Cinzas escrita por Ludi


Capítulo 39
A Noite é Mais Escura Antes do Amanhecer


Notas iniciais do capítulo

Olá!

Como havia dito para algumas pessoas, a batalha derradeira – que eu pretendia finalizar em um único capítulo - acabou ficando grande demais. Precisei partir em dois capítulos e, naturalmente, essa é a primeira parte.

Preciso avisar com antecedência de que as cenas que envolvem batalhas e ação não são muito meu forte, então espero não decepcionar. Por favor, me contem o que acharam de positivo ou no que eu poderia melhorar para terminar o próximo. Críticas construtivas são infinitamente apreciadas e desejadas =)

Ah, um último aviso: esse capítulo é bem mais violento do que os que vimos até aqui.

Obrigada pelo feedback do último capítulo; com certeza é um dos meus favoritos, haha. A cada uma das pessoas que SEMPRE vem deixar suas impressões e sentimentos em todos os capítulos, muito, MUITO obrigada! Vocês são muito especiais para mim.

E mil agradecimentos à querida Rose, minha constante nessa história.
Enjoy!



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39 – A Noite é Mais Escura Antes do Amanhecer

Draco tampou os ouvidos quando o barulho das explosões os alcançou no meio da escada que dava acesso ao sétimo andar de Hogwarts.

"O que diabos foi isso?" Draco gritou por cima do barulho ensurdecedor, tentando olhar por uma janela e vendo chamas cruzando o ar numa mistura assustadora de cores, luzes e som.

"Isso se chama Jorge." Harry respondeu de forma que seria quase imperturbável se não estivesse esboçando um leve sorriso. "Parece que ele se aperfeiçoou em causar essas explosões de som e luzes com o passar dos anos."

"Encantador." Draco zombou, desgosto exalando de todos os poros. "Malditos Weasley realmente tem uma obsessão com explosões.

"Tem suas utilidades. E é bem divertido." Harry deu de ombros e voltou a subir a escada em direção ao sétimo andar, retomando seu foco. "O ataque começou. Vamos, temos que pensar num jeito de tirar James daqui."

Recuperado do susto e com uma postura mais digna dos Malfoy, Draco torceu o nariz para dois fatos. O primeiro - um tanto óbvio- é que ele descobriu odiar receber ordens do Cicatriz. O segundo, que odiava mais ainda, é que a ordem estava correta.

Isso não significava, é claro, que ele iria acatar docilmente qualquer coisa que o idiota dissesse.

"O tempo que você perde pensando é o tempo que você é morto, Potter." Draco zombou.

Obviamente, Draco - que sempre tinha sido um grande adepto de esquemas e maquinações como um bom sonserino-, não concordava com a ideia que tinha acabado de expressar. Só tinha dito aquilo para contrariar Harry.

Preferia cortar sua mão da varinha a deixar Potter tomar a dianteira mais uma vez, agora que ele já sabia exatamente para onde estavam indo.

Dizendo isso, ele se adiantou pelo corredor aparentemente vazio.

"Eu tomaria cuidado se fosse você, rapaz." O quadro de Newton Scamander falou para as costas de Draco, que por sua vez, lançou um olhar irritado por cima do ombro enquanto esperava a escada rotacionar e parar no acesso ao andar superior.

"Se você fosse eu, não seria uma quadro tão feio." Ele rebateu venenosamente.

"Onde estão os bons modos dessa juventude?!" O quadro exclamou ofendido e foi prontamente ignorado por Draco.

Malfoy seguiu em frente de forma resoluta. Não tinha dado nem cinco passos firmes e terminado de subir a escada quando, de repente, um clarão verde passou exatamente pela sua orelha esquerda errando-o por centímetros. Um comensal mascarado surgiu na sua frente com a varinha em punho, pronto a lançar mais um feitiço.

Harry, ainda no meio das escadas entre os andares, se impulsionou e se jogou nas pernas de Draco, derrubando Malfoy e assustando o Comensal que não o esperava ali. Por sorte, o bruxo mascarado só tinha percebido Draco terminando de subir os degraus.

"Estupefaça!" Harry gritou do chão e o comensal foi atirado para trás, inconsciente.

Por um milésimo de segundo, Draco e Harry permaneceram ali, emaranhados no chão assustados e ofegantes. Então Malfoy, com uma devida careta de nojo, começou a se mexer com certo desespero, totalmente claustrofóbico por sentir o peso de Harry sobre si.

"Tire as porcarias das suas mãos de mim, Cicatriz!" Draco empurrou Harry e saiu de baixo do moreno, esfregando o rosto e as roupas como se o contato com Potter tivesse o poder de lhe passar alguma doença contagiosa. Só depois disso ele se levantou.

Harry também se ergueu e bufou, como se estivesse amaldiçoando o momento que resolvera trazer Malfoy junto com ele.

Depois de se recompor da sua fúria ultrajada, Draco tomou seu tempo para olhar feio para Harry mais uma vez e então se aproximou do comensal caído, se agachando para observá-lo melhor. Com um gesto da sua varinha a máscara se desvaneceu e Malfoy fez uma careta de desagrado, pressionando os lábios numa linha dura.

"É o Nott." Ele explicou à contragosto. "Se os principais comensais estão aqui, o Lorde das Trevas já sabe que entramos e deve estar a caminho." Quando ele se endireitou percebeu o olhar cheio de raiva que Harry estava lançando para ele. "O que foi agora?"

"Não sei." Harry respondeu sarcástico. "Talvez estivesse esperando um agradecimento por ter salvado a grande porcaria da sua vida."

Draco sorriu causticamente. "Considerando que foi você mesmo que a colocou em risco – junto com a vida de todo o mundo bruxo quando foi marcado com essa maldita cicatriz anos atrás -, acho que estamos bem quites."

Harry revirou os olhos e tomou a dianteira, caminhando apressadamente e murmurando algo como 'Gina só pode estar ficando louca', mas Draco não podia dizer com certeza.

Depois de caminharem pelo corredor mal iluminado ao som de explosões e gritos dos andares inferiores, eles atingiram a parede do final do corredor do sétimo andar e respiraram fundo, torcendo para a teoria da Sala Precisa estar mesmo correta.

Harry colocou a mão suavemente sobre a parede. "Contamos com pouco tempo, mas enquanto a batalha se concentrar nos andares inferiores, nós dois temos a vantagem para procurar James."

"Não é muito animador dado que eventualmente teremos que descer." Draco apontou, também olhando a parede fixamente.

"Um problema de cada vez, Malfoy." Harry murmurou distraidamente. "Primeiro, lidamos com a Sala Precisa. E uma coisa que eu posso me orgulhar de ter aprendido nesses anos todos é que ela não funciona quando somos particularmente diretos."

Draco se limitou a grunhir no jeito Draco Malfoy mais eloquente de dizer 'estou-concordando-com-você-mas-não-gosto-minimamente-disso'.

Harry se concentrou na parede, ajeitando os óculos

Precisamos de ajuda para achar um esconderijo!, ele fechou os olhos e pensou, tentando se conectar de alguma forma com Hogwarts como tinha feito durante tantos anos quando ainda era um menino.

Nada.

Precisamos do lugar onde se escondem objetos!, Harry passou a mão pelos cabelos negros, começando a ficar desconfortável com a ausência de resposta da Sala.

Nada ainda.

Preciso da Sala Precisa, ele encostou uma mão na parede e Draco bufou irritado.

"Pelas barbas de Salazar, Potter." Em três passos, ele parou ao lado de Harry. "Você é um inútil."

O olhar que Harry lançou era um misto de raiva e cansaço. "Faça as honras da casa então, Malfoy."

Draco engoliu em seco e encostou as palmas das duas mãos sobre a parede fria e sem vida. Não tinha certeza se conseguiria fazer aquilo, mas o fato de que Potter estava observando-o ceticamente era um estímulo e tanto. Então, num último esforço pra achar James – e salvar seu orgulho de fracassar na frente de Harry-, ele encostou a testa na parede e fechou os olhos, como se ela fosse uma velha conhecida.

Precisamos achar alguém que é muito caro para nós dois, ele pensou suavemente e foi a sua vez de aguardar silenciosamente.

Lentamente, uma porta maciça e grandiosa começou a se materializar na frente dele e tanto Draco quanto Harry deram um pulo para trás, entre assustados e extasiados.

"Eu consegui...?" Draco murmurou não sabendo se era uma pergunta ou uma afirmação. Então, ao se dar conta de que realmente tinha conseguido, ele completou mais alto para que Harry pudesse ouvir. "Eu consegui, Potter."

"No que você pensou?" Harry perguntou surpreso e ignorou o tom arrogante de Malfoy.

Draco se limitou a sorrir petulante e mordeu a língua para conter uma réplica maldosa que envolvia Ginevra e sexo escondido em Hogwarts. Achar o garoto era mais importante.

"Importa?" Ele suspirou resignado.

"É, acho que não." Harry concordou depois de um momento. "O importante é que conseguimos entrar."

Eles seguiram em frente e não foi sem receio que adentraram a sala que desempenhara um papel tão importante na vida dos dois homens.

"Merlin, como esse lugar fede." Draco estremeceu ao tirar dos cabelos as cinzas que caiam sem parar do teto, se assemelhando a neve, só que mais densa e escura.

Harry suspirou com um pingo de culpa sabendo que eles eram os responsáveis pelo estado da Sala Precisa. "Parece que o poder de regeneração dela não foi suficiente para resistir a nós e a um feitiço das trevas."

Com algum esforço, Draco controlou um arrepio que ameaçou transpassar seu corpo. "Que tal não lembrarmos daquela noite e tentarmos localizar o garoto?"

Potter deu de ombros e se concentrou na tarefa à frente. "Homenum Revelio!" Depois de um instante de concentração e silêncio onde aguardou a resposta do feitiço, Harry falou animado. "Tem alguém aqui! Só pode ser James. Do contrário, já teríamos sido atacados ou sequer conseguido entrar na Sala Precisa."

Draco engoliu um suspiro aliviado. "Então mãos à obra, Potter." Ele fez uma conchinha com as mãos para ampliar o alcance sua sua voz naturalmente baixa. "James!"

A Sala Precisa não era realmente a definição de um ambiente pequeno e convidativo, ainda mais totalmente queimada e destruída como estava. Então eles saíram chutando os obstáculos do caminho ou tirando-os magicamente com gestos rápidos.

"James!" Harry gritoua plenos pulmões. "Consegue me ouvir?!"

Para alívio de ambos, uma voz fraca se manifestou numa das extremidades da sala. "Aquiiii!"

"Por ali." Draco apontou para a direção de onde a voz viera e se condenou ao ver que sua mão estava tremendo.

Harry assentiu e acelerou o passo para aquela localização. Draco o seguiu com um pouco mais de frieza, ainda atento à possíveis ameaças.

Não demorou muito até que eles encontrassem o menino com uma mochila surrada aos pés, com os joelhos flexionados e a cabeça apoiada nos braços.

"James!" Harry não se conteve e correu até o menino. James levantou a cabeça com os olhos verdes cheios de água, já com a esperança perdida. Ele praticamente se jogou nos braços de Harry, que o apertou contra si como se para ter certeza que era seu filho que estava ali. "Você está bem?"

"Sim - papai." veio a resposta fraca do menino, enquanto Harry - com certo desespero- limpava o sangue seco no rosto dele o melhor que podia com a manga da capa, sem nem se dar conta do que tinha sido chamado. Então James levantou os olhos e viu Draco perto de Harry, parado de braços cruzados, e um brilho de alívio cruzou sua expressão infantil. "Sr. Malfoy, eu estava com muito medo."

Draco jamais admitiria que se sentiu sensibilizado pelo alívio do garoto ao encontrá-lo ali. Então se limitou a balançar a cabeça e arrastar sua frase, se forçando a ficar com a voz estável. "Duvido disso, garoto. Você tem a coragem da cabeçuda da sua mãe."

James deu um sorriso fraco - porém verdadeiro- diante da comparação, enquanto Harry observava mais atentamente o ferimento do seu filho. Ele ergueu o menino nos braços com cuidado.

"O que fizeram com você?" Harry perguntou com a voz trêmula enquanto Draco chutava alguns objetos velhos do caminho pelo qual Harry seguiria.

"Foi aquele homem sem nariz..." James estremeceu, levando a mão até a bochecha cortada.

O semblante de Harry ficou absolutamente sombrio. "Maldito Vol-"

"Não fale o nome dele!" Draco interrompeu bruscamente, chutando particularmente forte demais um livro que teve o azar de aparecer na sua frente. "Ele já nos causou problemas o bastante sem precisarmos sair por aí falando seu nome de forma imprudente."

Ainda com James no colo, Harry parou bem ao lado de Draco, se lembrando das palavras de Dumbledore tantos anos antes. "Ter medo de falar seu nome só dá a ele aquilo que mais deseja, Malfoy."

Draco encarou Harry com desprezo frio, odiando o misto de pena e simpatia que estava vendo naqueles olhos verdes.

Não preciso da sua maldita condescendência, Potter, ele pensou cheio de veneno.

Tão perdido como estava no rosto de Harry e nos seus próprios sentimentos, Draco não reparou que James – no colo do pai - o observa com atenção, com os mesmos olhos verdes de Potter, mas que não demonstravam pena, apenas carinho e reconhecimento.

Draco não teve tempo de retrucar qualquer coisa mal criada para Harry porque sentiu a pequena mão de James contra seu rosto. "Você também é muito corajoso, Sr. Malfoy."

A altiva posição de desafio, de queixo erguido e olhos frios, se desvaneceu como se nunca tivesse estado ali, para começo de conversa. Aparentemente, o menino tinha o mesmo poder de desarmá-lo que Ginevra possuía.

Draco deu um tapinha gentil na mão de James num agradecimento mudo, cobrindo a pequena mão do menino com a sua própria mão. Então virou seus olhos de gelo em direção a Harry.

"Vamos dar o fora daqui, Potter."

***

Ao sinal de Jorge, os bruxos alocados do lado de fora começaram a andar firmemente em direção ao castelo. Gina deixou que as pessoas passassem por ela, respirando fundo e olhando para a escola uma última vez. Então, deliberadamente, esperou até que Olívia Thicknesse passasse ao seu lado. Ela a chamou com um aceno rápido.

"Olívia, eu precisarei da sua ajuda mais uma vez." Gina disse um tanto envergonhada, mas com determinação nos gestos.

"Não precisa hesitar, querida." Olívia disse gentil, ainda que Gina pudesse sentir um nervosismo subjacente na voz da bruxa mais velha. Quem deles não estava nervoso da mesma forma, afinal? "Não há mais retorno para o que estamos fazendo."

Gina assentiu. "Você é a única que pode aparatar-" Fugir, ela se corrigiu mentalmente, mas prosseguiu. "Preciso que você espere na entrada do castelo para-" Ela parou, tomando coragem. "Para quando acharmos James. Preciso que você tire-o daqui, não importa o que aconteça. Só tire ele daqui."

Olívia respirou fundo antes de concordar. "Vou fazer o possível, Ginevra."

"É mais do que suficiente para mim." Gina sorriu.

Depois de um abraço agradecido na mulher do Ministro, Gina se virou e partiu com os outros bruxos, alcançando Hermione com passos rápidos.

"Está pronta?" Gina perguntou suavemente, ainda que estivesse tremendo por dentro devido a expectativa.

"Passei os últimos oito anos esperando por isso." Hermione respondeu concentrada, flexionando os dedos da mão da varinha."Pronta é pouco. Estou ansiando por isso."

Gina sorriu ao ver o típico brilho de determinação nos olhos da amiga e procurou sua mão, apertando-a num incentivo mudo, numa despedida. Hermione assentiu e sorriu de volta.

Possivelmente, elas não teriam mais a chance de estarem lado a lado tão cedo. Talvez nunca mais.

Afastando os pensamentos negativos, Gina olhou para cima vendo os dragões de Carlinhos e Mirela levantarem voo com estardalhaço, rugindo assustadoramente.

Eles vão manter os comensais que ficarem do lado de fora bem ocupados, ela pensou com alívio.

Quando voltou a procurar a entrada do castelo, viu seu pai se aproximando delas, trazendo Gui com ele.

Hermione os cumprimentou seriamente. "Angelina e Olívio estão posicionados nas laterais do castelo?" Ela perguntou para Gui, exalando concentração.

"Sim." Gui respondeu no mesmo tom. "Creio que podemos forçar a entrada agora. Estamos guarnecidos por todos os lados."

"Então essa é minha hora de agir." Hermione sussurrou mais para si mesma. Era ela que coordenaria a entrada no castelo. Era a única razão boa o suficiente para separá-la de Rony e Harry. "Boa sorte para nós."

Arthur deu um abraço afetuoso em Hermione enquanto Gui abriu seu sorriso mais carismático de forma a incentivá-la.

Enquanto Gina observava Hermione partir com seus cabelos cheios esvoaçando ao vento, Arthur a puxou para perto dele e a envolveu num abraço apertado, sem dizer nenhuma palavra.

"Eu te amo, papai." Gina sussurrou passando os braços em volta da cintura dele e apoiando o rosto no seu peito. "Obrigada por ter vindo."

Ela mais sentiu do que ouviu seu pai suspirar, com a cabeça tão colada no peito dele como estava. "Não me agradeça, Gina." Ele deu dois tapinhas reconfortantes nas costas dela. "Eu atacaria Hogwarts quantas vezes fossem necessárias para salvar meu neto e para devolver a paz a você, meu tesouro mais precioso." Ela fungou para evitar chorar e deu um passo para trás para olhar nos reconfortantes olhos verdes do seu pai. E o que viu neles a deixou ressabiada porque pressentia o que viria. "Querida, gostaria de te pedir algo com relação a Rony."

Pronto, aí estava.

Ela suspirou tristemente num claro indicativo de que aquele não era um assunto que gostaria de discutir. Para dar ênfase ao seu ponto, ela começou a caminhar para onde Hermione tinha ido, sendo seguida de perto por Arthur e Gui. "Papai, acho que agora não é um bom momento-"

"Agora é o único momento que temos." Ele disse com autoridade e Gina abaixou a cabeça mecanicamente, como sempre tinha feito diante daquele tom. Arthur prosseguiu calmamente com a voz mais suave. "Tenho a impressão que Rony ainda está sendo condenado por um delito pelo qual Hermione já foi perdoada."

Gina sentiu a cutucada e ergueu o queixo em resposta, sua submissão esquecida por um momento. "Hermione não passou os últimos sete anos me culpando pelos erros dela, condenando as coisas que eu fiz por causa das ações dela. Acho, só acho, que não posso dizer o mesmo de Ronald, pai."

"É, creio que não." Arthur suspirou tristemente e eles andaram em silêncio durante um tempo. "Mas note que foram as consequências dessa atitude – de Rony e de Hermione – que nos colocaram na posição de finalmente acabarmos com isso, de vencermos hoje ou recomeçarmos em outro lugar. Essas atitudes nos deram esperança."

Um 'nos trouxeram Harry de volta' ficou implícito no ar. Gina sabia daquilo. Racionalmente, ela sabia. Mas o veneno da mentira havia lhe causado muita dor, mudado inexoravelmente seu futuro, sua vida. E Gina se deu conta de que ainda não tinha feito as pazes com aquilo.

"Não acredito que você está defendendo o que ele fez, pai" Gina olhou ultrajada para o seu pai e buscou apoio de Gui, até então silencioso ao lado deles. "Você também acha isso?"

Gui deu um sorriso enigmático e jogou o longo rabo de cavalo ruivo sobre o ombro, como se estivesse ganhando tempo para pensar numa resposta que não fosse enfurecer sua reconhecidamente geniosa irmã.

"Achei que você fosse adepta da ideia de dar segundas chances." Ele comentou claramente se referindo a Draco e Gina se encolheu visivelmente diante da verdade daquelas palavras.

"Traidor," Gina murmurou rancorosa. "Nem acredito que dei o segundo nome do meu primogênito em sua homenagem."

"Não faça perguntas se não gosta de ouvir as respostas, Gi." Gui riu da cara que sua irmã tinha feito.

"De qualquer forma, você não deveria ser tão inflexível, principalmente com relação a sua família." O Sr. Weasley continuou falando suavemente, ignorando o bico de Gina e o sorriso travesso de Gui. "Antes que seja tarde demais para remediar as coisas."

"O que o papai está tentando dizer é que não sabemos como os acontecimentos da noite terminarão, Gina." Gui completou subitamente mais sério e com aquele ar de sabedoria que Gina tinha aprendido a associar com o mais velho dos irmãos Weasley.

Ela sentiu um arrepio percorrer sua espinha diante da perspectiva sombria da conversa, mas não teve tempo de dizer qualquer coisa.

"Dementadooores!" alguém gritou atrás dela e Gina ergueu a cabeça para ver as figuras de capuz negro que começavam a proteger a entrada do castelo.

"Ah, ótimo." Gui bufou e sacou a varinha habilmente da capa. "Acho que devemos deixar a necessária aula de compreensão fraternal para depois. Preparada?"

"Sempre." Gina não hesitou ao responder.

Quando estava prestes a sacar sua varinha, sentiu a mão do seu pai sobre a sua. "Promete dar mais uma chance ao seu irmão? Por mim?"

"Prometo pensar." Ela murmurou vencida.

"Acho que tenho que me contentar com isso então." Arthur sorriu tristemente.

"É bem mais do que Rony merece." Ela resmungou e se aconchegou mais uma vez nos braços do pai por mais um momento. Então, depois de o soltar, se posicionou ao lado de Gui. "Expectum Patrono!" Ela ergueu a varinha para o ar e um vistoso cavalo prateado saiu da ponta da sua varinha.

A despeito da situação, Gina teve que sorrir ao ver seu patrono. Ao olhar para o feitiço de luz, ela se lembrou automaticamente de Draco.

Seu patrono era o mesmo que sempre tinha sido. O cavalo que tinha acompanhado-a desde que Harry ensinara o feitiço não mudara de forma apesar dos seus sentimentos por Draco.

Não passou despercebido a ela a onda de alívio que a invadiu diante desse simples detalhe.

E Gina se deu conta de que, diferente do que sentira com Harry, Draco conseguia aflorar o melhor da sua individualidade, conseguia fazê-la se sentir única no mundo. Não precisava se anular com Draco como tinha feito desde os seus dez anos com Harry.

O amor deles não exigiu que o patrono dela mudasse simplesmente porque não exigia que ambos – Draco e ela mesma – mudassem também. As coisas eram como eram.

Com aquela constatação na mente e um sorriso quase feroz no rosto, Gina avançou com o irmão ao seu lado.

Os gigantes continuavam a castigar os muros do castelo e lutavam de forma ferrenha com os Comensais que chegavam, ajudados pelos dementadores.

Por um lado, Gina sabia que deveria ficar ali e lutar, mas sua mente se voltou completamente para James. Olhou para a porta do castelo, tão próxima...

Era claro que ela tinha sua própria agenda ali.

Cercada pelo seu patrono como estava, ela conseguiria passar pela primeira linha de dementadores e entrar efetivamente no castelo.

"Vamos ficar bem, Gin." Gui disse depois de conjurar seu próprio patrono, uma raposa. "Papai e eu ficaremos na entrada por enquanto até Carlinhos e Mirela se reunirem conosco."

Gina assentiu e correu para entrar no castelo, observando Percy fazendo a mesma coisa para se juntar à Hermione. Eles seriam mais úteis lá dentro, ajudando Harry e Rony, ela pensou colocando de lado todas as suas mágoas pelo irmão.

Seu filho era a única coisa que importava.

Guiada por algum instinto particularmente aguçado em mães, ela subiu direto até o primeiro andar em busca do seu menino, pegando comensais de surpresa, sempre furtiva, eficiente, letal.

Nem perdeu tempo procurando por ali; sabia que Draco, Rony e Harry tinham entrado pelo terceiro andar e era para lá que estava se encaminhando, parando somente quando uma escada para subir não estava disponível, esperando nas sombras do castelo, atrás de estátuas e usando a escuridão ao seu favor.

Subiu correndo os degraus para o terceiro andar e se deparou com um comensal, cujo rosto não seria mais reconhecível depois do encontro com uma das suas poções corrosivas. Ela sorriu, não sabendo que o tempo que tinha levado para derrubar o comensal tinha sido fatal.

Sentindo os pelos na sua nunca se arrepiarem, ela se virou para observar a entrada que os três deveriam ter usado, atrás de uma estátua de uma bruxa feia e corcunda.

E foi então que ela o viu investigando o mesmo local. Investigando-a, se ela parasse para pensar com calma.

Não era tão burro afinal, Gina pensou quando sentiu um calafrio de medo.

"Ora, ora, ora." Gregório Goyle saiu das sombras que o encobriam parcialmente e caminhou a passos lentos em direção a ela. Gina tentou recuar dois passos, mas, por cima do ombro viu uma mulher mascarada se aproximar pelas suas costas. Goyle seguiu sua linha de visão e sorriu vitorioso para a mulher atrás de Gina. "Veja, Aleto, se não é exatamente quem eu estava procurando. Te disse que eles tentariam usar uma das entradas obstruídas."

Gina mais sentiu do que ouviu a mulher bufar diante da tentativa de Goyle de se gabar e sequer pensou duas vezes para aproveitar a hesitação."Estupefaça."

"Protego" Goyle gritou, ricocheteando a maldição de Gina e cambaleando para o lado com o impacto.

"Expeliarmus!" A comensal às suas costas disse quase preguiçosamente e a varinha de Gina voou pelo ar, indo para no chão atrás de Goyle.

Oh Merlin, não, ela pensou desesperada.

Um movimento a beira das escadas que levavam ao quarto andar chamou sua atenção e viu mais vários comensais por ali, patrulhando. Uns oito ou dez, talvez. Não tinha a menor chance se eles descessem. Tinha apenas alguns segundos até que a escada rotacionasse por completo e eles pudessem descer.

Ela recuou um passo. Se passasse por Goyle e por Aleto Carrow ainda teria que lidar com o resto do grupo.

A menos que...

Era arriscado.

Não, não havia opção. Ela tateou a parede atrás de si em busca de apoio e Goyle sorriu, interpretando aquilo como um sinal de medo.

"Não vou te machucar, Sra. Malfoy." Ele disse lentamente, se aproximando dela. "Pelo menos não enquanto Draco não estiver presente para ver o que irei fazer com você."

Sentindo um onda de nojo a invadindo, Gina fechou os olhos e num movimento rápido tateou a cintura, sacando um dos vidrinhos com suas poções. Aquelas poções.

"Cuidado, Goyle!" Aleto gritou para alertá-lo, mas tarde demais.

Gina não podia explodir a poção nos dois uma vez que aquilo também seria sua sentença de morte, então, com uma habilidade felina ela tirou a capinha de proteção que impedia a poção de explodir com os impactos sofridos pelo seu próprio corpo e jogou o frasco de poção num movimento rápido, mirando na escada que levava ao quarto andar, onde estavam os outros comensais.

Ela arremessou o frasco com toda a força que podia e então tudo foi luz e som.

***

Carregando James no colo, Harry praticamente corria pelo corredor em busca da escada, com Draco imediatamente atrás de si, desesperados por alguma saída para os andares inferiores.

"Alguma coisa no seu mapa, Potter?" Draco perguntou aflito, ainda não considerando um completo sucesso o fato de já terem descido ilesos por dois andares.

Harry negou com a cabeça. "Não nesse andar. A entrada por onde viemos está no terceiro andar e nós no quinto." Ele pareceu em dúvida por instante. "Poderíamos voltar e subir até a Torre da Grifinória ou da Corvinal e deixar James lá até conseguirmos achar uma saída."

"Precisamos tirá-lo daqui, não escondê-lo em algum lugar com o castelo sob ataque e-" Draco mal teve tempo de completar com alguma ofensa ao raciocínio de Harry porque no instante seguinte ele foi calado por um barulho avassalador, que precedeu um forte tremor nas estruturas daquela parte do castelo.

O chão tremeu sob seus pés e Harry se jogou contra a parede mais próxima, batendo as costas na superfície para proteger James. Draco- não tão voluntariamente- fez um movimento parecido, gemendo de dor e pensando na saúde das suas costelas quando foi jogado na parede oposta.

"O que foi isso?" James perguntou assustado, erguendo a cabeça do ombro de Harry.

"Acho que... foi uma explosão em algum dos andares abaixo." Harry respondeu pensativo. "Próximo de nós, provavelmente."

"Ginevra." Draco murmurou, nem ele mesmo sabendo se seu tom era de irritação pela idiota já ter entrado no castelo ou admiração pelo poder de destruição das suas poções.

"Gina?" Harry perguntou para ele, se endireitando e ainda protegendo a cabeça de James com uma mão. "Você acha que ela teve algo a ver com isso?"

Malfoy levantou uma sobrancelha para Potter.

"Uma explosão dessa magnitude e capaz de abalar as estruturas dessa parte do castelo. Quem mais você acredita que faria?" Draco respondeu impaciente.

Mais do que nunca, um nervosismo súbito o abateu. E o fato daquela sensação ser tão incomum o enervava ainda mais. Precisava vê-la, se certificar que estava tudo certo com ela.

Maldita Weasley cabeçuda!

"Err." Harry deu um meio sorriso a contragosto. "Possivelmente você tem razão."

"Ela está logo abaixo de nós." Draco se afastou da parede e tirou o pó da capa preta num gesto mecânico. "Temos que levar o menino para ela e fazer com que a endiabrada vá embora para bem longe de Hogwarts."

Dessa vez foi Harry quem o olhou com incredulidade, com o conhecimento de quem convivia com Gina há quinze anos. "E você acha que ela vai mesmo nos obedecer?"

"Ter esperança não custa nada." Draco deu de ombros, depois sorriu afetadamente. "E, se custasse, obviamente eu poderia pagar seu preço."

Harry bufou irritado com Malfoy, mas James encarou Draco com um brilho de agradecimento nos olhos.

"Papai, Sr. Malfoy está certo..." O menino se dirigiu a Harry. "Queria muito ir até minha mãe."

Harry suspirou vencido depois de considerar o pedido do seu filho por um segundo. "Descemos então."

Draco concordou com um aceno discreto e eles voltaram a caminhar.

Conseguiram descer mais um andar sem contratempos e se apressaram pelo corredor em direção a uma das escadas que levaria finalmente ao terceiro andar – o epicentro da explosão. Pelo menos ali ainda havia a possibilidade de tirar James do castelo pela passagem que levava a Dedosdemel.

Enquanto andava, Draco tentou espiar pela janela do corredor, mas não conseguiu discernir muita coisa graças à pouca luz e a mistura de pessoas, animais e feitiços que tomavam conta do lado de fora. A cada explosão que ouvia ele se angustiava um pouco mais com a perspectiva de que ela poderia estar ferida ou pior...

Estúpida teimosa!, Draco praticamente rosnou, chamando atenção de Harry que o olhou com curiosidade.

"O quê, Potter?" Draco grunhiu mal humorado.

"A escada mais perto da passagem é por ali," Harry apontou indiferente e não esperou que Draco o acompanhasse nem que justificasse qualquer coisa. Os três seguiram em silêncio, ouvindo o alto barulho dos dragões do lado de fora e ocasionais estremecimentos – que por si só já eram bastante assustadores, dado que conseguiam interferir de alguma forma na estrutura maciça de Hogwarts.

Draco levantou uma sobrancelha ao notar a poeira levantada naquela parte do castelo.

"Parece que essa parte está bastante danificada-"

Malfoy não pôde terminar porque eles tiveram que parar em seco no meio do corredor, respirando fundo.

Alguns comensais – seis para ser mais exato – estavam espalhados diante de uma escada provavelmente destruída pela explosão de Gina, alguns até caídos como se tivessem escapado por pouco do andar inferior e subido rapidamente quando perceberam que aquela parte do castelo iria pelos ares.

"Merda!" Harry murmurou baixinho enquanto os comensais ainda não tinham percebidos que os três estavam parados ali, sem proteção no corredor.

Mais pálido do que nunca, Draco agarrou o braço de Harry que sustentava James e os puxou silenciosamente até que eles conseguiram retroceder de costas, ainda com os olhos presos nos comensais distraídos com a destruição abaixo.

Um passo.

Mais um passo.

Merlin, mais um pouco e chegamos lá, Draco racionalizou, desejar um pouco de sorte não faz mal a ninguém, não é?

...

...

...

Contudo, não era uma época para sortes. Um dos comensais se virou reflexivamente na direção deles.

Draco teve vontade de erguer os braços para o céu e gritar contra quaisquer forças que regessem o universo, mas se limitou a sorrir arrogantemente.

"Olá, Avery." Ele cumprimentou jovialmente do meio do corredor. "Bom te encontrar quando estou totalmente vestido."

Avery se sobressaltou e Harry aproveitou o momento de hesitação. Com um grunhido quase inaudível, ele passou – não muito gentilmente- James para os braços de Draco. Malfoy cambaleou ao segurar o menino que, no auge dos sete anos, já era consideravelmente pesado.

Todos os comensais ali, alguns feridos, Draco pôde perceber, levantaram os olhos e se eriçaram desagradavelmente.

Obrigado Ginevra, por ter cuidado de uma parte deles por nós, ele pensou recuando instintivamente.

"Estupefaça!" Avery, o primeiro a se recuperar do choque, lançou a maldição que Harry rebateu com um rápido 'protego'.

"Malfoy, recue!" Harry gritou por cima do ombro e não precisou mandar duas vezes.

Pela primeira vez, Draco ficou feliz por satisfazer um desejo de Harry. Ele apertou James contra si e correu para o fim do corredor, virando rapidamente na sequência, ouvindo maldições serem gritadas e os relampejou de feitiços, que estranhamente combinavam com as luzes do lado de fora, dos fogos de artificio soltos pelo irmão de Ginevra e as labaredas dos dragões.

Draco colocou James no chão para poder respirar melhor, pensando numa saída mais rápida dali. Potter podia muito bem se virar sem ele.

Olhou para o corredor que levava ao outro lado do andar, onde mais escadas giravam em torno do próprio eixo naqueles movimentos tão típicos de Hogwarts. Escadas que poderiam representar sua chegada no terceiro andar.

Quando se virou para o garoto com a decisão de pegá-lo e fugir, viu aqueles grandes e odiosos olhos verdes carregados por algo que ele nunca tinha visto antes, nem mesmo quando tinha usado um Bicho-Papão contra o menino no que parecia séculos atrás.

Olhos cheios de uma repreensão muda, que Draco achou que não combinavam com o rosto de James.

Ele fez uma careta quando entendeu a razão daquilo. "Potter está se virando bem sem a gente." Para garantir seu ponto, ele espiou na esquina do corredor, vendo que Harry estava sendo cercado pelos únicos comensais que tinham varinha e que ele já tinha derrubado outros dois. "É, está indo muito bem." Draco mentiu parcialmente sem peso na consciência.

Era verdade que Potter estava ileso por enquanto, mas a situação era bem desfavorável. Até mesmo o santo Potter sabia que quatro contra um era prenúncio de tragédia.

Baixou os olhos novamente para James, que agora estava de braços cruzados e ainda mais emburrado.

"São seis." Ele disse firmemente e Draco se surpreendeu com o fato de que o menino havia contado quantos eram.

"Quatro estão de pé." Draco respondeu com os dentes cerrados diante da insistência do menino. "E só dois tem varinhas."

"São seis." James repetiu teimosamente. "Os outros ainda podem se levantar."

Draco bufou sonoramente. Aquele era realmente o filho de Ginevra: estúpido, teimoso e desnecessariamente corajoso.

"Fique aqui." Ele empurrou o menino para a parede com certa irritação antes de lançar um feitiço da desilusão sobre ele. "Não fale, não se mexa e respire somente o necessário para chegar vivo até sua mãe. Não acredito que estou dizendo isso, mas eu vou ajudar o idiota do seu pai."

Não podia dizer com certeza, mas teve a vaga impressão que o menino tinha sorrido.

Malditos Weasleys. Malditos Potters.

Que Merlin não permitisse que aquelas duas famílias gerassem descendentes juntas novamente, pelo bem da sanidade de Draco.

Com a varinha em punho, Draco Malfoy respirou fundo e adentrou o corredor.

***

Quando Gina arremessou sua poção, a explosão destruiu parede, escada e chão, certamente matando alguns dos comensais que estavam ali. Os que conseguiram escapar – não sem algum dano físico – só o tinham feito porque conseguiram subir até o quarto andar quando Aleto Carrow dera seu grito de alerta.

Mas eles não eram mais sua preocupação. Tinha limitado seu problema imediato aos dois comensais à sua frente.

O impacto da explosão tinha jogado-a contra uma parede, lançando Aleto no chão e deixando Goyle sobre um joelho.

A visão de Gina foi completamente ofuscada, primeiro pela forte luz, depois pela poeira. Seus ouvidos zuniam por causa do forte barulho e ela sentia suas mãos tremerem, devido ao medo e à adrenalina. Ainda assim, passado o o choque inicial da detonação, ela percebeu a silhueta de Goyle se movimentar com uma agilidade que ela não esperava de um troglodita feito ele.

Goyle ficou de pé rapidamente, dando passos lentos e constantes em direção à Gina.

"Você não desiste nunca, não é?" Ele grunhiu ao se aproximar mais dela. "Acho que já passou da hora de aprender um pouco de respeito!"

Gina recuou, olhando com dificuldade o espaço ao seu redor, tentando ganhar tempo. Merlin, preciso achar minha varinha!

"Aprender qualquer coisa com você?" Gina zombou sem misericórdia, sem nunca desviar a atenção da sua missão. "Como ter a cabeça cheia de bosta de dragão? Ou como ser totalmente idiota, talvez?"

"Goyle, rápido!" Aleto Carrow gemeu enquanto tentava se levantar. "Não há tempo para isso!"

Goyle grunhiu algum desaforo para Carrow que Gina não conseguiu reconhecer, uma vez que estava com a mente totalmente focada em encontrar sua varinha.

Que eles discutam muito mais, se isso me der tempo de arranjar meios para fugir dos dois, Gina pensou freneticamente.

Entretanto, num lapso de distração enquanto vasculhava os escombros com os olhos, não percebeu que Goyle estava em cima dela. Ela tentou correr, mas ele a segurou pelo braço, girando-a e jogando-a impiedosamente no chão.

Sem poder utilizar o braço para se proteger, Gina bateu com a cabeça no chão e seu mundo saiu dos eixos mais uma vez.

A cabeça de Gina estava girando, mas pôde perceber que Goyle estava levantando-a bruscamente por um braço, arrastando-a para algum lugar. "Talvez devêssemos ter nosso momento a sós, afinal. Minha justa recompensa. A justa recompensa de Crabbe."

"Crabbe?" Ela conseguiu perguntar com a voz meio grogue e confusa enquanto era arrastada pelos escombros. Do que aquele bastardo estava falando? "Eu não estava com Harry na Sala Precisa quando Crabbe morreu."

"Malfoy precisa pagar pelo que me fez!" Goyle se limitou a esbravejar sacudindo-a bruscamente e Gina não pôde evitar se encolher diante do tom de voz dele. Havia tanto ódio e amargura nele. "Pagar por ter sacrificado a vida de Vicente só para ter mais uma chance contra Potter."

Então um relâmpago de entendimento a invadiu implacavelmente.

Harry havia contado a ela o que acontecera na Sala Precisa durante a Batalha de Hogwarts, quando eles estavam em busca do Diadema de Rowena Ravenclaw. Goyle havia perdido seu melhor – e único - amigo naquela mesma ocasião.

E ele procurava culpados para a tragédia desencadeada pelo próprio Crabbe.

Draco tinha sido o escolhido pelo papel, aparentemente. Consequentemente, era lógico pensar que Goyle atacaria e se empenharia em destruir tudo e todos que fossem caros para Draco na sua tentativa de vingança.

"E você acha que fazer qualquer coisa comigo vai afetar Draco de alguma forma?" Gina deu uma risada quase histérica que soou falsa aos seus próprios ouvidos. "Eu o chantageei para que ele casasse comigo, manchei o nome da família dele e o sangue do seu filho. Draco não sente nada além de ódio por mim e por tudo que eu faço." Ela sabia que aquilo não era verdade, mas precisava jogar com as armas disponíveis, ganhar tempo para sair daquela situação que se complicava mais a cada segundo.

Goyle parou de arrastá-la por um segundo como se estivesse refletindo sobre a veracidade das palavras desesperadas dela. Então Gina sentiu uma onda de desânimo quando ele deu uma risada gutural e totalmente desagradável. Ele não havia comprado a mentira dela. "Acho que não precisa aprender como ser idiota, se acredita mesmo nisso. Você foi o ponto fraco de Draco, todo esse tempo. Foi justamente através de você que eu consegui destruir Malfoy, acabar com a imagem dele perante o Lorde das Trevas. Pensando bem, acho que tenho mais uma razão para te agradecer e, acredite Sra. Malfoy, meus agradecimentos serão muito prazerosos."

Gina sentiu a bile subir pela sua garganta diante das implicações daquilo. E, principalmente, porque ela finalmente tinha colocado no lugar todas as peças do imenso e complicado quebra cabeças que era sua vida.

"Foi tudo culpa sua..." Ela gemeu quando entendeu a dimensão do papel que Goyle tinha representado para o fim da sua paz. Estava pagando um preço alto por tê-lo subestimado por tanto tempo, julgado-o como perigoso, mas limitado por causa da sua inteligência.

Goyle riu com escárnio. "Estranho é você não ter percebido antes. Desde que fugiu da prisão de Glastonbury eu sabia que havia algo errado-"

Naquele exato momento, Gina chegou no seu limite com relação a Goyle e a tudo que ele pudesse dizer. Tudo perdido por causa dele, a paz que ela havia se esforçado tanto para construir, a segurança de James e Aries, a resiliência da sua família e amigos, sua frágil e recente relação com Draco.

A totalidade do que ela amava.

Tudo.

Ignorando os resquícios de tontura causada pela batida na cabeça, Gina recuou o cotovelo para trás e projetou um soco que acertou Goyle em cheio no nariz, fazendo-o recuar um passo hesitante e largar seu braço finalmente.

"Isso foi pelos meus filhos." Ela sibilou com fúria. Pelo menos pelos seus meninos ela faria o troglodita pagar, mesmo que o preço pequeno de um soco no nariz.

Desajeitado, Goyle levou a mão ao nariz ensanguentado, olhando-a com um misto de incredulidade e ódio nos olhos pequenos.

Então ele urrou ameaçadoramente de uma forma que eriçou os pelos da nuca de Gina, mostrando os caninos pequenos e afiados. "Pequena imunda!" Ele rosnou e envolveu as mãos em torno do pescoço dela, levantando-a do chão com violência. Gina chutou e esperneou, cravando suas unhas nas mãos e braços de Goyle enquanto sua visão ia escurecendo pouco a pouco enquanto o ar fugia dos seus pulmões lentamente.

Por um momento quando o oxigênio começou a lhe faltar, Gina pensou que seria tão mais simples parar de lutar. Estava tão cansada daqueles anos, daquelas batalhas e daquele sofrimento. Era tão mais cômodo parar de se debater e esperar por...

Esperar pelo quê?, ela abriu os olhos com rapidez, retomando o controle dos seus pensamentos.

A imagem de Aries, James, Draco, Harry, seu pai, sua mãe e família invadiram sua mente com toda força e foi como se um suspiro de vida tivesse sido soprado para dentro dela.

Não!, ela ouviu seu grito dentro da própria mente. Não vou desistir nunca!

Com mais ímpeto do que antes, ela se debateu nos braços de Goyle e levou suas mãos até o rosto dele, fincando a carne impiedosamente e provocando um gemido de dor que escapou da garganta do homem. Sangue se misturava ao suor e a poeira nos seus dedos e Gina se dividia entre desespero pela situação e deleite por sentir que estava arrancando sangue, pele e carne de Goyle, pelo menos um pouco.

Goyle não esperava por aquela explosão e retirou uma das mãos do seu pescoço, usando-a para dar um tapa em Gina. Ela não podia reclamar da agressão porque sentiu que, por causa dela, seus pés encostaram no chão novamente, mesmo que dando sustentação aos joelhos completamente trêmulos: agora pelo menos ela podia respirar e se movimentar.

Sua visão voltou ao normal e o ar aos seus pulmões no mesmo instante em que percebeu que Aleto Carrow estava ao lado deles, segurando firmemente o braço de Goyle para que ele não agredisse Gina ainda mais. Embora Goyle não tivesse soltado-a complemente, tinha se distanciado um pouco da ruiva – fato pelo qual Gina ficara muito satisfeita.

"Deixe isso para depois, Goyle!" Aleto disse irritada, envolvendo com seu braço livre o próprio abdômen, machucado pela explosão de Gina. "Teremos tempo para todas as desforras quando vencermos os Traidores e os Sangue-Ruins. Por ora, você sabe que o Lorde das Trevas quer ser o primeiro a puni-la e-"

Aleto, não conseguiu finalizar sua argumentação porque um feitiço explosivo cruzou o ar, atingindo exatamente o pequeno espaço na parede entre Goyle e Carrow.

O feitiço destroçou a parede exatamente atrás dos três - que já estava avariada por causa da poção de Gina.

Eles se atiraram em direções opostas para se proteger do impacto e do imenso buraco que se abrira onde eles estavam. Gina finalmente sentiu todos os membros funcionando novamente ao se soltar das mãos de Goyle e não pôde deixar de se admirar com a força do bruxo ou bruxa que tinha lançado o feitiço.

"Gina, se afaste!"Uma voz firme e familiar gritou entre a poeira e o caos.

Rony!, Gina pensou suspirando de alívio ao levar a mão ao pescoço machucado. Não pensou que fosse se sentir tão maravilhada com a presença de Rony outra vez na vida, mas lá estava ela, sorrindo como uma menininha ao ver seu irmão mais velho.

Durante um momento, Carrow e Goyle ficaram simplesmente parados nas posições em que estavam, tentando discernir o que –quem- havia causado aquele estrago.

"Um Weasley." Aleto rosnou para Goyle assim que ela reconheceu o rosto de Rony. Então, movida pelo instinto de que a melhor defesa é o ataque, ela se endireitou e partiu para cima de Rony com a varinha em punho, lançando maldições em direção ao rapaz. "Eu sempre quis ter sua cabeça ruiva servida numa bandeja, Weasley."

"Uma pena que eu goste dela exatamente onde está." Rony retrucou desviando dos feitiços, ora usando os destroços para se de proteger ora azarações para contra atacar.

Gina estava incapaz de ajudar seu irmão ou mesmo lhe dedicar muita atenção. Havia ainda o problema Goyle. Um problema bem grande que estava vindo de em sua direção mais uma vez. Gina notou que ele também estava sem varinha – devia ter soltado o objeto depois de alguma das explosões - e tentou se sentir otimista com relação aquilo, ainda que a diferença física entre os dois fosse totalmente favorável a ele.

Quando ele tentou agarrá-la mais uma vez, Gina cambaleou desequilibrada, caindo meio de joelhos e se defendendo de Goyle da melhor forma que podia com os braços. Ouviu Rony gritando em algum lugar ao seu lado, mas ela não saberia dizer se era pela fúria ou pela dor, porque o buraco da parede misturava os sons dos gigantes e dragões do lado de fora com a destruição do lado de dentro.

Goyle tentou encurralá-la e Gina pensava numa única coisa: dê mais um passo, seu grande bastardo, mais um passo e eu pego você.

E mais um passo Goyle deu.

Quando ele entrou no seu raio de alcance, Gina girou rapidamente e com um movimento ágil, conseguiu sacar e fincar sua pequena faca de cortar lesmas no flanco de Goyle e ele deu um safanão nela com força suficiente para jogá-la em direção à parede. Ela bateu na superfície que ainda estava intacta agradecendo a Merlin por não ter sido projetada em direção ao buraco e sentiu o ar ser expulso dos seus pulmões mais uma vez. Havia sangue no seu couro cabeludo, seus olhos lacrimejavam e os dedos estavam esfolados por causa dos embates físicos, mas ela não se permitiu ficar indefesa no chão.

Nunca tinha se permitido.

Ela jurou mais uma vez a si mesma que não deixaria aquele maldito bastardo ficar impune.

Gina se levantou com dificuldade e viu quando ele arrancou a pequena faca ensanguentada do seu flanco, olhando-a com profundo desagrado antes de jogá-la para fora do castelo pela abertura causada por Rony.

"Mais uma coisa pela qual você deve pagar." Ele murmurou num tom anestesiado e não pela primeira vez Gina se questionou sobre a sanidade de Goyle.

"Fique à vontade para tentar. Te garanto que vai falhar tanto quanto Crabbe falhou." Ela sibilou com os dentes cerrados e se preparou para o ataque que viria.

Com a expressão de puro e genuíno ódio pelas palavras dela, Goyle a puxou novamente pelo braço pronto para arremessá-la violentamente e bater sua cabeça contra a parede. Gina, por sua vez, se preparou para usar suas unhas como arma de novo.

O choque contra a parede, contudo, não ocorreu. Quando Gina desviou sua atenção de Goyle para entender o que havia acontecido, virou a cabeça a tempo de ver que Aleto Carrow jazia inconsciente aos pés de seu irmão e que Rony tinha arremessado um grande destroço da parede contra a cabeça de Goyle. O brutamontes gemeu e cambaleou quando o pedregulho o atingiu em cheio, deixando um rastro de sangue pela lateral do seu rosto.

Os dois homens urraram num gesto primitivo de combate e Gina aproveitou para, mais uma vez, procurar sua varinha com os olhos. Rony não parecia estar segurando a dele e, naquela batalha tão selvagem, quem tivesse uma varinha possuiria o poder.

"Solte ela, seu grande estúpido!" Rony vociferou ameaçadoramente, ainda que o fato de não estar com sua varinha diminuísse um pouco o efeito desejado.

"Venha me fazer." Goyle grunhiu e, curiosamente, soltou o braço de Gina, que buscou a parede por apoio. Ela supôs que a reação automática tivesse sido causada devido ao hábito arraigado de obedecer incutido desde a infância por Malfoy.

Obrigada por isso, Draco, ela pensou enquanto começava a vasculhar os escombros com as mãos machucadas.

Enquanto isso, Rony avançou em direção a Goyle desconsiderando que, ainda que os dois fossem quase da mesma altura, a diferença de corpo era notória. Deliberadamente, ele ignorou essa desvantagem; Rony parecia estar possuído. Golpeou Goyle com raiva se refletindo no seu rosto, ecoando nos seus punhos, nos sons absolutamente primitivos que ele emitia a cada golpe.

"Como-" soco. "-ousa bater em alguém-" soco. "-tão menor que você?"

Goyle apenas grunhia enquanto também machucava Rony da melhor maneira que podia - o que não era pouca coisa. Gina não sabia quanto tempo Rony aguentaria os golpes impiedosos de Goyle, que superava muito seu irmão em força, ainda que Rony fosse muito mais ágil.

Só havia uma esperança para eles.

Por isso Gina procurava enlouquecidamente por uma varinha – qualquer varinha - entre os escombros, com o máximo que sua mão machucada permitia. Ela cavava entre pedras, limpando ocasionalmente a poeira e lágrimas que se misturavam no seu rosto.

Lutando contra o tempo, percebeu com sua visão periférica como Goyle havia desferido um soco horroroso que acertou o maxilar de Rony e que o imediatamente o levou ao chão. Gina ficou em dúvida se continuava procurando ou ajudaria seu irmão que provavelmente tinha ficado inconsciente.

Mas então Goyle levantou os olhos para ela.

Ele nunca vai me deixar em paz enquanto eu viver, ela pensou se levantando prestes a correr, mas ele já tinha deixado Rony no chão e estava seguindo em direção a ela.

Estava encurralada.

Para desespero de Gina, tudo pareceu correr num ritmo muito mais lento. A onda de pavor começando no seu baixo ventre e contaminando todo seu corpo. Goyle se aproximando com um sorriso quase sonhador, a expressão vazia dominada por um tipo de loucura. Os destroços se acumulando calmamente em seus pés...

… E Rony se levantando com dificuldade.

… Goyle esticando a mão para ela.

… Rony com as sobrancelhas franzidas e expressão carregada de fúria.

O vento soprando pela grande abertura atrás dela a arrancou bruscamente do seu estupor e então tudo aconteceu tão rápido que o contraste com os instantes anteriores foi quase insuportável para Gina.

Goyle estava na sua frente e Rony - correndo como um louco em direção a eles - se jogou sobre Goyle, emitindo um rugido gutural que era diferente de tudo que Gina já tinha ouvido. Não parecia nem humano, carregado com tanta raiva que estava.

"Não com a minha irmã!" Ele gritou a plenos pulmões.

Gina mal teve tempo de se proteger ou sair totalmente do caminho antes que Rony se jogasse sobre Goyle, com tanta força que ela também foi junto com o movimento.

Precipitando os três em direção ao enorme buraco na parede, em direção à escuridão fria da noite.

Iam cair.


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Notas finais do capítulo

1- Sim, tirei o título do capítulo do Batman The Dark Knight, com certeza um dos meus filmes favoritos. Achei que encaixou bem com o que eu queria para essa parte da história.

2 - Creio que uma das coisas de que mais gostei nesse capítulo foi a pequena epifania da Gina, sobre como é diferente amar Draco e amar Harry. Acho que essa é a razão para que todas nós amemos DG: eles são melhores juntos. Eles não precisam mudar um pelo outro para dar certo, muito menos se anular. Nos livros, a Gina funciona muito mais como um apêndice para Harry, que une o jeito mais fácil (menos polêmico, pelo menos) para que Potter fizesse parte da família Weasley e as semelhanças com a Lily. É quase um caso de estudo para o complexo de Édipo. Não gosto dessa abordagem para Gina nos últimos livros (perdão JK, haha). Ela pode ser MUITO mais do que uma parceira conveniente para Harry.



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