Inesperada Interação

Kaline Bogard

Parte 02 de 02

Derek voltou-se para Stiles e sorriu pela primeira vez. Um sorriso arrogante e cheio de si, exibindo uma fileira de dentes brancos. Um sorriso perfeito. Desceu um degrau, tomando espaço.

– Garoto, eu sou um Alpha – ele ergueu a perna, acertando um golpe violento contra a fechadura, quebrando-a e abrindo a porta com a facilidade de quem parte um palito de fósforos. Sentiu-se intimamente satisfeito ao ver a expressão impressionada de Stiles – E luto karate.

– - -

– Venha – Derek chamou, tirando Stiles de seu estupor.

Assim que pos o pé na cozinha, Hale sentiu o peso do olhar de Aiden e Ethan sobre si. Ambos os Alphas permaneciam sentados à mesa, segurando latinhas de cerveja. Eles pareciam surpreendidos. Evidentemente não esperavam que a porta fosse arrombada por um companheiro.

Logo notaram a figura magrela do Omega aparecer atrás de Derek, tentando espiar por cima do ombro do rapaz. Aiden ficou em pé.

– Ei, esse Omega é nosso!

A frase saiu meio rosnada e fez a expressão de Derek Hale se fechar, enquanto o garoto atrás de si se encolhia de leve temendo acabar com o olho direito socado, para combinar com o esquerdo.

O Alpha mais velho estreitou os olhos.

– Não. Esse Omega é meu. Se eu souber que se aproximaram dele outra vez vão se arrepender por um longo tempo – praticamente rosnou de volta.

Aiden ainda fez uma careta, mas o outro gêmeo, conhecidamente a metade com bom senso, levantou-se e tocou no ombro do irmão. Ter a atenção negativa de um Hale não era algo que desejasse. Derek era aluno de Direito, cheio de conexões e um campeão em várias competições de karate. De qualquer ângulo que se olhasse não podia terminar bem para eles, caso desafiassem o outro Alpha.

– Sacamos, Derek – Ethan afirmou conciliatório – Não chegaremos nem perto do seu Omega.

– E espalhem esse recado para os outros – Hale foi falando e caminhando em direção à saída da cozinha, sabendo que Stiles o seguiria – Só avisando: rapto é crime. Se algum Omega for trazido para cá a força farei questão de incentivar um processo.

Deixou a ameaça no ar e manteve a porta para que Stiles passasse por ela. Lançou um último olhar frio e cheio de advertência para os gêmeos e saiu da cozinha.

Stiles esperava por ele na área. Então caminharam lado a lado em direção a garagem.

– Obrigado, cara – o garoto sorria aliviado – Mas só para constar: não sou seu Omega, nem de ninguém!

Derek assentiu de leve. A garrafa até então esquecida foi levada aos lábios sensuais e ele deu um gole no líquido âmbar. Observou brevemente a face pálida, permeada de pintas. Lindas pintas. Como gotas de chocolate na tez de mármore. Suspirando, o Alpha percebeu que precisava dizer alguma coisa.

– Sei disso. Mas agora eles vão te deixar em paz.

– Obrigado – repetiu.

Então chegaram à garagem e o queixo de Stiles foi ao chão. O espanto do menino deixou Derek satisfeito.

– É uma Ducati? É sua?! Santo Deus! Eu já vi essa belezinha no campus, mas não sabia de quem era.

– Sim, é minha. Quer dar uma volta? Te levo até sua fraternidade.

Com muito custo Stiles desviou os olhos da belíssima moto e mirou Derek, havia pesar em sua expressão.

– Você não pode – indicou a garrafa nas mãos do outro – Já bebeu o bastante por hoje, grandão. Nada de direção.

Derek ergueu as sobrancelhas em desdém.

– E você é o xerife? Nunca burlou as regras?

Stiles fez uma careta engraçada. Não contou que era filho do xerife da cidade e que aprendera com o pai que havia limites que jamais deveriam ser ultrapassados. Combinar álcool e direção era um desses limites. Que o chamassem de quadrado e antiquado por isso. Não se importava.

– Já quebrei as regras, Hale. Mas nunca coloquei a minha vida ou a de outras pessoas em risco por causa disso.

A reprimenda não irritou o mais velho. Pelo contrário.

– Me chame de Derek – deu um gole no whisky – Amanhã a noite vai ter um racha de motos. Quer ir comigo?

Stiles cravou os olhos castanhos na figura a sua frente. Já tinha ouvido falar que Derek Hale costumava sair por aí com garotas e garotos. E ele estava claramente dando em cima de si, o que não deixava de ser lisonjeiro.

Aproximou-se um passo e acertou um tapinha camarada no ombro do Alpha.

– Que tal isso: ao invés de ir ao racha você me pega na fraternidade com essa moto irada e eu te deixo me levar ao cinema e depois à uma lanchonete. Hum...? – com a proposta Stiles deixava claro que aceitava o flerte, todavia jogariam pelas suas regras.

Esticou os lábios em um sorriso que tinha pouco de confiança e muito de receio de ouvir um “não”. Mas foi um sorriso tão fofo que derreteu algo no coração de Derek e, de repente, o racha de motos parecia algo totalmente sem graça que deixaria de lado para gastar o tempo com aquele garoto a sua frente, sem hesitações.

Uma volta na moto. Cinema. Lanchonete. E, quem sabe, sorvete de flocos para encerrar a noite...?

– Parece ótimo – Derek concordou com o convite – Talvez um sorvete de...

Ao perceber o que estava dizendo o Alpha calou-se. Estivera a um passo de revelar o estranho fetiche que sentira ao conhecer o rapaz. Stiles e sorvete de flocos.

– Sorvete de...? – o menino soou curioso.

– Sorvete. Qualquer sabor está bom – desconversou.

Ganhou um sorriso muito mais espontâneo e sincero em retribuição.

– Pode ser. Obrigado pela ajuda com os caras, eu preciso ir agora. Então a gente se fala amanhã, grandão. Me pega as oito na sede da Omega.

– Vou te...

– Não precisa – Stiles cortou a oferta – Minha fraternidade fica perto. Chego lá de boa!

Enquanto falava já ia se afastando, acenando um adeus para o Alpha. Derek não acenou de volta, mas os olhos verdes tinham um brilho intenso, levemente escurecido. Ele levou a garrafa aos lábios e deu um longo gole, assistindo Stiles se afastar até que o menino saísse de seu campo de visão.

Só então se virou para o interior da garagem. Lembrou-se que não achara o lustrador no porão. Em contra partida encontrara algo muito melhor no lugar. Normalmente não daria nem um segundo olhar para um Omega. Seu currículo de conquistas incluía nomes de beldades Alphas, tanto da fraternidade feminina quanto da masculina. E ocasionalmente uma Beta mais exuberante.

O garoto que conhecera aquela noite não tinha a beleza estonteante de suas conquistas, algo artificial reforçado com quilos de maquiagem cujo preço podia pagar um ano do curso que Stiles escolhera. Também não aparentava o requinte e refinamento que Derek costumava ver em suas companhias.

Não. Mas aquele Omega tinha uma beleza natural e espontânea, um sorriso límpido e sincero. E um jeito estabanado com o qual Derek não estava acostumado. Um conjunto de pequenas coisas que chamara sua atenção. Pequenas coisas que queria conhecer melhor e desvendar...

Nunca tinha se sentido daquela forma antes, com ninguém.

Jamais sentira aquele formigamento no estomago... crescendo junto com a idéia de que gostaria, muito, de chamar aquele garoto de seu Omega.

–--

No dia seguinte se encontraram no horário e local combinado. Stiles, parecendo um urso panda com o olho arroxeado, vestia-se de forma incrivelmente nerd com a camisa xadrez por cima de uma blusa do Batman e calça jeans. Derek mantinha o estilo “motoqueiro do mal” com a jaqueta de couro preta e calça jeans rasgada.

Eles assistiram Spiderman 2. E Stiles jogou pipocas em Derek quando o rapaz fez um comentário pouco lisonjeiro sobre o traje colante do super herói. E os dois foram repreendidos quando começaram a brigar pela barra de chocolate que o Omega trouxera e não pretendia dividir com Derek. O Alpha nem gostava tanto assim de chocolate, só queria provocar o outro. E adorou a expressão chateada quando conseguiu tomar mais da metade do doce. Malditos Alphas, foi o resmungo de Stiles.

Depois do cinema foram à praça de alimentação do shopping comer alguma coisa.

Foi a parte da noite em que Stiles surpreendeu Hale novamente. O garoto comia muito! Ele era como um Troll socando o fast food na boca, parecendo temer que as batatas fossem sair correndo ou o hambúrguer fosse ganhar vida e desaparecer dali.

– Como...

– Como eu... consigo manter a... forma? – Stiles cortou a frase, falando de boca cheia – Pelo menos nisso... eu tinha que... ter sorte, né?

E enfiou mais batatas na boca, mastigando-as com fúria. A mesma fúria que Derek desconfiava que Átila, o Huno, dedicava aos inimigos. Era tão engraçado que o Alpha sorriu largo, antes de rir alto; pela primeira vez desde que conhecera aquele Omega tão singular. Certamente não pela última vez, se continuasse ao lado de tão exótica criatura.

Então Derek esticou o braço e passou o polegar pelo canto dos lábios de Stiles, recolhendo um pouquinho de catchup. Silencioso levou o dedo aos lábios e sugou o molho adocicado, sem desviar os olhos verdes do Omega em momento algum, deliciando-se internamente por vê-lo corar sem jeito.

– Nunca mais vou deixar que te machuquem assim – Derek sussurrou referindo-se ao olho roxo de Stiles, presente de um dos gêmeos. O menino apenas acenou com a cabeça, aceitando a oferta de proteção de bom grado.

Depois do jantar voltaram a subir na Ducati e Hale ganhou a estrada, dirigindo rumo à reserva florestal. Sentiu Stiles, cheio de coragem, passar os braços por sua cintura e aconchegar o peito em suas costas.

Logo chegaram a um espaço no começo da floresta, tranqüilo e deserto, onde podiam sentar e observar a grande lua cheia que dominava o céu noturno. Ela parecia tão próxima da Terra e tão perfeita...

Mal tinham se acomodado sobre a grama, com as costas contra um dos troncos de árvore, e Derek fez algo que estava desejando desde a despedida da noite anterior ao conhecer o Omega: passou uma mão pela nuca do garoto e o puxou para um beijo que foi prontamente correspondido. Um beijo forte e profundo, sedento. Que revelava o que ambos sentiam.

Ao se separarem Stiles encostou a testa contra a de Derek e sorriu, meio sem fôlego.

– Santo Deus, homem. Continue me beijando assim e eu vou começar a pensar em te deixar me chamar de seu Omega...

Hale rosnou algo em resposta que nenhum dos dois entendeu, em seguida puxou o garoto para uma nova rodada de beijos. Não ia dizer para Stiles que, secretamente, já o marcava como seu; antes mesmo que tivesse a permissão.

E Derek esqueceu completamente o sorvete de flocos, pois o gosto do garoto em seus braços era muito melhor!

Fim