A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 33
Aluado, Rabicho, Almofadinhas e Pontas - part. I




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Em total estado de choque, encarei meu padrinho sem entender absolutamente nada, mas quem era “ele”? Então dele encarei Black novamente, seu rosto estava impassível; por alguns ele nem sequer se mexeu. Só depois, muito lentamente, ergueu a mão vazia e apontou para Rony. Que assim como eu, parecia confuso.

— Mas, então... — murmurou meu padrinho, encarando Black com tal intensidade que parecia estar tentando ler sua mente — por que ele não se revelou antes? A não ser que... — os olhos do meu padrinho se arregalaram, como se estivesse vendo alguma coisa além de Black, alguma coisa que mais ninguém podia ver — a não ser que ele fosse o... A não ser que você tivesse trocado... Sem me dizer?

Muito lentamente, Black confirmou com um aceno de cabeça.

Eu não estava entendendo mais nada.

— Professor — interrompeu Harry, em voz alta — que é que está acontecendo...?

Mas Harry não chegou a terminar a pergunta, porque o que vimos fez todos nós ficar sem voz. Meu padrinho estava baixando a varinha, os olhos fixos em Black. Ele foi até Black, apanhou a varinha dele, levantou-o de modo que Bichento caiu no chão e abraçou Black como um irmão.

Mas que porra… meu queixo simplesmente caiu, tudo o que mais queria é que tudo não passasse de um terrível pesadelo — que Hermione me acorde, avisando que iria perder mais uma vez o café da manhã. No entanto, nada disso acontecia me deixando desesperada, sentindo uma ardência na garganta com a cena em que via o meu padrinho, o homem que considera um pai estava abraçando aquele homem como se nada tivesse acontecido.

— EU NÃO ACREDITO! — berrou Hermione.

Meu padrinho soltou Black e se virou para a Hermione. Fiz o mesmo que ele e encarei a garota, um tanto tensa, apontando para meu padrinho, de olhos arregalados.

— O senhor... O senhor…

— Hermione…

—... O senhor e ele!

— Hermione, se acalme…

— Eu não contei a ninguém! — esganiçou-se ela.

— Cala a boca! — grunhi, ela me olhou assustada. — Fica quieta, isso não é assunto seu, lembrasse do que disse!

— Não! — gritou Hermione. — Eu fiz tudo isso por causa de você, Susana, porque você me pediu…

— Do que é que vocês duas estão falando? — indagou Rony.

— Todo esse tempo eu o encobertei por causa de você…

— Hermione, me escute, por favor! Posso explicar…

Meu padrinho já sabia aonde isso tudo iria chegar.

— Eu confiei no senhor — gritou Harry para Remus, sua voz se descontrolando — e o tempo todo o senhor era amigo dele!

— Você está enganado — disse Remus. — Eu não era amigo de Sirius, mas agora sou... Deixe-me explicar…

— NÃO! — berrou Hermione. — Harry não confia nele, ele tem ajudado Black a entrar no castelo, ele quer ver você morto também… Ele é um…

— HERMIONE! — berrei, mas…

—... lobisomem!

Houve um silêncio audível. Os olhos de todos, agora estavam postos em meu padrinho, parecia extraordinariamente calmo, embora muito pálido. Olhei Hermione com reprovação, mas não recebi um único olhar dela, acho que não teve a coragem que teve agora pouco de abrir a boca.

Como ela pode fazer isso?

— O que disse não está à altura do seu padrão de acertos, Hermione. Receio que tenha acertado apenas uma afirmação de três. Eu não tenho ajudado Sirius a entrar no castelo e certamente não quero ver Harry morto... — Um estranho tremor atravessou seu rosto. — Mas não vou negar que seja um lobisomem.

Rony fez um corajoso esforço para se levantar outra vez, mas caiu com um gemido de dor. Meu padrinho adiantou-se para ele, parecendo preocupado, mas Rony exclamou:

— Fique longe de mim, lobisomem!

Meu padrinho se imobilizou.

— Rony! — digo em tom de reprovação.

— Tudo bem, Susana — disse meu padrinho.

Logo ele se virou para Hermione e perguntou:

— Há quanto tempo você sabe?

— Há séculos! — sussurrou Hermione. — Desde a redação do Prof. Snape…

— Ele ficará encantado — disse meu padrinho tranquilo. — Passou aquela redação na esperança de que alguém percebesse o que significavam os meus sintomas. Ou até mesmo uma armadilha para a minha afilhada me entregar, pois ele deveria imaginar que Susana sabia de toda a verdade sobre mim, o que acabou falhando. Você verificou a tabela lunar e percebeu que eu sempre ficava doente na lua cheia? Ou você percebeu que o bicho-papão se transformava em lua quando me via?

— Os dois — respondeu Hermione em voz baixa — e fui confirmar minhas dúvidas com a Susana.

Meu padrinho forçou uma risada.

— Você é uma das bruxas de treze anos mais inteligentes que já conheci, Hermione.

— Não sou, não — sussurrou Hermione. — Se eu fosse um pouco mais inteligente, teria contato a todo mundo quem o senhor é! Só não disse nada porque a Susana me fez jurar não contar nada, mas pelo jeito não deveria ter feito isso.

— Mas todos já sabem. Pelo menos os professores sabem.

— Dumbledore contrata o senhor mesmo sabendo que o senhor é um lobisomem? — exclamou Rony. — Ele é louco?

— Rony, cale essa boca — exclamei e o mesmo me olhou assustado. — Larga de ser idiota. Vou te dizer o mesmo que disse a Hermione, eu moro no mesmo teto que me conheço como gente e nunca aconteceu nada. Por isso para de ficar falando besteiras…

— Larga de ser ingênua, Susana! — exclamou Harry. — Será que não percebe que ele está ajudando-o esse tempo todo!

Harry apontou para Black, que, de repente, atravessou o quarto em direção às colunas e afundou nela, o rosto escondido em uma das mãos trêmulas. Bichento saltou nele e subiu no seu colo, ronronando. Rony se afastou devagarzinho dos dois, arrastando a perna.

— Harry, eu…

Antes de dizer algo, fui parada por meu padrinho.

— Eu não estive ajudando Sirius — respondeu Remus. — Se você me der uma chance, eu explico. Olhe…

Meu padrinho separou as varinhas de Harry, Rony, Hermione e a minha e devolveu-as aos donos. Apanhei a minha sem dizer nada. Tudo era tão confuso, ainda não tinha caído e aceitado a ideia que meu padrinho está ajudando aquele homem que é meu “pai”. Ele nunca faria algo desse tipo, principalmente, agora que ele devolveu as varinhas.

— Pronto — disse meu padrinho, enfiando a própria varinha no cinto. — Vocês estão armados e nós, não. Agora vão me ouvir?

Ninguém disse nada, apenas ouvir, Hermione murmurar:

— Isso só pode ser um truque.

Bufei estressada e cansada com tudo aquilo, e tudo que queria naquele momento era uma explicação concreta sem ser apenas ações explosivas como de alguns desse quarto. Encarei os meus companheiros esperando uma resposta deles, mas ninguém disse nada, então eu ia quebrar essa droga.

— Sim — disse firme, recebendo o olhar de todos presente, inclusive de Remus com um breve sorriso. — Eu quero ouvir uma explicação, mas sabia que a única palavra que acredito nesse momento é a sua, padrinho. Acredito que não ajudou esse homem — e olhei Black com desprezo.

Harry, Rony e Hermione me olhavam espantados.

— Não me olhem assim — rebati irritada ao três. — Eu convivo muito mais com ele do que vocês três, então… vocês nunca me entenderiam.

Meu padrinho me olhou agradecido. Ele sabe que nada do que disse era mentira, era uma grande verdade sobre acreditar mais nas palavras dele, do que nas palavras de qualquer outro dessa sala.

— Certo — exclamou Harry de repente. — Se o senhor não esteve ajudando — disse ele, lançando um olhar furioso a Black — como é que soube que ele estava aqui?

— O mapa. O Mapa do Maroto. Eu estava na minha sala examinando-o…

— O senhor sabe trabalhar com o mapa? — indagou Harry desconfiado.

— Claro que sei — disse meu padrinho fazendo um gesto impaciente com a mão. — Ajudei a prepará-lo. Eu sou Aluado, esse era o apelido que meus amigos me davam na escola.

— O senhor preparou...?

— O importante é que eu estava examinando o mapa atentamente hoje à noite, porque imaginei que você, Rony, Hermione e a Susana poderiam tentar sair, escondidos, do castelo para visitar Hagrid antes da execução do hipogrifo. E estava certo, não é mesmo?

Meu padrinho começou a andar para cima e para baixo do quarto, com os olhos fixos em nós quatro. Pequenas nuvens de pó se levantavam aos seus pés.

— Você poderia estar usando a velha capa do seu pai, Harry…

— Como é que o senhor sabia da capa?

— O número de vezes que vi James desaparecer debaixo da capa... — disse ele, fazendo outro gesto de impaciência com a mão. — A questão é que, mesmo quando a pessoa está usando a Capa da Invisibilidade, ela continua a aparecer no Mapa do Maroto. Observeis vocês atravessarem os jardins e entrarem na cabana de Hagrid. Vinte minutos depois, vocês saíram e voltaram em direção ao castelo. Mas, então, iam acompanhados por mais alguém.

— Quê? — exclamou Harry. — Não, não íamos!

— Eu não podia acreditar no que estava vendo — continuou meu padrinho, prosseguindo a caminhada e fingindo não ter ouvido a interrupção de Harry. — Achei que o mapa não estava registrando direito. Como é que ele podia estar com vocês?

— Não tinha ninguém com a gente!

— Então vi outro pontinho, andando depressa em sua direção, rotulando Sirius Black... Vi-o colidir com a Susana; observei quando arrastou dois de vocês para dentro do Salgueiro Lutador…

— Um de nós! — corrigiu-o Rony, zangado.

— Não, Rony. Dois de vocês.

Ele parou de andar, os olhos em Rony.

— Você acha que eu poderia dar uma olhada no rato? — perguntou meu padrinho com a voz equilibrada.

— Quê? — exclamou Rony. — Que é que o Perebas tem a ver com isso?

— Tudo. Posso vê-lo, por favor?

Rony hesitou, depois enfiou as mãos nas vestes. Perebas apareceu, debatendo-se desesperadamente; Rony teve que segurá-lo pelo longo rabo pelado para impedi-lo de fugir. Vi Bichento ficar em pé na perna de Black e sibilou baixinho.

Essa história de mais um é muito estranha.

— Padrinho — chamo-o.

Ele para e me encara.

— Sim?

— Como assim mais de uma quinta pessoa com a gente? — indaguei confusa, tentando raciocinar. — Só tinha, nós quatros, claro que na cabana tinha um quinto que era o Hagrid, mas um sexto? Outro era apenas o Perebas, mas ele é um…

Por um momento senti meus neurônios explodindo com a ideia maluca que me veio à cabeça. Olhei arregalando os olhos para o rato ainda nas mãos de Rony, doido para fugir.

— A não ser que ele não seja um rato… — murmurei pensativa.

— Acho que você já percebeu o ponto da história — comentou Black com a voz rouca, mas sentia um misto de satisfação. — Boa garota…

— Susana, você está doida? — exclamou Rony, cortando as palavras do outro homem, nervoso, enquanto tentava segurar Perebas. — Claro que Perebas é um rato!

— Isso não é um rato — disse Black mais uma vez.

— Que é que você está dizendo... Claro que ele é um rato…

— Não, não é — confirmou meu padrinho. — É um bruxo.

— Um Animago — disse Black — que atende pelo nome de Pedro Pettigrew.

            Houve um silêncio angustiante, parecia que todos estavam tentando absorver a afirmação — ao menos eu sim.  Então foi Rony que disse primeiro em voz alta.

— Vocês dois são malucos.

— Ridículo! — exclamou Hermione baixinho.

— Isso é loucura! Eu pensei na possibilidade do Perebas ser um Animago, mas não exatamente de alguém que está morto — digo.

— Pedro Pettigrew está morto! — afirmou Harry. — Ele o matou há doze anos! — E ele apontou para Black, cujo rosto tremeu convulsivamente.

— Tive intenção — vociferou Black, os dentes amostra — mas o Pedrinho levou a melhor... Mas desta vez não!

E Bichento foi atirado ao chão quando Black avançou para Perebas; Rony berrou de dor ao receber o peso de Black sobre sua perna quebrada.

— Sirius, NÃO! — berrou meu padrinho atirando-se à frente e afastando Black para longe de Rony. — ESPERE! Você não pode fazer isso assim... Eles precisam entender... Temos que explicar…

— Podemos explicar depois! — rosnou Black, tentando tirar meu padrinho do caminho.

Ainda mantinha uma das mãos no ar, com a qual tentava alcançar Perebas, que, por sua vez, guinchava feito um porquinho, arranhando o rosto e pescoço de Rony, tentando escapar.

— Eles têm... O... Direito... De... Saber... De... Tudo! — ofegou meu padrinho, ainda tentando conter Black. — Ele foi o bicho de estimação do Rony! E tem partes dessa história que nem eu compreendo muito bem! E Harry e Susana... Você deve a verdade aos dois, Sirius! A sua filha quer ouvir e precisa de uma explicação!

Black parou de resistir, ele me olhou e depois voltou atenção em Perebas.

— Está bem, então — concordou Black, sem desgrudar os olhos no rato. — Conte a eles o que quiser. Mas faça isso depressa, Remus, quero cometer o crime pelo qual fui preso…

— Vocês são pirados, os dois — disse Rony trêmulo, e olhava para Harry, Hermione e eu procurando apoio. — Para mim chega. Estou fora.

Ele tentou se levantar com a perna boa, mas meu padrinho tornou a erguer a varinha, apontando-a para Perebas.

— Você vai me ouvir até o fim, Rony — disse Remus calmamente. — Só quero que mantenha Pedro bem seguro enquanto me ouve.

— ELE NÃO É PEDRO, ELE É PEREBAS! — berrou Rony, tentando empurrar o rato para dentro do bolso das vestes, mas Perebas resistia com todas as forças.

Rony oscilou e se desequilibrou, mas Harry o amparou e o empurrou de volta à cama. Então, Harry se dirigiu ao meu padrinho.

— Houve testemunhas que viram Pettigrew morrer! — disse Harry. — Uma rua cheia…

— Eles não viram o que pensaram que viram! — disse Black ferozmente, ainda vigiando Perebas se debater nas mãos de Rony.

— Todos pensaram que Sirius tinha matado Pedro — confirmou meu padrinho acenando a cabeça. — Eu mesmo acreditei nisso, até ver o mapa hoje à noite. Porque o Mapa do Maroto nunca mente... Pedro está vivo. Na mão de Rony, Harry.

Harry e Rony se olharam, sabia que eles deveriam estar pensando que os dois adultos estavam delirando. Eu mesma não sabia no que pensar exatamente, ainda não conseguia entender isso do Pettigrew estar vivo. Como assim ele está vivo? Se ele estivesse mesmo vivo, acho que o Ministério da Magia estaria a par de tudo. Principalmente no caso dele ser um animago, até porque aonde me recordo nas aulas de Transfiguração, todo Animago é registrado. A não ser que… Olhei brevemente o Black, lembrando que se fosse tudo isso, ele também deveria ser registrado a não ser que fosse um animago ilegal. Afinal se o ministério soubesse disso, Black não teria uma vida fácil.

Balancei a cabeça, baguncei mais meu cabelo solto e provavelmente todo desgrenhado. Ele não estava com os cabelos de Hermione que não tinham controle, mas dependendo do humor, meus cabelos ficam uma bosta.

Ia mencionar algo sobre isso tudo, não me aguentava… Contudo, Hermione deveria estar pensando o mesmo sobre o Animagos, ela pediu vez para falar, numa voz trêmula que se pretendia calma como se tentasse fazer o meu padrinho falar sensatamente.

— Mas professor Lupin... Perebas não pode ser Pettigrew... Não pode ser verdade, o senhor sabe que não pode…

— Por que não pode? — perguntou meu padrinho calmamente, como se estivessem na sala de aula e Hermione apenas levantasse um problema relativo a uma experiência com grindylows.

— Porque... Porque as pessoas saberiam se Pedro Pettigrew tivesse sido um Animago. Estudamos Animagos com a Profª McGonagall. E procurei maiores informações quando fiz o meu dever de casa, o Ministério da Magia controla os bruxos e bruxas que são capazes de se transformar em animais; há um registro que mostra em que animal se transformam, o que fazem, quais os seus sinais de identificação e outros dados... E fui procurar o nome da Profª McGonagall no registro e vi que só houve sete Animagos neste século e o nome de Pettigrew não constava da lista…

— A não ser que ele fosse um Animago não registrado…

Meu padrinho começou a rir.

— Excelente, Susana! — exclamou. — Confirmando apenas o que a Susana disse: o Ministério nunca soube que havia três Animagos não registrados à solta em Hogwarts.

— Se você vai contar a história aos garotos, se apresse, Remus — rosnou Black, que continuava vigiando cada movimento desesperado de Perebas. — Esperei doze anos, não vou esperar muito mais.

— Está bem... Mas você precisa me ajudar, Sirius — disse meu padrinho — só conheço o início…

Só espero que dessa vez as peças se encaixem melhor, pois minha cabeça lembrava um quebra-cabeça todo desmontado e bagunçado com peças que não tinha uma única diferença. Do meu pulso retirei um elástico de cabelo, prendi em um cabo de cavalo todo bagunçado. Olhando meu padrinho atentamente para prestar atenção a cada palavra que fosse dita por ele.

Tudo o que queria nesse momento era explicações.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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