Somos um só escrita por Sadie


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Amigos, eu sei que eu demorei pra postar (nem tanto, mas eu nunca demoro, então sim eu demorei), maaaaaaaaaaaaaaaaas fiquei sem ideia a semana toda. É, foi mal.
Ah, uma coisa: a fanfic tá em seus últimos capítulos, provavelmente..........
Boa leitura!



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– Eu ainda me lembro do dia em que voltei para vê-la – a voz de Jack estava distante, ecoava pelos corredores escuros daquela prisão. – No inverno, quando você achou que eu não voltaria, sabe? Eu me lembro de cada detalhe.

A fala de Jack prendeu a atenção de Elsa. Quase sem forças e respirando rapidamente, ela respondeu:

– Como assim você voltou?

– Docinho, alguma vez eu descumpri uma promessa? Eu prometi que sempre voltaria, certo? – o som de algo batendo nas grades machucou os ouvidos da rainha.

– Você está mentindo. Jack não voltou naquele dia – ela olhava para o chão. Odiava não conseguir enxergar o que estava à sua frente, odiava ter o pensamento de que, se conseguisse sair dali, ela não teria como se guiar.

– É claro que voltei – a voz estava mais perto. Ela queria gritar “você não é o Jack, eu sei disso!”, mas seus pulsos voltaram a sangrar por estar sentada no chão. As algemas, presas na parede acima de sua cabeça, tinham correntes curtas. Se ela não ficasse em pé, ela relaxaria o braço e forçaria a corrente, machucando-a. – Você era uma adolescente ainda... Sua capa roxa a protegia do frio, que você nunca sentiu. Você construía algo, certo? Pena que não fiquei tempo o suficiente ali para ver o que era. Ah, como eu queria saber o que era...

– Como... – sua voz fraquejou. – Como você sabe disso?

– Eu já lhe disse milhares de vezes, Elsa. Não adianta negar – a voz estava mais distante dessa vez, e os sussurros – céus, aqueles sussurros de lamento e de dor e de choro – ficavam cada vez mais altos.

Ela então se viu orando – ela não sabia para quem, mas pedia para que aquilo acabasse, que aqueles sussurros se calassem. Eles ficaram cada vez mais altos.

– Jack? – ela chamou, a voz rouca pela sede e de tanto gritar. – Jack!

Ela sabia. Ele se fora. O que significava mais sofrimento para ela – odiava quando ele sumia, pois assim tinha que ficar sozinha naquele silêncio infinito que a envolvia. Pelo menos, quando ele estava perto, ela tinha algo em que se concentrar. Ela não sabia o tempo em que ele ficava fora – minutos, horas, dias talvez. Na verdade, ela não sabia quantos dias haviam se passado desde o casamento de sua irmã. Meses, talvez? Parecia a eternidade.

Acompanhada apenas pelos sussurros e pela solidão, Elsa chorou. Chorou silenciosamente – a dor em suas costelas a fazia querer gritar. Doía para respirar. Doía para continuar vivendo.

Ela fechou os olhos e tentou diminuir a dor em seus pulsos e em suas costelas. Perguntou-se mentalmente como ela ainda estava viva após perder tanto sangue. Às vezes, quando se mexia o bastante para tocar o outro braço, ela podia sentir o sangue seco na pele.

Ela então ouviu um tique taque. Tique taque. Tique taque. Tique taque. O relógio cuco de sua mãe. O som que a fazia lembrar que ainda estava sã agora era uma tortura. Ela sentia que estava enlouquecendo com aquele loop infinito de acordar mas ainda estar dormindo e de ter Jack a torturando dia e noite – ainda existe dia e noite?, Ela se perguntou.

Sentiu a pressão das algemas indo embora dos pulsos. Ouviu uma conversa. Abriu os olhos e se arrependera de tê-lo feito: a luminosidade do quarto de seus pais estava queimando seus olhos, após tanto tempo no escuro.

– Você sabe que ela é capaz de controlar os poderes sem isso, Odd – a voz de sua mãe em um tom repressor convidou Elsa a entrar mais no quarto – após tantos anos sem ouvir a sua voz, ela não importava se estava brava ou não.

Ao vê-la, ela parecia ter levado um soco no estômago. Elsa mal se lembrara de sua mãe nos últimos meses – quase se esquecera de seu rosto e, agora que podia ver ela novamente – ao vivo! – ela parara de se perguntar como havia chegado até ali. Tentou gritar “mãe!” mas a voz não saiu.

– Eu não sei mais. Após anos, ela não teve quase nenhum avanço – seu pai estava sentado na beira da cama real, as mãos no rosto, como se lamentasse.

– Isso não é culpa dela. Você não lhe dá apoio! Eu nunca concordei com aquelas luvas, Odd!

– Pelo menos eu fiz alguma coisa. E você, Anastásia? Não fez nada além de levar para ela livros. Sem aquelas luvas, ela teria congelado o reino todo! – Ele se levantara da cama, e a rainha recuou magoada.

– Não devíamos ajudá-la repreendendo, e sim dando amor e apoio. – Ela rebateu, e o rei abrira a boca para falar algo, mas batidas na porta o interrompeu.

– Com licença – um guarda real entrou no quarto, fazendo reverências. Ele passou diretamente por Elsa, como se ela não estivesse ali. – O navio já está pronto para embarcar.

O guarda saiu, e os pais de Elsa se entreolharam.

– Você tem certeza disso? – a mãe perguntou.

– A bruxa prometeu nos ajudar – o pai respondeu, segurando a mão da esposa. – Se tivesse outro jeito, eu...

A rainha afastou a mão, enojada. Saiu do quarto à sua frente, passando rapidamente pela filha e deixando o rei para trás, com um olhar magoado e de tristeza.

– Pai... – a voz de Elsa finalmente saíra, mas o rei não a escutou. Sua visão rodava, e caiu no chão.

~~~

Abriu os olhos e percebera que estava no convés de um navio. A madeira rangia, e a tempestade do mar o castigava.

Levantou-se do chão molhado, cambaleando com o balançar do navio. Queria chegar até o capitão, gritar que deveriam sair dali rapidamente, que eles iriam morrer. Não havia esperanças de passar por aquela tempestade. A dor do dia em que recebera a noticia de que seus pais morreram a consumia lentamente.

O capitão tinha uma expressão franzida, navegava cuidadosamente no mar furioso. Gritava a todo instante para os marinheiros, gritava dando ordens para proteger o rei e a rainha, para preparar um bote extra caso não houvesse salvação.

E então ele se calou.

E viu o fim da tempestade.

O céu limpo abria-se no horizonte, parecia o paraíso em meio à tempestade. Ele gritara novamente, mas dessa vez de felicidade – eles iriam passar por aquele mar de fúria. Iriam sobreviver.

Elsa sorriu. Eles iriam sobreviver!

Viu uma fumaça preta deslizando ao lado de seus pés, indo em direção ao capitão. Subindo pelas suas pernas e seu tronco, a fumaça entrou pelo nariz e pela boca do homem. Elsa quis gritar socorro, e então se lembrou de que ela era invisível. Era como uma lembrança.

E lembranças não podem ser modificadas.

O capitão girou o leme, em direção ao olho da tempestade que haviam dado a volta. Os raios iluminavam aquele céu escuro que parecia noite, e a chuva engrossara. As ondas ficaram cada vez maiores, por pouco não engoliam o navio.

Ela saiu correndo do convés, procurando seus pais. Queria ver como eles estavam em seus últimos momentos de vida. Ela sabia, não podia deixar-se enganar: ela estava vivendo os últimos dias de seus pais.

Uma onda virou o navio.

~~~

A brisa fria balançava os cabelos de Elsa, confortando-a. estava sentada no topo da montanha, em frente ao castelo de gelo.

Meus pais não estavam vivos quando construí o castelo, então como isso pode ser uma das ultimas lembranças deles...?, Perguntou-se, confusa. Olhou o castelo. Intacto. Olhou então em volta, e viu uma fumaça cinza, quase negra, tomando conta dos céus, como em uma fogueira.

Oh, não!, ela pensou, chorosa. A rainha estava vendo Arendelle queimar, literalmente. Apesar de estar longe – muito, muito longe – do reino, ela podia ouvir seu povo gritar em meio ao calor das chamas. Podia ouvir Anna gritando.

E chorou

Chorou

Chorou

Ela sabia que aquilo não era verdade. Seu reino não queimara. Estava intacto, sendo governado por Anna em sua ausência. Anna, que se casara com Kristoff.

Que estavam mortos em sua visão.

– Você matou os seus pais. Eles embarcaram naquele navio por sua causa. – Jack disse, fazendo-a chorar mais ainda. Era verdade, ela sabia. - Ah, não chore, Elsa – ele apareceu em seu lado, passou o braço pelos ombros da rainha como se a consolasse. – Não é real, você sabe. Isso é apenas uma visão de como seu reino ficará após eu assumir o comando.

– Você não é real.

– Eu sou real, assim como o medo, o ódio, o amor, a felicidade e o luto. Eu sou real, assim como você, sua estúpida irmã e os estúpidos guardiões. Eu sempre tive inveja deles, sabe? Sempre fazendo nada e levando todos os créditos. “Olhem, está nevando! Olhem, é Natal! Olhem, é inverno! Eu amo o inverno! Obrigado, papai Noel!”. Ugh, crianças. Estúpidas crianças. Euas divirto, e que crédito eu levo? Nem acreditam em mim!

Elsa fungou.

–Você está errado.

– O quê? – ele se surpreendeu.

– Jack ama as crianças. Ele pode até ter inveja dos outros guardiões, mas nunca deixaria de amar as crianças. Ele ama o que ele faz. – ela se livrou do abraço dele e se levantou. Olhou novamente para os restos distantes de seu reino queimado, e depois para Jack. Limpou as lágrimas de seu rosto e se aproximou da beira do penhasco da montanha. – E eu vou acordar agora. Pelo menos, em parte.

E se jogou do penhasco.

E acordou.


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