A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 5
Primeiro dia de aula - part. II




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Demorei, mas encontrei a sala de Transformação com a “ajuda” das garotas que dividiam o quarto comigo. Escolhi um lugar no fundo da sala, onde não havia ninguém, e rezava para ninguém se sentar do meu lado. Por sorte as minhas preces foram ouvidas e ninguém se sentou.

A aula seria sobre animagos, um assunto mega interessante. A própria professora se transformou em um gato no meio da sala. Não via a hora de ser maior de idade e poder me tornar uma. Foi uma aula bem sossegada, melhor que a da Profª. Trelawney.

Após a aula era o almoço. “Obrigada, Merlin”, pensei. Estava há horas sem comer, e eu não tinha tomado o café-da-manhã, então estava morrendo de fome.

Chegando ao salão Principal me sentei em um lugar vago na mesa da Grifinória e me deliciei com a comida maravilhosa. O trio do expresso fez questão de sentar-se ao meu lado e começar a falar sobre o tal Sinistro. Não que eu estava fazendo questão de ouvir, mas dava para ouvir, mesmo falando baixo.

— Harry — chamou Rony em tom baixo, que deu para ouvir perfeitamente. — Você não viu um cão preto em algum lugar, viu?

— Vi sim. Na noite em que saí da casa dos Dursley.

Engasguei-me com o suco que estava tomando. Batia no peito para tentar passar aquela ardência da garganta.

Senti o olhar do trio em mim.

— Está tudo bem? Respira — Olhei para o meu lado e era Potter batendo nas minhas costas. Depois de longas tosses e de algumas batidas do Potter, eu voltei ao normal. — Melhorou? — perguntou ele.

— Toma um pouco de água — aconselhou Granger me passando minha taça com água.

Aceitei. Tomei um pouco para tentar tirar aquele gosto horrível da garganta. Os três estavam me olhando, preocupados até. Fiquei surpresa por eles me olharem daquela forma sem nem ao menos me conhecerem. Esqueci os olhares deles e decidi perguntar para o moreno sobre o tal cão:

— Você também viu o cão? — Eu ainda estava tomando a água da taça.

Eles me olharam com uma cara de “você estava ouvindo a nossa conversa”.

— Olha, não pensem que estava ouvindo a conversa de vocês. É que estavam do meu lado e dava para ouvir o que falavam — falei tomando os últimos goles da água. — Enfim, você viu o cão?

— Vi sim. Por quê?

— Você também viu o cão? — perguntou Weasley logo em seguida.

— Eu vi um em uma madrugada, e ele era igualzinho o cão de um livro que vi no Floreios e Borrões.

— Você também viu o mesmo livro que eu? — Isso só podia ser alguma brincadeira. Além de Harry ter visto o cão, ele viu o livro. Aquilo estava começando a dar medo.

Rony olhou para nós assustado. Quem não estava nem aí com a conversa era a Granger, que veio retrucando todos os comentários sobre o tal Sinistro e praticamente entrou em uma discussão com Weasley, aquilo me fez perder a paciência. 

— Caramba, será que dá pra vocês dois pararem em? — pedi. Os dois me olharam e Hermione bufou pegando algum livro na bolsa.

— Acho que Adivinhação é uma coisa meio confusa — disse Hermione folheando as páginas do livro, até que parou. — É muita adivinhação, se querem saber a minha opinião.

— Não houve nada confuso com o Sinistro naquela xícara! — retrucou Rony acaloradamente.

— Você não me pareceu tão confiante quando disse ao Harry que era um carneiro — respondeu Hermione sem se alterar.

Sério mesmo que eles vão continuar discutindo?

— A Profª Sibila disse que você não tinha a aura necessária! Você não gosta é de ser ruim em uma matéria, para variar! — Pelo pouco que conheço da garota, acho que posso concordar com o ruivo.

Hermione bateu com o livro na mesa com tanta força que voaram pedacinhos da comida para todo lado. E aquilo confirmou o que Rony tinha falado: ela não gostava de ser ruim em uma matéria.

— Se ser boa em Adivinhação é ter que fingir que estou vendo agouros de morte em borras de folhas de chá, não tenho certeza se quero continuar a estudar essa matéria por muito mais tempo! Aquela aula foi uma idiotice completa se comparada à minha aula de Aritmancia! — Agarrou a mochila e, com seu livro na mão, ela se retirou.

— Do que é que ela estava falando? — perguntou Rony olhando para mim e Harry, que estava do meu lado. — Ela ainda não assistiu a nenhuma aula de Aritmancia.

— Eu sei lá. Nem conheço direito vocês e fiz parte de um papo que nem era comigo — falei pegando minhas coisas e colocando a bolsa no ombro — Tchau pra vocês! — despedi-me e saí dali.

Estou marcando recorde no meu primeiro dia de aula. Primeiro: perdi o café da manhã e cheguei atrasada na primeira aula; segundo: fiquei sabendo que meu nome anda pela boca de todos da Grifinória, e não duvido nada que em breve vai estar na boca de todos da escola; terceiro: descobri que o famoso Harry Potter supostamente viu o mesmo cão e livro que eu; e, quarto, acabei fazendo parte de uma conversa a qual nem tinha sido convidada.        

Meu dia está sendo “ótimo”, agora só falta eu não saber, de novo, onde fica a próxima aula e eu não aproveitei para perguntar ao Weasley e Potter.

— Trato de Criaturas Mágicas — li para mim mesma. — Ótimo, agora preciso saber onde será a aula.

— Qual aula? — Pulei com tudo para frente, derrubando meu horário no chão com o susto que levei.

Virei furiosa para o imprestável que me assustou.

— Vai assustar outro, Amanda. Que merda — reclamei nervosa, me agachando e pegando o horário.

— Aí Susana, quanto mau humor. Aconteceu alguma coisa?

— Não — respondi seca.

Amanda revirou os olhos e voltou a falar:

— Qual é a aula que você não sabe onde é?

— Trato de Criaturas Mágicas.

— Vai ser lá fora, mas acho melhor você ir para onde fica a cabana de Hagrid. Acho que todos vão se encontrar lá.

— E onde fica essa cabana? — perguntei sem um pingo de paciência.

— Eu mostro para você. — Ela não deu tempo para eu responder e já puxou a manga da minha capa.

Fomos para o lado de fora. O clima estava bem fresco, o céu claro e nublado, as nuvens sempre passavam e tampavam o sol. Amanda me parou em frente à parte gramada da escola, dando vista para uma floresta que tampava tudo por causa das enormes árvores.

— Você segue por aqui, desce o caminho gramado e logo no começo você vai ver uma pequena casa. Lá é a casa do Hagrid. — Assenti.

 Um pequeno grupo de alunos passou pela gente, fazendo o que Amanda me disse. Reparei que alguma das garotas que passou por mim me olhou e depois virou o rosto. Estavam com o mesmo uniforme que eu, mas as cores das capas eram verdes.

— Agora eu sei por que do cheiro ruim — disse uma das garotas, a mesma que me olhou e tinha virado a cara. Ela era loira, mas um loiro mais escuro que a outra do seu lado. Acho que posso descrever que o loiro dela era mostarda.

A loira do lado dela olhou para mim e Amanda. Admito que ela era muito bonita com o cabelo loiro platinado, liso e comprido. Seu rosto era muito bem desenhado, com lábios finos e olhos azuis bem frios que se destacavam no delineador preto que contornava seus olhos.

— Olha a sangue-ruim no caminho — disse a cabelo mostarda sorrindo com malícia, fazendo a loira do lado dela rir.

— Que crueldade, Daphne — dizia a loira platinada entre risos.

Amanda se encolheu atrás de mim. Fiquei abismada com aquilo. Eu não gosto da Amanda, acho ela muito chata e mala. Posso até chamá-la de várias coisas, mas chamá-la de sangue-ruim? Nunca! Essa é uma palavra que não faz parte do meu vocabulário, e acho ridículo falarem mal dos bruxos que são filhos de trouxas. Essas garotas com tons de superioridade deviam ser sangues-puros para se acharem tão superiores.

As duas pararam de rir e deram de ombros, mas decidi me interpor antes delas descerem. É claro que eu não iria deixar barato. Precisava dizer algo.

— Vocês se acham muito engraçadinhas por chamarem ela de sangue-ruim — disse, fazendo as duas pararem e me olharem.

— O que disse garota? — indagou a tal Daphne desfazendo o sorriso.

— O que você ouviu. Ou por acaso você é surda?

— Como ousa, sua... — Antes de ela vir para cima de mim, a loira segurou o braço dela.

— Não liga para ela, não se rebaixe — disse a outra calma.

A cabelo mostarda a olhou e voltou para sua postura ereta, me olhando bem séria. Assentiu com a cabeça quando a loira platinada disse algo no ouvido dela. As duas se viraram e seguiram caminho.

— Covardes! — gritei alto quando elas desapareceram de vista.

— Susana, você é maluca de falar assim com elas? — Olhei para Amanda, que me encarava assustada.

— Por quê? Elas não passam de duas idiotas. — Bisbal apenas revirou os olhos.

De repente aquele olhar triste brilhou e ela deu um sorriso malicioso. Ela brincava com os dedos das mãos. Deu uma olhada na entrada do castelo. Tinha a sensação de que ela estava esperando alguém.

— Amanda, o que aconteceu?

— Acontece que aquelas duas garotas eram da Sonserina. Então isso quer dizer que tem chances do meu gatinho aparecer, já que ele também é da Sonserina! — Deu gritinho de empolgação. — Ele é tão lindo. Só o vi na hora do café da manhã, e isso é muito pouco.

De tanto que ela fala sobre esse tal “gatinho” tenho vontade de saber quem é. Do jeito que é melosa, parece até que nunca teve namorado e nem nada, ai quando se apaixona é toda chata. Eu nunca fiquei assim, ainda bem, nem mesmo tive um namorado, mas já tive meu primeiro beijo. 

Amanda acabou desistindo de esperar e entrou, pois estava ficando atrasada para a próxima aula. Eu fui para a cabana do tal Hagrid, pelo que me lembrava ele era o grandalhão do expresso que cumprimentou meu padrinho.

Ao me aproximar vi um pequeno grupo de alunos e Hagrid parado em frente à porta de sua cabana, aguardando os alunos por chegar.

Parece que eu era a primeira da Grifinória a chegar. Apenas via os alunos da famosa Sonserina, incluindo as duas garotas que xingaram Amanda. Quando elas me viram, reviraram os olhos e deram de costas. Aquilo me fez automaticamente sorrir. Parece que acabo de criar minhas primeiras “inimigas”. Ainda com o sorriso nos lábios, revirei os olhos e olhei para trás, mas logo meu sorriso morreu.

“Merlin me diga: eu por acaso fiz algo muito ruim e estou sendo torturada como castigo?”, pensei ironicamente. Pelo amor, não é possível, esse cara me segue!

Ele parou, olhou para mim e bufou irritado.

— O que você está fazendo aqui? — questionou ele irritado se aproximando com dois ogros. Aqueles dois garotos eram uns ogros mesmo, porque eram enormes.

Bufei.

— A mesma coisa que você, meu querido — respondi no meu melhor tom sarcástico. — Vim assistir aula.

Vi a fúria naqueles olhos azul-acinzentados. Por mais que ele fosse um idiota, não deixava de ser lindo. Era incrível como ele ficava ótimo de uniforme. As duas vezes anteriores em que o vi ele estava com roupa social.

— Você brinca muito com a sorte, garota — disse ele sério. — Acha que me esqueci do que você fez comigo no trem?

— Eu também não esqueci — ironizei. — Aqueles sapos de chocolate estavam deliciosos. Os feijõezinhos de todos os sabores também, pena que não tive sorte com alguns sabores...

— Vamos! Andem depressa! — falou uma voz atrás de mim. Olhei e era Hagrid pedindo para os alunos que se aproximar. — Tenho uma coisa ótima para vocês hoje! Vai ser uma grande aula! Estão todos aqui? Certo, então me acompanhem!

Virei-me para sair de perto do loiro, mas antes ele me pegou pelo pulso.

— Onde você pensa que vai? — questionou o loiro.

— Se você não percebeu a aula começou — apontei para o grandalhão dando a volta na orla da floresta, acompanhado dos outros alunos.

— Não importa, ainda não terminamos nossa conversa.

— Conversa? — dei uma risada sarcástica. — Queridinho, não tem nenhuma conversa para terminar e nem começar. Tenho coisas mais interessantes para ouvir do que ouvir você. — Soltei meu pulso da mão dele que me apertava. — Tchau! — Dei de ombros.

Garoto idiota. Como se eu tivesse interesse em ouvir o que ele tem para dizer.

Não tinha reparado, mas já tinham chegado bastante alunos. Inclusive encontrei o trio da hora do almoço: Harry, Hermione e Rony. Se eles me viram, eu não sei, mas não iria me importar com isso. Segui o caminho com os outros alunos. Por mais que não esteja tão quente, eu estava ficando com calor e precisava tirar aquela capa. E foi exatamente isso que fiz, enquanto acompanhava os outros.

Após cinco minutos de caminhada, paramos em frente a uma espécie de picadeiro. Só que não havia exatamente nada.

— Todos se agrupam em volta dessa cerca! — mandou ele. — Isso... Procurem garantir uma boa visibilidade... Agora, a primeira coisa que vão precisar fazer é abrir os livros...

— Como? — perguntou o loiro que estava bem longe de mim com um grupo.

— Que foi? — perguntou Hagrid.

— Como é que vamos abrir os livros? — repetiu o menino.

Pela primeira vez tive que concordar, e queria também saber: como vamos abrir esses livros monstros?

Olhei para o meu livro dentro da minha bolsa no ombro, que estava amarrado em uma corda. E, pelo que vi, eu não era a única a fazer isso.

— Será... será que ninguém conseguiu abrir o livro? — perguntou Hagrid, com ar de desapontamento.

Todo mundo negou com a cabeça.

— Vocês têm que fazer carinho neles — falou. — Olhem aqui.

Ele apanhou o livro de Granger, que estava ao meu lado, e rasgou a fita adesiva que o prendia. Antes de o livro tentar mordê-lo, ele passou o dedo indicador pela lombada. O livro estremeceu, se abriu e permaneceu quieto em sua mão.

— Ah, mas que bobeira a nossa! — caçoou o loiro. — Devíamos ter feito carinho no livro! Como foi que não adivinhamos?

— Eu... eu achei que eles eram engraçados! — disse Hagrid, demonstrando insegurança.

— Ah, engraçadíssimos! — comentou o loiro. — Uma ideia realmente espirituosa nos dar livros que tentam arrancar nossa mão.

Revirei os olhos. Como esse loirinho era irritante. Que cara chato! Se não fosse Harry mandando-o calar a boca, eu mesma iria fazer isso.

Hagrid saiu para buscar as criaturas mágicas. Enquanto ele não chegava, me acomodei em um muro baixo de pedra que tinha lá. Coloquei minha bolsa, minha capa e o livro em cima do muro.

— Nossa, essa escola está indo para o brejo! — Mais uma vez o loiro decidiu abrir a boca para falar merda. Ele estava perto de uma árvore com um grupo de garotos. Inclusive a loira de antes estava perto dele. — Esperem até papai ouvir que Dumbledore colocou esse imbecil como professor.

— Cala a boca, Malfoy — ordenou Harry com seriedade.

Harry devia ter realmente perdido a paciência dessa vez, já que ele se aproximou do loiro, e Malfoy fez a mesma coisa. Com um sorriso sarcástico, ambos ficaram cara a cara. Como aquilo estava mais interessante, fiz o favor de prestar atenção. Seria ótimo presenciar uma briga no meu primeiro dia de aula.

O loiro do nada desfez o sorriso, olhou para trás de Harry e gritou:

— Dementador! Dementador!

Não só o Harry, mas todos olharam rápido para trás. Eu olhei e não tinha nada. Apenas o susto de todos fez o loiro e Cia gargalharem, colocando o capuz da capa e imitando um dementador.

Pode ser feio, mas eu acabei rindo junto com eles por causa da cara de espanto de alguns.

Alguém soltou um grito agudo e irritante do meu lado. Quando me virei para olhar, era aquela loira que dividia o quarto comigo.

Ridícula! Precisava fazer todo esse escândalo? E justamente do meu lado. 

Ela apontava para algum lugar. Segui seu dedo e vi o motivo desse ataque todo dela. Vários bichos trotavam em nossa direção. Tinham os corpos, as pernas traseiras e as caudas de cavalo, mas as pernas dianteiras, as asas e a cabeça eram de águias. Não me eram desconhecidos.

Hagrid prendeu todos na cerca, em seguida fazendo quem estava próximo à cerca se afastar.

— Alguém saberia me dizer o que eles são? — perguntou Hagrid animado.

— Hipogrifos — respondi.

— Muito bem — disse ele me olhando com um sorriso no rosto. — É exatamente isso que a senhorita Black respondeu: hipogrifos. A primeira coisa que vocês devem saber é que eles são criaturas muito orgulhosas. Ofendem-se com facilidade, os hipogrifos. Nunca insulte um bicho desses, porque pode ser a última coisa que vão fazer na vida.

“Vocês sempre esperam o hipogrifo fazer o primeiro movimento. É uma questão de cortesia, entendem? Vocês vão até eles, fazem uma reverência e aí esperam. Se o bicho retribuir o cumprimento, vocês podem tocar nele. Se não retribuir, então saiam de perto bem depressinha, porque essas garras machucam feio. Certo, quem quer ser o primeiro?”

Nesse momento todo mundo recuou em resposta. Eu não iria entrar nem a pau nesse lugar. O único que acabou ficando na frente (ou se esqueceu de recuar) foi o Potter. Hagrid o chamou, e ele olhou assustado para trás e para os lados.

— Certo, então... — disse Hagrid após Harry passar pela cerca do picadeiro. — Vamos ver como você se entende com o Bicuço.

Dizendo isso, Hagrid soltou uma das correntes, separou o hipogrifo cinzento dos restantes e retirou a coleira de couro. O clima estava tenso e pesado. Eu não conseguia tirar os olhos de Harry por um minuto sequer.

— Calma. Agora, Harry — disse Hagrid em voz baixa. — Você fez contato com os olhos, agora tente não piscar... Os hipogrifos não confiam na pessoa que pisca demais.

Harry deveria estar se esforçando para não piscar.

— Isso mesmo — disse Hagrid. — Isso mesmo, Harry... Agora faça a reverência.

Harry se curvou brevemente e ergueu os olhos. Meu coração batia acelerado. Estava dando um medo de aquele bicho ir para cima do Harry. Hagrid pediu para ele recuar um pouco, e ele obedeceu. Sem perceber pisou em um graveto, que fez um estalo, fazendo alguns soltar gritos abafado.

Senti algo me empurrando e todos que estavam do meu lado reclamaram. Olhei furiosa para as desgraças — que eram realmente umas desgraças.

— Imbecil, não sabia que além de idiota era folgado — disse.

Para me deixar mais irritada, ele mordeu uma maçã e continuou prestando atenção em Harry. Olhei atrás dele e vi que um dos ogros que estava com ele. Inclusive o mais gordo — que era o menor — estava ao meu lado. O maior e menos gordo, estava atrás do loiro e de mim. Pode ser só impressão, mas senti que estavam me cercando.

Bufei nervosa e rolando os olhos. Se o que esse idiota quer é me fazer perder a paciência, então farei questão de ele não conseguir. Não vou cair na dele, vou me esforçar para ficar ao lado dele. Ele achava mesmo que eu não percebia, mas às vezes sentia o olhar dele em mim.

Assim que Harry conseguiu acariciar o hipogrifo, Hagrid achou que estava pronto para ele montar o animal. Um lado bom disso, pelo que parece, é que o Harry tem menos chances de cair, ou do próprio animal o derrubar (ou machucar).

— Pode ir então! — bradou Hagrid dando uma palmada nos quadris do hipogrifo.

Em questão de segundos o hipogrifo já se encontrava no céu. Não dava para ver muita coisa por causa das grandes árvores. Como imaginei que aquilo iria demorar, cogitei me afastar daqueles ogros e do loiro.

— Vai sair? — perguntou o loiro se virando para mim e me encarando.

“Quer saber, vou ficar. Não vou dar esse gostinho para ele”, pensei.

— Os incomodados que se retirem — respondi sem conter a voz. — Se está incomodado com minha presença então saia, pois eu estava aqui primeiro.

— Não vou te dar esse gostinho — ele me encarou sério, me fazendo olhar profundamente para aquele olhar frio.

— Digo o mesmo — comentei com sarcasmo.

Ouvi apenas ele bufar nervoso, me fazendo rir por dentro. Ficamos assim por um longo tempo, sem falar uma palavra sequer, até que ele desistiu e foi se sentar com a turma dele. Dei um enorme sorriso vitorioso.

Bicuço voltou com Harry.

— Bom trabalho, Harry! — berrou Hagrid enquanto a maioria aplaudia. — Muito bem, quem mais quer experimentar?

Como foi um sucesso, decidi tentar — assim como todos. Hagrid soltou os hipogrifos e cada um ficou com um. Eu fiquei com um hipogrifo castanho.

Fiz exatamente tudo que Hagrid disse, tomando o cuidado e tudo mais. Não estava nem aí com outros, pois eu realmente achei que todos tinha a sã mentalidade que hipogrifos não eram coelhinhos. No entanto, parece que sempre tem um que o cérebro deve ser minúsculo a ponto de fazer merda e ter o dom de estragar um clima tão delicioso que estava sendo essa aula. 

— Isso é moleza — disse o maldito loiro da Sonserina com a voz arrastada. Tinha uma boa visão dele, já que não estava muito afastado do seu grupinho com o Bicuço. — Só podia ser, se o Potter conseguiu fazer... Aposto que você não tem nada de perigoso, tem? — disse ao hipogrifo. — Tem, seu brutamontes feioso?

Aconteceu num breve movimento das garras do hipogrifo fincar em seu braço; o idiota soltou um berro agudo e caiu no chão reclamando de dor. Toda sua veste estava suja de sangue.

Revirei os olhos e bufei. O motivo para aquilo acontecer foi tão estúpido que comecei a rir do nível da“burrice” que algumas pessoas conseguem alcançar.

— Estou morrendo! — ele gritava, fazendo uma cena ridícula no chão. — Estou morrendo, olhem só para mim! Ele me matou!

— Draco... — A loira platinada que conheci foi correndo até ele desesperada, o ajudando com o braço. — Calma, fique calmo! Hagrid faça alguma coisa! Você é o professor! — ordenou.

— Claro — disse Hagrid que estava pálido. O coitado não sabia o fazer, estava muito nervoso. — Alguém me ajude... Preciso tirar ele daqui.

Granger correu para abrir o portão enquanto Hagrid erguia o loiro nos braços, com a menina ao lado. Quando ele passou por perto, vi que o corte foi feio. Estava grande e profundo; saia muito sangue. Hagrid foi correndo até a encosta em direção ao castelo.

Ele mereceu o que tinha acontecido, mas por culpa dele a aula acabou. Segui a todos, caminhando normalmente. Ouvia bastante gritaria vinda dos alunos da Sonserina contra Hagrid. “Idiotas”, pensei furiosa.

— Deviam despedir ele imediatamente! — disse uma garota com cara de buldogue em lágrimas.

— Foi culpa do Draco! — replicou um garoto moreno com rispidez.

— Vou ver se ele está bem! — disse a buldogue subindo a escadaria de mármore.

Revirei os olhos e ri com aquela cena.

(...)

 

— Como foi seu primeiro dia de aula? — perguntou Remus me servindo chocolate quente ao invés de chá que ficou para ele.

— Bom — respondi desanimada olhando minhas unhas.

Depois da janta fui para sala do meu padrinho. Não iria aguentar ficar na sala comunal sem fazer nada. É muito tedioso. E o Taran nem estava lá, então a minha melhor opção era passar um tempo com Remus, o qual não via desde ontem à noite.

  — Foi bom, “bom” ou “mais ou menos bom”?

 — Mais ou menos bom. — Peguei a caneca com o chocolate que meu padrinho deixou na mesa. — Teve algumas coisas legais, como o Bicuço machucando aquele loiro idiota da Sonserina — digo risonha.

— É, fiquei sabendo do ocorrido.

— Sinceramente, padrinho, eu não sei como vou aguentar. Todos ficam me olhando. Além de a metade ser um bando de crianças.        

— Crianças? Você tem a idade deles, Susana.

— Física, e não mental. Eu estou a anos luz deles — disse revirando os olhos e voltando a tomar um gole.

Olhei meu padrinho de relance, que apenas sorriu e balançou a cabeça negativamente. Chacoalhei os ombros sem me importar com o que ele deveria estar pensando. Do jeito que eu o conheço, ele deve estar me dando umas advertências mentalmente. Como se eu tivesse dito algo errado! Disse a mais pura verdade. Até parece que sou igual a esse povinho.

Fiquei por mais um tempo com Remus. Ele me disse como foi o seu primeiro dia como professor. Eu queria muito poder ter aula com ele. Estou sempre me perguntando como é ter aula com o meu padrinho. Pelo menos não vou ter problema, já que sou boa em Defesa Contra as Artes das Trevas.

— É melhor você voltar para a Torre da Grifinória, eu não quero, justo no primeiro dia, escutar reclamações sua — disse meu padrinho.

— Está bem. — Levantei-me, fui em direção a ele lhe dando um beijo no rosto. — Boa noite, padrinho.

— Boa noite, querida.

Sai da sala e fiz o melhor para não ser pega. Tive uma enorme sorte de não ter ninguém no corredor.

Estava preste a subir as escadas que dava para o corredor da comunal quando ouvi um barulho de algo caindo. Olhei assustada para trás de mim, e o que vi foi um corredor escuro, iluminado pela noite estrelada. Fiquei preocupada. Seriam alguns dos monitores ou a Madame Nor-r-ra que meu padrinho tinha mencionado?

Andei devagarzinho, com passos curtos, para trás, sem tirar os olhos do corredor, vendo se não aparecia ninguém. Do nada foi costa com costa. Um grito abafado ecoou pelo corredor escuro.

— JÁ ESTOU VOLTANDO PARA O DORMITÓRIO! — Aquilo saiu como um coro. Virei-me em seguida.

— Vocês!

— Você! — Falamos ao mesmo tempo.

Suspirei aliviada ao ver que eram apenas o trio que conheci no expresso.

— O que vocês estão fazendo aqui? — indaguei.

— Fazemos a mesma pergunta — disse Hermione em seguida.

— Eu? Sou sonâmbula — menti. — E vocês?

Eles se olharam; depois me olharam. Acho que eles não queriam me contar a verdade.

— Fomos ver o Hagrid — murmurou Harry.

— Hagrid... — Antes de concluir o que ia falar, ouvimos outro barulho e dessa vez deveria ser alguém que não deveria nos ver.

— Melhor a gente sair daqui — comentou Hermione e concordamos.

Felizmente, conseguimos chegar sem nenhum na sala comunal. Tinha apenas alguns grupinhos de alunos. Tinha até me esquecido de fazer a pergunta sobre o Hagrid e estava preste a ir para o dormitório, só que o trio me chamou para um canto da sala perto da janela — dando vista para a Floresta Proibida. Acho que eles tinham lido minha mente e começaram a me falar sobre Hagrid.

— Fomos ver como o Hagrid estava — começou Harry. Fiz gesto para ele continuar. — Os conselheiros da escola já ficaram sabendo o que aconteceu com Malfoy. Eles advertiram Hagrid sobre a aula, que ele não deveria ter começado com os hipogrifos...

— Beleza, mas pula para a parte que quero saber. Demitiram o grandalhão por causa do loiro?

— Não.

— Na verdade, ainda não disseram nada — falou Hermione completando a resposta de Harry.

— Tudo por culpa do Malfoy — resmungou Rony que estava do meu lado. — É uma injustiça Hagrid ficar se culpando por algo que ele não fez.

— Mas a culpa não é dele, e sim daquele idiota que provocou o Bicuço.

— Concordamos com você — disse Hermione.

A conversa tinha acabado — pelo menos para mim. Bocejei, e disse que iria subir. Hermione disse a mesma coisa e me acompanhou até o quarto. Entrando, lá já estavam as outras garotas que dividiam o quarto comigo. Fui até minha cama, sem nenhum sinal do Taran.

— Meu gato por acaso apareceu? — perguntei olhando todas as garotas.

— A última vez que Lilá e eu vimos ele estava lá na sala dormindo no sofá — respondeu a garota morena sentada na cama.

— Ele deve estar por aí. O Bichento também desapareceu — disse Hermione tocando meu ombro.

— Hm...

Preparei-me para dormir, mas antes de deitar dei uma última olhada para fora para ver se achava Taran. “Achar o Taran? Susana, não seja burra. Até parece que você vai achar o teu gato nesse escuro, já que o Taran é preto”, disse uma voz na minha cabeça. Revirei os olhos após ter pensado nessa idiotice.

Todas as garotas já estavam deitadas. Eu fiz o mesmo, mas não estava com tanto sono e para isso acontecer peguei um livro, minha varinha e murmuro:

Lumos!

Sentada na cama, com o travesseiro nas minhas costas e o livro apoiado na perna, comecei minha leitura.

— Alguém apaga a luz. — Uma das garotas pediu.

— Desculpa — disse. Coloquei a coberta por cima da perna e do livro, iluminando apenas o livro e sem atrapalhar as outras com a luz.

Terminando de ler o capítulo, marquei a página e o fechei. Agora iria tentar dormir. Demorou um pouco. Ficava fitando cada parte do quarto e quando fitei o teto escuro uma voz na minha mente, fez uma pergunta:

“Como será que está o tal Malfoy?”. Fiquei por um tempo pensativa, mas em seguida neguei com a cabeça.

— Que se dane aquele loiro, que ele tenha perdido o braço — murmurei baixo para mim mesma, me virando e fechando os olhos.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?