A Odalisca escrita por Titina Swan Cullen


Capítulo 8
Capitulo 8


Notas iniciais do capítulo

Oieeeee, demorou, mas chegou.



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O que foi que você disse?- Emmet engoliu em seco olhando Edward vindo em sua direção. Depois para o olhar furioso do emir e para o sultão... imaginou quanto tempo demoraria para chegar até os portões ou a janela mais próxima.

Senhor a culpa não é minha. – achou por bem defender-se logo ante a ira dos dois homens.

Está vendo? Se algo acontecer com essa menina, você será responsabilizado! – rosnou o emir para o filho.

Nada vai acontecer com ela. Com certeza essa anta não procurou direito. – acusou o amigo – Ela está provavelmente com Zafrina na sala de costura. – O conselheiro balançou a cabeça negando.

Já estive lá senhor...e Zafrina estava sozinha na sala. Mandei ela e mais seis guardas procurarem por Isabella.

Sentindo o sangue subir pela cabeça, Edward segurou o conselheiro pela gola da túnica.

Impossivel Mohamed! Você e Zafrina são os únicos que tem permissão para andar com ela pelo palácio. Qualquer outro seria barrado pelos guardas. – lembrou do eunuco que deixara vigiando Bella. – Chame Erick, agora!

O conselheiro saiu imediatamente a procura do tal eunuco. Não queria estar na pele dele.

Carlisle falava sem parar, ralhando com o filho sobre suas ultimas e desastrosas atitudes. Todas as palavras era ouvidas apenas como zumbidos pelo sultão. Pois não conseguia mais discernir nada.

Al Badim começou a caminhar pelo salão ao redor das raríssimas obras de artes que decoravam o local. Vasos, quadros, tapeçarias e até parte das louças faziam parte do acervo de Cleópatra, herdados a séculos atrás pela família Al Badim.

Colocou a mão no queixo.

Onde raios ela poderia ter ido?

Imaginou milhões de suposições. Todas em apenas um segundo. O deserto era uma terra misteriosa e cheia de perigos. Bella não conseguiria viver um dia sem a ajuda de alguém.

Por Deus, onde ela poderia estar?

Não conseguiria sair dali sozinha nunca. Com certeza foi ajudada por alguém... mas quem ousaria passar por cima de uma ordem sua?

Emmet voltou a entrar na sala dessa vez sendo seguido pelos guardas e o eunuco Erick, que estava esbaforido com o peito subindo e descendo devido a corrida até ali.

O sultão apontou para um dos guardas.

Me dê sua arma!– ordenou. Sua ira era tanta que não duvidava que bastasse uma palavra errada para que matasse meia dúzia ali.

Edward , o que você está fazendo? – o emir indagou preocupado.

– Pai, por favor, eu não quero lhe faltar com respeito – disse em ingês - mas já pedi que não se meta nesse assunto. – pegou a arma estendida e apontou na direção do eunuco que se encolheu.

Qual a porra da maldita ordem você não entendeu quando eu disse para que mantivesse os olhos em Isabella? – uma raiva crescente já começava a borbulhar em seu peito... misturada com um sentimento muito estranho que nunca sentira em tamanha intensidade.

Erick deu passos para trás tentando se afastar da morte eminente.

Meu sheik, meu sheik...- pediu num fio de voz se ajoelhando – Perdoe-me, perdoe-me meu sheik .

Carlisle olhava aquilo tudo irado com o filho. Não poderia tirar seu comando na frente da guarda. O jeito era esperar para que ele não fizesse mais nenhuma merda.

O sultão pareceu não se abalar com a súplica do servo. Ao invés disso puxou o gatilho.

O tiro ecoou no grande salão e o eunuco gritou achando que tivesse sido atingido. Na parede, o buraco da bala.

Na próxima vez não serei tão clemente! Onde ela está?

Emmet sentiu uma gota de suor escorrer por sua testa. Ficou dividido entre tentar desarmar o amigo, desrespeitando seu senhor ou se jogar na frente do pobre servo para que não fosse atingido.

Erick não queria falar. Não queria entregar a amiga mas estava com sua vida em risco

Quem? – perguntou o sultão entredentes com o dedo já no gatilho.

Carlisle olhava apreensivo para os empregados e o filho. Algo como o modo em que olhava para o eunuco não deixava sombra de duvidas que atiraria.

Za...Zafrina meu sheik. Ela levou a odalisca para o estábulo.

A mão que segurava a arma já estava mais baixa e fora de foco. Zafrina era muito obediente. Quando ele nasceu ela já trabalhava no palácio. Porque ela teria lhe desobedecido? Sabia que o castigo por descumprir as leis de um sultão seria paga com a morte.

Edward! – ouviu o emir chamá-lo mas não se importou, pois já estava correndo em direção ao pátio central do palácio com os outros em seu encalço.

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Bella corria a todo galope. Fora fácil sair disfarçada do palácio. Como uma sombra. O cavalo já experiente com as areias fofas cavalgava num ritmo perfeito, num galope longo e apressado. Bella não era nenhuma amazona, mas em algumas viagens que havia feito com os pais no aras dos tios, aprendeu a montar.

A brisa fria batia contra seu rosto e fazia seus olhos arderem, pois já estavam irritados com o avanço da noite. Sabia que estava indo na direção certa, rumo as montanhas de Yruach. Eram pontinhos brilhantes na distancia.

Temia o que poderia encontrar lá mas não estava assustada. E quanto mais galopava mais eufórica ficava em se ver livre daquela jaula cristalina e envolvente que era o palácio; e que a cada dia ganhava um pouquinho de seu coração.

Não. Não poderia deixar se levar por isso. Era isso o que ele queria; que ela ficasse presa de corpo e mente naquele lugar.

Mesmo que o assento da sela fosse confortável, começou a sentir as pernas dormentes e com um agito das cordas forçou o cavalo a galopar mais rápido para que chegasse logo ao seu destino.

Sua fuga logo seria descoberta. Zafrina lhe dissera que pela manhã quando Laurent fosse lhe levar o café, daria o alarme e logo os guardas, motivados pelo medo do sultão, partiriam a sua procura. Fez bem em não ir pela cidade, buscar ajuda.

Seria o primeiro lugar que ele mandaria procura-la e eles seriam capazes de matar os cavalos de tanto correr, na determinação de encontra-la.

O vento açoitava a capa comprida e atirava areia sobre os rastros que o animal deixava para trás. O vento estava cobrindo as pegadas por onde passava e tamanha era sua vontade em sair logo dali que não percebeu que ele soprava com muito mais força naquelas primeiras horas do dia.

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Com ordens expressas para rondar por toda a cidade, cavalos e cavaleiros passavam em disparada pelas ruas e vielas de Cairo. Moradores tiveram que abrir suas casas para averiguarem se ela não estava escondida em nenhum local. Os locais que estavam fechados e abandonados foram arrombados.

O próprio sultão montado em Jafar galopava indo em direção as várias moradias e estabelecimentos das ruas próximas ao castelo. O turbante preto cobrindo-lhe o rosto deixava a mostra apenas os olhos escuros onde a fúria transbordava para quem se arriscava a olhá-lo.

Vasculhem a rua da feira! – ordenou Emmet ao lado do amigo.

Vou voltar para o palácio e vê se finalmente encontraram Zafrina. – avisou Edward.

Edward, lhe falo como amigo. Logo iremos encontrá-la e por isso não é necessário agir assim com a anciã. – disse o conselheiro se referindo a Zafrina. Temia que o sultão, cego pela raiva, agisse com brutalidade com a serva. Principalmente porque o emir, que estava ajudando nas buscas, não estaria lá para freá-lo.

Eu estou lhe pedindo conselhos? – perguntou ríspido com a voz seca. Emmet balançou a cabeça negando – Então os guarde para si. – firmou as botas no dorso do animal partindo em disparada para a subida montanhosa do castelo.

Quando chegou aos jardins do palácio Zafrina estava acompanhada por dois guardas, um de cada lado. Sua mãe e Rosalie estavam junto dela.

Edward, mande soltar Zafrina. – pediu a mãe já chorando sendo amparada pela nora. Temia pela mulher que durante toda sua vida de casada havia sido ama de leite de sua filha mais nova e principalmente, uma amiga. O sultão apenas lançou- lhe um olhar frio.

Ainda montado e com o lenço cobrindo-lhe o rosto, Edward perguntou.

Onde está Isabella? – indagou a serva.

Eu não sei meu senhor. A deixei no aposento...

Mentirosa! – berrou Al Badim – Foi vista no estábulo com ela. Pra onde a mandou?

Zafrina não temia pela vida dela, mas pela da neta. Se algo lhe acontecesse quem cuidaria da menina? Por outro lado não poderia acusar que foi a mando de sua senhora, a esposa do sultão.

Em seu silencio olhou para Rosalie e esta lhe retribuiu o olhar cheio de ameaças veladas. Foi apenas por um breve instante, mas para os olhos de águia de Al Badim não passaram despercebidos.

Exponham-na em praça publica! – ordenou o sultão aos guardas.

Nãooooo!– gritaram Zafrina e Esme ao mesmo tempo. Ser exposta em praça publica era uma das piores coisas que poderia lhe acontecer. Ficaria numa berlinda, com a cabeça e mãos presas. Passaria ali horas, dias ou semanas até que dessem a ordem para ser morta por apedrejamento.

Rosalie ainda abraçada a sogra tinha nos lábios um leve sorriso. Não esperava esse fim para a anciã. Mas pensou.

Antes ela do que eu.

Ao menos havia conseguido se livrar da mulher que rondava os pensamentos de seu marido.

Ela sabia o quanto a serva era valiosa para a família e o quanto sofreriam com a morte dela e no ultimo minuto, notou que não importava o preço a ser pago pela estrangeira.

O marido sempre pagaria.

Mesmo que tivesse que matar a velha. Por que ele se importava com ela, porque ele a queria.

Ele amava a maldita estrangeira.

Na mesma hora perdeu o sorriso. Olhou para o marido que durante todo esse tempo a encarava.

Edward voltou-se em cólera para ela. Saltou do cavalo com toda a imponência de um soberano e em passos largos alcançou a esposa. Segurou firme nos braços dela, vendo o terror colorir suas pupilas.

Nunca mais se meta no meu harém! – disse num tom ameaçador, jogando-a no chão.- É meu primeiro e último aviso. – sua voz era fria e cortante. Virou-lhe as costas e seguiu em direção ao grupo de guardas que chegavam.

Humilhada, com o orgulho ferido. Rosalie não aceitou a mão de Esme para se levantar. Ao contrário, queria sentir a solidez e frieza das pedras daquele chão para se lembrar com clareza de tudo o que o sultão a fez passar. E sorriria ainda mais quando ele só encontrasse o corpo gélido e sem vida da odalisca nas areias do Deserto.

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O emir, relutante, resolveu auxiliar os guardas nas buscas por Isabella. O filho andava de um lado para o outro como uma bomba relógio prestes a explodir e Carlisle achou por bem dos demais que ele o ajudasse.

Queria agora mais do que nunca conhecer essa moça. Seu filho era sempre tão controlado e imaginou como seria a mulher que o fizera perder tanto o domínio sobre seus atos.

Com o mapa aberto sobre a mesa, junto com os chefes da guarda, distribuía seu pessoal em pontos estratégicos. Ela não poderia estar tão longe afinal era uma completa alheia ali no deserto.

Por outro lado não sabiam quais perigos estaria enfrentando. O que poderia ser desde uma picada de escorpião até com o próprio James e seus capangas.

Seja como for teremos que esperar a tempestade passar, senhor. – anunciou o guarda.

Mas que merda vocês estão pensando? Eu disse que era pra voltar apenas quando a encontrassem.

– Mas senhor está vindo uma tempestade – apontou para o horizonte onde relâmpagos iluminavam o céu.

Al Badim travou o maxilar.

Só faltava essa.

Com toda a merda, preocupado com a fuga de Bella não se atentou para as nuvens pesadas que se aproximavam. Tinha que encontra-la o quanto antes. Como um líder não poderia por mais em risco a vida de ninguém.

Isso é o que acontece quando o homem deixa a porra de uma mulher dominá-lo. – murmurou para si lembrando-se das palavras de seu avô.

Se um homem um dia quisesse se perder, bastava permitir que uma mulher o guiasse.

Maldição!– montou em Jafar e trotou em direção as areias do deserto.

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O céu colorido com o prenuncio do amanhecer tinha um tom cinzento estranho e ameaçador. À medida que as horas passavam a vastidão do deserto exercia em Bella, um efeito hipnótico sobre seus nervos.

Continuou olhando a formação rochosa e percebeu que já devia ter chegado lá. Pelo contrario, elas ainda estavam tão distantes como no começo quando saiu do palácio.

No momento que fez uma breve parada para beber um pouco de água e descansar o animal resfolegante, olhou em volta de si e percebeu que as dunas estavam escurecendo em certos lugares, tudo estava estranhamente calmo e parado embora o assobio do vento sobre a areia, tivesse tornado mais alto nos últimos minutos.

Segurando com firmeza as rédeas do cavalo, Bella olhou novamente para as montanhas que Zafrina lhe indicara. Estavam agora azuladas pela atmosfera do deserto. Tão próximas e ao mesmo tempo tão distantes.

– Onde nós estamos? – murmurou com o animal esperando a essa altura que ele lhe respondesse.

Puxou a rédea levemente e o cavalo partiu a galope. Meia hora depois as primeiras gotas de chuva caíram sobre seu rosto e poucos minutos mais tarde chovia torrencialmente.

As trovoadas começaram longe e se tornavam cada vez mais perto. Com a intensidade da chuva, Bella não enxergava mais nada a sua frente e deixou que o cavalo a guiasse.

A capa que cobria sua cabeça havia sido arrancado pelo vento e seu cabelo molhado grudava no rosto dificultando sua pouca visão.

Uma tempestade no deserto seria a ultima coisa que pensaria enfrentar. Repentinamente o temporal cessou e Bella puxou as rédeas para que o cavalo parasse. Achou tudo muito esquisito.

Há segundos atrás parecia que estava caindo o diluvio e agora nem uma gota, embora o céu continuasse coberto e a atmosfera pesada e opressiva.

Viu a areia girar em sua volta em pequenos redemoinhos. Bella sentiu uma pontada nervosa no estômago. Já tinha ouvido falar de tempestade de areia e rezava para que não fosse isso o que via naquele instante.

Não iria ficar parada ali esperando. Deitou a cabeça no pescoço do animal e o obrigou a galopar a toda velocidade. Seus instintos a advertiam que logo um vendaval se iniciaria; o que foi confirmado ao ouvir um ruído estranho, um uivo assustador que gelou seu coração.

Procurou com nervosismo um lugar para se abrigar. Logo adiante avistou um amontoado de pedras e rumou naquela direção. Antes que alcançasse o lugar, um raio caiu alguns metros a frente assustando terrivelmente ela e o cavalo.

O animal assustado com o estrondo encolheu o corpo e empinou repentinamente as patas da frente jogando Bella para longe, antes que pudesse agarrar as rédeas.

Estava tonta e ofegante. A cabeça dela latejava terrivelmente. Virou o corpo de lado só a tempo de ver o animal se afastando e sumindo no meio da poeira de areia.

– Cavalo imbecil!- gritou ela para o animal.- Volte aqui! – seus chamados se perderam no vento assim como o cavalo e seus mantimentos e água.

Sentindo uma forte dor no ombro tentou com muito custo se levantar. Deveria se abrigar rapidamente entre as pedras. Levou a mão ao ombro dolorido e cambaleante começou a caminhar. Outro clarão intenso de um relâmpago cortou o céu fazendo-a se desequilibrar e cair. Com dificuldade, ela ignorou a dor no ombro e começou a se arrastar, a engatinhar para chegar ao abrigo no meio das rochas.

Quando finalmente conseguiu se sentar no abrigo estava trêmula e tudo começou a girar em sua volta. Sentia-se fraca e indefesa. Talvez fosse assim que se sentisse quando estivessem à beira da morte. A ultima coisa que sentiu antes de desmaiar, foi a areia aproximando-se de repente em seu rosto.

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– Isabella, onde você está minha aldi?- Al Badim sussurrava em seu galope frenético. – Preciso de um sinal para lhe encontrar, por favor meu amor.

Todo e qualquer canto da imensidão do deserto não passava despercebido por ele. O vento cada vez mais forte tentava fazê-lo fechar os olhos para a areia que batia em sua direção, mas ele era forte. Estava acostumado com o clima hostil e os perigos que pudesse vir a encontrar.

Algo balançando com o vento chamou-lhe a atenção. Uma capa preta presa em uma moita de espinhos na areia.

Pegou a capa e levou ao rosto. Sim era dela. O perfume estava fraco, mas com certeza era o seu cheiro.

Continuou galopando por mais alguns minutos e finalmente viu. As pernas estavam para fora do abrigo rochoso

– Isabella, Isabella! – saltou do cavalo e prendeu as rédeas numa das pedras do abrigo. Ajoelhou-se e encostou o rosto no dela. Quando sentiu a respiração fraca dela soltou um suspiro de alivio. Ela só estava desacordada. Sua roupa úmida tinha areia grudada assim como no rosto e cabelos. Pegou o cantil de água e encostou na boca dela e com cuidado derramou o liquido.

Bella ao abrir os olhos, pareceu-lhe que o ar estava coberto de uma poeira sufocante. A boca parecia estar cheia de cinza seca e queimada. Lembrou-se vagamente que caíra quase sem sentidos na areia.

Agora porem estava apoiada contra uma pedra e com alguém ajoelhado ao seu lado.

O rosto do homem estava coberto por um lenço de linho preto e seus olhos tinham um brilho intenso.

O homem voltou a encostar o gargalo do cantil em sua boca e ela bebeu sofregamente a água. Quando voltou completamente a si, percebeu que o braço do homem estava passado em volta de seu corpo.

Afastou-se dele instintivamente assustada, soltando um gemido de dor.

– Não se mexa! – murmurou o homem, retirando o lenço do rosto. Ela reconheceu assombrada a feição de Edward. – Você se arriscou no deserto para fugir de mim! – acusou.

Ela o observou em silencio durante um longo momento.

– É impossível fugir de você. – respondeu Bella fazendo outra careta de dor.

– Será que o que sinto por você é tão desprezível assim?

Desprezível? Não. – teve vontade de gritar – Só tenho medo de ser fraca de mais e não resistir a você.

O coração de Bella batia descontroladamente, mas ela não tinha certeza se era por medo, espanto ou a pura emoção de estar com ele naquele mínimo abrigo com seu corpo rijo tão perto dela, sentindo o braço dele envolvê-la com possessividade.

– Meu ombro dói muito. – disse se esquivando.

Edward a olhou pensativo. Novamente por culpa dele a vida dela estava em perigo.

Porque ela não conseguia entender algo que era tão claro para ele? Por que não conseguia entender que onde quer que ela fosse ele iria encontra-la para que ficassem sempre juntos?

Edward segurou-a pelo braço e apalpou atentamente o ombro machucado.

– O osso saiu do lugar. – sua voz saiu num lamento – posso recolocá-lo, mas vai doer um pouco.

Nada poderia doer mais do que o meu coração nesse momento.- pensou Bella.

– Não faz mal. – Bella falou como se isso não tivesse a menor importância – Não pode doer mais do que já está.

Edward tirou do bolso um frasco miniatura de bebida e após abrir, colocou nos lábios dela.

– Beba para se distrair.... – a bebida seca desceu rascante na garganta de Bella que reclamou.

– Isso é forte. – tossiu – O que é?

– Vodka pura. Está pronta?

Ela meneou a cabeça afirmativamente. Al Badim segurou firme em seu braço e no ombro.

– Vamos contar até três- ele disse olhando em seus olhos.

– Um...Ahhhhhhhhhhhh! – antes que chegasse ao dois, o sultão com um movimento hábil das mãos colocou o osso no lugar. O grito de dor de Bella perdeu-se em meio aos uivos do vento. Um suor frio escorreu por sua testa e uma dormência se alastrou por todo o braço.

– Ah meu Deus, que dor! – reclamou – meu braço está ficando dormente.

– Vai passar. – respondeu Edward massageando o ombro – É por causa do nervo estendido. Logo a circulação volta ao normal. Procure flexionar o braço. – ele disse.

Bella balançou a cabeça afirmativamente. Um novo relâmpago ecoou com um novo estrondo bem perto de onde eles estavam.

– Você é mais corajosa do que eu pensava. – Edward falou limpando a areia grudada no rosto dela. – Toda essa ventania é um anuncio do furacão que está por vir. Sabia que poderemos morrer soterrados na areia? Foi uma loucura você ter fugido assim.

– Loucura maior fez você me trazendo contra vontade para esse lugar. – ergueu o queixo empinando o nariz.

– Por que não para de me responder? Está sempre tão avessa, relutante. – respondeu Al Badim sem paciência - Mais teimosa do que era na Inglaterra.

– Eu... teimosa?

– É, você!

– E desde quando se tornou doutor em comportamento já que não está disposto a ceder em nada. Desde quando pensou em como eu me sentiria com o que me obrigou a passar.

Edward franziu a testa e desviou o olhar. Ele parecia uma criança que levava uma bronca após ter feito traquinagens. E ao que parecia não estava nem um pouco arrependido.

– Ás vezes penso que não gosta de mim. – disse ele com um sorriso triste. – O que é estranho por que lá no fundo sei que gosta. Mesmo que seja só um pouquinho, mas gosta.

Bella virou o rosto encarando a nuvem de poeira.

– Você não disse uma palavra de ternura para mim desde que chegou aqui. – continuou Al Badim.

– E importa o que eu digo. Desde quando aprecia minhas palavras de ternura?- Edward a olhou intensamente.

– Tem razão. Não há ternura numa tempestade no deserto.

– Quanto tempo vai durar?- perguntou Bella sem se dar conta que ele se referia a ela.

– Quem pode saber? Somente o destino.

– Não entendo uma coisa. Estava indo na direção certa, montada naquele cavalo há horas e não sei por que não consegui chegar às montanhas.

– Estava seguindo um espelho de miragem. – ele voltou a tirar a areia de seu rosto. – Isso acontece sempre que se aproxima uma tempestade. – sua voz era calma e Bella se sentiu envolvida por ela. Afastou a mão dele.

– E depois que terminar essa tempestade? Não poderá me prender aqui para sempre.

Ela não ouviu resposta, pois foi encoberta por um terrível rugido. No momento que a areia rodopiou em volta deles soprada furiosamente pelo vento, Al Badim protegeu Bella com sua capa.

Dominada pelo medo, ela afundou o rosto no ombro largo. Abraçada a ele sob a sufocante nuvem de areia. O que o sultão falara realmente tinha sentido. A ventania parecia um furacão e Bella ouvia uivos furiosos que a ensurdeciam e a cada estrondo tremia abraçada a ele.

– Coragem habibit. – Edward falou em seu ouvido procurando confortá-la

Ele a estreitou-a nos braços e beijou sua testa como se fosse uma criança alarmada.

Mudava de posição constantemente evitando que a areia se acumulasse depressa em volta deles.

Ela simplesmente deixou-se estar nos braços dele, sendo cuidada, enlaçada, sufocada com o coração explodindo de alegria.

Poderiam ser enterrados juntos naquela areia, e permanecer abraçados para sempre. Fechou os olhos e sentiu uma fraqueza que não tinha nada a ver com a tempestade

– Bella? – chamou Edward em seu ouvido – Está se sentindo bem? Consegue respirar?

– Ah, tive uma sensação estranha, parecia um sonho.

– Você não pode dormir agora. -sacudiu-a pelos braços e a areia escorreu sobre os dois.

Bella forçou-se abrir os olhos e encontrou o rosto dele colado ao seu.

– Não pode dormir. - voltou a repetir.

– Estou tentando. Quando isso vai passar?

– Vai passar logo. – Edward disse vendo os olhos dela voltar a se fechar.

Um ideia passou então em sua cabeça.

Bella sentiu um arrepio quando as mãos dele apalparam seu corpo por baixo da capa.

– O que está fazendo!?- perguntou de repente em alerta.

– Estou apenas soltando os botões de sua blusa.- sorriu debochado – Para você respirar mais a vontade. Não acha que me aproveitaria de você nesse estado?

Ela engoliu o orgulho. Não podia falar dominada pelas sensações confusas que a assaltavam.

Maldito sultão.

Entendeu naquele momento que respondia a seu contato porque pertencia a ele. O coração, a mente, tudo pertencia a esse homem do deserto e não era dele que fugira, mas do amor que sentia por ele.

Odiava-o por fazer dela o que queria como um dominador brincava com o filhote de gatinho. Seus rostos próximos foi apenas o estopim para que seus lábios se encontrassem.

– Não estou sufocada para precisar de respiração boca a boca – disse Bella já com os olhos fechados fazendo um leve bico a espera do beijo.

– Isso faz parte da trégua. – respondeu ele aproximando sua boca da dela. Os lábios dele estavam quentes e ásperos por causa da areia, tinham o gosto do manjar mais saboroso que já provara. Suas mãos envolveram a nuca de Al Badim que soltou um gemido deliciado com sua aldi finalmente baixado a guarda e tão entregue a ele.

No momento seguinte ela sentiu o aperto de seus braços e percebeu confusamente que ele a estava protegendo de uma grande lufada de areia que avançava sobre ambos, cegando-os completamente.

Estavam mudos, surdos pela violência da tempestade. Durante segundos, minutos, horas continuaram mergulhados no furacão da areia. Depois lentamente ouviram o silencio pesado em sua volta, uma tranquilidade ameaçadora e Bella sentiu o pânico dominá-la com a falta repentina de ar.

Edward conseguiu levantar-se com um esforço sobre humano e removeu a areia que os cobria.

Gotas de suor brotavam na testa dele e rolavam por seu rosto. Ela procurou ajuda-lo com a respiração ofegante, até que conseguiram romper a barreira de areia que se formara em volta deles e respiraram o ar puro.

Al Badim abriu mais espaço com o braço e saíram finalmente. Permaneceram um instante parados, respirando com dificuldade, com areia nos olhos, boca, no nariz, descendo pela garganta. Ao redor apenas uma tranquilidade estranha, um silencio assustador depois da fúria da tempestade.

Al Badim caminhou em direção ao cavalo. Falou em voz baixa com o animal assustado e escovou a areia que estava grudada no focinho.

Al hamdu lellah o pobre Jafar ainda está aqui! Já pensou se ficássemos perdidos aqui no meio do Deserto apenas com um cantil para nos dois?- ele perguntou. (Graças a Deus)

Bella não respondeu. Empinou o queixo tentando recolher a pouca dignidade que lhe restava por ter sido tão estupida e deixar que os hormônios a dominassem.

Começou a bater as mãos na roupa tirando a areia grudada nela.

Edward lhe estendeu o cantil. A água lavou a areia da boca e aliviou o ardor em sua garganta. Em seguida ele também tomou um pouco d’água enquanto a observava de soslaio.

– Vamos voltar o quanto antes para o palácio. – anunciou ele montando em Jafar.

–E quem disse que eu vou voltar? – cruzou os braços.

– Aldi, minha aldi.- trotou para perto dela. – Por favor, não comece. Eu não vou deixar que fuja de mim novamente.

– Tentarei quantas vezes forem necessárias.

Edward não respondeu, apenas se inclinou para a direita agarrando-a antes de levantá-la e traze-la para a sela. Bella estava chocada com a aparente facilidade com que foi tomada.

Manteve o corpo rígido para que não encostasse nem um pouco nele. Porém dessa vez estava cansada demais para brigar.

Edward por sua vez cravou seu braço firmemente ao redor de sua cintura, para depois fincar suas coxas nos flancos do cavalo e partir.

Era surreal tudo aquilo para Bella.

Uma trégua, foi a palavra que ele usara no abrigo.

Pois bem, uma trégua, por enquanto, repetiu para si mesma e apenas se aninhou em seu peito másculo aproveitando ao máximo a proteção de seu sultão.

Uma trégua que poderia durar para sempre, ou ao menos até que chegassem ao palácio.


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Notas finais do capítulo

Uau, nossa que capitulo! Não sei vocês flores, mas A-D-O-R-E-I. Edinho todo pimpão aproveitou que estavam apertadinhos e lascou um bjão em Bellota. Fala sério gente, não há dureza que resista a esse homem.
Fiquei com pena de Zafrina mas espero que alguém consiga libertar nossa pobre senhorinha. E também vimos que de bobo o sultão não tem nada, sabe muito bem a esposa que tem.
Quero agradecer aos comentários e embora o tempo corrido, consegui responder alguns. Estou tentando me empenhar pra agradecer a cada uma das lindas flores do meu jardim.
Quero agradecer pelo carinho e avisar que talvez demore um pouco para o próximo cap. Estou meio atarefada com os estudos e precisando de inspiração. Se puderem dar algumas ideias dizendo o que gostariam que acontecesse com nosso casal divo do Deserto, eu agradeceria. Um grande bjo em todos, Fiquem com Deus e até o próximo cap. Conto com vocês para não demorar, rsrssrsr.