A Odalisca escrita por Titina Swan Cullen


Capítulo 5
Capitulo 5


Notas iniciais do capítulo

Oieeeee
Palavras em árabe, escritas em negrito
Bjinhos...curtam e comentem



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Embora o que Al Badim mais quisesse fosse correr até Isabella, não podia permitir que seu povo desconfiasse do que ele fez. Se unir a um criminoso; um assassino para atingir seus objetivos. Havia sido um passo muito arriscado que comprometeria todo seu reino. Pincipalmente se caísse nas mãos de seus inimigos.

Acompanhou com alivio James se distanciar de Isabella. Suas ordens eram para que a trouxesse em segurança até Cairo. Que ela recebesse o melhor tratamento, apenas que seus capangas não soubessem quem ela era ou quem a tivesse trazido até seu país. Embora acreditasse que dificilmente ela já não imaginasse.

Voltou a olhar para Isabella que ainda o fitava por baixo do véu. Seus olhos tão cheios de vida pareciam guardar algo mais. Mágoa, tristeza talvez. Ele havia tentado fazer as coisas funcionarem do melhor jeito para ambos, mas como as demais mulheres do ocidente, Bella era cheia de vontades, teimosa, dona de si. Não quis ceder nem um pouco quando o sultão lhe pediu para viajar com ele. Pelo olhar que ela lançava a ele, Edward sabia que ela estava furiosa e por enquanto achou melhor não se aproximar dela.

Mesmo que apenas Emmet falasse inglês e soubesse de seu plano, não queria arriscar que alguém ouvisse o que Bella diria.

Era melhor que todos ali acreditassem que ela era uma prisioneira e que o sultão nada tivesse com aquilo, apenas agindo como um salvador tirando a pobre moça das mãos cruéis do bandido.

Al Badim também teria que pagar a divida com James que já estava montado em um dos cavalos bem distantes. Ele acenou para que Emmet fosse até Isabella enquanto ele e alguns homens começaram a cavalgar pelas areias escoltando James e seus comparsas.

Emmet desfez a montaria e caminhou até Isabella que continuava ali, ajoelhada. Ele flexionou os joelhos ficando na mesma posição dela.

– Senhorita....senhorita. - chamou Emmet tocando o braço dela. Bella não se moveu; continuou ali abalada demais, imaginando quando, que horas acordaria desse pesadelo.

Sentiu um peso enorme em todo seu corpo, como se estivesse carregando um daqueles cavalos ali parados. As dunas rodopiaram em sua frente e ergueu os braços tocando o peito do homem a sua frente, buscando por apoio. Emmet se surpreendeu quando ela desfaleceu nos seus braços.

– Chamem o sheik!- gritou para os outros guardas. Carregou-a em direção a uma das tendas montadas com vários beduínos em seu encalço.

Puxou o véu da burca e chocou-se com o que viu. Sua boca estava amordaçada por um adesivo e seu rosto estava vermelho e febril. Sabia que o amigo gostava muito da estrangeira, e quando visse aquilo ficaria furioso. Com cuidado tirou o adesivo. Todos os homens notaram que a estrangeira possuía uma beleza exótica. Muito bonita para os padrões das mulheres árabes. E Emmet viu porque o amigo estava enfeitiçado pela moça.

– O que há com ela? - Edward entrou nesse momento na tenda. Bella estava deitada num grosso tapete estirado no chão. Todos os beduínos, com exceção de Emmet, em sinal de respeito se retiraram aguardando do lado de fora pelas ordens de seu amo.

– Acho que ela está desidratada e pegou uma insolação. - respondeu Emmet. Pegou um cantil preso na cintura e deu a Edward que molhou o véu da burca e passou no rosto de Bella tirando os resíduos da cola do adesivo. - Eu lhe disse que não podíamos confiar em James.

– E o que queria que eu fizesse? - questionou Edward angustiado. - Ela não me aceitou. Eu queria fazer isso da forma mais confortável para a gente, mas a família dela com certeza a educou mimada e cheia de vontades. - vê-la daquele jeito o deixava angustiado. Lembrou-se da noite que se separaram e de como ficou quando ela o deixou. Seu coração de uma hora para outra ficou tomado de ciúme. - Me desprezou tão facilmente... Não..eu fiz o certo. O mundo está desse jeito porque os homens deixam as mulheres governarem suas vidas. Maomé jamais aceitaria algo assim e eu como futuro líder, não posso cair em contradição. Aqui Isabella irá aprender que tem um dono, e tem de obedecê-lo. Ela vai aprender a se portar como uma mulher deve agir com seu senhor.

–Você tem razão. Eu concordo plenamente que somos senhores de nossas mulheres, mas não podemos esquecer que seu pai, o emir, jamais aprovaria o modo como ela foi tratada.

– E nem eu.- ergueu um pouco a cabeça de Bella e encostou o cantil em sua boca derramando água. - Juro que farei ele pagar. - murmurou Al Badim. Arrependia-se de ter colocado a vida de sua albi nas mãos de seu inimigo. Emmet observava os olhos intensos e desesperados do sultão pela moça.

–Mas por enquanto não posso fazer nada. - com a ponta de um punhal cortou as cordas que uniam os pulsos de Bella.- Tenho que voltar o quanto antes para o palácio.

– Do jeito que ela está, talvez seja melhor acamparmos aqui esta noite. - disse Emmet.

Al Badim olhou em volta da tenda humilde que os abrigava. Ali não tinham sequer recursos para cuidar de Bella. Ele ainda havia abandonado o leito de núpcias e já previa a tempestade quando chegasse em casa.

– Temos que voltar agora mesmo para o palácio.

– Senhor... tentou de novo o conselheiro.- Ao que parece ela pegou uma insolação. Não está acostumada com o sol do deserto e acho que seria um erro expô-la novamente, ainda mais com James por ai. Vamos acampar hoje aqui. Tanto os homens como os cavalos precisam desse repouso.

Pela brecha da tenda, Edward visualizou o deserto que se estendia a sua frente a perder de vista, um oceano silencioso e abrasador. Não poderia colocar novamente a vida dela em perigo, talvez fosse melhor ouvir o amigo desta vez.

–Tudo bem. - disse por fim. - Mande os homens prepararem a fogueira. Acamparemos esta noite, mas vamos partir assim que amanhecer.

O conselheiro saiu para os preparativos e Edward continuou por toda noite cuidando de sua aldi.

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O dia amanheceu e no rustico acampamento, havia uma grande atividade em torno das fogueiras onde preparavam com um recipiente empretecido pelas chamas, um café forte que era tomado com bolinhos de arroz que haviam trazido do palácio no dia anterior.

Outros recolhiam os pertences já se preparando para a partida.

Bella abriu os olhos e viu o leve tecido da tenda balançando com a brisa leve da manhã. Seu coração bateu apressado e um medo misturado com a raiva caíram com uma enxurrada de lembranças do dia anterior. Sentou-se no tapete e se arrastou colocando apenas parte da cabeça para olhar para fora de seu abrigo. O relinchar dos cavalos se misturava aos berros dos homens que vira na noite anterior. O ambiente era ao mesmo tempo terrivelmente estranho e assustadoramente real. Ela realmente havia sido sequestrada por Al Badim.

Como ele havia tido coragem para fazer isso com ela?

– Ah meu Deus! - disse colocando a cabeça pra dentro. Como conseguiria fugir dali? No meio de todos aqueles homens e bem no meio do deserto?

Sentiu um arrepio quando ouviu uma voz conhecida do lado e fora da tenda. Edward falava em árabe com alguém.

A determinação de confrontá-lo era maior e quando percebeu já estava do lado de fora com os olhos ardendo de ódio. Ele estava vestido com a capa preta, botas de cano alto e turbante. O rosto antes, impecavelmente limpo, agora possuía uma barba curta e castanha. Se possível a beleza o abençoara dez vezes mais desde o tempo que não se viam. Mais isso não aplacaria a fúria de Bella naquele momento

Não só os olhos castanhos de Edward a observaram com atenção, assim como de todos seus guardas que acompanhavam seus passos decididos.

Os dentes brancos e perfeitos de Edward reluziram no largo sorriso que deu. As poucas semanas sem vê-la e ela estava ainda mais bonita. Agradecia por ela está com a burca que lhe cobria todas as curvas de seu corpo. Os cachos volumosos cobriam-lhe parte do rosto até que uma leve brisa soprou-os revelando os olhos grandes e verdes.

– Como você pôde? - perguntou e já estava desferindo golpes no peito de Al Badim que com uma facilidade estupenda dominou-a.

– Sua estúpida. Pare com isso! - ordenou Edward. Segurou seus pulsos virando-a de costas para ele.

Bela e rebelde! Um filhote de pantera que não foi domesticado pelo homem. - um guarda disse gargalhando e sendo acompanhado pelos outros.

Isabella estava ofegante, zonza e irritada diante de sua fraqueza. Ouviu a gargalhada de todos os homens que estavam voltados para eles, zombando de como uma mulher se atrevia a medir forças com um homem, principalmente com o sultão.

– Depois iremos conversar. - disse Al Badim em seu ouvido - Por enquanto preciso manter tudo em segredo.

Ela não viu mas os olhos de Edward escondidos em seus cachos estavam suplicantes.

– Seus segredos não me interessam. - disse sentindo um nó na garganta por ele tê-la exposto desta forma. - Me solta, me solta! - as lagrimas já rolavam a face.

–Pronto!- ele exclamou e embora sorrisse como seus homens, a alegria não chegava a seus olhos.

–Eu te odeio! - gritou e se possível os homens riram ainda mais pelo seu modo petulante de pirralha mimada ao falar com o sultão.

Eles não entendiam o que ela dizia, apesar de Emmet que falava inglês e dirigia um olhar piedoso para o casal. Sabia o quanto aquelas palavras atingiam em cheio o amigo.

O sultão travou o maxilar sentido o peso daquelas palavras, imaginava o quanto seria difícil reparar o erro, mas o que já estava feito não tinha como voltar atrás.

Sirvam alimento à ela!– ordenou. Logo um dos guardas lhe ofereceu uma caneca de alumínio com café e dois bolinhos de arroz.- Coma pois temos uma longa viagem pela frente. - o rosto de Edward era frio e sem emoção.

Bella olhou com descrença para aquilo.

– Eu não quero isso. - empurrou a mão do homem derramando a comida na areia.- Você não pode fazer isso comigo. Minha mãe vai saber que foi você que fez isso e logo a policia virá atrás de você.

– Ah, é?- Edward indagou erguendo as sobrancelhas. Estou no meu território e não sou sujeito a nenhuma autoridade. - disse com indiferença.

Bella arregalou os olhos, aturdida e perplexa. Aquele homem a sua frente em nada lembrava o homem gentil e encantador que ela amava. Observou-o montar num cavalo branco em silencio com a capa passada em volta de seu corpo, como uma asa enorme.

Gritou algo para seus homens que seguiram seu comando montando em seus cavalos.

– Se não quer comer, já podemos ir.- disse. Jogou a capa por cima do ombro em um gesto arrogante. - Dê-me.– ordenou olhando para Emmet.

Bella que presenciava tudo em silencio, recuou institivamente quando o barbudo grandalhão deu um passo em sua direção. Com um movimento brusco, levantou-a nos braços e a colocou sentada de lado na frente da sela do cavalo com Edward.

– Mas o que pensa que está fazendo?- perguntou com fúria balançando as pernas para descer da montaria.

– Adivinhe. - ele murmurou, pressionando os calcanhares no animal que começou a galopar, sendo seguido por seus guardas. Bella começou a lutar com desespero quase primitivo. Edward a imobilizou para que não caísse e a envolveu com a capa ampla. Somente com as pernas dominava e guiava o cavalo adestrado.

–Calma Jafar...- disse ao cavalo - Estamos levando uma gata selvagem para casa. - deu uma sonora gargalhada e dominou-a de uma só vez não permitindo que move-se um músculo.- Minha aldi, está se cansando à toa...- estreitou -a nos braços e todas as curvas do corpo de Bella estavam coladas contra o corpo forte e musculoso.

Com uma só mão segurou os pulsos dela e com a outra afastou um cacho de seus olhos. Fitou-a de modo tão intenso que ela ficou repentinamente imóvel e pálida.

– Não parei de pensar em você um só minuto desde que me deixou.- ele disse com um olhar que não era apenas de constatação mas de um homem que apanha o que deseja sem pedir licença.

Bella tentava ao máximo se afastar, evitar o contato com seu peito másculo, com seus olhos ou seu hálito de encontro ao seu rosto mas estava impossível daquele jeito. Edward pôs a mão em sua nuca e forçou-a a encará-lo.

– Sabe que jamais irei lhe perdoar. - Bella disse com o coração batendo aceleradamente no peito enquanto encarava o rosto do homem que mais amou na vida.

– Sei disso. - respondeu acariciando a linha sinuosa do pescoço de Bella. - Mas prefiro conviver com isso do que longe de você. - inclinou a cabeça e beijou-a nos lábios.

Não foi um beijo invasivo, mais intenso e cheio de desejos e significados. Bella sentiu todo o corpo tremer na ânsia de corresponder a ele, porém conseguiu frear-se. Não podia fazer aquilo, seria uma traição a ela mesma. Trair tudo o que acreditava e pior ainda humilhar-se as vontades de Al Badim.

– Eu te odeio!- Bella disse quando finalmente Edward afastou sua boca da dela.

– Não foi isso que seus lábios me disseram. -Bella abriu a boca para responder mas a ira era tamanha, que sequer saiu uma só palavra. -Edward voltou a sorrir e aproveitou para aspirar o perfume de seus cabelos que ricocheteavam com o vento do deserto.

Enquanto o cavalo Jafar galopava sob a luz ofuscante que minava as areias, os outros cavaleiros seguiam em fileiras atrás. Emmet, o seguia mais próximo preocupado com os rumos que aquela nova aquisição traria para o Egito. Edward como recém casado não poderia ter abandonado o leito nupcial e principalmente adquirido uma nova odalisca. Imaginava o que o emir, o pai do sultão, acharia daquilo. Talvez mandasse ele, conselheiro, ser morto em praça publica a pedradas por permitir que seu filho caísse em tamanha desonra.

Bella fechou os olhos para não ver o rosto de Edward, depois voltou a abri-los e se arrependeu por encontrar fisionomia severa e viril. O rosto quadrado, os lábios perfeitamente lineados e a barba lhe provocava uma vontade imensa de tocar seu rosto.

Aquilo era real, e não um pesadelo. Estava presa pela capa e pelo braço forte de Edward. Duplamente aprisionada.

Sentia os movimentos do cavalo, estava exausta e sem força, tinha apenas uma leve consciência da situação quando o sol já quase atingia o meio do céu. Estava faminta e com sede e se arrependeu por não ter provado do café e bolinhos brancos que a essa altura pareciam apetitosos mesmo na areia escaldante do deserto.

O tilintar do freio e das argolas de prata que enfeitavam o arreio do cavalo acabou por adormecê-la. Algum tempo depois, no entanto, o ritmo dos passos do animal se alterou e Bella acordou do estranho sonho que tivera. Era tarde avançada.

Estava embrulhada confortavelmente na grande capa de montaria quando os cavaleiros chegaram a uma cidade. Viu palmeiras imensas ladeando a rua onde um comércio, multicolorido e barulhento tomava toda a extensão.

Seguiram por um morro íngreme de onde suspeitava, teria visão de toda a cidade. Os guardas seguiram para o lado oeste. Emmet saltou do cavalo e passou as rédeas para o cuidador que já os esperava junto com outros criados que vieram recepcionar o sultão.

Edward com igual desenvoltura desfez a montaria e logo depois segurou a cintura de Bella colocando-a no chão. Ela estava com os braços e pernas dormentes e tinha apenas uma vaga consciência da beleza extravagante do lugar e da agitação de homens e mulheres em sua volta.

Atravessaram os enormes portões de madeira que dava acesso ao pátio do palácio. Edward segurou seu braço e teve que meio que arrastá-la já que ela olhava tudo aquilo perdida. Grandes colunas sustentavam a residência branca e quadrada, construída no alto de Jedi Megir. O pátio aberto lembrava um oásis com um lindo jardim no centro adornando uma fonte que jorrava agua pura e cristalina.

Assim que soube que seu filho, Edward Al Badim havia voltado, Esme já o esperava batendo o pé no chão. A burca de seda vinho claro lhe conferia um visual elegante e discreto mesmo que essa fosse a roupa clássica do local. Usava um véu cobrindo-lhe a cabeça. Já que o marido e filho estavam fora, teria que permanecer com a cabeça coberta.

Assim que Edward a viu passou Bella para trás de seu corpo.

O que você tem na cabeça?- começou a falar gesticulando em direção ao filho, sem perceber a presença da nova aquisição do sultão - Sumiu por quase um dia deixando sua esposa no leito de núpcias. O que nosso povo vai pensar quando souber que nosso futuro líder age como uma criança indolente ?

Mãe eu sei perfeitamente das minhas obrigações com nosso povo e essa não é a hora. - respondeu Edward dando um aceno leve para que Emmet leve Isabella para outro local.

Aconteceu uma catástrofe para o acordo! Para reclamar da sua ausência, sua esposa chamou os pais e já estão com ela no quarto.

–Ela fez o quê? Como a senhora permitiu?

Assim que tem seu braço puxado, Bella por reflexo, dá um safanão em Emmet.

– Me solte! Eu já estou cheia de ser arrastada de um lado para o outro. - disse nervosa.

Uma odalisca? – Esme olhava boquiaberta para a moça de cabelos cheios que o filho tentava cobrir com o corpo.- Você está sem juízo. A ira de Maomé cairá sobre nosso povo!

–Isabella depois conversamos. Me obedeça e vá com Emmet.- ordenou Edward segurando o braço dela.

Por que está falando em inglês com ela? – Esme estava furiosa. Odiava as odaliscas, odiava o harém.

Só ela sabia o quanto sofreu quando seu esposo escolheu uma odalisca como segunda esposa. Ao invés dela ganhar uma irmã, ganhou uma víbora venenosa que transformou sua vida num pesadelo, até que finalmente conseguiu que o emir se livrasse dela e de todas as outras do harém.

Achava que o harém de Edward também estava com os dias contados, mas agora ele trazia outra.

Isso podia ser costume e tradição em seu pais, mas ela jamais aceitaria isso novamente e muito menos deixaria sua nora passar por isso. Principalmente recém casada.

Edward estava agindo muito estranho desde a ultima viajem que havia feito para o exterior. De repente aceitara se casar depois de quase dez anos para aceitar o seu compromisso e agora abandonava a esposa voltando com uma estrangeira? Se dependesse dela descobriria o que estava havendo. E já sabia como.

– Você agora é um homem casado, em núpcias! - Esme gritou mais alto e em bom inglês.

Núpcias?!! - Bella não sabia por que, mas ao ouvir aquilo doeu mais do que deveria.

– Você se casou?

Mãe, conversarei com a senhora lá dentro.- respondeu Al Badim exasperado.

– Não grite comigo! - sua mãe agora se recusava a falar na língua árabe - Sou sua mãe e me deve respeito. Você não está honrando as leis do alcorão. - embora falasse com o filho toda a raiva era direcionada a Bella. - Ainda mais deixando sua esposa para trazer uma mulher da vida para casa.

–Mulher da vida? Escute aqui minha senhora...- Bella gritou e Edward tapou sua boca com a mão. Era uma falta de respeito imensa falar naquele tom com a mãe de seu senhor.

Os criados observavam a cena em silêncio. Emmet olhava aquilo divertido. Nunca uma odalisca agiu assim. Principalmente com a rainha.

– Ela está me afrontando? Como se já não bastasse as que tem. - continuou Esme. Bella mordeu a mão de Edward para que a soltasse.

–Eu nem queria estar aqui... fui seq...- Edward tirou a capa e cobriu todo o corpo de Bella formando um casulo. Colocou-a nos braços de Emmet dando ordens para levá-la para um dos aposentos. Dois criados os seguiram.

Bella se sacudia tentando se livrar, mas mais uma vez estava imobilizada.

Edward foi puxando a mãe para dentro do grande salão.

– E você conselheiro Emmet Mohamed, - Esme falava soltando as palavras ao vento, porém sabendo que Emmet ainda podia ouvi-las - Espere até o emir voltar e saber que tipos de conselhos anda dando para o sultão...

Emmet encolheu os ombros com a ameaça. Sempre ele que levava a culpa.

Bella foi carregada por menos de três minutos até que ouviu o ranger de uma porta e sentiu um perfume intenso de sândalo. Foi colocada sobre algo macio e com a ajuda de Emmet se livrou do tecido escuro.

– Se pensam que podem me manter prisioneira aqui...- começou a falar ofegante e de braços cruzados.

– Senhorita - Emmet cortou-a cheio de delicadeza - esta é Zafrina e ela será sua criada por hora. Irá lhe ajudar com o banho e a alimentação. - ao dizer isso um outro criado entrou com duas bandejas que mesmo tampadas exalavam um ótimo cheiro.

Bella iria negar mas um barulho saiu de sua barriga. Seu estomago roncou tão alto que pelo sorrisinho de lado que o grandalhão dera, todos ouviram.

– Bom, acho melhor comer primeiro então. - disse Emmet saindo do quarto.

– Olá sou Zafrina - apresentou-se a criada. - E este é Laurent.

– Senhorita. - respondeu o criado inclinando levemente a cabeça. - Bella olhou admirada pelo inglês fluente dos dois.

– Enquanto a senhorita come, irei preparar seu banho. - Zafrina disse e saiu por uma porta lateral.

O criado colocou as duas travessas na mesa e uma jarra com suco de limão e menta.

– Todos vocês falam inglês? - perguntou Bella soltando os braços.

– Não. São poucos.- respondeu Laurent - Apenas três aqui no palácio. Mas todos fomos designados pelo sultão antes da sua chegada para servi-la. - sorriu para Bella a encorajando a se servir.

Ela olhava desconfiada, mas a fome que sentia estava incontrolável. Sequer se lembrava da ultima refeição que fizera. Se aproximou da mesa engolindo os restos de orgulho que ainda podia ter.

Antes que seu cérebro desse a ordem suas mãos avançaram para os talheres atacando a primeira bandeja onde três codornas ao molho exalavam uma fragrância incrível de especiarias. Na outra bandeja um cuscuz branco, macio e convidativo uniu-se ao molho. Laurent encheu o copo três vezes com o suco gelado enquanto Bella comia.

Em questão de poucos minutos, Isabella se sentia satisfeita com a comida apimentada. O suco de limão com menta serviu para abrasar toda a sede de seu corpo. Olhou para a mesa vazia e nem acreditava que tivesse comido aquilo tudo sozinha.

– Olha...eu geralmente não como assim. - desculpou-se ao criado se sentindo envergonhada. Ele sorriu.

– Fico muito feliz em saber que gostou da nossa comida .- começou a arrumar as travessas para levar para a cozinha.

– Não...é sério...

– Seu banho já está pronto. - Zafrina a esperava com a cortina de conta afastada.

Bella desistiu de se desculpar e seguiu Zafrina.

O banheiro era grande, com uma pequena janela. Tinha tons bege e branco, todo em mármore com uma banheira cheia de água quente a sua espera. O vapor tinha um perfume forte e cativante.

– Vou esfregar suas costas e vai se sentir mais tranquila pela viagem.

– O quê? - tudo o que Bella mas queria era ficar sozinha por um tempo. Fazer suas necessidades sem ninguém a controlando.

– Não...Zafrina muito obrigada, mas eu prefiro tomar meu banho sozinha.

–Mas são ordens do seidi.

– Seidi? Quer dizer o sultão? Não, mas ele vai entender.

– Mas eu não posso sair senhora, se não ele ai se zangar.

– Vai se zangar? Sei. Ele tem medo que eu fuja. Mas olha - apontou - essa micro janela, eu com certeza não vou passar por essa abertura. Porque não fica então no quarto arrumando enquanto eu acabo aqui?

Bella respirou aliviada quando a criada saiu pela cortina de contas. Despiu a roupa coberta de poeira e após satisfazer suas necessidades, entrou na banheira que era suficientemente grande para ajoelhar-se lá dentro. Lavou-se com os sais de banho e embrulhou-se na toalha enorme que lhe batia nos pés.

Procurou a burca que vestia, mas ela não estava em lugar algum.

– Onde está minha roupa?- perguntou a Zafrina que a esperava no quarto.

– Dei ao criado para levá-las para a lavanderia. - apontou para a cama onde estava estirado um conjunto quase transparente de saia e blusa turcas de seda, tinham bordados na cintura e gola. - O sultão mandou que vestisse estas.

Bella olhou assombrada para a coleção. Eram trajes de harém.

– Não, isso não! - exclamou balançando a cabeça com firmeza. Zafrina observou-a espantada e sem jeito.- Não vou usar isso e o sultão não manda em mim. - apertou mãos trêmulas a toalha em seu corpo.

Ela não era mulher da vida como dissera a mãe do sultão, muito menos faria parte do harém dele.

Por mais que ainda o amasse.

Jamais faria parte desse plano sórdido dele. Levantou o queixo e encontrou os olhos grandes e escuros da criada.

– Sinto muito Zafrina, não posso usar isso. Eu não sou quem você está pensando.

– O príncipe Edward vai ficar muito zangado. - disse a moça assustada.

– Diga que foi eu que não quis.- Bella falou decidida - Não me importo com a raiva dele.

– Você é muito petulante! - Esme entrou no quarto sorrateiramente. Olhou para as roupas em cima da cama com olhar de desdém. - Saia Zafrina. - ordenou e a criada abaixou a cabeça cumprindo a ordem. - Vista-se; não posso falar com você desse jeito.

Bella sem opção e com o orgulho ferido, pegou a roupa e foi até o banheiro. Quando voltou Esme estava parada, encostada na janela.

– Senhora, o seu filho me sequestrou e...

– Ele o quê? Ah faça-me o favor. - Esme caminhou até ela. - Sei que você é uma das amantes estrangeiras que meu filho tinha durante as viagens.

Os olhos de Isabella inundaram de lágrimas. O que ela podia responder, ela estava certa.

– Como chamam na América... - Esme dobrou a gola da camisa de Bella - Ah, sim. Uma prostituta!

– Eu não sou uma prostituta...- disse entredentes.

– Vocês seduzem os homens do Oriente, encantam-se pela riqueza mas não passam de distrações.

–Eu...- Isabella passou a mão pelo rosto enxugando as lágrimas. Sentia muita raiva, se pudesse voava em cima da mulher a sua frente.

– E agora vem me dizer que está aqui contra vontade? Sabe quantas gostariam de estar em seu lugar, só no nosso país? Apenas uma pode ser a primeira esposa. Somente uma. E ele já tem e a essa hora estão no leito de núpcias. Estão se amando como marido e mulher que são. Um completando o outro.

– Pois eu ficaria muito feliz se conseguisse sair daqui. E não ter que voltar a olhar na sua cara.

– Cale a boca menina atrevida!

– Zafrina... - Edward chamou ao entrar no quarto, - O que está fazendo aqui mãe? - perguntou. Vestia uma túnica branca, aberta no peito, presa com um cinto largo de tachas. Os cabelos estavam quase negros molhados pelo banho.

Com certeza estava vindo do banho pós sexo, pensou Bella.

Dividida entre a fúria e o ciúme, Bella caminhou até ele; ergueu a mão e lhe deu um sonoro tapa no rosto.

– Está vendo? - a mãe se aproximou em defesa do filho - Uma estrangeira voluntariosa e cheia de manias. O lugar dela não é aqui nesse quarto ao lado do seu e de sua esposa.

Isabella olhou chocada para ele.

– Por quê.. por quê está fazendo isso comigo?

– Isabela me escute, não é nada disso.

– Leve-a daqui. O lugar dela é com as outras!

– A senhora não devia nem estar aqui! Esse problema é meu e não aceito que se meta em meus assuntos.

– Olha como está falando comigo? Tudo isso por causa dela? - Edward colocou a mão na cabeça buscando por controle.- fuzilou a mãe com o olhar.

– A partir de hoje, esqueça que tem um filho. segurou a mão de Bella e desceu apressado os degraus.

Passou em disparada pelo corredor sul onde vários guardas estavam rentes as paredes. Bella por todo o caminho pedia para que ele deixasse ela ir embora mas ele nada respondia. Pararam na única porta de frente. Estava pintada de vermelho e uma placa com dizeres em árabe no alto.

– Isabella, eu imaginei tudo diferente.

– Edward, por favor me deixe ir embora. - o sultão se abaixou para que ficasse na mesma altura.

– Eu não vou deixar você ir. Talvez você não acredite, mas eu vou fazer isso dá certo. - segurou seu rosto entre as mãos - Mas minha mãe tem razão em algumas coisas. Eu agora estou ocupado com assuntos políticos e além dessa viajem inesperada do meu pai.

–Edward, não faça isso...- ela estava com os olhos inchados e vermelhos.

– Eu volto pra gente conversar...- deu um selinho - Você vai se acostumar. Confie em mim.

Dizendo isso abriu a porta e empurrou-a para dentro. Bella continuou por alguns segundos olhando a porta fechada.

Bem longe teve uma vaga consciência de uma musica animada tocando. Virou-se notando o enorme aposento que estava profusamente decorado com flores e ramagens. Tapeçarias coloridas e extremamente macias enfeitavam as paredes e o chão.

Haviam sofás de estrados e lâmpadas de prata, penduradas em correntes presas nas vigas do teto. As janelas estreitas estavam protegidas com grades de ferro trabalhadas. Também teve visão de outro aposento onde uma cama king size com cortinas muito finas e de renda estavam penduradas em volta da cama. Tudo isso ela captou pela visão periférica em apenas alguns segundos, pois assim que se virara sua atenção ficou presa nas inúmeras e belíssimas mulheres seminuas espalhadas pelo local.

O grito de constatação que soltou em seguida foi ouvido por toda a extensão dos corredores.

Estava no harém do sultão. E se possível odiava ainda mais Al Badim.


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Notas finais do capítulo

Lindonas e lindões, como vão? Por favor não me matem, sei que Bellota está sofrendo um bocado mas logo ela vai se reerguer com uma ajudinha divina. Imaginam de quem será?
Quanto ao Edinho, sabemos que ele ama bellota só que dentro da criação arábica, as mulheres tem papel secundário, de servas de seus maridos. Servindo unicamente como meros enfeites e distrações para eles.
Vamos torcer para que bellota consiga mostrar para ele que aqui no Ocidente é diferente.
E que sogrinha venenosa em Bellota, faça-me o favor. Como ela disse, tem medo que a nora passe pelos mesmos problemas que ela, mas algo me diz que ela vai se surpreender com a norinha.
Agradeço de coração a todas as reviews, li e amei todas, estou tentando responder aos poucos , mas responderei. Leitores fantasmas sejam muito bem vindos e estou comemorando horrores com os quase 100 comentários. Leitores participativos, pra vocês o meu: MUITO OBRIGADA!!!!!! :D
Um grande bjo no coração e boa semana pro meu lindo jardim