A Herdeira dos Black escrita por Akanny Reedus


Capítulo 25
Amigos de verdade




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Ninguém na Torre da Grifinória dormiu naquela noite. Fui uma dessas pessoas que ficou com o resto dos alunos na comunal, sentada em uma poltrona com Taran em meu colo e ao contrário de todos ele estava dormindo, afinal o que ele faria? Melhor é aproveitar os carinhos extras que está recebendo. Só que também não nego que em um momento ou outro quase fechei os olhos, mas não o faria e nem ia sair enquanto a professora McGonagall não aparece.

Mesmo com tudo estado uma merda, mesmo que eu estivesse na minha focada apenas em acariciar as orelhas do meu gato, ainda tinha um povo que estava testando de forma errada a minha paciência.

Como sempre meu nome era o centro das atenções, o tema principal das fofocas, mas dessa vez não eram ditas por minhas costas e nem comigo longe da área. Isso tudo fez meu humor estar na pior fase, estava odiando absolutamente tudo, principalmente, o meu progenitor. Eu o odeio! Maldito! Homem maldito que me foi sair de Azkaban, que me entrou onde deveria, maldito por ter me dado seu sobrenome e maldito por tudo… Preferia mil vezes o sobrenome da minha mãe ou de qualquer um… Lupin mesmo não é ruim, mas claro que tinha que ter o mesmo daquele escroto.

Havia fechado meus olhos para tentar me focar em outras coisas, cabeça apoiada na mão com o cotovelo apoiado no braço da poltrona, enquanto com a outra mão acariciava Taran. Lentamente abri-os quando ouvi de novo os cochichos. Olhei irritada para um canto da sala onde tinha as mesas de estudos. Não bastava eles serem uns irritantes e ainda tinham a cara de pau de apontarem o dedo para mim, como se fosse uma otária e não repara-se em nada.

— Continue apontando o dedo para mim que vou enfiá-lo no único buraco que você tem… — ameacei friamente para o branquelo idiota com cara de sabichão. — É de você mesmo que estou falando!

O idiota tentou disfarçar, mas não funcionou tanto que minhas palavras chamaram atenção de todos. Senti os olhares de todos em minha direção. Grunhi, sem mais paciência nenhuma me levantei com Taran no colo que acabou despertando. Ia seguir meu caminho para a escadaria dos dormitórios femininos, porém fui impedida por alguém que se atreveu a tirar satisfação comigo. O que é uma péssima ideia…

— Sabemos perfeitamente que é um Black.

— Uma Black — corrigi. — Afinal eu tenho vagina e não um pinto.

Ele se silenciou.

— Idiota… — murmurei antes de me virar para tentar subir as escadas.

— Não se faça de boba que sabemos que você é parente daquele homem — voltou a dizer o idiota. Ele veio se aproximando e eu o encarei sem um pingo de paciência. — Só pode ser você que está ajudando o Black a entrar. Ele é algo seu.... deve ser até o seu pai.

— O que foi que disse?

— Que ele é o seu pai e está ajudando-o!

Eu o encarava furiosa, cara feia e me segurando para não sair para cima dele.

— Era só essa que me faltava — disse com um riso forçado. — Como foi que conseguiu sair do útero da sua mãe? Eu não estou ajudando ninguém e não sou absolutamente nada daquele homem! E eu já te mandei baixar esse dedo antes que enfie no seu buraco dos fundos!

— Você não é ninguém para me mandar o que fazer! — ele rebateu, estufando o peito. — Não tenho medo de você, Black.

— Péssimas palavras… não se assuste quando você começa sentir ratos saindo por sua boca, mas saiba que o intervalo é de 15 segundos.

Sorri satisfeita quando vi a cara de horror que ele fez. Melhor não foi só aquilo como a sala ter se mergulhado em exclamações de nojo. Isso acabou sendo uma música para os meus ouvidos, isso sim.

— Só não faço isso agora porque o Taran está nas minhas mãos e sua sorte é que a varinha está também no meu quarto, então… Mas só aguarde, ok?

Ia me virar para subir as escadas, só que mais uma vez não consegui por conta das palavras que foram sendo ditas em voz alta por vários cantos da sala.

— Você não deveria estar aqui!

— Você é cruel como Sirius Black!

— Você não é bem-vinda a Grifinória!

— Seu lugar é na Sonserina!

.

.

.

Tremia. Fechei os olhos para respirar fundo, meu sangue fervia e meus punhos se fechavam com força. Eu nunca desejei tanto a tragédia de todos como agora, nunca tive tanta vontade de azarrar todos a ponto de pararem na ala hospitalar. Dane-se a cabeça dá alguns virassem balões… eu só queria ferrar todos eles por cada palavra, queria ferrar com Sirius Black por me colocar naquela situação.

— Calem a boca! — berro furiosa, olhando todos como se fossem saco de merda. — Calem a boca, vocês não passam de uns idiotas! Vocês não me conhecem, não sabem quem sou, então calem a boca e se vocês se acham tão dignos da Grifinória deveriam então ser mais corajosos para… Se acham que Godric Gryffindor está orgulhoso de vocês? Acho que não.

Respirei fundo e suspirei.

— Francamente não vou ficar perdendo meu tempo com vocês, vou dormir que ganho mais do que ficar ouvindo palavras de idiotas.

Vi que todos me encaravam sérios, alguns como se fosse uma peste, mas não liguei. Dei de costas, e subi as escadas pisando duro, claro que nada impediu de ouvir mais merdas durante o caminho.

— Chapéu Seletor errou feio quando a mandou para a nossa casa. Ela deveria ter ido para Sonserina é mentirosa e cruel — disse uma voz masculina.

— Ela não é nada disso — retrucou uma voz conhecida.

— Como é que tem certeza disso, Harry?

— Porque ela é minha amiga e eu acredito nela! — exclamou Harry firme.

— É isso aí, eu também acredito nela. Vocês a provocaram, falando o que não deveria — berrou Rony. — Susana também é a minha amiga.

— E minha também!

— Não se esqueça de mim, Jorge, ela também é minha amiga! — exclamou Fred. — Mais amiga minha do que sua.

— Vai sonhando Fred.

— Vai sonhando os dois que eu sou mais amigo dela — disse Lino do nada.  — Vocês dois são tão ingênuos.

E assim se iniciou uma conversa animada vindo dos gêmeos, Lino, Harry e Rony.

Sorri, puxei Taran mais para perto o abraçando forte, enquanto senti meu coração se aquecer. Além do meu coração bater forte e muito contra minha vontade, senti uma lágrima escorrer pelo canto do meu rosto. Acho que nunca senti aquela sensação estranha, nunca tive pessoas me defendendo, sempre me defendi sozinha.

Será que essa era a sensação em ter amigos?

 

Como era domingo não me preocupei com a hora, então dormi até a hora do almoço. Quando me arrumei e desci para o Salão Principal vi o quanto muita coisa mudou em questões de horas.

A segurança do castelo ficou mais rigorosa; via o Prof. Flitwick, as portas de entrada do castelo, ensinando a reconhecer uma grande foto de Sirius Black; Filch, de repente, andava para cima e para baixo nos corredores, pregando tábuas em tudo, desde minúsculas fendas nas paredes até tocas de camundongos. Sir Cadogan para minha felicidade foi demitido. Repuseram seu retrato no solitário patamar do sétimo andar e a Mulher Gorda voltou ao seu lugar. Foi completamente restaurada, mas continuava nervosíssima e soube que só concordaria em voltar ao trabalho com a condição de receber mais proteção.

Um bando de trasgos carrancudos tinha sido contratado para guardá-la.

Eles percorriam o corredor em grupo ameaçador, falando em rosnados e comparando o tamanho dos seus bastões.

O que achava uma grande idiotice, mas o que poderia fazer, são trasgos.

Harry não pôde deixar de reparar que a estátua da bruxa de um olho só, no terceiro andar, continuava sem guarda nem bloqueio. Parece que Fred e Jorge tinham razão em pensar que eles, e agora Harry, Rony, Hermione e eu éramos os únicos que conheciam a passagem secreta que a bruxa dava acesso.

— Vocês acham que devemos contar a alguém? — perguntou Harry para Rony e eu.

— Não — respondi.

— A gente sabe que Black não está entrando pela Dedosdemel — disse Rony, justificando o meu não.

— Saberíamos se a loja tivesse sido arrombada — completei.

Harry assentiu. Acho que ele ficou contente em saber que pensámos como ele.

Uma das coisas que não teve como reparar era que Rony se transformara numa celebridade instantânea. Ele tinha até mais atenção que o Harry, pois convenhamos que Harry é mega famoso, tanto em Hogwarts como em todo mundo bruxo. Todo mundo conhece Harry Potter. Da última vez que perguntei como Rony estava ele me respondeu que estava bem abalado com os acontecimentos na comunal, mas pelo jeito ele ficava feliz de contar a quantos perguntassem o que acontecera, com riqueza de detalhes.

—... Eu estava dormindo e ouvi barulho de pano cortado e achei que estava sonhando, sabe? Mas aí senti uma correnteza de ar... Acordei e vi que o cortinado de um lado da minha cama tinha sido arrancado... Me virei... E vi Black parado ali... Como um esqueleto, os cabelos imundos... Segurando um facão comprido, devia ter uns trinta centímetros... E ele olhou para mim e eu olhei para ele, então soltei um berro e ele se mandou.

Enquanto um estava se dando super bem, outro conseguiu cair em total desgraça, Neville. Preciso me lembrar de nunca irritar a Profª McGonagall. Ela estava tão furiosa com o garoto que o baniu de todas as futuras visitas a Hogsmeade, lhe dera uma detenção e proibiu todos de lhe informar a senha da torre. O coitado era obrigado a esperar do lado de fora da sala comunal, todas as noites, até alguém deixá-lo entrar, enquanto os trasgos da segurança caíam dele. Confesso que quase cheguei perto em contar a senha nova para o Neville, mas acabei não dizendo nada por causa da própria McGonagall que percebeu os meus planos. Beleza que ele foi um idiota, mas ainda tinha um coração e não estava curtindo tanto a tamanha humilhação que passava. Já basta as aulas de Poções que Snape fazia da vida dele um inferno. E para piorar, nenhum desses castigos, porém, chegou nem próximo do que a sua avó lhe reservara. Dois dias depois da invasão de Black, ela mandou a pior coisa que alguém podia receber na hora do café-da-manhã: um berrador.

As corujas da escola entraram voando pelo Salão Principal trazendo o correio, como de costume, e Neville se engasgou quando uma enorme coruja pousou diante dele com um envelope vermelho preso no bico.

Estava sentada ao lado dele, Rony e Harry de frente, reconheci imediatamente que era um berrador.

— Apanha ela logo, Neville — aconselhei.

Neville não precisou que lhe dissessem duas vezes. Agarrou o envelope e, segurando-o à frente como se fosse uma bomba, saiu correndo do Salão em meio às explosões de riso da mesa da Sonserina. Não teve como não ouvir a voz da avó do Neville, com o volume normal magicamente ampliado cem vezes, brandava que ele envergonha a família inteira.

Senti uma enorme vontade de tacar meus cereais na cara de algum Sonserino, contudo meu estômago falava mais alto.

Colocando uma colher de cereal, a coruja de Harry pousou na mesa com uma carta para o dono.

— Ai! Ah... Obrigado, Edwiges.

Parece que eu não era única com a mente em outro mundo.

Harry rasgou o envelope enquanto a coruja se servia dos flocos de milho de Neville. Harry e Rony leram a carta ao terminar Rony disse:

— Ele provavelmente quer saber as novidades sobre Black.

— Quem? — perguntei um pouco curiosa, mesmo odiando ser enxerida, só que saiu automático.

Harry apenas me mandou o bilhete que tinha recebido. Peguei o pedaço de pergaminho que dizia:

 

Caros Harry e Rony,

Querem vir tomar chá comigo hoje à tarde por volta das seis?

Irei buscar vocês no castelo.

ESPEREM POR MIM NO SAGUÃO DE ENTRADA; VOCÊS NÃO PODEM SAIR SOZINHOS.

Abraços, Hagrid.

 

— Você vem com a gente? — perguntou Harry depois que baixei a carta.

— Não, Hagrid convidou apenas vocês.

— Ele não se importaria se fosse com a gente… — diz Rony.

— Acredito, só que mesmo assim é melhor não.

— Então o que vai ficar fazendo o dia todo?

— Estudando.

— Sério? — Rony me olhou com a sobrancelha arqueada.

— Super — disse rindo da cara de abismado dele e de Harry. — Tem atividades para fazer e vou tentar dar uma bisbilhotada na biblioteca.

Não disse nada mais que a pura verdade, realmente não importei de estarem chamando apenas eles dois e que não fui inclusa. É até compreensível, afinal não tenho tanta aproximação com nosso professor de Trato das Criaturas Mágicas como Harry e Rony.

Da mesma forma que não menti em não me importar, também não menti na questão dos estudos. Alguns me acham nem ai com tudo, mas não é verdade porque eu gosto de estudar e me sentir inteligente. Gosto de saber o que responder quando me perguntam, então o fato de ser dedicada aos estudos é por que gosto e é algo que meu padrinho nunca teve que reclamar.

No entanto, consegui me dedicar para valer nos estudos quando os garotos saíram para se encontrar com Hagrid às seis horas da tarde como o combinado. Decidi continuar os estudos na biblioteca porque era impossível estudar n a Sala Comunal com aquele povo chato fazendo barulho. Me xinguei quando me dei conta no meio do caminho que esqueci meu dicionário de runas no quarto.

Passando novamente pela passagem da Mulher Gorda, quando ia colocar os pés para subir ouvi soluços. Parei, olhei em volta tentando encontrar o local dos soluços baixinho. Então encontrei, entre as pilhas de livros, uma breve montanha de cabelos com a cabeça baixa.

Era Hermione. Pensei muito antes de falar algo, até me virei pra ir embora, mas desisti e acabei perguntando.

— Por que está chorando, Granger?

— Não é nada — ela respondeu com a voz abafada, levantando o rosto e enxugando as lágrimas.

— Ok! Tchau... — Dei de ombros.

Pelo menos fiz minha parte, fiz um papel de pessoa legal.

— Espera — pediu do nada Hermione.

Parei de costas e voltei a encará-la.

Hermione se levantou; fiz um sinal para ela continuar.

— Percebi que nesses últimos dias você anda se dando muito bem com o Harry e o Rony — dizia com os olhos vermelhos, resultado de tanto choro. Ela deve ter chorado bastante. Só que não é essa questão e sim o que ela disse.

A olhei sem entender.

— Não é só desses dias que reparei, mas de sempre… desde você sabe e parecem felizes. Ficou até do lado deles…

— Hum… Acho que estou entendo o significado da conversa. Por acaso está com ciúmes?

— Não — negou Hermione rapidamente.

— Então é saudades?

Ela não me respondeu e levei aquilo como um sim.

— Você sente saudade dos dois. Sente saudades de andar junto com eles, eu vejo isso estampado no seu rosto, você tenta esconder, mas eu vejo e sei que é isso. Acima de tudo você ainda os considera amigos.

— Não acho que eles me veem, mas dessa forma — disse ela em voz baixa. — Agora a amiga deles é você…

— Para de dizer asneiras, Hermione — disse revirando os olhos. — É claro que você ainda é amiga deles, bom ao menos acho que o Harry ainda se importa, mas o Rony precisa entender que ele está chateado. 

Ela me lançou um olhar triste.

— Desculpa te dizer isso, mas se você está passando por tudo isso a culpa é sua. Não que o Rony esteja corretíssimo, mas você nem sequer parou para pensar o lado dele na história?

— Eu…

— Perebas era o bichinho de estimação dele, ele gostava daquele rato e você via o quanto que o Bichento ficava no pé dele. Mesmo depois do que rolou com o Rony te esfregando as provas na sua cara, você nem se quer admitiu o erro. Ele mesmo disse que “se ao menos ela admitisse…”, mas não é isso que está fazendo.

— Ok, eu entendi que está falando isso porque agora está do lado dele e vai culpar o Bichento de tudo… Rony sempre ficou perseguindo o Bichento. Sempre!

— Perseguia com razão, né? — rebati seria. — Afinal o seu gato não deixava o rato dele em paz! E mesmo vendo isso nunca se esforçou para afastar o Bichento.

Um silêncio pesado se instalou entre nós duas.

— Talvez se não fosse tão teimosa agora estaria andando com eles dois — disse respirando fundo. — Eu não tenho muito direito em falar sobre orgulho etc. pois meu orgulho não é o melhor exemplo. Mas só o que te aconselho é pensar um pouco, colocar tudo isso que aconteceu em ordem. Harry mesmo é alguém que está arcando com as consequências, pois você acabou o atacando sem motivo algum.

Hermione não me disse nada, sua expressão se tornou de choro, várias lágrimas derramavam.

— Eu só queria meus amigos de volta — ela murmurou com a voz abafada pelo choro.

— Então vá atrás deles — aconselhei em voz baixa —, pois eu tenho certeza de que eles não deixaram de ser seus amigos.

Ela enxugou as lágrimas persistentes.

— Agora só um último conselho é: se você não está preparada para isso, falar, admitir o que tem que admitir, então se dê um tempo. É aquilo como disse; eu te entendo porque também sou dessa forma e muitas vezes, mesmo sabendo que estou errada, eu continuo negando. Mesmo que ainda cometa esse erro… eu tenho uma plena noção que isso de alguma forma machuca os outros.

Não a esperei responder, virei logo para sair, no entanto foi impossível não ouvir o discreto obrigada, vir dela.

 

(...)

 

Minha ideia inicial em vim para a biblioteca é porque se trata de um lugar silencioso e vazio, principalmente aos domingos, mas parece que justo hoje todo mundo pensou em fazer o mesmo que eu. Nunca tinha visto essa biblioteca lotada como agora, só que o lotado estava mais nos lugares, precisei ter muita calma e paciência para encontrar um lugar vazio — de preferência uma mesa.

Felizmente consegui encontrar uma bem ao fundo da biblioteca, sem ninguém sentado, então pude espalhar todas as minhas coisas e ter a mesa só para mim. Só que a felicidade dura pouco, pois logo ouvi vozes femininas se aproximando.

— Vamos ficar aqui mesmo, não temos escolhas — comentou uma das garotas.

Ouvi a cadeira se arrasta e uma segunda voz disse:

— Será que poderia tirar os pergaminhos da cadeira, por favor?

Decidi olhar para a dona da voz que se tratava de uma das garotas da Sonserina que andava com a Buldogue. Depois olhei para a garota ao lado dela, que era a tal prima da Madame.

— A maioria das mesas estão cheias e só tem essa com lugares vagos — explicou a morena.

— Tracy, esquece — disse a loira —, vamos deixá-la em paz. Black não é uma pessoa muito adorável. Vamos encontrar outro lugar…

— Só que não tem…

— Para verem como sou muito boazinha vou deixar que se sente — disse um tanto sarcástica.

Retirei os pergaminhos da cadeira, e afastei os livros e tudo que tinha deixado na outra parte da mesa. Não estava com paciência para brigar e nem nada, tudo que queria era terminar logo esse enorme trabalho de Runas Antigas. Só não garanto nada se as duas me encherem o saco… Madame Pince que me perdoe, mas vou tacar esses livros na cara delas.

Graças a Merlin nenhuma das duas me disse uma única palavra, só ficaram cochichando sobre si sobre um assunto bem íntimo. Devo ressaltar que era íntimo até demais…

— Jessica não repete o que já te disse antes. Você está sendo muito boba, desculpa dizer isso, mas ele está sendo um idiota — iniciou a tal Tracy. — Você não é obrigada a absolutamente nada. Nem idade você tem para fazer… o que ele quer que você faça.

— Só que ele não está me obrigando, ele apenas…

— Claro ele está só te assanhando — disse a outra irônica. — Nunca pensei que o Lance fosse esse tipo de cara, ficar insistindo sobre algo que ele deve saber muito bem que não é certo.

— E se eu o decepcionar. Decepcionar minha família, não quero cometer o mesmo que… Meus tios dizem que preciso ser próxima dele.

— Próxima não quer dizer fazer algo que você não quer e que vai te marcar pelo resto da vida — disse do nada.

A minha intenção não era me intrometer no assunto. Não queria passar de enxerida, e mesmo não tendo nenhuma aproximação com a outra, mesmo a desprezando não conseguia deixar de dizer o quanto aquela situação que ela foi posta era ridícula. Se torna mais escroto quando se trata de um garoto que já deve ter chegado nos dezessete anos.

As duas devem ter me encarando em seguida.

— Desculpe dizer isso, mas esse seu tal namorado é um lixo — disse do nada, olhando para o meu pergaminho e escrevendo.

— Cale a boca, e não se mete onde não foi chamado — disse Hopkins friamente.

Decidi encará-la, baixei minha pena e a olhei naturalmente.

— Concordo que não é assunto meu e nem deveria me meter, mas é impossível não escutar e se sentir já no assunto. Então acabei me sentindo no direito de opinar — digo.

Hopkins, no entanto, continuava de cara amarrada.

— Enfim, sei que estamos bem longe de ser amigas ou algo do tipo, mas vou te dizer o que acho sobre toda essa sua situação. Além de achar a diferença de idade grande, acredito que se ele realmente gostasse de você, não ia ficar nesse desespero para te levar a perder algo que depois não se recupera. Sem contar que é um risco de você já ir direto para o casório dependendo do resultado — sorri.

— Fala como se entendesse do assunto — disse ela, debochada.

— Não entendo — respondi, balançando os ombros. — Não tenho idade para isso, inclusive nem tenho idade para falar sobre você também não tem.

— Você não sabe de nada, pouco me importo com o que acha…

— Eu… hm — olhamos para tal da Tracy (descobri o nome por causa da loira). — Eu concordo com a Black, Jess.

— Tracy…

— Desculpe, mas ela tem razão — diz ela.

Sorri satisfeita contando um ponto para mim.

— Jess, não faça algo que vai se arrepender, pode não gostar dela, mas ela disse sábias palavras e acho que deveria levar em conta.

A loira não respondeu nada, apenas virou a cara, acho que irritada de receber nenhum ponto a favor.

— Escute, se isso te faz sentir melhor, eu também não gosto de você — disse, voltando em seguida para minha atividade.

No fim, acabou que as sonserinas e eu conseguimos ter uma convivência muito boa. Hopkins foi ainda um problema, mas ela foi quebrando aos poucos o gelo e não demorou para entrar na conversa que tinha com Tracy Davis. Tentei não me focar muito quando elas conversavam entre si, eu queria mesmo é terminar logo a minha tarefa. Essa foi sem dúvida a primeira conversa tranquila que tive com alguém da Sonserina, por mais que Hopkins e eu no meio da conversa soltávamos faísca uma para outra.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?



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