– Chooossu! – Manuke e Alex se viraram ao ouvir o grito vindo do outro lado da praça de alimentação.

– É a voz da Karu-nee! – A mais baixa ficou em pé na cadeira para enxergar melhor, sem notar a careta que a outra fez para a frase.

– Bu! – A voz agora veio de trás da mais alta, fazendo as duas pularem de susto. Karu começou a rir, o que fez Izzy, que estava atrás dela, sorrir, para alívio da cacheada.

– Mas o que... como... A VOZ VEIO DE LÁ! – Manuke apontava para o lado oposto, tentando entender.

– Manu-chan... Eu sou ninja, não sabia? – Karu piscou, fazendo as duas amigas gargalharem. Apenas Alex continuava em silêncio. Nem sequer se virou.

Sem pedir licença, Izzy puxou uma cadeira e sentou entre Manuke e Alex. Karu logo se sentou na sua frente. A mais baixa agarrou a “Ari-chan” e ficou gritando coisas sem sentido relacionadas a comida e shopping.

– Ei. – Chamou Alex, com a voz muito mais alta que o necessário, fazendo todas olharem para ela. A morena encarou a cacheada. – O quão difícil é para você se sentar como uma pessoa normal?

Izzy e Manuke olharam para a posição de Karu (deitada de lado na cadeira com as pernas em cima dos apoios para os braços) e começaram a gargalhar de novo. Karu olhou para as próprias pernas, em seguida fitou a mais alta.

– Não vejo nada de errado. – Concluiu.

Izzy teve a impressão de ver uma veia saltando na testa de Alex e abriu um sorriso maligno para a castanha.

– Boa, Uia. – Ela respondeu com um sorriso inocente.

Manuke observava as três, tentando compreender o que se passava ali. Não sabia por que Izzy estava tão chateada com Alex, e a última sendo tão ignorante com Karu. Elas duas nem se conheciam! Não fazia sentido, já que ela pensava que as duas iriam se dar super bem...

– Ei, Ari-chan e Karu-nee não vão comer nada? – Perguntou a mais baixa, tentando melhorar o clima que ficou tenso rapidamente enquanto ela não estava prestando atenção. Karu desviou o olhar de Alex com um brilho renovado.

– Você disse comida? – Disse Karu, com os olhos brilhando.

Izzy bateu na própria cara.

– Tinha que ser... Não quero nada, ‘tô sem fome.

– Eu quero uma pizza de francatupiry!

– Ok, então eu vou lá pedir uma fatia pra você, Karu-nee! Deixa que eu pago! – Manuke sorriu e tentou se levantar, mas Karu a impediu, afagando seus cabelos.

– Não, não. Eu mesma pago. – Manuke fez bico. A cacheada deu um sorriso torto, explicando: – É que eu quero uma pizza inteira.

– MAS VOCÊ COMEU UM SORVETE E UM PRETZEL NO CAMINHO PARA CÁ!!!! – Karu deu de ombros para Izzy, que tinha ficado em pé para gritar.

– Mas eu ainda estou com fome, ué. E pizza de francatupiry é minha preferida.

– Para começar, não é francatupiry! A fome é tanta que você engoliu um “com” aí no meio! E segundo, não tem como você ainda estar com fome!

– Quer apostar? – E sorriu.

Alex olhava para as duas. "É sério que é com essa gente que Manuke anda?", pensou.

– Ela tem razão, Manuke. – Disse Alex, para surpresa das outras três. Quando todas olharam para ela, se apressou em acrescentar: – Você não devia ficar pagando para os outros assim, senão uma dessas suas amiguinhas vai acabar se aproveitando de você.

Manuke olhou assustada para Alexandra. Ela não costumava ser assim. Karu a encarava de uma maneira que a menor sabia que não acabaria bem, e Izzy ainda estava em pé, com a boca aberta para dar uma resposta daquelas.

– Lex-chan... – Disse, com lágrimas nos olhos. – O que houve? Eu achei que você e a Karu iam ser amigas.

Alex se virou. Seu olhar se tornou manso tão logo voltou-se para a outra. Ela estendeu a mão para tocar a bochecha da mais baixa, deixando-a completamente vermelha.

– É que... eu não gosto de dividir, Nuke.

– C-como assim...?

Izzy tinha uma expressão assustadora no rosto. Aquilo já estava indo longe demais.

– Olha, o garçom! – Gritou Karu. Alexandra recolheu a mão, ainda mais corada, e desviou o olhar de Alex e Izzy. – Moço!

O garçom se aproximou e Karu fez o pedido. A mesa ficou em um silêncio tenso até a pizza chegar, apenas a cacheada parecia à vontade, mas Izzy sabia que não era bem assim.

Estava se arrependendo de deixar Karu carregá-la até ali. Por outro lado, assim podia ficar de olho em Manuke. Sentiu suas bochechas queimarem ao pensar nisso e escondeu o rosto nas mãos enquanto o garçom chegava com a pizza.

Mal o homem colocou a pizza gigante na mesa, Karu atacou os pedaços cortados à francesa cheia de raiva, quebrando no caminho um dos garfos de madeira.

– Opa. – Disse ela, encarando o objeto, sem emoção. Manuke e Izzy trocaram olhares tensos. – Quebrou.

– Mas é claro que quebrou – Alfinetou Alex, com um meio sorriso. – Você colocou a força de um gorila aí! Além do mais, se você comer essa pizza inteira vai engordar, não?

Com isso, Karu respirou fundo e sorriu de canto, fazendo as outras duas relaxarem e rirem. Alexandra ficou confusa.

– Eu não engordo. Pensar queima todas as minhas calorias. – Disse, simplesmente.

– Todo mundo engorda. – Respondeu Alex, irritada pela provocação.

– Todo mundo menos a Karu. – Izzy e Manuke a cortaram na mesma hora, ficando vermelhas logo em seguida.

– Yep. – Karu não abandonou o sorriso quando perguntou: – Manu-chan, quer um pedaço?

A menor fez que sim, e a outra pegou uma garfada da pizza e colocou na sua boca, rindo baixinho quando ela a abraçou e pareceu ir às nuvens.

– Isso aqui tá uma delícia, Karu-nee! – Disse, pegando outro pedaço. – Prova, Ari-chan, Alex-chan!

– Não quero. – Respondeu a maior, emburrada.

Alexandra pegou um pedaço e murmurou “gostoso”, logo iniciando uma conversa amigável com Manuke. A pizza já estava acabando.

– Vamos, um não vai te matar! – Karu se soltou do aperto da menor e estendeu o braço com o pedaço de pizza que estava quase comendo.

– Já disse que não quero, cabaço!

Um barulho alto se fez ouvir entre as quatro.

– Ahan, não quer. Sei. – Karu sorriu de canto, desafiadora.

– Deixa eu terminar! Não quero você colocando comida na minha boca! Não sou um bebê!

A cacheada fez um biquinho. A morena olhava para a pizza, tentando esconder o desejo.

– Nyan, mas eu só tava tentando ser gentil com você, Iel... Também não faço mais.

Quando Izzy abriu a boca para responder, a outra enfiou a fatia entre seus lábios, deixando-a completamente vermelha. Ainda assim, a castanha abriu um sorriso e apoiou o queixo nas mãos.

– ... É bom.

– Prova de amor. – Disse, fechando os olhos miúdos alegremente. – Era o último pedacinho da pizza.

– Q-que mané p-prova de amor!!! – Gritou Izzy ainda mais vermelha, se é que era possível. – Não seja idiota!

Ao seu lado, Manuke estava um tanto corada e parecia chateada. Alex parou de monologar e encarou as outras duas com raiva. Karu se virou para a mais baixa.

– Eu te amo também, baixinha. – Isso a fez levantar o rosto e sorrir.

– Ah, que seja. – Izzy se levantou. – ‘Tô indo.

– Vai pra onde, Ari-chan?

– É, fica, Iel.

– Vou comprar uma água.

Ela saiu, deixando as três na mesa. Manuke e Alex jogavam papo fora enquanto Karu mexia em um dos garfos que sobraram. Logo as duas saíram para ir ao banheiro, mas só Manuke voltou.

– Cadê Alexandra? – Perguntou a cacheada.

– Ah, eu pedi pra ela comprar um chocolate pra mim na loja ali do corredor.

Karu observou a outra enquanto ela sentava.

– O que foi? – Perguntou, por fim.

– Nada, ué.

– Nada de “nada”. Você está com uma cara péssima, e não adianta fingir pra mim. – Manuke desviou os olhos para o chão. – Pode me contar, Manu-chan.

Karu tocou o ombro da menor. Em seguida, puxou sua cadeira para mais perto, impedindo-a de sair.

– Bem, na verdade eu queria te pedir um favor...

*****

– Izzy?

Alexandra havia entrado na doceria à procura da outra garota, que realmente estava lá na compra de uma garrafa d'água, a cara mais emburrada possível.

– O que... Ah, é você.

Alex se aproximou dela, que já apressava o passo para fora da loja.

– Espera! Eu quero conversar!

Izzy parou dois passos à frente da porta da loja, até que Alex a alcançou, segurando-a pelo braço para impedir que a menor tentasse fugir, intenção que era bem óbvia em seu semblante.

– Não achava você quisesse vir conversar comigo.

– Não começa a se achar importante, tá? Eu tava precisando conversar...

– Desembucha. - Izzy a cortou com desgosto.

– Tá, olha, eu queria saber o seu nível de amizade com a Manuke.

Ao ouvir o nome, instantaneamente o rosto de Izzy se tingiu de vermelho num misto de raiva e constrangimento.

– N-não era eu que tinha que perguntar isso?! - Sua voz saiu tremida, as mãos apertando ligeiramente a garrafa entre elas.

– Uou, calma aí! Eu só perguntei, não precisa se exaltar tanto. - Alex soltou a mão de seu braço, receosa. Não havia imaginado uma ação tão brusca de parte da garota.

– ... - Izzy controlou a respiração por alguns segundos antes de se virar para a maior. - A Nuke é minha... melhor amiga.

– Ah, não brinca. Aquela tal de Karu é sua melhor amiga, você não pode ter duas!

– Posso sim, ninguém me proíbe!

– Vai bancar a criança agora?

– Você me conhece, sabe que eu sou a criança. Vai bancar a mamãe agora?

As duas aumentavam significativamente o tom de voz a ponto de terem conquistado uma plateia.

– Quer continuar a conversa caminhando? - Alex direcionou a pergunta sem olhar para a garota à frente.

– Fechado.

Izzy e Alex caminharam para longe dali, em direção à praça de alimentação do shopping.

– Olha, - Alex tentou continuar - eu ainda não entendi qual é o lance entre vocês duas, mas me faz um favor e fica longe dela.

– E abandonar minha gatinha para o mundo cruel? Não, obrigada. - Izzy conseguiu o tom mais desprezível.

– ...gatinha? - Alex sorriu maliciosamente.

– Uh, eu disse isso em voz alta? - A garota estancou o passo, o rosto voltando a ficar vermelho.

– Ah, entendi. - O sorriso da morena se alargou, ela parecendo alienada à outra naquele momento, como se juntasse as peças. - Não pense que eu vou deixar você tocar nela com facilidade, heim?

– Tá brincando? Eu tenho convivência com ela, você não pode me impedir de nada!

– Ari-chan! Alex-chan! - A voz de Manuke interrompeu a conversa.

As garotas já haviam chegado à praça de alimentação naquele meio tempo, Manuke e Karu iam até as duas.

Izzy deixou-se ser abraçada por Manuke e ter os cabelos afagados por Karu quando a mais baixa a soltou para abraçar Alex. A cacheada não deixou de reparar que ela parecia chateada.

– Vocês saíram da mesa?

– É, já estamos voltando pro estúdio, Ari-chan! - Manuke se colocou entre Izzy e Alex, segurando a mão de cada uma.

Karu revirou os olhos com a atitute, não evitando uma risadinha baixa, ainda mais por ter visto um leve rubor nas bochechas de Izzy.

– Então estamos de saída? - Alex tirou do bolso uma pequena barrinha de chocolate comprada instantes atrás. - Tó, pode comer.

– Ah, é pra mim? - Os olhinhos de Manuke brilharam momentaneamente quando ela pegou o doce. - E-eu... Não, obrigada, já comi bastante. - Ela deu um sorriso caloroso e se virou para Karu - Karu-nee, pode ficar!

Izzy deu um tapa na própria testa.

Karu também.

– Manu-chan, devolve isso pra quem comprou.

– Mas eu sei que você quer!

– É gentileza sua, mas devolve, vai.

– Não devolve não! - Izzy interrompeu, tirando a barrinha das mãos da pequena. - Agora é meu. - E a mordeu, lançando um olhar desafiador para Alex.

Karu deu outro tapa na testa.

– Enfim, vamos voltar ou não para o estúdio?

Durante o caminho de volta, Manuke e Karu jogaram conversa fora tranquilamente, mas Izzy percebeu uma diferença no humor das duas, como se estivessem guardando um segredo. E Karu, conhecendo a amiga com conhecia, viu que ela estava incomodada, "Deve ser alguma coisa que Alex falou na nossa ausência...", pensou ela.

– Vem cá, você não tira esse sorriso da cara? Parece uma psicopata. - Alex se intrometeu no meio da conversa em algum momento.

– Só pareço? - Karu mostrou a língua, brincalhona, o que fez Manuke e Izzy soltarem uma gargalhada gostosa, deixando a cacheada mais aliviada.

– Ah, vocês voltaram! - Alexy recebeu as garotas no estúdio.

– É, e agora eu tenho que ir. - Karu bateu a mão na coxa.

– Mas já, Karu-nee? - Manuke fez um biquinho, se agarrando à maior e fazendo manha.

– Não pode ficar mais um pouquinho não? - Izzy franziu o cenho, um tanto decepcionada.

– Não, eu tenho mesmo que ir. - A cacheada bagunçou os cabelos da pequena e deu um tapinha nas costas de Izzy. - Até breve!

Armin se apressou e fez o favor de acompanhar a garota até a saída.

– Bom, agora eu fico sozinha... - Izzy suspirou.

– Por que, Ari-chan?

– Ué, vocês duas não iam assistir um filme na casa de alguém?

– Ah, sobre isso... - Alexandra levantou um dedo. - Manuke, querida, eu também preciso ir.

– Poxa, vocês ficaram tão pouco aqui... - Manuke solta um muxoxo.

– Outro dia a gente se vê, então. E você tem sorte mesmo, Izzy, de poder conviver com Manuke.

Izzy nada respondeu.

Alex se despediu e saiu do estúdio acompanhada por Ikki.

E um instante agoniante de silêncio se fez entre as duas apresentadoras.

– Uh... Ari-chan, eu preciso te dizer uma coisa... - Manuke se colocou na frente da maior.

– Ah, pode falar.

Izzy colocou um braço ao redor do pescoço da garota, as conduzindo até o camarim.

– Eu vou ter que viajar.

– ...Sim?

Manuke se sentou no divã do camarim, procurando as palavras certas.

– É que o meu pai conseguiu uma oportunidade de emprego em outro estado e... Ele quer que a gente se mude.

– Ah... - as pernas de Izzy bambearam. - Então você vai... sair do programa?

– É. Mas eu chamei a Karu-nee para ficar no meu lugar! - ela se apressou em dizer. - Antes que você ache que vai ter que fazer tudo sozinha...

"Mas você é insubstituível...", Izzy pensou com uma pontada de dor no peito.

– E a gente não sabe se vai dar certo lá, talvez eu volte ainda cedo... E eu ainda vou ficar aqui pelo próximo programa, o de Ao no Exorcist...

– Tudo bem, não precisa ficar dando motivo.

– Izzy estendeu sua mão para afagar os cabelos da morena, um sorriso afetado no rosto. - Eu entendi.

– Ari-chan... - Manuke tomou a mão da garota nas suas. - Você pode me fazer um favor?

– Sim?

– Não se despeça de mim.

– O que? Por que?

Manuke se levantou de frente para a maior.

– Eu não quero que pareça que iremos nos separar por muito tempo.

Izzy não contestou. Passados uns segundos em silêncio, ela sorriu e afagou novamente os cabelos dela.

– Tudo bem.

Então ela se virou e começou a andar para fora do camarim. Não queria que sua "Nuke" visse as lágrimas. Mas a maior sentiu dois bracinhos se agarrando nela. Era Manuke a abraçando por trás.

– N-Nuke...?

– Eu vou sentir saudades. - Ela respondeu com os lábios pressionados às costas da outra.

– ...eu também.