nisso, eu conheço muito sobre você, mas não sei os sonhos que você tinha antes de vir pra cá.

– É verdade. Ainda não te contei.

– Quer contar?

– Tanto faz. Não eram coisas extraordinárias. Pelo contrário, tudo era até bem simples.

– Quais eram?

– O primeiro era me formar. Não sei se você sabia, mas eu estudava estatística. Não é por falta de modéstia, mas eu me dava muito bem nas matérias.

– O que essa estatística estuda?

– Bom... basicamente cálculo, álgebra, probabilidade, coisas assim.

– Não me daria bem estudando isso. – admitiu Ino.

– Cada um tem seu dom. – limitou-se a dizer Gaara.

– É. Qual o outro sonho?

– É... Preciso mesmo contar?

– Por favor...

– Tá bom. Outro dos meus sonhos era casar.

– Casar?

– Acredite se quiser. Posso ter esse jeito se sério, fechado, mas aqui também bate um coração, e eu realmente queria poder fazer alguém feliz.

O coração da estudante acelerou com essas palavras. Ela nunca o vira falar daquela maneira. Ele tinha mais sentimentos ocultos do que imaginava.

– Nunca achei ninguém. – continuou Gaara – Mas admito que eu também não procurei muito.

– Nunca achou? Você é tão bonito e nunca achou?

– Foi exatamente por isso que não achei. As garotas que conheci não queriam nada sério. Depois de um tempo me aborreci e desisti de procurar.

– Desistiu mesmo?

– Desisti. Aliás se eu a achasse agora não poderia fazer ela feliz como eu quero. Iria tê-la nos meus braços por três meses e depois tudo acabaria da pior maneira. Três meses de felicidade para mim não compensaria a dor que ela teria que suportar com a minha morte. Melhor deixar assim.

Ino não segurou as lágrimas ao ouvir essa expressão de sentimentos. Gaara ficou desconfortável ao notar que haviafeito ela chorar, se aproximou e a abraçou, sendo retribuído na mesma hora.

– Desculpe. – disse Gaara ainda abraçado a ela – Se eu soubesse que você ficaria assim não teria dito nada.

– Eu que tenho que pedir desculpas. Não queria chorar.

– Tudo bem.

Pelo abraço ambos sentiram o real cheiro um do outro. Era embriagante e os fizeram ficar abraçados por um bom tempo sem pronunciarem nenhuma palavra, somente sentindo o contato dos corpos e os aromas naturais que deles saíam. Quando se soltaram Ino resolveu ir embora.

– Precisa mesmo ir embora?

– Preciso. Desculpa ter passado pouco tempo hoje.

– Foi pelo que eu disse?

– Não, não. É por mim mesmo.

– Então tudo bem.

– Talvez eu passe alguns dias sem vir aqui, mas será por uma boa causa.

Ino foi embora muito confusa. Quando abraçou o Gaara se sentiu protegida, seu coração acalmou-se e sentiu uma imensa vontade de beijá-lo. “O que está acontecendo comigo?”, pensava a loira enquanto pensava em como fazer a “boa ação” que prometera. Gaara orem ficou curioso sobre o que ela pretendia. Apesar dela ter ido embora antes que ele cantasse a música, ele passou o resto do dia feliz e sentindo o doce cheiro que ficou impregnado em sua roupa.


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