Lola procurou Steve por todos os cantos. Finalmente o encontrou numa das sacadas da mansão que abrigava sua festa.

Ele descansava as duas mãos no parapeito de gesso, estava pensativo encarando o jardim iluminado metros abaixo dele.

– Não esperava que viesse. - Foi a única coisa que a Stark conseguiu dizer para chamar a atenção dele enquanto se aproximava.

– Eu não vinha. - Steve Rogers respondeu tentando disfarçar a sua voz de mágoa diferenciada ao virar momentaneamente o rosto para descobrir quem o abordava.

Lola pôs-se ao lado dele encarando o jardim, também pousando as mãos no gesso acinzentado.

– Pensei que estivesse irritado demais comigo para fazer isso.- Ela disse.

– Irritado não. "Decepcionado" talvez seja a palavra certa. - Steve foi sincero.

– "Decepcionado"... - Lola repetiu como se a palavra fosse um punhal. De algum modo, saber daquilo a entristecia, ela preferia que ele estivesse com raiva. Preferia que fosse rude novamente.

Nenhum dos dois disse qualquer palavra por um bom tempo enquanto ainda encaravam o jardim em sua frente. Rogers remoia coisas recentes misturadas com coisas mais frescas ainda, quando explodiu uma pergunta:

– Por que ele?

– Do que você está falando? - Lola foi tirada de seus próprios pensamentos.

– Loki... Por que você o escolheu para compartilhar algo tão especial? - Steve virou o rosto para visualizar o perfil da morena.

– Não espero que você entenda. - Lola disse. Ela acreditava que era óbvio e Rogers adivinhava muito bem do que aquilo se tratava. Pena. Compaixão. Amizade. Condescendência. Um adeus.

– Não entendo mesmo, você está certa... Não entendo como pode gostar de um assassino... Ele matou centenas de pessoas... - Ele disse voltando a olhar para frente.

– O que não é nada diferente do que você fez desde que se transformou num super soldado e começou a lutar... A diferença é que o seu motivo de matar era, e é, o mais bonito e aceitável de acordo com o senso comum. Você tira vidas e é um herói. Loki tira vidas e é um vilão... - Lola disse começando a encarar a silhueta dele.

Ao ouvir aquilo, Rogers ficou boquiaberto. Em quantas mais besteiras ela podia acreditar? Que tipo de noção errada de vida se formou dentro dela?

– É assim que você pensa? - Seus olhos azuis se encontraram sobressaltados com os olhos dela.

– Não exatamente dessa maneira crua... Só sei que é tudo relativo na vida e que todos temos diversas facetas. Eu apenas gostei da que conheci dele. - Lola fugiu do olhar de Steve virando o rosto novamente para a frente.

Rogers permaneceu firme olhando-a. Ela era louca? Pior! Ela estava apaixonada por um inimigo declarado de todo o planeta Terra! Só podia ser isso! Por qual outro motivo ela trocaria o primeiro beijo com aquele monstro?! Ela amava aquele monstro! O que Loki tinha que ele não tinha?

– E eu não sei se gosto dessa faceta sua que estou começando a conhecer... - Steve disse voltando suas vistas para as luzes do jardim, foi a vez dela encara-lo nesse jogo de viradas de cabeça involuntário em que haviam se metido.

As palavras de Steven fizeram um nó amargo surgir na garganta de Lola, doía ouvir aquilo o tanto quanto doía para ele dizer, mas Rogers tinha que o fazer. Ele precisava ser rígido com Lola, porque aparentemente ninguém na vida dela havia tomado esse papel, e ela precisava entender o quanto seus pensamentos e ações estavam equivocados.

– Que ótimo que pensa assim, Rogers... Isso só facilita as coisas para todo mundo. - Lola não parou de encara-lo, o nó em sua garganta só aumentava enquanto notava que Steve não retiraria o que tinha falado, o amargor se tornou em vontade de chorar, mas ao invés de se permitir derramar lágrimas, ela deu um jeito de transformar aquilo em mais mágoa e raiva.

– O que quer dizer com isso?... "Facilita" o quê? - Steve e ela se encaravam novamente.

– Que você não precisa se preocupar em detestar ou não todas as minhas facetas, porque eu decidi que quando minha suspensão da S.H.I.E.L.D. acabar eu não vou voltar para lá. Chega para mim! Não nasci para ser uma heroína, e sei que não farei falta, no final das contas, eu não sou uma Vingadora mesmo. - Lola deu ênfase na última frase parafraseando as próprias do grito que o Capitão dera para ela enquanto estava incitado pelo cetro de Loki.

Steve se sobressaltou mais uma vez. O quê?! Não! Não era o que ele queria! Ele queria ensina-la o que é certo e errado verdadeiramente, queria tê-la por perto mesmo estando chateado, mas... Pensando bem... Lola amava Loki, Steve tinha que aceitar isso, e talvez manter distância fosse o melhor para todos.

– Talvez seja uma das decisões mais sábias que você tomou ultimamente. - Steve disse voltando a olhar a paisagem.

Lola ficou surpresa. Como assim não havia tentativa nenhuma de fazê-la mudar de ideia? Isso só podia significar uma coisa... Para Steve não faria diferença alguma, ele simplesmente não se importava... E de repente ela queria chorar novamente, mas não, não choraria! Ela honraria seu sobrenome até o fim.

Os dois ficaram em silêncio um pouco, digerindo seus pensamentos, até que Lola se pronunciou.

– Então... Adeus, Capitão América. - Ela se desencostou do parapeito e já começava a sair quando num impulso, Steve a segurou por um braço fazendo-a encara-lo surpresa, e com expectativa do que quer que ele fosse falar ou fazer. Ela chegou até a sonhar que ele a pediria para não fazer isso e voltar quando a suspensão acabasse.

O aperto no braço de Lola foi tão forte que ela sentia quase uma pitada de desespero vindo de dentro dele; sentia que se fosse desfalecer e todo seu corpo amolecesse, apenas a mão firme dele seria capaz de mantê-la em pé. Ah! Como ela queria que ele a puxasse com mais violência e para mais perto ao passo que diria não permitir que ela não se afastasse nem agora e nem nunca.

"Mas que porcaria era aquela?!", Lola tentava entender a fantasia instantânea que a invadiu. Por que ela pensou aquilo? Por que ela desejou que ele fosse ríspido e fizesse comandos que ela se negaria de início, mas adoraria obedecer?

Steve abriu a boca e gaguejou sem soltar som algum, seu olhar parecia que ia fazer exatamente o que ela desejava, entretanto algo passou na mente dele e o fez soltar o ar dos pulmões e a mão do braço dela.

– Adeus. - Ele disse voltando a se debruçar na sacada. Foi um balde de frustração e mais mágoa caindo sobre a Stark.

Não era um adeus de verdade, eles sabiam que se encontrariam novamente em algum momento, afinal ela não deixaria de ser a irmã do Homem de Ferro e, ele e Tony continuariam trabalhando juntos. Mas aquele adeus significava um grande afastamento entre eles e talvez o fim da "amizade" que compartilhavam.