A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 31
Ao pôr-do-sol




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— Susana! Hei, Susana!

Balancei a cabeça na mesma hora.

— Que? Oi? O que foi?

Rony franziu o cenho.

— Susana, você está bem?

— Hã?

— Sinceramente, você está começando a ficar que nem a Hermione. Estuda para caramba... — Rony se calou na hora ao receber um olhar fuzilante dela.

Revirei e cocei os olhos.

— O que foi, Rony? — perguntei desanimada.

— Nada. Só estava tentando te tirar do seu transe, a gente estava falando e você não dizia nada.

— Tudo bem? — foi Harry que perguntou, sentado na cadeira ao lado de Rony.

— Tudo — respondi. — Desculpa, eu apenas estou cansada de tanto estudar — menti.

— Deu para perceber — comentou Rony e eu o respondi com um sorriso fraco, o que deveria ser mais um agradecimento por ele ter acreditado.

É claro que não foi assim por causa dos exames, mas por alguém em específico chamado Draco Malfoy. Mesmo não querendo olhá-lo, eu ainda o encarava durante as refeições ou as aulas que tínhamos juntos. O que aconteceu entre a gente parece que ainda não esfriou a sensação, não comigo. Era tudo tão ruim que me sentia perturbada mentalmente que mal conseguia me concentrar nos estudos.

— Algum de vocês viu o meu livro Numerologia e Gramática? — perguntou Hermione remexendo em vários pergaminhos.

Para desviar meus pensamentos da Madame, comecei a ajudar a Hermione com o livro perdido. Nesse instante, ouvi um farfalhar pela janela e vi Edwiges entrando com um bilhete bem seguro no bico.

— É do Hagrid — disse Harry, abrindo o bilhete. — É o recurso de Bicuço, está marcado para o dia seis.

— É o dia em que terminamos os exames, certo?

— Certo — Hermione confirmou a minha dúvida; ainda procurando o livro de Aritmancia por toda a parte. Isso também incluía debaixo da mesa.

— E eles vêm aqui para o julgamento — disse Harry, continuando a ler o bilhete. — Alguém do Ministério da Magia e... E o carrasco.

Hermione e eu erguemos a cabeça, assustadas. Ao contrário de mim, Hermione não bateu a cabeça na mesa. Me fazendo soltar um gemido de dor.

— Vão trazer o carrasco para o julgamento do recurso! — falou Hermione.

— Se vão trazer o carrasco — disse me levantando e sentando, ainda massageando a parte da cabeça que bati —, então é meio que já decidiram o que fazer!

— É, parece — disse Harry lentamente.

— Não podem fazer isso! — brandou Rony. — Gastei séculos lendo para Hagrid — arqueou a sobrancelhas — quero dizer, Susana e eu gastamos séculos lendo o material que havia; não podem simplesmente desprezar tudo!

Infelizmente não poderíamos sair do castelo para visitar Hagrid, por causa das novas e rigorosas medidas de segurança que continuavam em vigor. O que nos restava era apenas esperar uma oportunidade para falar com ele.

A semana dos exames começou e um silêncio anormal se abateu sobre o castelo. Mesmo com os olhares de Malfoy na hora do café da manhã, eu consegui me esforçar ao máximo na hora dos exames. Pelo menos no exame de Transfiguração consegui transformar o meu bule de chá em um razoável cágado. Penso em razoável, pois não acredito ter saído perfeito como queria, mas isso não deixa de lado que achei o exame tranquilo, ao contrário de alguns dos meus colegas.

Hermione era a que mais reclamava, pois segundo ela o seu cágado parecia mais uma tartaruga, o que para mim era uma reclamação mínima diante das preocupações dos demais.

— O meu tinha um bico no lugar do rabo, que pesadelo…

— Era para os cágados soltarem vapor?

 — No final, o meu continuava com uma pintura de salgueiro estampada no casco, vocês acham que vou perder pontos por isso?

Depois de um almoço apressado, voltamos para o andar de cima para fazer o exame de Feitiços.

Nesse eu tinha certeza de que iria tirar a melhor nota. Hermione tinha acertado; o Profº Flitwick realmente pediu feitiços para animar. Ela era o meu par, mesmo parecendo um pouco nervosa, ia nos dar bem no final. Estudamos juntas, expliquei tudo para ela sobre o feitiço, então tudo deu certo no final. Ao contrário de Rony que não teve muita sorte, parece que Harry estava nervoso até demais, o que acabou exagerando um pouco, e Rony, que era seu par, acabou com acessos de risos histéricos e precisou ser levado para uma sala sossegada, onde ficou uma hora, até ter condições de fazer o exame.

Em Runas Antigas, era outra que deveria ter me dado muito bem. Hermione já se questiona até nossa ida para o salão principal para jantar. Ela jurava que errou significados de runas. Depois do jantar, não pude relaxar como queria, pois voltei a grudar a cara nos livros de Trato das Criaturas Mágicas, Poções e Astronomia.

Hagrid aplicou o exame de Trato das Criaturas Mágicas na manhã seguinte. Providenciou uma grande barrica com vermes frescos para gente e avisou que para passar no exame, os vermes de cada aluno deveriam continuar vivos ao fim de uma hora. Uma vez que os vermes se criavam melhor quando deixados em paz, foi o exame mais fácil que já prestei em meus anos de escola, o que deu um bom tempo para Harry, Hermione, Rony e eu conversamos com Hagrid.

— Bicucinho está ficando um pouco deprimido — contou ele, curvando-se sob o pretexto de verificar se os nossos vermes ainda estavam vivos. — Está preso em casa há tempo demais. Ainda assim... Depois de amanhã a gente vai saber se vão julgar a favor ou contra…

O exame de Poções foi na parte da tarde, que foi um tanto adorável e decepcionante para o Seboso. Tínhamos que fazer uma infusão para confundir, e como eu sou ótima na matéria dele devo ter me dado muito bem. Ao contrário de Harry que ao término do exame, comentou que não conseguia engrossar a poção e que deveria ter tirado a pior nota, pelo menos era isso que imaginava pela suposta anotação de Snape.

Depois veio o exame de Astronomia à meia-noite, o que me fez lembrar do Malfoy, droga. História da Magia foi na quarta de manhã, em que precisei me esforçar naquela sala abafada para pensar e escrever sobre a caça às bruxas na Idade Média.

O calor era tanto que nem estava mais vestindo a capa e nem usando a meia do uniforme, fiquei apenas com a sapatilha e resto do uniforme. Gravata folgada e alguns botões da blusa branca estavam abertos até o busto. Parece que eu não fui a única garota a fazer isso.

O antepenúltimo exame, na quinta-feira pela manhã, foi Defesa contra as Artes das Trevas. Meu padrinho preparou o exame mais incomum que já tinha feito; uma espécie de corrida de obstáculos ao ar livre, debaixo de sol, em que precisei atravessar um lago fundo o suficiente para se remar, onde havia um grindylow, em seguida, uma série de crateras cheias de barretes vermelhos, depois um trecho de pântano, desconsiderando as informações enganosas dadas por um hinkypunk, e, por fim, subir em um velho tronco e enfrentar um bicho-papão.

— Excelente, Susana — disse meu padrinho quando desci do tronco.

— Espero ganhar a nota máxima — disse baixo ficando ao lado dele e com Harry ao meu lado.

— Por que você acha que merece a nota máxima?

— Porque fui excelente — disse em tom que apenas Harry ouvisse. — E, por ser sua afilhada preferida.

Harry abafou a risada.

— É a única — falou Harry entre o riso.

Meu padrinho acabou rindo e Harry levou um leve tapa no ombro.

Fiquei junto com Harry vendo os exames de Rony e Hermione. Rony foi bem até chegar a vez do hinkypunk, que parece ter conseguido confundi-lo e fazê-lo afundar até a cintura em um atoleiro. Hermione fez tudo perfeitamente bem, ela chegou ao tronco em que havia o bicho-papão. Passou alguns minutos, e do nada ela saiu correndo aos berros.

— Hermione — exclamou meu padrinho, assustado. — Que foi que aconteceu?

— A P... P…

— Hermione, respire primeiro e depois fala — aconselhei. Ela assentiu, respirou fundo e falou, ainda respirando ofegante.

— A Profª McGonagall — ofegou Hermione apontando para o tronco. — Ela disse que eu levei bomba em tudo!

Sei que seria cruel, por isso tentei ao máximo segurar o riso e não rir de Hermione. Rony fazia o mesmo, colocou a mão na boca para não gargalhar com o que acabou de ouvir.

Demorou um tempinho para ela se acalmar. Quando finalmente se recuperou do susto, me despedi do meu padrinho e voltei com o trio ao castelo.

Algo nos aguardava no alto das escadas.

Forcei a visão, mas quanto mais aproximava conseguia ver melhor que era Cornélio Fudge, o ministro da magia, um pouco suado em minha opinião. Ele deveria estar tão focado, admirando os terrenos da escola que se assustou ao nos ver — ou Harry.

— Olá, Harry! — exclamou. — Acabou de fazer um exame, suponho? Terminando?

— Sim, senhor — disse Harry.

Hermione, Rony e eu ficamos um pouco afastados.

— Belo dia — comentou Fudge, lançando um olhar ao lago. — Que pena... Que pena…

O ministro soltou um profundo suspiro e olhou para Harry.

— Estou aqui em uma missão desagradável, Harry. A Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas exigiu uma testemunha para a execução do hipogrifo louco. Como eu precisava visitar Hogwarts para verificar o andamento do caso Black, me pediram para cumprir esta tarefa.

Engoli seco, ao ouvir o ministro mencionar sobre ele. Principalmente quando seu olhar parou em mim.

— Você é Susana Black, correto?

— Sou — respondi seco.

— Era de imaginar, você é bem parecida com seu pai — comentou ele ainda me olhando.

— Hm... — Fiz cara de que não me importo, porém não nego que me senti desconfortável com tal comparação.

Antes mesmo de opinar para Harry, Hermione e Rony, para continuarmos andando, dois bruxos saíram pelas portas do castelo às costas do ministro. Um era tão velho que parecia estar murchando diante dos meus olhos; o outro era alto e forte, com um bigode preto e fino.

Conclui que deveria ser os representantes da Comissão para Eliminação de Criaturas Perigosas, porque o velho bruxo apertou os olhos na direção da cabana de Hagrid e disse com voz fraca:

— Ai, ai, estou velho demais para isso... Duas horas, não é, Fudge?

Vi o homem de bigode mexendo em algo no cinto; olhei e vi que ele passava um dedo largo pela lâmina de um machado reluzente. Rony abriu a boca para dizer algo, mas Hermione cutucou-o com força nas costelas e eu indiquei com a cabeça o saguão de entrada.

Obviamente que Rony foi reclamando aborrecido no caminho.

— Já preparam até o machado! Isso não é justiça!

Rony tinha toda a razão. Era horrível de pensar que a sentença do Bicuço já foi decidida, o que me deixava triste por Hagrid e pelo coitado Bicuço que era inocente. Pelo jeito eu não era a único preocupada com toda a situação — durante o almoço não trocamos uma única palavra. Desânimo era tanto que nem sabia como ia me sair na avaliação de Adivinhação.

Nós despedimos de Hermione no primeiro andar, que iria para o exame de Estudos dos Trouxas, Harry, Rony e eu fomos para o sétimo andar onde já se tinha vários alunos na escada circular dando umas revisadas na matéria.

Segundo Neville, a Profª Trelawney iria receber um por um.

Levou alguns minutos para chegar a nossa vez, nesse meio tempo, Rony não tirou os olhos do relógio.

— Para com isso, se não vou ficar mais nervosa do que já estou — murmurei nervosa ao ruivo quando ia olhar pela milésima vez o relógio.

Chegando ao patamar, fomos surpreendidos por Neville.

— Ela disse que foi avisada pela bola de cristal que se eu contar a vocês, vou ter um acidente horrível — falou Neville, esganiçado, me fazendo rir.

  — Isto é muito conveniente — riu-se Rony. — Sabe, estou começando a achar que Hermione tinha razão sobre a professora — comentou ele indicando com o polegar o alçapão no alto — ela é uma trapaceira, e das boas.

— É — disse Harry, consultando o próprio relógio. — Eu gostaria que ela andasse logo…

Parvati desceu a escada com o rosto radiante de orgulho.

— Ela disse que eu tenho o talento de uma verdadeira vidente — informou a mim, Harry e Rony. — Vi um monte de coisas... Bem, boa sorte!

E ela desceu as escadas e eu revirei os olhos, murmurando um besta.

— Susana Black — chamou lá do alto a voz etérea que já conheciam.

Olhei os meninos que me desejaram boa sorte. Ajeitei a minha bolsa no ombro e subi as escadas de prata.

Abri a porta da sala e veio um vapor terrível.  Aqui estava definitivamente um forno, pior do que lá fora, como essa louca conseguia?

— Bom dia, minha querida — disse ela brandamente, sentada diante de uma grande bola de cristal. — Quer ter a bondade de examinar o orbe... Pode levar o tempo que precisar... Depois me diga o que está vendo…

Me curvei para a bola de cristal e olhei, olhando bem atentamente, mas nada aparecia.

— Então! — estimulou a professora com delicadeza. — Que é que você está vendo?

— Bem, nad... Esquece, acho que estou vendo algo — disse ao ver algo.

Por incrível que pareça, eu estava vendo alguma coisa.

— Diga! — estimulou mais uma vez a professora.

— Vejo uma silhueta de um homem, pelo menos parece ser de um homem — digo forçando mais a vista.

— Consegue ver o local?

— Parece ser uma floresta, tem várias árvores e — me aproximei mais — parece que eu vejo uma lua, mas é difícil dizer que tipo de lua. Só que olhando melhor, me parece ser lua cheia.

Lua cheia? O que era isso que eu estava vendo.

— Vê algum derramamento de sangue? — olhei para ela um tanto chocada.

— Não — respondi em seguida.

— Nem ninguém está se contorcendo de dor no chão? Ou alguém sendo atacado por algo?

— Não vejo nada disso.

Já estava começando a me sentir desconfortável, o que essa doida queria? Queria apenas saber de tragédia?

— Tem certeza?

— Absoluta — disse com firmeza, dando uma última olhada no cristal e voltando a olhar para a professora, mas logo voltei minha atenção na bola de cristal. — Um cachorro?

— Cachorro? — repetiu a professora curiosa.

— Sim, estou vendo um cachorro grande, muito peludo e... — Ia continuar que ele era preto, mas logo calei a boca, aquele provavelmente era o Sinistro. — Só isso que eu vejo professora, acabou?

A Profª Trelawney suspirou.

— Bem, paramos por aqui... Um bom resultado... Pode se retirar.

Não demorei mais nenhum minuto naquele banquinho e saí em passos apressados da sala. Desci as escadas e logo vi um Rony e Harry me olhando, curiosos, à procura da resposta da pergunta que já sabia, mesmo que eles não tenham perguntado.

— Ela disse que fui bem, vi uma coisa breve na bola de cristal e…

— Rony Weasley! — chamou a professora.

Rony olhou para onde foi chamado seu nome e fez uma careta.

— Se não ver nada, inventa, ela nem vai perceber — disse aos dois. — Bem, vou nessa, boa sorte e até a Sala Comunal.

 

(...)

 

Hermione ainda não tinha voltado do exame de Estudos dos Trouxas. Rony apareceu depois de alguns minutos já contando tudo o que aconteceu no seu exame.

— Fiz o que você falou, não vi nada, então inventei alguma coisa. Acho que a professora não se convenceu, embora…

Rony foi interrompido por Hermione entrando apressada na Sala Comunal e segurando um bilhete.

— Acabei de receber isso do Hagrid — disse ela mostrando a carta.

Rony e eu demos espaço para ela no sofá e Hermione se sentou.

O bilhete de Hagrid, desta vez, estava seco, sem lágrimas derramadas, contudo sua mão parecia ter tremido tanto ao escrever que o texto era quase ilegível.

Hermione começou a ler em voz baixa.

 

Perdemos o julgamento do recurso. Vão executar o Bicuço ao pôr-do-sol.

Vocês não podem fazer nada. Não desçam. Não quero que vocês vejam.

Hagrid.

Afundei-me no sofá passando a mão no cabelo pelo nervosismo. Não conseguia acreditar que iam mesmo fazer aquilo!

Harry não demorou para aparecer e ficar a par de tudo.

— Temos que ir — disse Harry na mesma hora. — Ele não pode ficar lá sozinho, esperando o carrasco!

— Mas é ao pôr-do-sol — disse Rony, que estava espiando pela janela com o olhar meio vidrado. — Nunca nos deixariam... Principalmente a você, Harry…

Harry apoiou a cabeça nas mãos, pensando.

— Se ao menos tivéssemos a Capa da Invisibilidade…

— Onde é que ela está? — perguntou Hermione.

Harry então contou que tinha deixado na passagem da bruxa de um olho só.

— Se Snape me vir por ali outra vez, vou entrar numa fria — terminou ele.

— Ele iria descobrir se visse você — digo.

Ele me olhou sem entender, mas Hermione deve ter entendido o que quis dizer. Ela perguntou como se abre a corcunda da bruxa, mas antes de Harry terminar de explicar, Hermione saiu correndo da Sala Comunal.

— Ah, não acredito que ela tenha ido buscar! — exclamou Rony, acompanhado-a com o olhar.

Dito e feito. Hermione voltou quinze minutos depois com a capa dobrada com cuidado sob suas vestes.

— Cada dia que passa, mas me surpreendo com você — disse rindo e ela fez uma cara como se tivesse recebido um elogio. E aquilo foi mesmo um elogio.

 

(...)

 

Depois do jantar com Harry carregando às escondidas a Capa da Invisibilidade, fomos ver Hagrid e de baixo da capa. Apertados e em passos lentos. O sol já ia se pondo atrás da Floresta Proibida, dourando os ramos mais altos das árvores.

Chegando à cabana de Hagrid, batemos na porta que não demorou para ser aberta; quando o fez, ficou procurando por todos os lados, pálidos e trêmulos.

— Somos nós — sibilou Harry. — Estamos usando a Capa da Invisibilidade. Deixe a gente entrar para poder tirar a capa.

— Vocês não deviam ter vindo — sussurrou Hagrid, mas se afastou para a gente entrar. Depois a fechou depressa e Harry arrancou a capa.

Agora que me dei conta que nunca tinha entrado na cabana dele. Havia apenas um aposento na cabana. Era um lugar meio que sujo, ou bagunçado, pois havia muita coisa espalhada e tinha apenas uma cama a um canto coberta com uma colcha de retalhos.

Voltando minha atenção ao Hagrid, bem ele não estava chorando, nem se atirou ao pescoço da gente. Mas parecia estar um pouco confuso, não sabia onde estava e nem o que fazer.

— Querem um chá? — perguntou para gente. Suas mãos enormes tremiam quando apanhou a chaleira.

— Onde é que está o Bicuço, Hagrid? — perguntei.

— Eu... Eu o levei para fora — respondeu Hagrid, derramando leite pela mesa toda ao tentar encher a jarra. — Está amarrado no canteiro de abóboras. Achei que ele deveria ver as árvores e... E respirar ar fresco... Antes…

A mão de Hagrid tremeu com tanta violência que a jarra de leite escapou e se espatifou no chão.

— Eu faço isso, Hagrid — ofereceu-se Hermione depressa, correndo para limpar a sujeira.

— Tem outra no armário de louças — falou Hagrid, sentando-se e limpando a testa na manga. Harry olhou para Rony para mim, que retribuiu apenas com um olhar com desânimo. Era impossível não se sentir mal pelo Hagrid.

— Tem alguma coisa que se possa fazer, Hagrid? — perguntou Harry inflamado, sentando-se ao lado dele. — Dumbledore…

— Ele tentou. Mas não tem poder para revogar uma decisão da Comissão. Ele disse aos juízes que Bicuço era normal, mas a Comissão está com medo... Vocês sabem como é o Lucius Malfoy... Imagino que deve ter ameaçado todos eles... E o carrasco, Macnair, é um velho conhecido dos Malfoy... Mas vai ser rápido e limpo... E eu vou estar do lado do Bicuço…

Hagrid engoliu em seco.

— Dumbledore vai descer quando... Quando estiver na hora. Me escreveu hoje de manhã. Disse que quer ficar... Fica comigo. Grande homem, o Dumbledore…

Logo ouvi Hermione, deixar escapar um pequeno soluço, rapidamente sufocado. Vi-a se endireitando com uma nova leiteira nas mãos, mas pela cara, parecia estar lutando para conter as lágrimas.

— Nós vamos ficar com você também, Hagrid — começou Hermione, mas Hagrid sacudiu a cabeça cabeluda.

— Vocês têm que voltar para o castelo. Já disse que não quero que assistam. Aliás, vocês nem deviam estar aqui... Se Fudge e Dumbledore pegarem você fora do castelo sem permissão, Harry, você vai se meter numa grande confusão.

Me encolhi ao lado de Rony me olhou triste, da mesma forma que retribui, era um saco saber que não dava para fazer nada para impedir essa desgraça. Isso me deixava muito irritada!

Silêncio se manteve longo pelo cômodo, mas que logo foi quebrado por um grito de Hermione.

— Rony!... Eu não acredito... É o Perebas!

O queixo de Rony caiu.

— Do que é que você está falando?

Hermione trouxe a leiteira até a mesa, que tinha no meio do aposento, e virou-a de boca para baixo. E era mesmo o Perebas, mas eu o estava achando bem estressado, já que parecia querer voltar muito para dentro da jarra; antes disso Rony o segurou pelo rabo.

— Perebas! — exclamou Rony sem entender. — Perebas, o que é que você está fazendo aqui?

Ele agarrou o rato que se debatia e segurou-o próximo à luz.

Perebas estava com uma aparência horrível. Pior do que a última vez que o vi. Ele estava mais magro que nunca, perdera grandes tufos de pelos que deixavam pelado seu corpo, o rato se contorcia nas mãos de Rony como se estivesse desesperado para se soltar.

— Ele está bem estressado, parece até que está tentando se esconder de algo — digo.

— Tudo bem, Perebas! — tranquilizou-o Rony. — Não tem gatos! Não tem nada aqui para te machucar!

Rony continuava a todo custo segurar o rato, mas ele não se aquietava.

— Aí vem eles…

Viramos depressa para olhar a janela. Um grupo de homens descia os distantes degraus, à entrada do castelo. À frente vinha Dumbledore. Ao seu lado, vinha o ministro e mais os outros dois homens que vi depois do exame do meu padrinho.

— Vocês têm que ir embora — disse Hagrid. — Eles não podem encontrar vocês aqui... Vão…

Rony enfiou Perebas no bolso, e eu apanhei a capa.

— Eu vou abrir a porta dos fundos para vocês — disse Hagrid.

Acompanhamos até a porta que abria para a horta.

Vi Bicuço, amarrado a uma árvore atrás entre as abóboras. Ele virou a cabeça de um lado para o outro e tateou o chão nervoso.

— Tudo bem, Bicucinho — disse Hagrid com brandura. — Tudo bem... — E virou para nós quatro. — Vão. Andem logo.

Mas não nos mexemos.

— Hagrid, não podemos…

— Ficaremos com você…

— Vamos contar a eles o que realmente aconteceu…

— Não podem matar Bicuço…

— Vão!  — disse Hagrid ferozmente. — Já está bastante ruim sem vocês se meterem em confusão!

Parece que não teríamos escolhas. Quando joguei a capa sobre Hermione, Harry e Rony, ouvi vozes na entrada da cabana. Hagrid então mandou a gente sair e para não ficar ouvindo.

Lentamente, fomos se afastando da cabana. Subimos a encosta gramada em direção ao castelo. Rony não conseguia parar de se mexer, sempre estava reclamando de Perebas que não parava quieto e guinchava feito louco.

Quando chegamos na parte mais ampla do gramado, ouvimos um som de machado cortando o ar e batendo sobre o alvo.

— Executaram o Bicuço! — murmurou Hermione. — Eu n... Não acredito... Eles executaram Bicuço!


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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