Cinzas escrita por Ludi


Capítulo 34
Amanhã Será um Dia Pior


Notas iniciais do capítulo

Olá minhas queridas companheiras!

Mais uma vez, tive que quebrar o capítulo em dois, então esse e o seguinte serão, na verdade, composição de um mesmo arco. (só essa parte com quase 10 mil palavras de novo, sorry)

O próximo já está quase pronto também, falta só mais uma partezinha e revisão. Obrigada pela paciência! =)

A queridíssima Maria, como sempre no auge da sua gentileza, me deu mais um IMENSO presente, na forma de um retrato de família dos Malfoy versão 'Cinzas' que ficou liiindo. Estou averiguando um jeito de postar o desenho aqui no ff e burlar as frescuras do site, mas, enquanto isso, se alguém tiver interesse em ver, só entrar em contato comigo (ou com ela) =P. De qualquer forma, só tenho a agradecer – e muito – por toda consideração da sua parte, Maria, você é tipo meu Jack Kirby, haha

E também para Rose, como sempre, que me motiva e me inspira com sua dedicação a essa história.

Nem tenho como agradecer a todo mundo que me deixou um recadinho. Amei cada um deles, de verdade. Obrigada!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/502149/chapter/34

34 – Amanhã Será um Dia Pior

Agosto 2006

Satisfeita, Gina olhou ao seu redor pela primeira vez se sentindo em casa, cercada de prateleiras cobertas de livros, vasilhames com ingredientes e utensílios para o preparo de poções. Estava numa sala de poções improvisada que, ainda que fosse pequena, era o mais próximo que Gina tinha estado de casa naqueles últimos dias.

A sensação era quase reconfortante.

Então, ela podia ocupar a mente com aquilo que mais a distraía dos problemas do mundo: as poções. Estava no Chalé das Conchas há mais de uma semana e tinha se estabilizado o suficiente para ajudar sua família naquilo que fazia de melhor - notadamente a poção Erumpente, altamente explosiva e letal. Não havia mais identidades secretas agora e ela se sentia finalmente livre para lutar contra o Ministério.

Era como se um peso tivesse sido tirado das suas costas. Ela sorriu aliviada, mexendo distraidamente uma poção curativa no seu caldeirão.

Foi num desses seus momentos de contemplação e paz de espírito que Hermione escolheu para entrar apressadamente na sala onde Gina estava, carregando livros, rolos de pergaminhos e pequenos frascos numa pilha assustadora que quase cobria sua cabeça. Evidentemente, ela quase deixou tudo cair assim que viu quem estava lá dentro.

"Oh, Gina, me perdoe!" Ela gaguejou e ficou com as bochechas coradas enquanto tentava equilibrar todos os objetos nos braços. "Não sabia que estava aqui."

Gina a olhou passivamente, tentando convocar no rosto alguma expressão que traduzisse a raiva, o sentimento de traição, a revolta, mas não pôde.

Estava muito cansada de tudo que lhe fazia mal.

"As vezes você se esquece de que é uma bruxa." Gina comentou com um humor/ironia agridoce, relembrando os velhos tempos quando Hermione usava essas mesmas palavras com Rony e Harry, os velhos tempos onde eles passavam as noites na Torre Comunal da Grifinória, rindo e se deliciando com as presenças uns dos outros.

Com um balançar da sua varinha, Gina levitou os objetos do topo da pilha e os pousou sobre uma mesa.

"Ah, obrigada." Hermione suspirou aliviada. "Achei que o trajeto seria mais curto da cozinha até aqui. Trouxe alguns ingredientes que estavam faltando para-" Ela se interrompeu ao se dar conta de com quem estava falando. "Hm, como eu disse, me desculpe... Eu achei que você não estaria aqui essa hora do dia."

"Está tudo bem, Hermione." Gina murmurou resignada e voltou a jogar no caldeirão os ingredientes que tinha selecionado previamente. "Não é como se fossemos conseguir nos esconder uma da outra, morando no mesmo lugar e tudo mais."

Hermione ruborizou ainda mais e Gina soube que era exatamente aquilo que a outra bruxa esteve fazendo nos últimos dias.

Relutantemente, Hermione colocou a pilha de objetos restantes na mesma mais próxima, alisou o casaco e pigarreou duas vezes antes de começar a falar.

"Gina..." Ela hesitou, mas então ergueu o queixo, como se não pudesse adiar aquilo por mais um minuto. "Não é correto ou minimamente benéfico continuarmos assim. Sinto muito a sua falta."

Gina a encarou seriamente.

"A menos que você ainda tenha aquele Vira-Tempo, acho que conversar sobre isso não é realmente necessário, Hermione." Ela não demonstrou nenhuma reação, mesmo tendo começado a fervilhar por dentro com uma mistura de sentimentos que ela não conseguia isolar completamente: tristeza, raiva, mágoa, saudades. "Uma vez acontecidas, as coisas não podem ser desfeitas."

Hermione estava visivelmente triste, mas sua postura foi firme. "Eu preciso que você saiba que se tudo tivesse ocorrido novamente, da mesma maneira, eu teria feito a mesma coisa. Fiz o que fiz para proteger Harry e a Resistência. Merlin, fiz até mesmo para proteger você!"

"Acho que você já havia deixado esse ponto bem claro." Gina desviou a atenção da amiga e não pôde evitar o tom acusatório e de repreensão na voz.

"Sim, já havia me justificado com relação a isso. Mas isso não muda o fato de que tantos segredos consumiram minha alma por anos. E a de Rony também." Hermione suavizou a voz ao dizer aquilo e, por mais que Gina não quisesse, se sentiu balançada e tocada pelo pedido de desculpas indireto. "E eu sinto muito. Muito mesmo."

"Não sou tão nobre como vocês." Gina sentiu o suave sarcasmo da sua frase, mas continuou falando mesmo que as palavras machucassem tanto Hermione quanto a si mesma. "Acho que eu não sou forte o suficiente para perdoar e compreender."

"Não?" Hermione perguntou com firmeza, mas não sem gentileza. Então, não esperou pela resposta de Gina para completar. "Se não fosse, não teria passado por tudo que Draco Malfoy fez e se apaixonado por ele. E que Merlin te ajude, tanto se ele corresponder a esse sentimento ou não."

Gina, que estava olhando para seu caldeirão, levantou a cabeça bruscamente e pousou a mão na cintura. Ela não esperava por aquilo; grande parte da sua família estava agindo cegamente no que dizia respeito ao seu casamento, como se não estivesse acontecendo nada de verdade entre Draco e ela.

Mas enfim, sempre se podia contar com Hermione para ver os fatos que a maioria ignorava.

"Não me lembro de ter dado a entender que queria discutir meus sentimentos com você." Ela sentiu que suas bochechas estavam ficando quentes, muito devido ao fato de ela não ter negado a afirmação de Hermione. "Ou com qualquer outra pessoa, pelo que me consta."

Hermione balançou tristemente a cabeça, também percebendo a ausência da negação.

"Gina, por favor." Ela levantou a mão num gesto conciliador. Era um sinal claro para que elas passassem por cima daquele ponto delicado, pelo menos naquele momento.

"O que você quer de mim?" Gina suspirou muito cansada, pesando bem suas palavras antes de continuar. "Nada do que você me disser vai mudar o que estou sentindo, arrancar de mim esse gosto avassalador de traição..." Ela se interrompeu com a mão sobre o peito, como se não tivesse palavras para expressar como estava se sentindo.

"Certamente, eu posso entender." Hermione parou em frente a ela, fazendo Gina se concentrar totalmente no que estava dizendo. "E, se você nunca fez algo que alterasse irremediavelmente a vida de alguém, eu nunca mais te importunarei, juro." Ela perscrutou a amiga com os olhos escuros e envelhecidos. "Mas, se o fez, então poderá se por no meu lugar. E no do seu irmão."

Gina assentiu e fechou os olhos brevemente, num consentimento mudo de quem admitia a existência de aspectos sombrios do seu passado.

Hermione não tinha razão? Ela não tinha matado, chantageado, ofendido, mentido?

Como podia ser tão rápida em julgar? Como podia esconder seus próprios erros e apontar um dedo acusador para as outras pessoas, tão falhas e vulneráveis como ela mesmo era? Como Draco também era.

Não havia razão em lutar para aceitar Draco como ele era e repudiar os erros sua própria família. Mesmo que esses erros tivessem sido monstruosos e cometidos contra ela.

Aquilo não justificava o que eles tinham feito, era verdade. Talvez Gina nunca chegasse a perdoá-los completamente, mas ela podia entendê-los. Podia entender que havia marcas enegrecidas nas almas imaculadas de pessoas tão corretas quanto seu irmão e sua cunhada.

Parecendo entender o que se passava na cabeça de Gina, Hermione assentiu para a amiga, dando-lhe um pouco de espaço. "Tudo que eu peço é uma chance para deixar isso para trás."

"Nada será como antes, Hermione." Gina retrucou tão baixinho que ela quase não foi capaz de se ouvir. Mas foi o suficiente para fazer com que os olhos da bruxa morena brilhassem com alegria e alívio.

"Não estou pedindo para que seja, tampouco espero isso." Hermione sorriu fracamente e segurou na sua mão, apertando-a de forma reconfortante. "Essa é a nossa oportunidade de tentar construir algo novo, de renascer das cinzas."

Cinzas

Gina fungou para evitar o choro."Essa é a tônica da minha vida."

Então, ainda extremamente fragilizada, Gina puxou Hermione para um abraço tímido, seus olhos ardendo com as lágrimas contidas.

Estavam em paz.

***

James estava sentado na grama perto da entrada do Chalé das Conchas, folheando distraidamente um exemplar de 'Quadribol Através dos Séculos' que seu tio Jorge havia lhe dado numa tarde estranha, quando ele e tio Rony praticamente o arrastaram até uma sala vazia e fizeram-no prometer que ele jamais contaria à tia Hermione quem tinha lhe entregado o livro – aparentemente era um exemplar tirado de Hogwarts através de vias não tradicionais, muitos anos antes. Pelo menos aquelas foram as palavras deles.

James não se importava com isso, não tanto quanto deveria pelo menos. Se uma regra não era favorável – ou não tinha sido criada pela sua mãe – o menino não via muito problema em não dar o seu máximo para cumpri-la.

Ele voltou a passar a pequena mão pelas páginas, se concentrando em goles, balaços e pomos de ouro, quando seus pensamentos voaram até sua mãe e ele sacudiu a cabeça vigorosamente para espantá-la da sua mente. Ainda não queria pensar nela.

Voltou sua atenção às regras do Quadribol, notando que o livro tinha sido seu maior companheiro nos últimos dias. Bem, o livro e o Sr. Malfoy.

Claro, havia crianças ali com quem ele podia interagir e brincar. Ele tinha uma prima de cabelo tão claros quanto o do seu padrasto e que destoava do resto da família por sua aparência incrivelmente peculiar. James ruborizou ao pensar na beleza de Victoire, se irritando um pouco com o efeito que uma garota – bleh – tinha nele. Havia também o afilhado de Har – seu pai -, Ted Lupin. Ele era um pouco mais velho que sua prima e tinha um efeito tão perturbador em James quanto Victoire, por razões diferentes. Ted era algo que sua mãe tinha chamado de metamorfo; cada demonstração da sua habilidade deixava James de queixo caído e fazia com que a Sra. Malfoy torcesse o nariz exatamente como fazia quando o Sr. Malfoy se comportava mal. James fez uma nota metal para perguntar a Sra. Malfoy porque ela se importava tanto com o comportamento de Ted Lupin.

Enfim, se James realmente quisesse, havia pessoas da sua idade para lhe fazer companhia. Crianças que pareciam ser bem maneiras, na opinião dele. Mas ele não estava pronto. Ele se sentia como uma pessoa que tivesse passado fome pela vida inteira e, então, sido posta na frente de um banquete. Por mais que quisesse comer muito, simplesmente não conseguiria.

Tinha passado a vida inteira achando que seriam só ele é sua mãe – e Della–, que agora se sentia nocauteado com tantas pessoas, informações e acontecimentos ao seu redor. Se ao menos Dave estivesse ali, mas havia se separado do seu mais antigo amigo humano também...

Ele fungou discretamente e secou rapidamente uma lágrima que escorreu do seu rosto, mesmo que ninguém pudesse vê-lo.

"Sabe, não é um pecado chorar." James levou um susto tão grande que quase o fez pular na grama, derrubando o livro no seu colo. Draco Malfoy estava parado logo atrás dele, de braços cruzados e os cabelos escondendo os olhos cinzentos que em algumas vezes despertavam pena, em outras despertavam medo no menino à sua frente. "Pelo menos assim me disseram quando eu tinha a sua idade. Depois, não fez mais diferença se eu chorava ou não."

"Não estava chorando." James tentou enganar a si mesmo. Seu pai tinha dito que ele era corajoso, não é? E certamente chorar não o mantinha naquela categoria. Ou assim James supunha.

"Não?" O Sr. Malfoy perguntou levantando uma sobrancelha para ele. "Ótimo, me poupa dos inconvenientes de ter que te consolar." Ele disse daquele jeito arrastado que era só dele e então apontou para grama ao lado de James. "Posso?"

O menino se afastou para o lado silenciosamente, permitindo que Draco se sentasse ao seu lado, não sem antes analisar a grama minuciosamente e garantir que era seguro se sentar sobre ela. E os dois permaneceram assim, o Sr. Malfoy com as pernas cruzadas e apoiado nos cotovelos, como se estivesse vendo um jogo de Quadribol chato, enquanto James tinha abraçado seus joelhos de forma protetora, se esquecendo completamente o livro.

"Eu sinto muito pelo seu elfo."

James se surpreendeu levemente com o fato de que seu padrasto tinha sido a primeira pessoa a falar aquilo diretamente para ele. Os outros simplesmente evitavam tocar no assunto, como se Della jamais tivesse existido. E ele não tinha se dado conta como aquilo o irritava até aquele momento.

"O nome dela era Della." James sentiu necessidade de dar uma identidade a sua amiga. Então, ele fez a pergunta que estava entalada na sua garganta desde que ele soube. "Por que ela morreu?"

O Sr. Malfoy deu de ombros, mas não da forma desdenhosa que sempre fazia. Era como se ele estivesse simplesmente cansado de tentar ter uma explicação para tudo.

Draco olhou de forma penetrante para o menino.

Tem certeza que é para mim que você deve fazer essa pergunta, James?, ele impediu um suspiro cansado de vir à tona.

"Talvez só mesmo o responsável entenda a razão." Deliberadamente ele omitiu que a elfo havia morrido exatamente por causa da sua devoção ao garoto. O menino não precisava de mais aquele fardo. "Mas tenho um palpite muito bom de que ela morreu porque escolheu tomar partido num mundo cada vez mais intolerante e cheio de ódio."

Antes, aquilo teria sido a afirmação do óbvio e Draco seria indiferente à constatação. Era como se o fato do mundo ser uma grande porcaria fadado à miséria e desolação apenas despertasse nele a sensação de 'ok, o que eu posso fazer para sobreviver?'.

Agora, aquela concepção de brutalidade e violência causava nele um vazio inexplicável, como se ele tivesse tomado um soco no estômago que o deixara sem fôlego.

"E ninguém vai fazer nada por ela?"

Draco podia sentir as palavras 'por um elfo? Você é louco?' se formando no fundo da sua garganta, mas ele as freou a tempo por alguma razão que não pôde definir completamente.

"Eu não sei o que sua família pretende fazer a respeito." Foi tudo o que ele disse, uma meia verdade. "Aliás, eu não sei nada dos planos deles, sobre qualquer assunto."

"Gostaria de saber?" James perguntou o olhando com aquelas odiosas orbes verdes e brilhantes.

"Acho que sim." Draco respondeu com sinceridade, depois de uns instantes em silêncio. Não era tão difícil falar com Cicatriz Júnior, afinal. "Eu não gosto muito de perder o controle das coisas."

As sobrancelhas castanhas de James quase se uniram no meio da testa quando ele fez um esforço praticamente monumental para entender o padrasto. "É estranho você gostar da minha mãe, então."

Draco quase sorriu.

Quase.

"Nem me diga."

James balançou a cabeça em concordância de forma simpática, com um incipiente espírito de solidariedade que surge entre os homens quando o assunto são mulheres. No caso, quando o assunto era amar Gina Weasley.

Depois desse momento de empatia, ele estranhou a situação como um todo.

Geralmente ele e o Sr. Malfoy se encontravam no jardim da tia Fleur, onde eles podiam ter a sensação de que estavam isolados do mundo. Aquele lugar, diferentemente, era tão... exposto. Definitivamente, não era o estilo do Sr. Malfoy.

"Por que está aqui, Sr. Malfoy?"

Se ele havia ficado surpreso com a reação do menino, não demonstrou nada além de um olhar penetrante, avaliador. Um daqueles olhares que James não gostava.

"Para me despedir de você."

Subitamente, James se virou completamente para ele.

"De mim? Mas mas mas-" James gaguejou tentando expressar seu raciocínio da forma mais adulta possível. "Mamãe nunca deixaria o senhor ir sozinho! Vocês vão embora e me deixar aqui? E Aries e e e-"

De repente, ele sentiu que seus olhos estavam se enchendo de lágrimas de novo e isso o desesperou absurdamente.

O que, obviamente, desesperou o Sr. Malfoy ainda mais.

"Merlin, você fala como a sua mãe!" O Sr. Malfoy disse levando uma mão à têmpora e fechando os olhos brevemente. "Uma pergunta de cada vez, por favor."

"Desculpe." James pediu timidamente, mas não abriu mão das suas perguntas concedidas. "Eu vou com o senhor?"

por favor não me deixe também por favor não me deixe também por favor não me deixe também por favor não me deixe também por favor não me deixe também

Foi tudo que James conseguia pensar numa pedido silencioso. E, quando a resposta veio, foi como se tivessem jogado neve dentro da sua blusa de lã.

"Somente eu vou embora." O Sr. Malfoy explicou e fez uma leve careta de desgosto, como se estivesse tomando uma poção muito ruim. "Sua mãe, Aries e a minha mãe vão ficar aqui, com você."

"Mamãe sabe disso?" James mordeu o lábio e perguntou a primeira coisa que veio à sua mente.

"Ainda não."

James o olhou com uma cara de 'você está encrencado quando ela descobrir', que Draco prontamente resolveu ignorar.

"Não podemos ir com o senhor?"

"Não." Draco respondeu sentindo que estava cravando as unhas na palma da mão. Por que diabos era tão difícil?

"Por que está indo?"

Garoto absurdamente curioso, Draco pensou evitando rolar os olhos, sempre fazendo perguntas que eu não quero responder.

O Sr. Malfoy suspirou dramaticamente e James percebeu que ele estava sendo acometido pelo desconforto que sempre aparecia quando queria encontrar as palavras certas.

"Lembra da primeira coisa que eu te disse quando estava te ensinando a voar?" Draco disse depois de pensar uns segundos sobre o melhor jeito de explicar aquilo sem mentir. E o fato de que ele não queria mentir só o irritava mais.

James estufou um pouco o peito, imitando a postura de Draco e arrastando as palavras como ele fazia. "Que cair era inevitável."

Dessa vez, um sorriso traidor passou pelos seus lábios pálidos, mas Draco tratou de fazê-lo desaparecer rapidamente. Tinha assuntos mais sérios tratar naquele momento.

"Por isso eu prendi seu braço na vassoura com a minha mão: você certamente iria cair. Todo mundo cai." Ele explicou mesmo quando James, diante da perspectiva de levar um tombo, colocou no rosto uma expressão que era um misto de segurança e confiança, que lembrava demais o infeliz que atendia pelo nome de Harry Potter. Draco afastou a impressão para terminar o raciocínio. "E, quando caísse, aquilo teria te protegido do pior da dor da queda."

Draco terminou de falar como se a conclusão fosse óbvia e James o olhou em dúvida.

"O senhor está com medo de se machucar ao andar de vassoura?"

"Não é sobre andar de vassoura!" Draco fez uma careta, acenando de forma frustrada com a mão pálida. "E medo não é bem o termo. Mas digamos que eu esteja me protegendo de uma queda muito alta e inevitável."

James não compreendeu completamente, mas já tinha desistido de entender o que se passava na mente dos adultos. Então, ele preferiu manifestar algo que, de forma distinta, ele entendia muito bem.

"Eu não quero que o senhor vá."

E meu único amigo aqui, ele pensou, mas manteve a ideia para si. Aquelas palavras certamente iriam assustar o Sr. Malfoy e James não queria assustá-lo ou afugentá-lo.

O Sr. Malfoy suspirou tristemente.

"Quase nunca temos aquilo que queremos." Draco arrastou as palavras e se levantou, espanando a grama da calça preta. "Essa é uma lição que você faz bem em aprender desde cedo." Então ele apontou para o livro caído de Quadribol, como se eles estivessem discutindo o esporte desde o começo. "Se você treinar bastante, será um excelente apanhador."

"Até parece que se importa." James zombou da afirmação, ainda magoado com o fato de Draco estar indo embora. "Não vai estar aqui para ver mesmo."

Foi a vez do menino se levantar, recolher o livro rapidamente e caminhar de volta para casa.

Mais pessoas o abandonando, mais perdas, mais despedidas.

Seu mundo tinha caído mais um pouco.

Quando ele estava longe o suficiente, Draco passou a mão pelo cabelo num gesto derrotado.

"Mas eu gostaria de estar." Draco sussurrou para si mesmo ao ver o menino se afastar.

***

Se as desavenças não foram esquecidas, pelo menos naquele momento elas não eram o que guiava os corações daquelas duas mulheres, tão amigas há quase quinze anos. Agora, Gina partilhava a companhia de Hermione de boa vontade, assim como respondia suas perguntas interessadas.

"É simplesmente fantástico!" Hermione falou empolgadamente. "Você descobriu isso tudo sozinha?" Ela perguntou enquanto andava e lia um bloquinho de papel onde Gina tinha anotado algumas melhorias nas poções da Resistência.

"Bem, basicamente sim." Gina respondeu enrubescendo um pouco. "Mas algumas coisas eu tirei dos livros da época em que ficamos confinados em Hogwarts. Não há pergunta que o livro certo não possa te responder, não é?" Ela completou e piscou de forma cúmplice para Hermione.

"Certamente que não!" Hermione riu. Ela passou pelos caixotes com as poções estocadas no canto da sala, fazendo um inventário mental. "Vamos conseguir mandar para Carlinhos na Romênia mais do que teríamos esperado. Espero que não tenhamos problemas em cruzar a fronteira da Inglaterra com elas." Ela pareceu pensativa por um instante antes de completar. "Creio que Malfoy será útil nesse aspecto. Se há alguém que sabe como driblar a segurança reforçada dos Comensais, esse alguém é ele."

Gina se virou subitamente em direção a Hermione, ainda com uma faca de cortar lesmas na mão. Inconscientemente, Hermione deu um passo para trás e Gina abaixou a faca lentamente, se dando conta de que, naquele momento, ou estava muito parecida com Molly Weasley nos seus piores dias ou com um troll descontrolado.

Tinha evitado pensar em Draco durante dias, obviamente sem sucesso. Ainda doía pensar em como ele tinha se negado a entendê-la ou sequer ter tentado dizer o que ele estava sentindo. Esclarecer o que ela significava para ele.

Se internamente Gina vivia um verdadeiro tornado emocional, externamente, pelo menos, ela tinha conseguido evitar a presença de Draco e fugir de conversas relacionadas a ele, o que não era realmente difícil vivendo numa casa apinhada de Weasleys, ainda que Narcissa e sua mãe tivessem insistido irritantemente nesse ponto.

Entretanto, naquela conversa com Hermione, foi inevitável pensar nele.

"O que Draco tem a ver com o envio de poções para a Romênia?" Ela franziu a testa, não gostando do rumo da conversa.

"Você não sabe?" Quando notou o rosto de Gina tão expressivo quanto uma pedra, a expressão de Hermione passou de dúvida para constrangimento, para então resignação. "Ele vai levar o carregamento de poções para Carlinhos, junto com Jorge." Ela perscrutou o rosto de Gina de forma avaliadora antes de completar com a informação mais relevante. "E vai permanecer na Romênia, até onde eu entendi."

"Papai e os outros..." Gina se apoiou no balcão atrás de si sentindo seus joelhos fraquejarem, com a mente distante, preocupada. "...permitiram isso?"

"Bem, sim." Hermione respondeu com ar profissional. "Eles não tiveram muita escolha. Malfoy disse algo como 'ou permitem que eu tente a sorte lá fora ou vou gritar tanto que Voldemort vai me ouvir do Ministério'." Ela disse, sabiamente omitindo que o que Draco havia feito era uma espécie de chantagem. Aliás, naquele momento, ela achou prudente omitir toda a discussão entre os irmãos de Gina e Draco.

"Draco estava blefando, Hermione." Gina rolou os olhos com exasperação. "Ele não vai nos entregar."

"Eu sei que não." Hermione respondeu, voltando atenção a lista de ingredientes que estava lendo. "Ele não colocaria o próprio pescoço em risco."

"Não por isso." Gina defendeu prontamente sem saber por que o fazia, sentindo a raiva já começar a borbulhar dentro dela mais uma vez.

O que aquele idiota estava pensando?

Hermione deu de ombros parecendo não querer entrar no mérito da questão e abalar uma reconciliação ainda tão recente.

Vendo aquela reação, Gina continuou argumentando. "Quando todos vocês pensavam em me contar?"

Hermione levantou os olhos do papel mais uma vez, observando Gina analiticamente com um misto de simpatia e pena no rosto bonito. "Você acha mesmo que cabia a nós contar qualquer coisa?"

Gina bufou, cedendo o ponto. "De qualquer forma, não faz sentido ele partir por lealdade a Você-Sabe-Quem; ele nunca se voltaria contra nós." Ela disse enfaticamente, para então murmurar baixinho como se estivesse com vergonha. "Não mais."

"Está tentando me convencer, Gina, ou a si mesma?" Hermione desistiu da sua lista e fez um aceno dissuasivo com a mão quando Gina ameaçou protestar. "Independente disso. Ele queria ir e seu pai, Kingsley e Gui não acharam certo mantê-lo aqui contra sua vontade. A bem da verdade, Jorge e Rony também não queriam que ele ficasse, por razões distintas, obviamente. Então todos chegaram no consenso de que seria melhor que ele fosse para a Romênia. Assim Malfoy tem o que quer - ficar longe daqui-," Ela disse e olhou Gina atenciosamente, como se tivesse conhecimento de uma possível razão para o comportamento do Malfoy. "E seus irmãos, mesmo de longe, ainda conseguem manter um olho nele, através de Carlinhos."

"Todos têm o que querem?" Gina passou a mão pelos cabelos, irritada. "E por que ninguém pergunta o que eu quero?"

Hermione lançou a ela um olhar que claramente dizia 'Homens!'

"Então talvez seja uma boa hora de dizer a todos eles o que você quer."

Nesse ponto, Gina deixou de ouvir Hermione.

Se o bastardo estava pensando que fugiria mais uma vez, estava muito enganado.

Ela saiu feito um furacão da sala de poções, deixando Hermione com um leve ar que flutuava entre o intrigado e o satisfeito no rosto.

***

Draco tinha se habituado a passar grande parte do tempo no jardim da mulher vella do irmão lobisomem de Ginevra.

Ele fez uma careta. Precisava aprender os nomes daquelas pessoas se não quisesse que sua mente ficasse sobrecarregada com a lista de apelidos dos trezentos e quinze parentes dela.

De qualquer forma, a francesa parecia ser a única pessoa normal naquele lugar - apesar do latente mau gosto para escolher homens - e os dois entraram num acordo tácito. Ela permitia que Draco ficasse quanto tempo quisesse no lugar e Draco, bem, não fazia nada em troca, mas ele supôs que só o fato de não ser desagradável com ela deveria contar alguma coisa.

Ficar ali tinha uma vantagem imensurável. Ficava longe dos olhares reprovadores da sua mãe, que ousara insinuar com um sorriso zombeteiro que ele estava sendo covarde depois que anunciou que iria para Romênia; mantinha distância de todos os pobretões da Inglaterra reunidos ali e, principalmente, ficava longe de Ginevra.

Por vezes, James vinha lhe fazer companhia e eles partilhavam de um silêncio triste. O garoto ainda não havia se recuperado da perda da elfo e, em alguns momentos, Draco desconfiava de que ele estava piorando na verdade. Alguma parte de si dizia que aquilo não era seu problema, que o garoto tinha o pai e mãe – juntinhos – para tomar conta dele.

Mas era impossível controlar a empatia que o Cicatriz Júnior despertava: os dois pareciam serem os únicos deslocados naquele lugar. Até mesmo sua mãe, tendo Edril ao seu lado, tinha se adaptado melhor à situação do que os dois.

E então eles ficavam lado a lado, olhando a paisagem ou buscando um conforto não-verbalizado na presença um do outro.

Isso, é claro, antes de ter magoado o menino ao dizer que iria partir.

Em outros momentos, como aquele, ele tinha Aries como única companhia.

Passava horas com o bebê, numa despedida silenciosa que fragmentava sua alma de uma maneira da qual Draco achava que nunca iria se recuperar. Qualquer que fosse o resultado daquela história toda, a única certeza que Draco possuía era que ele não veria ver seu filho crescer; se a Resistência conseguisse milagrosamente sobreviver por muito mais tempo, Draco estaria na Romênia. Se não conseguisse, certamente ele não teria vida para ver Aries por muito mais tempo.

E os dois cenários doíam mais do que ele poderia expressar com palavras, mesmo se fosse bom com elas.

Agora, sentados no chão gramado numa atitude que há um ano teria feito Draco tomar três banhos consecutivos, eles partilhavam um desses momentos.

O bebê estava posicionado entre as pernas do pai e encarava o desafio quase intransponível de permanecer sentado. Colocando as pequenas mãos no joelho de Draco, ele tentava se equilibrar com uma concentração que era digna de um adulto, como se o mundo estivesse rodando ao redor dele.

"Isso aí, garoto." Draco encorajou, apoiando as costas do filho com a mão. "Aprendendo a sentar hoje para aprender a dominar o mundo amanhã."

Depois de alguns instantes onde o menino tentou morder os dedos da mão livre de Draco e se concentrou em ficar sentado, ele relaxou o corpo, caindo para trás e se apoiando na barriga do pai. Ele ameaçou um choro frustrado, mas Draco o levantou, ficando frente a frente com o garoto.

"É, eu sei como é ruim não conseguir o que queremos, mas vamos nos virando com o que temos." Draco apoiou Aries no peito e o embalou devagar. O menino se aconchegou e pousou as duas mãozinhas no rosto de Draco, passando por todos os contornos, explorando. Draco sorriu como não tinha coragem de fazer na frente de outras pessoas que não seu filho. "Eu não sei qual é a graça que você vê nisso. Quase tudo que eu tenho, você tem também. Tirando o nariz, que certamente veio da sua mãe. E as sardas." Ele disse a última parte com um desgosto visível.

Então, ele analisou o menino olhando dentro dos olhos claros, tão essencialmente parecidos com os seus. Aries riu, como quase sempre fazia quando ouvia a voz do pai tão perto de si.

Ficaram assim por um tempo, com os olhares presos um no outro e numa conversa muda que apenas os dois poderiam apreciar. "Eu queria tanto poder te levar comigo, Aries. Mas não posso te separar da sua mãe, não quando não tenho nada para te oferecer. Nunca poderia arriscar sua pouca segurança." Ele passou o dedo indicador pela bochecha pálida do menino que agarrou o dedo com uma possessividade que fez mais um sorriso sincero brotar dos lábios de Draco. "Eu vou sentir muito a sua falta. Talvez eu não consiga dizer isso quando você estiver maior, mas isso não significa que não seja verdade."

"É mesmo?" A voz furiosa de Ginevra o interrompeu bruscamente. "Não parece, dado que está fugindo para a Romênia."

Draco se sobressaltou com o susto e, ao levantar a cabeça bruscamente para olhá-la, bateu a nuca no banco atrás de si que servia de apoio para suas costas. Aries resmungou no seu colo pelo fato de ter deixado de ser o centro da atenção de Draco.

Ele esfregou a parte de trás da cabeça olhando mal humorado para a endiabrada, mas, como era habitual, ela simplesmente ignorou o sinal de aviso. Com as mãos na cintura e as bochechas coradas, ela dava claros indícios de que não estava no seu melhor espírito diplomata.

"Eu não sei de qual fonte Sangue-Ruim você está buscando informações," Draco disse depois de um tempo onde os dois se encararam, então ajeitou o bebê no colo que, por sua vez, ameaçou passar uma mão consideravelmente babada pela bochecha do pai. "mas eu não estou fugindo. Estou só... mudando de ares."

Draco pontuou a frase com um sorriso dos mais dissimulados.

Gina rolou os olhos. "E por quê?"

"Até onde eu sei, ainda tenho livre arbítrio para escolher onde devo passar o resto da minha excruciante vida." Ele se levantou trazendo Aries consigo e sentou no banco, fingindo estar mais interessado em limpar a grama do sapato com a mão livre do que em Gina.

"E abandonar seu filho e sua mãe?"

E a mim? O resto da frase ficou no ar e Draco engoliu em seco, rezando para que ela não tivesse reparado na sua hesitação.

"Quanto drama, Ginevra." Draco zombou sem misericórdia. "Minha mãe está incrivelmente bem-adaptada e tem Edril com ela. E tenho certeza que você e sua infinita família vão cuidar adequadamente Aries." Ele torceu levemente o nariz para o fato de que certamente o seu conceito de 'adequado' seria bem diferente do conceito da família dela, mas resolveu que seria melhor não pensar no assunto.

"Mas nenhum de nós é o pai dele. E eu sei como é difícil a vida para uma criança sem pai. Preferiria não ter que passar por isso mais uma vez." Ela se aproximou e suspirou quando viu que ele não estava disposto a responder, sentando no banco ao lado dele. "Quando você pretendia me contar?"

"Me corrija se eu estiver errado," Ele virou a cabeça para olhá-la friamente, "mas acho que você abdicou do direito de saber para onde eu vou quando se recusou a partilhar da minha vida comigo."

Gina se encolheu visivelmente e Draco não soube se deveria ficar triste ou satisfeito pelas palavras terem machucado-a.

"Você não entende-"

"Pelo contrário." Ele suspirou, entre cansado e entediado. "Eu entendi tudo perfeitamente. Entretanto, se você faz tanta questão de informações, vou partir amanhã, antes do amanhecer."

Ginevra o observou com aqueles odiosos olhos escuros e mordeu o lábio inferior; Draco soube que ela queria dizer algo mais e se antecipou, antes que fosse algo que o fizesse voltar atrás.

"Preciso cuidar do restante dos preparativos antes que fique tarde." Ele se levantou e entregou o menino a Gina, que passou para o colo da mãe erguendo os braços rechonchudos em direção a ela no auge da sua alegria silenciosa.

Gina o encarou claramente exasperada. "Se você é teimoso e idiota ao ponto de querer mesmo partir, não há uma maneira melhor de nos despedirmos?"

Havia tantas coisas que ele teria dito a ela, se soubesse como. Havia também um igual número de coisas que ele sabia que não deveria dizer a ela, nunca. Entretanto, ele não podia diferenciar uma coisa da outra naquele momento.

Então Draco fingiu que não compreendeu e fez uma leve reverência de despedida, como certamente ele tinha sido educado a fazer pelas muitas horas de aulas de etiqueta e comportamento que havia recebido na sua criação.

Como se fosse uma despedida polida e distante que Gina tinha cobrado e não algo mais... íntimo.

Quando ele girou nos calcanhares em direção à casa, o mau gênio de Gina tomou o melhor dela.

"Eu te odeio, Malfoy!" Ela disse alto o suficiente para sobressaltar o bebê no seu colo, que a olhou entre assustado e irritado diante da reação dela; Aries continuava crescendo sendo um apreciador dos silêncios, muito para o estranhamento de Gina que sempre tinha sido muito barulhenta. "E sabe por quê?"

Draco se virou para ela, perdendo a paciência. "Porque eu sou um Comensal da Morte, fiz da sua vida um inferno em diferentes épocas, porque minha família sempre fez de tudo para destruir a sua, porque eu estou atrapalhando a sua reunião familiar e as coisas com Potter." Ele levantou um dedo para cada razão, enumerando-as cinicamente. "Esqueci de algo?"

"Sim!" Ela respondeu enfática e, no mesmo instante, pareceu murchar como se alguém tivesse jogado um balde de água fria nas suas costas. "Porque você faz com que te amar seja extremamente difícil."

Draco se espantou com as palavras por um milésimo de segundo, onde ele hesitou parecendo travar uma batalha interna entre ficar ou partir e Gina prendeu a respiração, esperando o que viria.

Então, para a sua tristeza, ela viu claramente o momento em que ele cobriu o rosto com a máscara de frieza e zombaria que usava para se proteger do mundo, sorrindo cruelmente.

"Sinto muito por mais esse incômodo, Ginevra."

Então se virou e continuou seu caminho rumo ao exílio.

Por alguns instantes, Gina só ficou parada segurando Aries como se aquela conversa não tivesse acontecido.

"Eu acabei de confessar para o idiota do seu pai que eu o amo?" Ela perguntou para o filho que, pela primeira vez no dia, deu risada para ela. "Traidor." Foi tudo que Gina murmurou enquanto levava seu bebê de volta para casa.

***

Naquela noite, Gina rolou na cama sem conseguir dormir.

Não conseguia entender como Draco conseguia ser tão teimoso, cego, alheio a tudo que ela sentia, a tudo que ela precisava.

A luz da lua entrava pela janela aberta, que dava visão para o mar tranquilo. E apesar da linda paisagem, do clima familiar e acolhedor, ela sentia falta da Mansão Malfoy. O pensamento a apavorou por um instante, mas ela se recusou a expulsá-lo; não seria como Draco, a esconder tudo o que sentia sob camadas e mais camadas de indiferença.

Disse a si mesma que tinha se afeiçoado a Mansão Malfoy porque ali tinha vivido com Draco, numa intimidade bizarra que mais se assemelhava a uma frustrante brincadeira de esconde-esconde, cada um deles correndo e batalhando por seus objetivos, via de regra em lados opostos.

Mas também tinha havido os momentos íntimos, proporcionados por casualidades ou pela própria vontade inconsciente dos dois… Nos instantes em que Draco se sentara junto com ela para ver seu filho ser amamentado, as trocas de olhares divertidos, as conversas espirituosas e cheias de vida, os momentos em que ele a beijava... O momento em que ele a deitou no tapete do enorme salão com um ardor e carinho que se assemelhava a… amor?

Subitamente, ela não pôde mais se conter. Se envolveu num roupão consideravelmente maior do que ela – provavelmente de Jorge - para ocultar sua simples camisola. Andou descalça até onde ela sabia que ele estava dormindo. Daria um basta naquilo ou pelo menos teria uma verdadeira despedida.

Entrou sem bater e se surpreendeu pelo fato de que ele se sentia seguro o suficiente no seio da Resistência para não trancar a porta. Draco dormia sem camisa e atravessado no leito, num costume de alguém que sempre tinha dormido sozinho, em camas imensas. Parte dos lençóis de Fleur tinha deslizado para o chão, descobrindo o peito magro, que a luz fraca da noite dava quase a impressão de ser sem pelos. O luar conferia a ele o brilho e a palidez do mármore e Gina teve que conter um suspiro. Como não tinha percebido antes o quão bonito ele era?

Seu rosto era diferente no sono. Os cabelos – sempre mais longos do que seria recomendado – se espalhavam pelos travesseiros como cetim platinado, os cílios longos e boca levemente franzida davam um ar de serenidade que ela não se recordava em ver nele, sempre tão angustiado, sempre tão atormentado.

Agora Draco parecia tão... indefeso.

Parada ao pé da cama, ela respirou fundo controlando suas reações para melhor observá-lo. Seu coração se apertou diante de cada detalhe – alguns dos quais ela conseguia ver refletidos com clareza em Aries – e outros que ela nunca tinha reparado, que se apresentavam a ela pela primeira vez: uma discreta correntinha de ouro que caía sobre o peito liso, cicatrizes aqui e ali, e uma especificamente que ele havia conseguido ao duelar com Blaise por causa dela.

Gina se aproximou, pousando a mão delicadamente sobre aquela cicatriz, não sabendo se para acordá-lo ou se para simplesmente sentir as batidas do seu coração.

Talvez para ter certeza de que ele ainda tinha um coração. E se havia alguma chance de que pertencesse a ela.

Draco não se mexeu. Então, tomando coragem, Gina deslizou para fora do roupão, tirando a fina camisola na sequência e se encolhendo suavemente junto dele.

Ele emanava um calor bem-vindo e familiar, que somado ao contato com a pele lisa e suave, faziam com que ela se sentisse inebriada. Gina roçou os lábios nos dele, sentindo que ele se mexia, suspirando. Draco então mudou de posição, apoiando a cabeça contra o peito dela. Ele a encontrou na semi-inconsciência, se virando suavemente.

"Ginevra..." Ele murmurou, enquanto roçava o seio descoberto com os lábios, num movimento que enviou ondas de arrepios por todo o corpo dela.

Ao sentir a maciez da pele dela, Draco se deu conta de que não era um sonho. Se sentou quase que imediatamente, com olhar furioso, tirando o cabelo do rosto e ofegando.

"Que diabos você está fazendo aqui, Weasley?!" Draco exclamou e resistiu ao forte impulso de se cobrir com o lençol.

Como uma maldita virgem!, ele pensou furioso consigo mesmo.

"Vim me despedir, ao meu modo." Ela o olhou com um olhar malicioso que poderia rivalizar com o dele nos seus melhores dias.

"Vá embora." Ele se encostou na cabeceira da cama, esfregando os olhos. "Já nos despedimos hoje a tarde."

"Não decentemente." Ela murmurou com a voz rouca no ouvido dele e ele rolou os olhos, muito para não deixar que eles passeassem pelo corpo dela ali, tão exposto, tão ao alcance da sua mão. Ela mordeu o lóbulo da sua orelha e deu pequenos beijos no seu pescoço, maxilar, e Draco quase perdeu o controle.

"Por que eu tenho a impressão de que decência não tem nada a ver com o que você tem em mente?"

"Porque não tem mesmo." Gina sorriu diabolicamente para ele.

"Ginevra..." Ele quase sufocou ao dizer o nome dela, que deveria ter saído num tom de aviso, mas no fim se transformou num gemido.

Quando Gina não fez menção de se retirar – muito pelo contrário, aliás-, Draco se recompôs um pouco, bufou e a segurou pelos pulsos para tirá-la da cama, mas ela se livrou das suas mãos com aquela maldita agilidade felina. Ela se agarrou a ele com mais força ainda.

"Draco, isso não é certo." Ela ronronou. "Se você acha que deve mesmo ir, eu vou ficar essa noite com você."

"Não." Ele respondeu sem olhá-la, tentando fazer com que ela o soltasse. Mas quanto mais ele se mexia, mais ela tornava a enlaçá-lo, como se quisesse enfurecê-lo, provocá-lo.

Gina olhou para ele e não quis conter um sorriso travesso que brotou nos seus lábios. Seus olhos foram dos cabelos bagunçados de Draco para as bochechas coradas, passando pelo abdômen contraído pela tensão até chegar num ponto muito específico da anatomia dele, que estava se tornando proeminente demais para ser ignorado, mesmo protegido pela calça do pijama.

O sorriso se tornou vitorioso.

"Tem certeza que quer que eu vá?" Ela sussurrou levantando uma sobrancelha e Draco se deu conta do por que as pessoas ficavam tão irritadas quando ele fazia aquilo.

Ele bufou novamente. "Sim!"

Descrente, Ginevra tornou a olhar para o único lugar que Draco não queria que ela olhasse e, atrevida que era, desatou lentamente os laços da sua calça envolveu sua mão gentilmente em torno dele; Draco ficou totalmente sem reação – pelo menos sem reações voluntárias – e teve que fechar os olhos brevemente para conter um gemido.

"Isso não significa nada. É uma reação natural devido ao sono e -" Ele tentou explicar como funcionava a fisiologia masculina durante o sono e enrubesceu por sua voz ter tremido um pouco. "Não importa mais, eu acho..." Ele falou deslizando as costas de volta para a cama e encostando a cabeça no travesseiro para ainda tentar manter o mínimo de controle enquanto a descarada fazia suaves movimentos repetitivos com a mão. Então Draco resolveu mudar de assunto, ainda que não soubesse se era para distraí-la ou para distrair a si mesmo. "Em nome de Merlin, o que você realmente quer aqui?"

A endiabrada nem se dignou a desviar os olhos do que estava fazendo, parecendo hipnotizada. "Você."

"Potter não está dando conta?" A voz dele veio com a quantidade exata de escárnio que ele tinha pretendido e Draco se orgulhou disso. E por nada nesse mundo ele deixaria aquele aperto de arrependimento que cruzou seu peito tirar toda a sua glória. Ela pareceu machucada por uns instantes e isso era tudo o que importava, não é? Fazer com que ela se sentisse da mesma forma que ele estava se sentindo.

Gina o soltou e suspirou fundo, como se estivesse tentando não perder a paciência. "Não tenho nada mais com Harry. Só há você." Ela se abaixou e pousou um beijo delicado na barriga dele, subindo com uma trilha de beijos lascivos pelo peito pálido antes de murmurar. "E você sabe disso. Só acha mais fácil pensar que eu estou com Harry porque está com medo do que está acontecendo entre nós, do que está sentido. É só por isso que não vou me ofender com as suas infantilidades." Ela passou a mão na trilha de pelos claros no baixo ventre dele, que sumiam por dentro da calça do pijama que ela tinha parcialmente aberto. "Tenho coisa melhor em mente."

"Não tenho medo!" Foi tudo que ele conseguiu dizer enquanto ela distribuía beijos por toda a extensão do seu corpo. Por muito tempo ele conseguiu não reagir, mas, quando ela deslizou a calça dele para baixo, Draco se envergonhou do fato de ter mais do que colaborado com ela. Ele já não a repelia; era uma batalha perdida.

E Gina percebeu aquilo com um sentimento de triunfo a invadindo mais uma vez.

Gina o observou atentamente, com um sorriso se espalhando pelos seus lábios vermelhos, satisfeita como se a respiração curta, a tensão dos músculos diante do medo de se entregar e um gemido involuntário que escapou da garganta de Draco fossem a mais doce declaração de amor que ele pudesse dar.

Por fim, quando ela pousou os lábios na parte mais sensível dele, passando a língua suavemente pela região, Draco deu um profundo suspiro e levantou a cabeça dela, pousando as mãos nos cabelos vermelhos e sedosos como se ele quisesse que ela tivesse certeza do que estava fazendo.

Gina sorriu e o encarou. Depois, voltou a lamber, beijar, se entregar de forma ousada.

Ela não demonstrava medo. Jamais tinha demonstrado.

No fim das contas, era aquilo o que tinha sido minha derrota, ele pensou, amargurado.

Então, o que restava do controle do Draco Malfoy se desvaneceu num som quase audível demais. Praguejando baixinho, ele a puxou para cima dele, fazendo-a montar sobre seu quadril.

Gina sorriu mais ainda, se posicionando confortavelmente sobre ele, espalmando suas mãos não tão delicadamente no peito dele enquanto Draco, rendido, deslizava para dentro dela com um gemido. A fagulha anterior se tornou um incêndio que consumiu Draco, e fez, pelo menos momentaneamente, que todas as dúvidas desaparecessem da sua cabeça.

Como se quisesse provocá-lo ainda mais - como sempre – ela mexia os quadris sensualmente sobre ele, as vezes se debruçando para encostar os seios nele, outras vezes se contorcendo para trás, fazendo com que ele esticasse as mãos para trazê-la mais para perto.

Os cabelos fascinantes caíam pelos seios e costas dando a ela a aparência de ninfa, com uma alegria quase ingênua por estar ali, por acreditar nele, por acreditar que eles poderiam dar certo. Draco pousou as mãos na cintura dela, guiando seus movimentos, ora forçando-se mais para dentro dela, ora deixando que ela se soltasse, se libertasse. Ele se perdeu naquela visão e muitas vezes fechou os olhos, antes que sua explosão fizesse aquele momento acabar.

E ele não queria que acabasse, porque sabia o que viria depois. Na vida dela, agora que ela podia assumir a verdadeira identidade, não haveria espaço para ele. Draco não tinha ilusões de que ela iria preterir a família por ele, nem que eles poderiam viver felizes, longe de problemas.

Merlin, eles, por si só, já eram um problema.

Certamente no começo seria mais fácil: ela estaria mais disposta a ficar ao lado dele contra os atos do passado, contra as adversidades. Mas o tempo era um agente implacável que minaria o relacionamento dos dois com seu peso. Os anos ampliariam as diferenças e, então, inevitavelmente varreriam o que havia de bom entre eles, deixando apenas a herança de décadas de ódio e desprezo para trás.

Quando havia julgamentos, não havia espaço para o amor.

Draco não queria aquilo. Ou melhor, não suportaria aquilo. Podia conviver com o ódio e desprezo do mundo, mas não dela.

E quanto mais ele ficasse perto de Ginevra, mais ficaria intoxicado.

Apaixonado.

A união dos dois foi silenciosa como nunca tinha sido, mas com um gemido surdo que traiu a intensidade do que ela estava sentindo e que o encheu de um orgulho juvenil, Gina desabou em cima dele.

Ela voltou a si lentamente, quase de forma sonhadora, respirando pesadamente e sentindo seu corpo da mesma forma. Quando voltou a pensar com certa coerência, ela estranhou a falta de movimento abaixo de si e finalmente conseguiu erguer a cabeça para olhar para Draco.

Ele parecia irritantemente convencido, é claro. Ela fechou os olhos antes que cedesse à vontade de dar um tapa nele ou de tirar aquele sorrisinho idiota do rosto dele com um soco.

Com uma risada maliciosa, ele inverteu as posições, observando os olhos fechados dela tremerem sob as pálpebras, enquanto ele cravava os dedos no quadril dela, firmando suas posições.

"Veio aqui e se despede tão rápido?" Ele perguntou casualmente, beijando um seio, subindo pelo colo, chegando no pescoço, enquanto passava a mão pelo quadril dela, tão redondos, tão convidativos. "Sabia que eu era bom nisso, mas-"

"Oh, cale a boca, seu metido idiota." Ela o repreendeu, mas havia um toque de suavidade na sua voz que o fez sorrir.

Ambos sorriram.

"Com prazer." Draco a puxou para si e beijou a boca dela duramente, quase machucando os lábios cheios, tentadores, dessa vez exercendo o seu domínio sobre ela – e Gina se deu conta que Draco realmente não gostava de perder o controle de nada por muito tempo.

Ainda de olhos fechados, Gina ofegou e tentou recuar para buscar ar, mas Draco segurou o queixo dela e a forçou a abrir os olhos enquanto tentava regularizar sua respiração.

"Olhe para mim, Ginevra." Draco pediu com a voz rouca e o misto de luxúria e gentileza do seu tom fez com que ela obedecesse prontamente. Seus olhos estavam escuros e sua expressão feroz. Ele a segurou daquela forma, se posicionando melhor entre as pernas delas, separando-as novamente. "Quero que você tenha consciência de com quem está."

Os olhares deles se prenderam um no outro e então, numa única arremetida, Draco estava dentro dela mais uma vez.

Ele soltou o queixo dela e passou os braços sob seus ombros, abraçando-a e se pressionando imóvel contra ela, com a cabeça enterrada na curva de seu pescoço, os lábios frios contra a pele sedosa.

Quando Gina pensou que não aguentaria mais a espera, Draco começou a se mover, fazendo com que ela sentisse a urgência de se adaptar ao ritmo dele. Dentro das suas possibilidades, Draco era sempre gentil, ainda que fosse exigente. E era alarmante como ela estava ficando cada vez mais viciada no jeito de Draco Malfoy de fazer sexo.

Draco sorriu contra a pele dela, vendo como Ginevra respondia perfeitamente ao corpo dele. E, dessa vez, ele não iria deixá-la ser passiva, somente se entregar à sensação. Ele a manteve com ele, com seu nome nos lábios vermelhos, forçando-a a vê-lo, forçando-a a saber – a cada arremetida, cada retirada – que era ele, que era Draco Malfoy que estava com ela, que era ele que sussurrava no seu ouvido enquanto se movia dentro dela e eram as mãos dele que percorriam seu corpo e que era ele que fazia cada toque gerar um gemido surdo.

"Eu estou aqui, Draco." Entendendo o que se passava na mente dele, Gina beijou delicadamente a linha do seu maxilar, virando o rosto pálido para ela. "Com você."

E foi tudo que bastou para que Draco perdesse totalmente o controle, esticando os braços e se apoiando nas mãos posicionadas de cada lado da cabeça de Ginevra. Em mais algumas rápidas investidas, num ritmo acelerado que era ao mesmo tempo excruciante e maravilhoso, Draco explodiu dentro dela e o mundo se desmanchou numa mancha – vermelha – de sensações, no melhor orgasmo que ele já tivera em toda a sua vida.

Tudo porque ela queria estar com ele, Draco Malfoy.

Sequer aguentando seu peso, seus braços fraquejaram e ele praticamente desmoronou em cima de Gina.

Ela, por sua vez, sorriu mesmo que ele não pudesse ver, com a cabeça tão enterrada na curva do pescoço dela como estava: nunca pensou que ter tanto peso em cima de si causasse uma sensação que, longe de ser incômoda, era tão bem vinda e reconfortante.

Ainda tentando regularizar sua respiração e exausto, Draco saiu de dentro de Gina, puxando as costas dela contra seu peito, enlaçando-a com seus braços e pernas, como se ele não quisesse nada além do suor dos corpos separando-os. Não importava se era uma demonstração de carinho idiota, se ficar de conchinha daquele jeito era pueril. Seria a primeira e última vez que ele faria aquilo.

Gina ficou levemente surpresa com a escolha de posição – ela nunca tinha achado que Draco era do tipo que gostava daquela proximidade tão íntima após o sexo, mas estava muito lânguida e sonolenta para fazer qualquer comentário. A única coisa que importava era sentir o corpo dele colado nas suas costas, o braço em volta da sua cintura, as pernas prendendo-a de uma forma tão confortável, a respiração se estabilizando na sua orelha.

"Draco?"

A frase tinha saído de forma hesitante e ela começou a perder a consciência quando ele não se manifestou, com a frase 'eu te amo' tatuada os lábios, mas sem a confiança para proferi-las. Ela tinha esperança de que ele ficaria mais um dia. Mais um dia para que ela pudesse dizer tudo que estava se passando no seu coração.

Amanhã será um dia melhor, ela pensou enquanto deslizava implacavelmente para a inconsciência.

"Hmm." Ele respondeu depois de um tempo, imerso em seu próprio cansaço. Mas já era tarde e ela dormia.

Draco não disse mais nada e sentiu que também deslizava para o sono, mesmo que essa fosse a última coisa que ele queria. Não queria que aquela noite acabasse, mesmo que não pudesse dizer o que estava sentindo.

O tempo das guerras, das afrontas, das barreiras que eles ergueram um contra o outro ainda estava muito próximo.

Ele cerrou os dentes vendo a docilidade com que ela se entregava, mas sabendo que aquela entrega se restringiria àquela cama. Fora dela, ele continuaria sendo Draco Malfoy. Afirmou para si mesmo, não pela primeira vez, que o problema não era Harry Potter exclusivamente. E, dessa vez pela primeira vez, ele sentiu uma vontade inédita de ser qualquer outra pessoa no mundo, menos ele mesmo.

Por fazê-lo se sentir assim, Draco sentiu vontade de bater nela e abraçá-la mais forte, lutando contra o pesar de riscá-la da sua vida.

Então, na indecisão sobre o que fazer, ele aproveitou aquela noite, no conforto quente e suave do corpo dela.

Amanhã será um dia pior, foi a última coisa que Draco pensou antes de adormecer.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Cinzas" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.