Somos um só escrita por Sadie


Capítulo 24
Epílogo




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Mesmo depois de tanto tempo, ainda era difícil para Jack acostumar-se com o novo mundo tecnológico. Era difícil para ele ver as crianças trancadas em seus quartos, mexendo em computadores e celulares ao invés de estar brincando fora de casa, no inverno. Ele ainda se lembrava das crianças, de séculos atrás, que não conseguiam passar um minuto sem brincar.

Era difícil para ele também se acostumar com as novas crenças e o novo cotidiano das pessoas - passar reto pelo outro apressadamente. Antigamente, as pessoas se cumprimentavam, ajudavam umas às outras. Naqueles dias, muito pelo contrário - passavam umas pelas outras apressadamente, atrasados para o trabalho ou loucos para chegar em casa.

Ele achava a humanidade um tanto estranha.

Era mais difícil ainda para ele ver rostos conhecidos mas sem se lembrar de onde ele vinha ou de quem ele fora. Ele reconhecia o rosto, claro, mas nunca se lembrava do dono.

Mas existia um sentimento que fincara raízes em seu ser. Era amor, paixão, ternura, saudades. Mas o problema era: por quem ele sentia aquilo? Ele se lembrava de todos os momentos vividos com a amante, mas nunca se lembrara do rosto, ou mesmo da voz. Era algo agoniante para ele, quase como uma tortura.

Bem que Norte lhe avisara: algum dia, as memórias dele iriam falhar. Algum dia, a dor de amar alguém e não poder tocar ou ver esse alguém voltaria à tona e, quando voltasse, seria para sempre. Norte havia tentado separar os dois amantes, Jack se lembrara - mas nunca soube o motivo, até o dia em que ele lhe avisou.

Ele estava seguindo uma jovem moça, com traços delicados e um rosto bonito, olhos azuis tão gélidos e um cabelo quase branco de tão claro. Aquele rosto lhe puxava uma memória muito, muito antiga, mas parecia que algo a impedia. Além do mais, havia algo diferente nela, sua aura, talvez?, ele se perguntou.

A moça entrou em uma pequena loja rústica, que vendia itens antigos e raros. Ela foi diretamente ao balcão, falar algo com o atendente, um senhor com feições simpáticas - provavelmente o dono da loja.

– Eu vim pegar a caixinha de música branca que me indicaram que estaria aqui. Pode me mostrar, por favor? Ela está na minha fam... - a voz ficou mais baixa, e Jack não pôde ouvir o resto.

Jack teria ficado ao lado da moça, teria tentado chamar a sua atenção, mas algo o fisgou. Uma caixinha de música branca, com alguns detalhes de ouro. Cuidadosamente, não querendo chamar a atenção - afinal, uma caixinha de música se abrindo sozinha não é algo muito normal -, ele a abriu. Uma bailarina de gelo saltou da caixinha e, no ritmo da música, ela rodava em volta de si mesma. Ele se maravilhou com aquilo - como uma estátua de gelo ficaria inteira assim, em uma caixinha, sem derreter?

Ele passou, suavemente, os dedos pela estátua. Algo nela era familiar para ele, talvez a tamanha precisão que ela fora moldada, talvez os pequenos detalhes de seu rosto, de sua roupa, de seu cabelo.

E então, ele percebeu que, séculos atrás, ele havia moldado aquela bailarina.

As memórias - antes quebradas - inundaram sua mente; ele viu um sorriso doce e terno que aqueceu seu coração, seguindo por uma risada, e ao ouvir a voz da sua amada, ele sentiu o seu coração dançar no peito. Uma voz que fora perdida há muito.

Depois, viu o rosto. Os lábios vermelhos, os olhos azuis, tão gélidos, tão inconfundíveis. Uma paz tomou conta de Jack.

E, então, ele viu o salão principal do castelo de Arendelle. Apenas um dos dois tronos estava ocupado - um jovem de cabelo cor caramelo e olhos azuis tão azuis tão inconfundíveis como os da mãe, que estava ao lado do trono, com uma mão repousando no ombro do filho. No olhar, ela carregava uma saudade e orgulho, misturado com determinação e bravura. Ele sabia que não era seu filho - guardiões não podem procriar, dissera Norte. Uma parte de Jack ficou triste por saber que ela teve um filho que não era parte dele, mas a outra parte do garoto ficou feliz por saber que Elsa seguira a sua vida após aquele desastre com o castelo.

As lembranças foram passando diante da mente de Jack, e ele percebeu que durante muitos anos ele e Elsa foram amantes. Kristoff ajudava a rainha com o castelo e alguns negócios, e Jack havia ajudado ela com a morte de sua irmã.

Chegara um ponto da vida de Elsa que ela deveria se casar. Não podendo se casar com o amante, ela não sabia o que fazer. Um conselheiro real havia aconselhado Elsa casar-se com aquele que já sabia governar parte do reino, sabia como tudo ali funcionava - Kristoff. Querendo ou não, ela deveria se casar com ele. Não havia mais tempo para outro pretendente - ela estava envelhecendo, e se esperasse mais alguns anos, não poderia mais ter um herdeiro de sangue.

Jack via o lado de Elsa. Os dois amantes ficaram abalados, é claro. Eles não poderiam mais se encontrar - uma rainha deve ser exemplo para o seu povo, tendo traição como um crime punível de morte. O casamento não teria amor, seria tudo uma questão de política - Kristoff havia concordado, afinal, Anna havia morrido.

E, então, a memória mudara, indo para o dia do casamento de Elsa. Ela dissera para Jack uma coisa que ele nunca mais iria se esquecer: o coração dela era totalmente dele, sempre e para sempre e, enquanto Elsa estivesse viva, ela se lembraria de Jack.

Com um último beijo - de despedida -, ele e Elsa se encontraram pela última vez.

Mas não significava que fora a última vez que ele havia visto a rainha. Ele a observava de longe - protegendo-a -, como Norte havia feito com Jack. Era doloroso para o guardião somente vê-la assim, mas sabia que, se a visse pessoalmente, não aguentaria.

E, então, a memória mudou para o dia do último suspiro de Elsa. Fora a memória mais curta e impactante que ele reviu - ele estava voando sobre uma pequena cidade, levando o inverno, como ele costumava fazer. O vento balançava os cabelos brancos de Jack, envolvendo-o com lembranças e nostalgia de quando ia para Arendelle no inverno. De repente, ele sentiu como se uma corda que o ligasse à Elsa fosse rompida, como se ela tivesse ligado os dois a vida inteira, como se eles fossem um só. No mesmo instante, ele perdera o equilíbrio e caiu.

Caiu em um monte de neve, seu cajado parando longe, e ele afundando na neve.

Ele sabia o que acontecera.

Sabia que a sua rainha morrera.

Nas memórias e também fora delas, ele foi inundado com a dor da perda. Seu coração se encheu de tristeza, não via mais o sentido de continuar vivendo, não sabia como o faria sem ela.

Afastou os dedos da bailarina, e a ligação com as memórias foram cortadas.

Olhou em volta, e viu o senhor e a moça olhando para a caixinha, que ainda tinha a bailarina girando e a música tocando.

– Provavelmente alguém veio aqui, a abriu e foi embora... - o senhor disse com a testa franzida e um sorriso. A moça levantou uma sobrancelha, como de desconfiança. E então olhou para Jack.

Não através de Jack, e sim para Jack.

– Sim, provavelmente... - ela sorriu, e foi em direção à caixinha. Levou ela até o balcão. - Eu não acredito que essa bailarina ainda está inteira. Talvez a história que minha família carrega seja verdadeira, afinal. - Olhou para a caixinha. - Dizem que a bailarina fora feita com o amor mais puro e sincero, e enquanto o sentimento existir, ela ainda estaria inteira.

O senhor riu.

– Talvez seja - ele disse, simpático. - Afinal, foi encontrada em um reino há muito destruído, e continua intacta. Eu daria meu reino - se eu tivesse um - para descobrir quem a moldou. Alguma ideia? - ele brincou.

– Jack Frost, é claro - a moça riu. Pagou pela caixinha de música e foi embora, deixando um Jack Frost surpreso para trás depois de conhecer uma das gerações de Elsa.


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Notas finais do capítulo

É com muito pesar que posto o último capítulo da fanfic - vou sentir muitas saudades de voces, sério.
Eu realmente espero que tenham gostado, afinal, até eu gostei!!!!!!! Espero que tenham gostado da fanfic inteira, da história, da minha escrita... afinal, não sou uma profissional, estou aqui para entretê-los.
Amo vocês, de coração. Agradeço a todos que acompanharam a fanfic do início ao fim, dos que comentaram em todos os capítulos (e também aos que não comentaram em todos), e se tiver alguma dúvida sobre a história, comentem e eu respondo.