A visão de Elsa girava. Sua mente era bombardeada com várias informações novas: ela havia acordado. De algum jeito, o seu agressor – ou seria o seu Jack? – resolvera libertá-la daquela tortura. Ela tinha medo de aquilo tudo ser apenas mais um sonho até chegar um momento em que ela acordaria novamente para mais uma nova sessão de tortura.

Apesar de sua estabilidade mental estar péssima – ela sabia disso, ela sentia isso -, e de seu corpo ter tido toda a energia sugada, ela reunira todas as suas forças para sair dali.

Quando vira Jack abraçando-a, ela queria gritar, chorar, se livrar daqueles braços. Seu corpo começara a tremer de medo, e em sua mente tudo o que ela pensava era em fugir dali, fugir de Jack frost, que tanto a havia amado e a torturado.

Ela sabia que, nos sonhos, não era o real guardião fazendo tudo aquilo. Ela havia aprendido a controlar um pouco cada cena de tortura, a finalizá-la, mas as torturas pioraram depois disso. Parecia que sua energia era sugada com muito mais força do que antes.

A única coisa em que pensara ao sair correndo da cela era que fugiria daquilo tudo e que sua irmã deveria estar morrendo de preocupação com ela em Arendelle.

Mas, agora, em pé naquele salão enorme e de frente para um homem totalmente desconhecido e que exalava dor, medo e morte, ela se sentia estúpida e burra por ter pensado que poderia fugir daquele terror.

Ela deu um passo para trás.

– Está com medo? – a voz do homem era serena, mas ao mesmo tempo ameaçadora. Ele sorriu. – Ah, Elsa. Querida Elsa – ele deu um passo para frente, e passou os dedos pelo cabelo da rainha. – Eu não vou machucá-la. Eu já lhe tirei tudo o que podia. Você agora é inútil para mim.

Ele abaixou a mão e a encarou com um olhar de superioridade enojado. Virou-se para os guardiões e andou até eles.

– Agora, vocês, sim. Vocês têm energia e sanidade de sobra para me oferecer, não acham? – Ele riu.

– Quem é você? – Norte tomou partido, e deu um passo à frente de Jack. O guardião da neve a olhava com pesar, mágoa e saudades. Ela sabia que não deveria ter medo dele, mas era impossível após todas as lembranças.

– Ora, ora. Eu sou o medo, a raiva, o ódio, a morte, a doença. Só que agora em pessoa – ele sorriu.

– Breu – o velhinho sussurrou. – Como você conseguiu?

– É incrível como o mal sempre é desmerecido nas histórias, não acham? Eles mereciam os créditos. Mais que o bem, se me permitem dizer! Afinal, o mal tem o desafio de se reerguer, planejar tudo, roubar a mocinha... E o bem? O que ele faz, além de atrapalhar o mal? Ridículo – Breu se aproximou de Elsa novamente. – Eu devo agradecer à Elsa, que me forneceu toda a sua essência durante esses dois meses.

“Vejam bem: eu era apenas uma fumaça ridícula zanzando por aí. Eu não tinha hospedeiro, não tinha um corpo próprio, eu não tinha material! Que tipo de mal é assim? Eu me sentia rebaixado. Então, após anos planejando a minha volta, eu finalmente vi uma oportunidade em Jack frost. Afinal, ele é o guardião mais jovem que existe. É cheio de energia, vitalidade e sim, poder! Era uma oportunidade perfeita.

“Eu vigiei ele durante anos. Enquanto isso, eu roubava um pouco de energia de algumas pessoas, crianças ou adultos. Não era o suficiente para um corpo para mim, é claro, mas sim para alguns corpos extras – meus soldados. Eles são feitos de fumaça essencialmente, mas tem um corpo como vocês. É claro que faltam algumas coisas, mas se provou bem útil quando Jack foi espancado.

“Em um dia horrível, com as pessoas felizes e saudáveis, eu segui Jack frost até um castelo. e senti uma força negativa. Aquilo foi lindo para mim, mas não consegui entrar no castelo. ele passou a entrar todo dia nele, e eu não podia. Parecia algum tipo de segurança, amuleto, barragem, sei lá, mas eu não conseguia. Pelo menos, não em meu estado. Entrei então no corpo de um soldado e, adivinhem! Vi aquela linda princesa, branca como a neve, cabelo com um loiro tão fraco que era quase branco. E aquela energia negativa era dela. Seu estado de espírito estava dominado com a tristeza, mágoa e medo. Era perfeito para mim. mas meu tempo estava acabando. Não tinha forças o suficiente para possuí-la.

“Anos depois, eu perdi aquela garota de vista. Ela não tinha mais áurea negativa, graças ao Jack. Ela era feliz agora. Apaixonada, até. Aquilo me deu nojo. Mas eu não havia parado de vigiá-lo, frost. Foi aí que você foi espancado, e comecei a colocar meu plano em prática. Longe de Elsa, você a fazia muito infeliz. Com a morte dos seus pais, ela era miserável. Como eu já tinha forças o suficiente, eu possui um guarda e invadi o castelo. Abandonei seu corpo e entrei no quarto de Elsa. Você deve se lembrar, certo?

“Mas eu não queria o corpo de Elsa, mas sim a sua mente. Eu possui o corpo dela, mas apenas por alguns segundos, que foram o suficientes para abrir uma brecha em sua mente, conhecer seus medos, suas alegrias e suas tristezas. Foi aí que eu consegui entrar, anos mais tarde, e causar estrago o suficiente a torturando. E, a cada tortura, a cada grito e lágrima derramada, eu recebia mais energia. Mais poder. Era delicioso.”

O salão agora tinha um silêncio mortal. Era perturbador para Elsa saber que ele tinha acesso à sua mente durante todos esses anos. Suas pernas bambearam, e ela deixou-se cair no chão. Cobriu o rosto com suas mãos, e desatou a chorar. Ela sentiu braços quentes a envolvendo, e sabia que era Jack. Afastou-se de inicio, mas cedera.

– Ah, o amor – Breu disse com sarcasmo. – Não é lindo?

Ele fez um sinal com a cabeça e dois guardas se aproximaram do casal. Separam os dois e os prenderam, segurando-os pelo braço.

– Qual é o seu propósito, Breu? – o coelho, que observara tudo aquilo calado, perguntou. Estava com boomerangs em suas mãos, como se estivesse pronto para algum confronto.

– Não há necessidade disso aqui, coelho – ele respondeu. – A batalha já está ocorrendo.

– O quê? Onde?

– Em um lindo castelo – ele riu. O ar que estava nos pulmões de Elsa parecia ter sido roubado.

– Você não vai atacar a fabrica de brinquedos, não é? – Norte sussurrou. – Jack, ele está atacando Arendelle.

– Me solte – Elsa murmurou, se desviando do aperto da mão do homem em seu braço. Ele soltou, e ela caiu no chão. – Por quê?

– Isso é só o começo, amor – ele disse, se afastando em direção ao túnel em que os guardiões chegaram. Ele fez um sinal com a cabeça e os seus soldados lhe seguiram. Ele fez um movimento com a mão e um portal de areia negra surgiu. Os soldados entraram. Jack lançou uma rajada de gelo em direção ao homem, mas ele desviou e riu. – Desejo-lhes boa sorte, sim? – E entrou no portal.