A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 7
Madame




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Meus dias em Hogwarts não estavam sendo os melhores, mas comparado aos meus primeiros dias em Beauxbatons, esses dias foram ótimos.  Além dos bate boca que tive com alguns indivíduos, marquei o recorde de receber tanto olhar. Eu não aguentava mais esse povo me olhando. Eles me olhavam como se eu fosse um demônio. E os sussurros eram sempre os mesmos por causa do meu sobrenome. Claro que tinha também os olhares de malícia dos garotos, sem esquecer as cantadas bregas que recebi.

Eu tentava me virar sozinha no decorrer do dia. Não conversava muito com os alunos da Grifinória. Depois daquela conversa que tive com o trio sobre o Hagrid, não conversei mais com eles. Apenas com Hermione que me chama para acordar.  Agora aquelas garotas da Sonserina, não falei com nenhuma. Apenas recebia uns olhares com faísca da cara de buldogue na aula de Runas Antigas.

Hoje tive a primeira aula de Poções com o tal professor Snape que recebeu um nome exclusivo de minha parte: Prof. Seboso. Estava na metade da aula dupla de Poções com os alunos da Sonserina. Quando Malfoy decidiu aparecer. Ele entrou cheio de arrogância, o braço direito enfaixado e pendurado em uma tipoia, agindo como se fosse o sobrevivente heroico de uma terrível batalha.

A cara de buldogue foi toda preocupada até ele, perguntando sobre o braço, mas dei de ombros e voltei a me preocupar com o preparo da minha poção.

— Vá com calma, vá com calma — disse o Seboso gratuitamente.

Olhei de canto e revirei os olhos. Por um momento Malfoy me encarou com um sorrisinho de deboche. Voltei a prestar atenção nos ingredientes para a poção. Senti alguém se aproximar e era a merda do loiro armando seu caldeirão bem ao meu lado. “Por que justo do meu lado?”. Estava na mesma mesa com Harry e Rony; via ambos encarando Malfoy fazendo a mesma pergunta que eu me fiz.

Relaxa, Susana, conte apenas até três e volte o que você estava fazendo”, disse minha consciência.

— Professor — chamou Malfoy —, vou precisar de ajuda para cortar as raízes de margarida, porque o meu braço...

— Weasley, corte as raízes para Malfoy — ordenou seboso.

Vi Rony ficando vermelho como um tomate.

— O seu braço não tem nenhum problema — sibilou Rony para Malfoy.

E vi o idiota dando um sorriso satisfeito.

— Weasley, você ouviu o que o professor disse; corte as raízes.

Rony bufou, apanhou a faca, puxou as raízes de Malfoy para perto e começou a cortá-las de qualquer jeito.

— Professor — falou Malfoy com a voz arrastada —, Weasley está mutilando as minhas raízes.

Segurei a minha faca com força e me esforçando pra não dar uma facada nesse loiro estúpido. Que cara mais irritante. Nem me atrevi a olhar para o Malfoy, se não iria fazer questão de ele ficar mais alguns dias na ala hospitalar.

Nem percebi que o Seboso apareceu. Só percebi quando ele disse para o Rony trocar de raízes com o Malfoy.

— Mas, professor...!

— Agora! — mandou o professor em um tom perigoso.

Rony empurrou as raízes para Malfoy que estava na sua frente.

— E, professor, vou precisar descascar este pinhão — disse Malfoy, a voz dele expressava riso e malícia.

— Stra. Black, pode descascar o pinhão de Malfoy. — Não aguento mais.

Soltei a faca com força na mesa e encarei o professor me encarando com olhar de desprezo.

— Não! — respondi.

Senti todos os olhares da sala em mim. Dei uma rápida olhada em Harry e Rony que me olhava com os olhos arregalados.

— O que disse, senhorita? — ele levantou o tom de voz.

— Eu disse que não — disse sem mostrar nenhuma reação. — Eu não vou descascar nada para esse idiota.

Agora encarei Malfoy que me olhava furioso.

— A senhorita vai fazer o que eu mando...

— Não vou! É ridículo os outros perderem tempo com esse daqui — apontei para Malfoy e voltei a encarar Snape.

— Como você se atreve? — murmurou Malfoy.

— Queridinho ninguém aqui tem culpa que você quis dar uma de gostosão na aula de Trato das Criaturas Mágicas e acabou se machucando — disse encarando seria Malfoy. — Sendo que o Prof. Hagrid disse: “Nunca insulte um hipogrifo, porque pode ser a última coisa que vão fazer na vida.” Só que a Madame aqui ofendeu o Bicuço e ganhou uma marquinha de graça no braço.

Tentei não aumentar meu tom de voz, mas era impossível. Estava muito nervosa.

 — Deveria ter perdido o braço pra ver se aprende e não fazer mais papel de gostosão.

— Black já basta! — exclamou o Seboso. — Descasque agora mesmo o pinhão de Malfoy.

— Eu já disse que não vou descascar nada — retruquei. — A madame pode muito bem fazer isso. Ninguém aqui é escravo dele.

“Susana respira! Se controle! Não vale a pena discutir com esse povo”, dizia a voz da minha cabeça.

— Idiota — falou Malfoy segurando meu braço com o braço bom dele.

— Toma seu pinhão — tirei a mão dele do meu braço e coloquei o pinhão na mão dele — e descasca você mesmo.

— Senhorita Black — disse o professor nervoso. — Detenção!

Dei de ombro.

— E por sua impertinência — continuou. — Tirarei dez pontos da Grifinória.

— Que seja — disse bufando e voltando a cortar as minhas raízes.

Como ele descascou o pinhão? Eu não sei e nem quero saber. Ele tinha me deixado muito nervosa. Tentei manter minha atenção apenas nos meus ingredientes para poção, nem me importei com as provações de Malfoy para Rony e Harry sobre Hagrid. Só tive que me conter para não socar a cara dele quando ele mandou o Rony fatiar as lagartas.

— Se vire — murmurou Rony ríspido e um grande sorriso se formou no meu rosto, junto veio uma risada (por dentro estava gargalhando).

— Cala boca, Black — disse Malfoy.

Nem disse nada a ele, apenas chacoalhou os ombros, não mostrando importância.

— Laranja, Longbottom — exclamou o Seboso, que estava em uma mesa ao lado, dei uma pequena olhada e o vi apanhando um pouco da poção com a concha e deixando-a cair de volta no caldeirão. — Laranja. Diga-me, menino, será que alguma coisa penetra nessa sua cabeça dura? Você não me ouviu dizer, muito claramente, que só precisava pôr um baço de rato? Será que eu não disse, sem nenhum rodeio, que um nadinha de sumo de sanguessuga era suficiente? O que é que eu tenho de fazer para você entender, Longbottom?

Via Longbottom vermelho e tremia. Parecia até que estava prestes a chorar. Por mais que achasse esse garoto um lesado, fiquei com dó dele. Esse Seboso que deve ter titica na cabeça por falar desse jeito com o coitado. A Hermione até se ofereceu a ajudar, mas o Prof. Seboso logo cortou o que ela disse e respondeu bem grosso pra ela.

— Longbottom, no final da aula vamos dar algumas gotas desta poção ao seu sapo e ver o que acontece. Quem sabe isto o estimule a preparar a poção corretamente — disse o Seboso se afastando.

Voltando a minha poção, sem querer acabo escutando uma conversa de um dos garotos da Grifinória. Não me lembrava muito bem do nome dele, se é que me disseram como ele se chamava. Eu não estava me importando com o assunto da conversa até ele mencionar o nome de Sirius Black.

— No Profeta Diário desta manhã, eles acham que avistaram Sirius Black — disse o garoto.

— Onde? — perguntaram Harry e Rony depressa.

Eu me mantive quieta e fiquei apenas observando eles. Parece que quem estava bastante interessado na conversa era Malfoy. Ele ergueu os olhos, tentando escutar a conversa atentamente.

— Não muito longe daqui — respondeu o garoto, que parecia excitado. — Foi visto por uma trouxa. Claro que ela não entendeu muito bem. Os trouxas acham que ele é apenas um criminoso comum, não é? Então ela telefonou para o número do plantão de emergência. Mas até o Ministério da Magia chegar lá, o Black já tinha sumido.

O garoto me olhou por uns minutos.

— Que é? Perdeu alguma coisa — perguntei sem paciência.

Ele negou rápido e se virou. A palavra idiota foi a única coisa que pensei. Já até posso imaginar porque ele me olhou, não só ele com a metade da escola me olha daquele jeito quando Sirius Black é mencionado.

Malfoy não deixava de observar Rony e Harry. Até Rony chamar a atenção dele.

— Que foi, Malfoy? Precisa que eu descasque mais alguma coisa?

Olhei Malfoy que não tirava os olhos dos dois. Ele se debruçou na mesa e perguntou:

— Está pensando em apanhar o Black sozinho Potter?

— Acertou! — respondeu Harry displicentemente.

— É claro, se fosse eu — disse ele em voz baixa —, eu já teria feito alguma coisa há mais tempo. Eu não ficaria na escola como um bom menino, eu estaria lá fora procurando o homem.

— De que é que você está falando, Malfoy? — perguntou Rony com aspereza.

Admito que também gostaria de saber.

— Não sabe, Potter? — sussurrou Malfoy.

— Não sei o quê?

Malfoy soltou uma risada baixa e desdenhosa. E eu apenas revirei os olhos, enquanto mexia a minha poção e ouvia aquele suspense que o loiro estava fazendo.

— Vai ver que você prefere não arriscar o pescoço. Quer deixar os dementadores resolverem o caso, não é? Mas se fosse eu, ia querer me vingar. Ia atrás dele pessoalmente.

— Do que é que você está falando, Madame? — perguntei sem paciência. Malfoy me olhou atrás do ombro.

— Está curiosa, Black? — diz ele com um sorriso debochado. — Você e o Potter devem ter muito o que conversar.

— Cara você é idiota de nascimento, ou ficou idiota com passar do tempo? — No mesmo momento Rony deixou escapar uma risada. Assim como os lábios de Harry formou um sorriso, provavelmente estava tentando segurar o riso.

Infelizmente nem todos da mesa gostaram do que disse. Pois Malfoy voltou ao normal e me encarou furioso. Ele estava ficando bem próximo de mim, antes dele segurar meu braço esquerdo, Snape falou:

— Os senhores já devem ter terminado de misturar os ingredientes. Essa poção precisa cozinhar antes de ser bebida; portanto guardem o seu material enquanto ela ferve e, então, vamos testar a do Longbottom...

— Dessa você se salvou — murmurou Malfoy com rispidez.

— Ui que medo — debochei ao sair de perto dele para guardar os ingredientes que não tinha usado.

Lavei minhas mãos e conchas na pia de pedra que tinha no canto da sala.

Suponha (espero) que já estava acabando a aula. Seboso pediu para que todos os alunos se reunissem perto da mesa onde estava Longbottom todo encolhido ao lado do seu caldeirão. Fiquei ao lado do garoto que tinha me encarado depois do Sirius Black no Profeta Diário. Harry e Rony estavam atrás de mim.

— Venham todos para cá — disse o professor — e observem o que acontece ao sapo de Longbottom. Se ele conseguiu produzir uma Poção Redutora, o sapo vai virar um girino. Se, o que eu não duvido, ele não preparou a poção direito, o sapo provavelmente vai ser envenenado.

O professor apanhou o sapo, com a mão esquerda e mergulhou, com a direita, uma colherinha na poção de Longbottom. Depois, deixou cair umas gotinhas na garganta do sapo.

Tudo estava um silêncio tortuoso; seguiu-se um estalinho e o sapo, que agora era um girino, se contorcia na palma da mão do Seboso.

Alguns alunos aplaudiram e até decidiram aplaudir, nem era porque a poção estava certa e sim pela cara do professor. Por fora eu aplaudia e por dentro gargalhava com a cara mal-humorada que Snape fez. Ele tirou um vidrinho do bolso das vestes, pingou algumas gotas no sapo e ele reapareceu repentinamente adulto.

— Cinco pontos a menos para Grifinória — anunciou ele.

Ele só pode estar de brincadeira.

— Eu disse para não o ajudar, Srta. Granger. A turma está dispensada.

Sai da sala indignada com aquilo. “Ele tirou cinco pontos da Grifinória porque a poção estava certa!”, pensei enquanto segui caminho para o Salão Principal para almoçar.

Como todo almoço eu comia sozinha, mas dessa vez o trio fez questão de se sentar ao meu lado. Na verdade, Rony que se sentou do meu lado; Harry e Hermione ficaram do lado oposto da mesa. O ruivo me encarou e logo fez o prato dele.

— Estou me sentindo lisonjeada — disse fazendo os três me olharem. — Nunca ninguém se sentou ao meu lado na hora das refeições.

— Que isso, Susana — disse Rony enquanto mordia uma coxa de frango. — Não é porque os outros te olham feio e ficam afastados de você, que também iremos fazer isso.

— Isso é verdade — concordou Granger.

— Você é legal — disse o ruivo com a boca cheia.

— Valeu. — Foi a única coisa que respondi.

Enfim chegou a hora que tanto aguardava, o dia que desde que entrei em Hogwarts contava os dias para ele chegar. Hoje tive minha primeira aula de Defesa contra as Artes das Trevas. Cheguei à sala e me sentei nos últimos lugares. Por mais que seja aula do meu padrinho eu não iria me sentar na frente, nunca gostei e pretendo ficar sozinha. 

Após alguns minutos de espera meu padrinho apareceu. Olhou todos os alunos e disse:

— Boa tarde — cumprimentou ele. — Por favor, guardem todos os livros de volta nas mochilas. Hoje teremos uma aula prática. Os senhores só vão precisar das varinhas.

Dei um sorriso ao ouvir aquilo. Além de ter adorado que logo na primeira aula iria ter aula prática, eu sorri mais ainda por não ter tirado os livros da bolsa como todos da sala.

— Certo, então — disse meu padrinho, quando todos - exceto eu – estavam prontos. — Queriam me seguir.

Assim que ele passou pela mesa que estava me olhou, sorriu, e é claro que retribui o sorriso. Nunca imaginei estar tão empolgada para uma aula. Agora não sei se era por ser prática, ou por causa de Remus. 

Meu padrinho levou todos para um corredor deserto e depois virou, onde a primeira coisa que vi foi o famoso Pirraça, o poltergeist. Irritante que só. Ele ficava flutuando de cabeça para baixo, fazendo o que? Eu não sei. Quando ele viu meu padrinho se aproximar, começou a cantar.

— Louco, lobo, Lupin — entoou ele. — Louco, lobo, Lupin...

Eu fuzilava aquele fantasma maldito, que infelizmente não poderia matar, já que estava morto. Todos os outros alunos olharam meu padrinho para ver a reação dele; para surpresa de todos, Remus estava sorrindo.

— Eu tiraria o clichê do buraco da fechadura se fosse você, Pirraça — disse ele gentilmente. — O Sr. Filch não vai poder apanhar as vassouras dele.

Aquele idiota nem ligou, apenas respondeu com um ruído ofensivo e alto feito com a boca. Revirei os olhos e logo olhei meu padrinho que estava poucos centímetros na minha frente. Ele apenas deu um breve suspiro e tirou a varinha.

— Este é um feitiçozinho útil — disse à turma por cima do ombro. — Por favor observem com atenção.

Ele ergueu a varinha até a altura do ombro e disse.

Uediuósi! — e apontou para Pirraça.

A pelota de chicle disparou do buraco da fechadura e foi bater certeira na narina esquerda de Pirraça; ele virou para cima e fugiu a grande velocidade, xingando.

— Maneiro, professor — disse o garoto ao meu lado.

Enquanto gargalhava por dentro, aquilo foi demais.

— Obrigado, Dino — disse Remus, tornando a guardar a varinha. — Vamos prosseguir?

Voltamos a caminhar. Meu padrinho nos conduziu por um segundo corredor e parou bem a uma porta.

— Entrem, por favor — disse ele, abrindo a porta e se afastando deixando a gente passar.

Assim que entrei me dei conta que deveria ser a sala dos professores. A sala era bem comprida, revestida com painéis de madeira e mobiliada com cadeiras velhas e desparelhadas. Olhei toda a sala que estava com os lugares vazios, exceto uma poltrona que estava sendo usada pelo Seboso. Ele deu uma olhada em todos. Meu padrinho entrou e antes dele fechar, Seboso falou:

— Pode deixá-la aberta, Lupin. Eu prefiro não estar presente.

E, dizendo isso, se levantou e passou por todos. Antes de sair parou e encarou meu padrinho.

— Provavelmente ninguém o alertou, Lupin, mas essa turma tem Neville Longbottom. Eu o aconselharia a não confiar a esse menino nada que apresente dificuldade. A não ser que a Srta. Granger se incumba se cochichar instruções ao ouvido dele.

Olhei o lesado que estava escarlate. E depois ao Snape incrédula com o que ele disse. Por acaso esse idiota sente prazer em implicar com os outros, principalmente com o Neville e fazer isso com ele na frente de todos e de outro professor.

— Quanta baixaria — disse cruzando os braços na altura do peito e fazendo questão de olhar nos olhos de Snape que me encarava sério.

Parecia até que conseguia ver faíscas saindo dos olhos dele.

— Acho que devo lembrar Lupin que a sua afi...

— Professor Snape — disse meu padrinho cortando o que Snape iria dizer.

Na hora gelei, eu não queria que todos daquela sala soubessem que eu era afilhada de Remus. Não agora. Eu tinha dito isso a ele na noite passada e ele havia concordado. Não queria que meu nome passasse por mais bocas da escola, ao saber que eu era afilhada do professor de Defesa contra as Artes das Trevas. Já basta todo mundo teimando com meu sobrenome, agora não vou querer outro “motivo”.

Snape logo encarou meu padrinho que arqueou as sobrancelhas.

— Que a sua aluna, a Srta. Black é bastante mal-educada. E a senhorita — ele me olhou —, tem uma detenção comigo. Já falei com a professora McGonagall e sua detenção será no final da tarde.

— Hm.

— É apenas isso que tenha a dizer? — perguntou Remus.

O Seboso não respondeu nada, mas antes de sair da sala, Remus falou:

— Quanto ao Neville — Seboso encarou meu padrinho — Ele é quem eu pretendia chamar para me ajudar na primeira etapa da operação, e tenho certeza de que ele vai fazer isso admiravelmente.

Snape não disse nada, apenas revirou os lábios num trejeito de desdém, mas se retirou, batendo de leve a porta.

— Agora, então — disse meu padrinho, chamando, com um gesto, a gente para o final a sala, onde nada exceto um velho armário. Quando ele se postou a um lado, o armário subitamente se sacudiu, batendo na parede.

Alguns alunos ao meu lado pularam para trás, assustados. E tinha minhas suspeitas do que tinha lá. Acho que eu sabia.

— Não se preocupem — disse ele calmamente para os assustados. — Alguém aqui saberia me dizer o que se tem nesse armário?

— Um bicho-papão — respondi.

— Muito bem, Susana — elogiou Remus.

Nesse momento vi Neville lançar um olhar de absoluto terror para o meu padrinho. Acho que tem gente que não apreciou muito o que ouviram.

Bichos-papões gostam de lugares escuros e fechados — informou. — Guarda-roupas, o vão embaixo das camas, os armários sob as pias... Eu já encontrei um alojado dentro de um relógio de parede antigo. Este aí se mudou para cá ontem à tarde e perguntei ao diretor se os professores poderiam deixá-lo para eu dar uma aula prática aos meus alunos do terceiro ano. Então, a primeira pergunta que devemos fazer é, o que é um bicho-papão?

Antes de eu levantar a mão, Hermione se levantou primeiro.

— É um transformista — respondeu ela. — É capaz de assumir a forma do que achar que pode nos assustar mais.

— Eu mesmo não poderia ter dado uma definição melhor — disse meu padrinho, e vi que o rosto de Hermione se iluminou de orgulho.

— Então o bicho-papão que está sentado no escuro aí dentro ainda não assumiu forma alguma. Ele ainda não sabe o que pode assustar a pessoa que está do lado de fora. Ninguém sabe qual é a aparência de um bicho-papão quando está sozinho, mas quando eu o deixar sair, ele imediatamente se transformará naquilo que cada um de nós mais teme. Isto significa que temos uma enorme vantagem sobre o bicho-papão para começar. Você já sabe qual é, Harry?

A pergunta era para Harry responder, mas Hermione é quem queria responder e deveria ter a resposta na ponta da língua. Ela estava com as plantas dos pés subindo e descendo impacientes e a mão levantada.

— Hum... Porque somos muitos, ele não vai saber que forma tomar.

— Precisamente — meu padrinho concordou e Hermione baixou a mão, parecendo um pouquinho desapontada. — É sempre melhor estarmos acompanhados quando enfrentamos um bicho-papão. Assim, ele se confunde. No que deverá se transformar, num corpo sem cabeça ou numa lesma carnívora? Uma vez vi um bicho-papão cometeu exatamente este erro, tentou assustar duas pessoas e se transformou em meia lesma. O que, nem de longe, pode assustar alguém. O feitiço que repele um bicho-papão é simples, mas exige concentração. Vejam, a coisa que realmente acaba com um bicho-papão é o riso. Então o que precisam fazer é forçá-lo a assumir uma forma que vocês achem engraçado. Vamos praticar o feitiço sem as varinhas primeiro. Repitam comigo, por favor... Riddikulus!

Riddikulus — repetimos.

— Ótimo — aprovou Remus. — Muito bem. Mas receio que esta seja a parte mais fácil. Sabem, a palavra sozinha não basta. E é aqui que você vai entrar Neville.

O guarda-roupa recomeçou a tremer, não tanto quanto Neville, que se aproximou tremendo.

— Certo, Neville — disse o professor — Vamos começar pelo começo: Qual, você diria, que é a coisa que pode assustá-lo mais neste mundo?

Não ouvimos nada, nem um sussurro.

— Não ouvi o que você disse, Neville, me desculpe — disse meu padrinho animado.

Neville olhou para todos meios desesperados, parecia até que ele pedia para que alguém o ajudasse. Vendo que não tinha uma alternativa, num sussurro quase inaudível:

— O Prof. Snape.

Não pude me conter e comecei a gargalhar. Não só eu, como a maioria da sala riu também. Até o próprio Neville sorriu como se pedisse desculpas. Já meu padrinho, ficou pensativo.

— Professor Snape... Humm... Neville, eu creio que você mora com a sua avó?

— Sim... Moro — disse Neville, nervoso. — Mas também não quero que o bicho-papão se transforme na minha avó.

— Não, não, você não entendeu — disse meu padrinho, agora rindo. — Será que você poderia nos descrever que tipo de roupas a sua avó normalmente usa?

Nerville fez uma cara de espanto para o meu padrinho, mas disse:

— Bem... Sempre o mesmo chapéu. Um bem alto com um urubu empalhado na ponta. E um vestido comprido... Verde, normalmente... E às vezes uma raposa.

— E uma bolsa?

— Vermelha e bem grande.

— Certo então — disse o professor — Você é capaz de imaginar essas roupas com clareza, Neville? Você consegue vê-las mentalmente?

— Consigo — respondeu Neville, hesitante.

— Quando o bicho-papão irromper daquele guarda-roupa, Neville, e vir você, ele vai assumir a forma do Profº Snape. E você vai erguer a varinha... Assim... E gritar “Riddikulus” ... E se concentrar com todas as suas forças nas roupas de sua avó. Se tudo correr bem, o Profº Bicho-papão-Snape será forçado a vestir aquele chapéu como urubu, aquele vestido verde e carregar aquela enorme bolsa vermelha.

Houve uma explosão de risos. Eu fiquei com a imagem do Snape e com as prováveis roupas que avó do Neville usava. Era impossível não rir.

— Se Neville acertar, o bicho-papão provavelmente vai voltar a atenção para cada um de nós individualmente. Eu gostaria que todos gastassem algum tempo, agora, para pensar na coisa de que têm mais medo e imaginar como poderia fazê-la parecer cômica...

Parei por um momento para pensar no que tinha mais medo e nem precisei pensar muito, já sabia perfeitamente qual era o meu maior medo. Para alguns poderia ser estranho, mas esse era o meu maior medo. Só precisava pensar em como fazê-la parecer cômica. Vieram várias opções na cabeça, mas eu precisava escolher apenas uma e acho que essa iria funcionar. 


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?