A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 26
Desculpas




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Por um momento parecia que tinha um monstro na minha barriga fazendo barulho. Eu estava morrendo de fome, não tinha jantado e por consequência estou com fome agora. Precisa urgentemente encontrar a cozinha, mesmo parecendo impossível, já que não tenho a mínima ideia de onde fica. Acho que não aguentaria dormir com fome para esperar o café-da-manhã. Falta horas para a próxima refeição, se a cozinha não aparecer, vou precisar recorrer a outras medidas como ir atrás do meu padrinho e ver se ele me traz algo para jantar.

A opção de ir atrás do meu padrinho era quase certa, mas ao mudar de rumo acabei tropeçando em um balde com água e derrubando tudo.

Pronto! Era agora que ia me ferrar, só pode ser o Filch, eu logo me agachei para arrumar o balde e inutilmente fazendo a água do chão voltar para o balde com a mão. Para me ferrar mais ainda meus livros caíram no chão e junto alguns pergaminhos molhando quase tudo.

— Não acredito que vou ter que refazer a redação de Runas Antigas — resmunguei em tom falsamente de choro.

Ouvi passos rápidos se aproximando. É agora que fico mais uma vez de detenção, mas antes de ouvir os xingamentos de Filch, ouvi uma voz esganiçada.

— Tudo bem com a senhorita?

Dois pares de tênis parou na minha frente e subindo vi meias de pares diferentes; depois uma perna fina que tinha certeza que não era de humanos. Indo direto para o rosto para ver de quem se tratava. Fiquei de boca aberta com a criaturinha parada na minha frente de orelhas grandes como as de um morcego e olhos esbugalhados e verdes.

Sorri aliviada ao ver que não era o Filch e também por se tratar de uma das criaturinhas mais adoráveis do mundo bruxo. Agora só me pergunto o que um elfo doméstico faz em Hogwarts.

— Se machucou, senhorita?

— Não, eu estou bem, não se preocupe — sorriu para a pequena criatura. — Só a minha redação e alguns livros que não.

O elfo me ajudou com os livros e o pergaminho. Ajustei todos no braço e me levantei ainda encarando a criaturinha.

— Me perdoe pelo balde, eu não o vi no caminho e no estado que estou é normal eu andar distraída.

— Não se preocupe. Dobby que teve a culpa de deixar o balde no caminho e acabou fazendo a senhorita Susana Black tropeçar.

— Sabe o meu nome? — indaguei olhando surpresa para ele.

— Dobby ouviu falar muito da senhorita e conhece a sua família — explicou a criaturinha olhando atentamente.

Então ele conhecia minha família? Agora só preciso saber se é por parte de mãe ou pai.

— Conhece minha família?

— Sim, minha senhorita. Dobby conhece a família de seu pai e conhece o Monstro.

Franzi levemente o cenho.

— Monstro... — Antes de terminar senti o meu monstro no meu estômago. — Esse é o meu monstro — resmunguei mais para mim mesma, mas parece que o elfo ouviu, pois se aproximou da minha barriga e depois me olhou.

Senti minhas bochechas esquentarem pelo mico que acabei de passar.

— A senhorita está com fome? — perguntou o elfo ainda me encarando.

Se fosse em um outro momento iria negar com medo de acabar ferrando o elfo, porém as circunstâncias de agora eram diferentes. Assenti sem jeito ao ouvir de novo a barriga roncar.

— Perdi a hora do jantar e agora estou com fome — comentei.

— Venha comigo — pediu o elfo.

— Aonde?

— Irei levá-la para comer. — Olhei ele agradecida, quando terminou de tirar a poça de água do chão e tirar o balde, fui levada para o tal lugar que estava sentindo ser a cozinha.

No meio do caminho tentei puxar um assunto com ele.

— Como se chama mesmo?

— Dobby, senhorita. Apenas Dobby — disse a criaturinha.

— Prazer em conhecê-lo Dobby e, por favor, me chame apenas de Susana, não curto muita formalidade.

Dobby assentiu e continuamos o caminho.

— Me diga uma coisa, pelo que eu sei elfos domésticos não usam roupas como as que você está usando. Por acaso você foi libertado?

Uma das coisas que me chamava atenção nele era isso. Ele usava várias roupas estranhas, devo admitir era um estilo bem exótico. Além da meia que uma era preta e o outro par era um verde berrante. Perguntei sobre porque sabia como era a vida deles, sobre suas “regras” em relação aos bruxos.

— Dobby agora é um elfo livre, senhorita. Dobby foi libertado pelo jovem senhor Harry Potter.

— Harry te libertou? — perguntei surpresa. — Como assim? Eu não estou entendendo.

Dobby me explicou que antes de estar em Hogwarts ele servia a família Malfoy, e por conta de alguns ocorrido no ano passado, Harry acabou libertando-o indiretamente. Já que havia colocado uma meia em um caderno que era de Lucius Malfoy. Desde então o elfo passou todo esse tempo se divertindo, aproveitando a liberdade, e é claro que tentou procurar um novo emprego com salário só que com elfos era um caso mais complicado e nenhum bruxo queria pagá-lo. Então foi graças a Dumbledore que ele conseguiu um trabalho na cozinha de Hogwarts; pelo que entendi ele havia começado essa semana.

— Devo ressaltar que essa é nova para mim — disse sobre o salário. — Mas você fez o correto, Dobby. Super correto de sua parte, perdi algo em troca, nesse caso um pagamento. Parabéns pela iniciativa.

— Muito obrigado, senhorita! — disse ele, sorrindo e retribui.

Desci um lance de escadas acompanhada de Dobby, mas em vez destas terminarem em uma sombria passagem subterrânea, como a que levava à masmorra do Snape, eu me vi em um corredor de pedra, largo, muito bem iluminado com archotes, e decorado com alegres pinturas, na maioria, de comida.

Paramos em frente a um quadro de uma fruteira, Dobby indicou o dedo indicador e fez cócegas na enorme pêra verde. A fruta começou a se contorcer de rir e, de repente, transformou-se em uma grande maçaneta verde. Dobby segurou-a, abriu a porta e me deu passagem.

Fiquei perplexa ao ver o amplo aposento de teto alto, grande como o Salão Principal, repleto de tachos e panelas de latão empilhadas ao redor das paredes de pedra. A verdade o que mais me pegou de surpresa foi a recepção que ganhei de todos os elfos na cozinha. Nunca imaginei que tinha tanto elfo aqui e que eram justos eles que faziam a comida.

— O que a senhorita deseja? — Ouvi um dos elfos perguntando.

— Comida — respondi em voz alta. — Não jantei e estou com fome. Será que poderiam me arrumar algo para comer?

Eles me fizeram sentar em um banquinho e não demorou muito para o Dobby aparecer com um prato lotado de purê de batata e coxa de frango; vieram mais coisas por outros elfos. Conversei com todos eles e Dobby era o que estava mais ao meu lado. Não tem o que reclamar deles, todos são tão queridos, fui sair de lá com a barriga cheia e carregando umas tortilhas de abóbora na qual eles me fizeram levar.

Era ótimo saber onde ficava a cozinha, assim poderia vir mais aqui, principalmente de noite quando sinto fome.

Na volta para a Sala Comunal acabei me encontrando com Harry e Rony que estavam voltando do Hagrid.

— E aí como foi lá com o Hagrid? — perguntei enquanto andávamos no corredor até a comunal.

— Foi bem, ficamos lá até agora conversando com ele — respondeu Harry ao meu lado.

— Me digam, ele queria mesmo conversar sobre o ataque?

— Que nada — negou Rony. — Ele queria falar sobre a Hermione.

— Sério?

— Hagrid veio tentar chamar nossa atenção por não estarmos falando com ela — explicou Harry. — Parece que ela ia sempre falar com ele; muitas vezes chorava e desabafava. Hermione deve ter explicado para ele sobre o porquê.

— E não foi só isso. Você acredita que ela acha que estamos trocando-a por você? — disse Rony abismado. — Hermione só pode estar com ciúmes.

— E vocês estão?

Ambos me olharam chocados como se tivesse falado uma merda.

— Só quero saber…

— Claro que não — quem disse foi Harry.

— Andamos com você porque gostamos de você. Consideramos nossa amiga — diz Rony.

Sorri. Era bom ouvir aquilo, contei aos dois de uma forma bem resumida a conversa que tive com Hermione. Não contei tudo porque não sabia que eles deveriam saber de tudo o que se passava com ela.

— Uma coisa é certa, ela deve estar sofrendo bastante com o afastamento dos dois. Hermione deve estar se sentindo sozinha.

— Se ela ao menos se livrasse daquele gato, ou pelo menos admitisse o erro, eu voltaria a falar com ela — disse Rony, fechando a cara e passando primeiro pelo quadro da Mulher Gorda.

Assim como eu, Harry também balançou a cabeça.

Ao entrar na comunal vimos um grande grupo de alunos aglomerados em torno do quadro de avisos.

— Hogsmeade no próximo fim de semana! — disse Rony, se esticando por cima da cabeça dos outros para ler o aviso. — Que é que você acha? — acrescentou em voz baixa quando fomos se sentar.

Rony até me olhou pedindo apoio.

— Bem, Filch não mexeu na passagem para a Dedosdemel... — ponderou Harry, ainda mais baixo.

— Harry! — disse alguém bem no seu ouvido direito.

Harry e eu nos assustamos, pois estava bem ao seu lado e, ao me virar, vi Hermione, que estava sentada à mesa logo atrás de nós e abria uma brecha na parede de livros que a escondia.

— Harry se você for a Hogsmeade outra vez... Vou contar à Profª McGonagall sobre aquele mapa! — ameaçou ela.

Revirei os olhos.

— Você está ouvindo alguém falar, Harry? — rosnou Rony, sem olhar para Hermione. — Está ouvindo, Susana?

— Rony, como é que você pode deixá-lo o acompanhar? Depois do que o Sirius Black fez a você, quero dizer, vou contar…

— Vai mesmo retornar o seu papel dedo-duro, Granger? — disse olhando-a com desdém.

— Vai mesmo tentar provocar a expulsão do Harry? — disse Rony, furioso. — Não acha suficiente o mal que você já fez este ano?

Hermione abriu a boca para responder, mas com um assobio suave, Bichento saltou para o seu colo. A sabe-tudo lançou um olhar assustado à cara que Rony fazia, recolheu Bichento e saiu correndo para o dormitório das meninas.

— Viu só como eu duvido muito que ela ainda se importa com a gente?

Ignorando Rony, voltei minha atenção para Harry.

— Então, e aí? — perguntei a Harry. — Vem com a gente?

— Vocês dois precisam vim, da última vez vocês não viram nada. Vocês ainda nem entraram na Zonko’s!

Harry parecia pensativo e via olhando para os lados.

— Não liga para a Hermione, vem com a gente, ou você quer ficar sozinho no castelo?

Ele suspirou e disse:

— Tudo bem. Mas desta vez vou levar a minha Capa de Invisibilidade.

 

(...)

 

A terça-feira amanheceu um pouco fria e com uma garoinha chata; o que fazia as aulas de hoje ser um tédio. Nem a aula de Transfiguração me animou tanto, agora só fico imaginando a aula de Hagrid que é uma das que eu menos gosto. Quando estávamos no meio da aula acabei me afastando um pouco dos alunos e olhando sempre a entrada para a floresta proibida. Sentei-me em um tronco caído e fiquei observando, até que senti alguém sentar ao meu lado. Provavelmente deveria ser o Rony e Harry, mas quando me virei para conversar, vi que tinha errado.

Grunhi e virei a cara ao ver que se tratava do tal Theodore Nott, o idiota que tentou alguns meses atrás me beijar, obviamente que só tentou, pois não conseguiu o que queria e mandei ele para o inferno. Desde então ele nunca veio falar comigo, mas ficava me olhando toda hora.

— Será que posso me sentar?

— Já sentou — respondi com sarcasmos, ainda olhando o lado oposto.

Ele suspirou e disse:

— Ok, já entendi que minha presença não é muito do seu agrado — ele disse. — Mas estou aqui apenas para consertar meu último erro. Desculpas aceita?

Virei o rosto para encará-lo seriamente. Mesmo que fosse um garoto muito bonito, não iria me deixar cair no seu feitiço.

— Não acha que é muito tarde para pedir desculpas? — digo.

— Eu sei que está, mas já ouviu a frase que nunca é tarde para se arrepender.

— Pena que meu dilema é outro — rebati.

— Você é mesmo muito difícil — ele disse rindo e balançando a cabeça —, mas não vou desistir até conseguir o seu perdão.

— Então te aconselho a esperar sentado — retruquei com um sorriso cínico.

— Eu sei que fui precipitado, mas realmente estou arrependido — ele continuou falando como se eu não tivesse tido nada. — Quero ser seu amigo. Vamos esquecer tudo o que aconteceu e começar do zero.

— Amigos? — repetir, arqueando uma sobrancelha levemente. — Acha mesmo possível nós sermos amigos?

Apontei para o brasão da Grifinória e depois apontando para o dele da Sonserina.

— Sério mesmo que é desse time? — questionou me olhando com um sorriso torto. — Eu sou do time que podemos ser amigos.

Ele era realmente um cara persistente. Me senti uma idiota que por um momento se sentiu atraída pelo sorrisinho dele. Só que eu era forte, sou uma garota forte que vai amolecer só por causa de um sorriso. Continuei sendo firme com ele, não dar braço a torcer, afinal ouvi algumas palavras sobre ele e me lembro bem que não eram as melhores.

Sem mais nenhuma paciência me levantei para me juntar com meus amigos, mas fui impedida.

— O que foi agora? — perguntei impaciente, soltando meu pulso de suas mãos. — Aula acabou caso não percebeu.

— Só quero que pense bem no que te disse… Por favor.

Encarei-o seriamente, talvez, poderia mesmo pensar sobre.

— Susana! — Rony me chamou se aproximando com Harry.

Ambos olharam estranhos para mim e depois olharam feio para Nott.

— Como sou uma pessoa muito legal, vou te dar mais uma chance, Nott. Só uma… mas isso não significa que sou sua amiga.

Ele sorriu daquele jeito dele de sempre. Dei de ombros, ignorando-o e fiz um gesto para os garotos de irmos embora.

No caminho para o castelo contei uma versão não completa do que aconteceu lá com o Nott. Disse apenas que ele quis puxar papo comigo, nada demais. Não queria prolongar o assunto.

Nott pareceu ter dito a verdade sobre tentar mudar, pois era isso mesmo que rolou nos últimos dias. Era estranho, mas ele em qualquer brecha vinha falar algo comigo. É claro que tudo estava longe de ser amizade, não o via daquele jeito, até o momento éramos conhecidos e dois alunos de casas opostas que estavam se dando bem.

Depois de uma excelente aula de Defesa contra as Artes das Trevas fiquei mais um pouco na sala para falar com meu padrinho — Harry e Rony foram na frente. Só que logo que saí me encontrei com o Sonserina que não chamava mais por Nott e sim, Theodore, a pedido Só rolou um, porém é que acabei me ajustando, o que me fez quase derrubar os livros.

— Cuidado! — avisou Theodore pegando o livro antes que caísse no chão.

— O que... Como que…

Como é que ele sabia que estava aqui.

— Por acaso está me seguindo?

— Na verdade não, apenas estava saindo da aula do Binns e vi no corredor umas garotas do seu ano, parei elas e perguntei de onde estavam vindo. Então fiquei sabendo sobre a aula do Lupin, só não sabia se ia dar a sorte de te encontrar aqui — explicou.

— Hum…

— Demorou mais do que o normal, mas tudo bem.

— Só estava tirando umas dúvidas sobre uma redação que o professor pediu — menti.

— Hm... E o que está aprendendo com ele?

— Acho que o mesmo que vocês, Vampiros — respondi com sinceridade. Afinal a matéria que meu padrinho estava passando era sobre os Vampiros.

Theodore sugeriu de andar e concordei.

— Também estou estudando sobre Vampiros — comentou Theodore. — Até que curto as aulas do Lupin, ele é um bom professor. Ele sabe explicar e comparar aos outros professores de Defesa contra as Artes das Trevas que tivemos - menos você -, ele foi o melhor.

— Posso imaginar — concordei com um sorriso fraco. — Fiquei sabendo de algumas histórias.

Não queria esticar muito a conversa para não correr o risco de soltar algo que não deveria já que amava ouvir os elogios referentes ao meu padrinho. Mas por sorte antes de eu mesma mudar de assunto foi Theodore que mudou.

— Mudando de assunto — disse ele enquanto ainda caminhávamos pelo corredor. — Amanhã vai ter Hogsmeade e queria saber se não gostaria de ir junto comigo.

— Hm... Isso por acaso é um convite para um encontro?

— Pode ser um encontro, nomeia como quiser, mas eu apenas queria sair com você. Para nos conhecermos melhor e bem é isso…

Parei no meio do corredor, Theodore fez o mesmo e me encarou.

— Por que você insiste tanto comigo? — Decidi perguntar, mesmo já imaginando a resposta, mesmo assim queria ouvir se era o que estava pensando.

Ele ficou pensativo e suspirou, diminuiu o espaço que tinha entre a gente e me olhou atentamente com aqueles olhos escuros.

— Eu insisto tanto, Susana, simplesmente porque eu sou louco por você e quero fazer de tudo para te conquistar — disse Theodore. — Desde o primeiro dia que te vi subindo os degraus e se sentando no banquinho para colocar o Chapéu Seletor, eu não parei de pensar em você.

Theodore colocou a mão no meu rosto e o acariciou.

— Eu amo você — sussurrou ele bem próximo.

Ouvir aquelas palavras fez meu estômago revirar. Tudo bem que meu palpite dele insistir tanto comigo era algo do tipo, mas não nunca imaginei que viria com essa cereja. Era uma palavra que não estava acostumada a ouvir, não ouvir nesse sentido mais carnal.

— Acho que é muito cedo para você me dizer que me ama — falei em um tom baixo, desviando o meu olhar do dele.

— Não, não é — discordou Theodore, virando meu rosto para encarar novamente aqueles olhos escuros hipnotizantes. — Não é cedo, pois eu mesmo já comprovei isso a mim mesmo.

Dei um sorriso sem graça.

— Mesmo assim…

— Inclusive, aproveitando esse momento que estou me confessando. Posso dizer mais uma coisa?

— Pode…?

— Que eu sou doido para te beijar.

— Hum… — Isso me fez rir e me deixar um tanto sem graça —, acho que isso é mais fácil de resolver.

Ele soltou uma risada gostosa.

— É?

Mordi levemente os meus lábios.

— E como se resolve?

Acho que ele deveria ter feito a pergunta ou eu é que não deveria ter agido, mas em um ato impulsivo me aproximei e o puxei devagar pela barra do uniforme e selei nossos lábios. Tudo foi muito estranho, não fazia ideia do que deu em mim, mas eu o beijei. Não houve movimento até o próprio dar o início. Foi um beijo bem diferente, algo que não havia experimentado, afinal era praticamente meu terceiro beijo na vida. Ele diferente de mim parecia ter uma certa prática já que realizava movimentos intensos, me deixando meio que sem saber o que fazer. Tentei acompanhar, mas acho que foi um horror. Pedi uma pausa quando senti o ar fazendo falta.

Não nos separamos tanto, conseguia sentir sua respiração próximo ao meu rosto e ele sorriu.

— Devo concordar que o problema foi resolvido —murmurou Theodore.

— É melhor eu indo… Preciso revisar algumas matérias — digo.

— Além de bonita é estudiosa — ele disse rindo, também me fazendo rir.

Já mais afastados, tentei me despedir, mas antes ele refez a pergunta de agora pouco.

— Então topa ir amanhã comigo para Hogsmeade?

— Sinto muito, mas eu já vou com o Rony, prometi a ele.

— Você vai com um Weasley? — falou ele com repugnância. — Sério mesmo?

— Sério mesmo — repeti um tanto irritada. — Rony é meu amigo, e desde o início da semana que combinei com ele. Então, sinto muito, mas não vou desmarcar.

Theodore bufou.

— Espero que não tenha achado por um momento que esse beijo teve outros significados. Sinto muito, mas foi apenas um beijo.

— Não é isso! Apenas… Aff, esquece, já que vai com o Weasley então poderíamos apenas nos ver amanhã?

— Theodore…

— Pode ser no final do passeio, não me importo, só quero ter um momento com você. Ou o Weasley também conseguiu o dia todo?

Balancei a cabeça, suspirando cansada.

— Ok! Tudo bem, posso tentar, já que quer tanto me ver assim. Que horas?

— Me encontre perto do Três Vassouras às 15 horas.

— Marcado — disse, assentindo. — Só uma última coisa, repetindo o que disse, não se iluda sobre o que rolou agora pouco. Foi apenas um beijo e nada mais.

— Não se preocupe — ele disse —, não sou mais criança. Sei perfeitamente o que significou. Fica tranquila… Mas não nego que gostaria de um outro.

Rimos antes de cada um seguir seu caminho.

 

 

Point of View: DRACO MALFOY

— Você fez o quê? — elevei o tom da voz mais alto que deveria.

Theodore havia voltado não faz muito tempo para a comunal com um sorriso malicioso e uma expressão de satisfação. Claro que tudo aquilo era sinal que ele havia feito algo e se saiu bem, Blásio até o questionou para saber do que se tratava, mas preferi que ele não tivesse feito quando Theodore respondeu.

— Beijei a tão famosa Susana Black — ele disse, sentando-se todo largado na poltrona. — Corrigindo, ela me beijou porque não fiz nada.

Meu sangue fervia, eu o fuzilava e tudo o que pensava era nele morrendo. Sentia uma enorme vontade de sacar minha varinha e acabar com ele. Filho da p….

— Você é mesmo um idiota — murmurei irritado.

— Então quer dizer que não levou uma bofetada? — disse Blásio com sarcasmo.

— Muito engraçado, Zabini — ironizou Nott.

— Já que você a beijou, o que me diz sobre o beijo dela?

Por um momento quis também estraçalhar o Blásio pela pergunta ridícula. Claro que ela beija bem!

— Ela é maravilhosa! Totalmente diferente das garotas desse castelo, e sim, ela beija bem. Claro que dá para perceber que ela não faz nada com muita frequência, deve ser um dos primeiros beijos dela, mas não dá para ignorar que tem uma boa boca.

— Besteira — murmurei mais para mim mesmo.

— Besteira? — repetiu Theodore, me olhando sem entender.

— É, besteira — confirmei. — Caramba, Nott achei que tinha desistido daquela garota. Vai voltar que essa aposta ridícula?

— Só que não — ele disse. — É claro que não vou desistir dela, não fiz nada esses dias para dar uma refrescada mesmo. Agora quanto a aposta o papo muda. Afinal já tenho ideia para outra coisa…

— Não me diga que…

— Vou pedi-la em namoro — Theodore completou o que Blásio ia dizer.

Não sei se foi melhor ouvir isso ou coisa pior, mas só sei que minha cabeça explodia, nunca havia me sentido assim. Só de imaginá-la aceitando namorar com ele me vinha uma vontade imensa de vomitar. Tudo o que vinha na minha cabeça era que ele nunca deveria tocar nela. Nunca deveriam ser amigos, ficando, namorados e nem nada...

— Vai levar um fora — disse de forma arrogante, me levantando.

Precisava muito sair daqui. Muito!

Não esperei a resposta de ninguém, subir pisando duro e fechei a porta com força.

— Ele que se iluda com a Black — pensei alto. — Coitado se pensa mesmo que foi o único que a beijou, sabe de nada… iludido.

Deitei-me na minha cama e fiquei fitando o teto, nesse meio tempo veio a imagem da Black na minha cabeça e assim como várias vezes o nosso beijo. Desde aquele dia não consegui tirar uma vez se quer da minha cabeça, nas férias de Natal eu estava realmente suspeitando que estivesse ficando a fim dela, mas depois da aula de Trato das Criaturas Mágicas que ela me disse aquilo me dei conta que estava sendo um estúpido por achar mesmo que eu, Draco Malfoy iria se apaixonar por Susana Black. Além disso, pela infelicidade da vida aquela garota é minha prima.

Depois consegui amenizar os meus pensamentos sobre ela, mesmo que de vez em quando ela tomasse conta dos meus pensamentos novamente. Só que agora estou pensando nela beijando aquele babaca!

Todos esses meus pensamentos foram deixados de lado pela batida da porta e pelos passos se aproximando da minha cama.

— Draco — chamou Blásio.

— O que?

— Queria falar com você, sobre o que aconteceu lá embaixo com o Theodore.

Desviei meu olhar para o Blásio encostado na minha cama.

— Você pode querer, mas eu não quero falar, sabe perfeitamente que às vezes é irritante ouvir ele dizendo sobre as garotas. Isso é insuportável e acaba se tornando pior quando se trata da…

— Quando se trata de Susana Black? — completou Blásio se sentando na minha cama e me olhando andar pelo quarto.

Não aguentei ficar parado e precisei me levantar.

— É exatamente sobre ela que eu quero falar com você — olhei-o e já pensando em algumas coisas do que ele poderia perguntar. — Você por acaso está com ciúmes do Nott?

Tentei forçar uma risada.

— Não diga asneiras, Zabini… Nunca que ia sentir ciúmes daquela chata com aquele idiota.

— Hm... Tem certeza mesmo? — perguntou Blásio não parecendo convencido com a resposta.

— Por que está me perguntando isso?

— Só quero perguntar mesmo por que você sempre fica estranho relacionado a Black. Então é aquilo, não vai ser surpresa que está afim dela, simples.

Parei com as andadas e o encarei.

— Eu não estou gostando dela.

Blásio apenas me encarou e sorriu, ele balançou a cabeça e não voltou a dizer, mas não progrediu com o assunto. Quando ele se levantou e passou por mim, foi quando decidi abrir a boca e falar algo.

— Talvez esteja… Depois do que rolou entre a gente, ela pode ter se desprendido tanto da minha cabeça.

— Como assim, o que rolou entre vocês?

Aproveitando que só tinha a gente no dormitório contei a ele sobre o que rolou entre mim e ela perto do lago enegrecido. Deixando claro que a gente acabou se beijando… que no caso eu acabei beijando-a.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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