Cinzas escrita por Ludi


Capítulo 17
A Realidade é a Pior Prisão


Notas iniciais do capítulo

Capítulo mais curtinho, de transição. Espero que gostem =)

Mais uma vez, meus agradecimentos à diva Rose, que é minha inspiração e o meu norte literário nessa história.

Para Mari Weasley, que compreendeu meus anseios e sempre se mostrou muito gentil comigo; e para Tori Hepburn, que além de bom gosto para nomes e personagens, alegrou minha tarde porque resolveu dar uma chance para uma história... inusitada, hahaha

bjão a todas!



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A manhã mal tinha terminado e ela já tinha andado por todo o espaço do cubículo, tentado alcançar as barras de proteção da janela escalando a parede, batido incansavelmente na porta e gritado a plenos pulmões, mas tudo que conseguiu foi ficar com o corpo dolorido, machucar os dedos e as palmas das mãos, além de perder a voz de forma dolorosa.

Estava pensando seriamente que era um fracasso como refém: tinha certeza que no final do dia já estaria dando nome às pedras da cela. No primeiro dia de cativeiro!

Bufou raivosa, maldizendo sua impaciência e impulsividade pela quinquagésima vez, só naquela manhã. Tudo que essas reações tinham trazido para Gina era desagrado, aprisionamento e um beijo intenso… Sacudiu a cabeça com vigor: não ia pensar naquilo agora. Ou melhor, não pensaria naquilo nunca mais. Bateu o punho contra a cama, para dar mais credibilidade à resolução.

Já estava prestes a iniciar uma nova sessão de gritos que conteria ameaças, exigências mal-criadas e palavras que fariam seus pais ficarem vermelhos de vergonha, quando percebeu que a porta se abriu levemente, revelando um nariz pequeno e vermelho, provavelmente pela exposição ao sol.

"Senhora, eu peço que sente na cama e não se aproxime da porta, para que eu possa entrar." A voz de uma jovem mulher se fez ouvir pela porta entreaberta. "Trouxe sua comida."

Gina desenhou mentalmente um plano de ação tão rápido quanto pôde. Faria como a estranha tinha pedido e aproveitaria qualquer brecha para imobilizar a garota. Ainda que não fosse muito grande, Gina tinha anos de prática em lidar com lutas corporais graças aos irmãos consideravelmente maiores. Então ela permaneceu docilmente sentada na cama, onde já estava, e falou com a voz mais natural que pôde.

"Pode entrar. Já estou sentada na cama."

Gina quase sorriu quando a jovem se revelou como uma mulher franzina, de uns vinte anos, com o cabelo loiro e opaco mal escondido sob uma touca muito velha.

Seria muito mais fácil.

Ela colocou uma bandeja com um prato de comida e suco de abóbora em cima do velho baú. Gina, por sua vez, espreitou todos os movimentos da garota, tentando achar pontos fracos, vulnerabilidades, uma varinha… Como seria bom se ela tivesse uma varinha ali! Quase suspirou diante da ideia.

Suas reações deviam estar muito evidentes, uma vez que a garota deu um sorriso triste, antes de começar a falar.

"Se eu fosse a senhora, não faria isso. Eu não tenho uma varinha, mas tenho com o que me proteger." Ela disse e abriu levemente a capa puída, onde um canivete e uma faca estavam aninhados, parecendo perigosamente bem afiados. "A senhora não seria a primeira a tentar se aproveitar do fato de que eu sou uma garota desprotegida, em teoria." Ela completou, deixando a comida e recolhendo a bandeja para se retirar.

Gina sentiu uma súbita onda de desânimo e desarmou sua postura belicosa de instantes anteriores. Entretanto, se não podia dar uma surra na garota e sair dali, pelo menos podia trocar duas palavras e tentar conseguir alguma informação útil.

A primeira coisa que veio à sua mente era a situação da garota em si – e como era típico no caso de Gina, o pensamento passou da mente diretamente à boca, sem maiores obstáculos.

"Por que você não tem uma varinha?" Ela perguntou, repentinamente curiosa.

A expressão de tristeza resignada voltou a aparecer no rosto da garota. "Porque eu sou um aborto." Foi uma resposta simples, objetiva e, de certa forma, cruel.

Por que diabos abortos estavam servindo outros bruxos?, Gina pensou franzindo a testa.

Se alguém dissesse para Gina que ela poderia se sentir pior naquele dia, não teria acreditado. Mas lá estava ela, se sentindo um gnomo sendo arrancado impiedosamente do seu quintal n'A Toca. Mais uma vez, a garota interpretou corretamente a expressão de Gina.

"Não se preocupe." Ela falou, tentando soar indiferente. "É melhor servir aqui do que ser mandado para os lugares de regeneração." Gina sabia que esses eram os lugares para onde nascidos trouxas, mestiços, abortos e todos os outros indesejáveis eram mandados, quando não havia uma acusação minimamente plausível para serem confinados em Azkaban.

"Eu sinto muito…" Foi tudo que Gina conseguiu dizer; estava particularmente abalada naquele dia para tentar falar qualquer coisa muito diferente disso. A perspectiva de trazer mais uma criança para aquele mundo cruel e preconceituoso a deixava quase doente.

A garota pareceu surpresa diante da reação de Gina, como se ela tivesse acabado de dizer alguma coisa impossível.

"Não é sua culpa, eu acho." Ela disse, se preparando mais uma vez para sair. "É um trabalho como qualquer outro. E se um elfo pode fazer, por que não uma pessoa?"

Gina simpatizava involuntariamente com a garota cada vez mais e com outra pergunta interrompeu a retirada da jovem. "Onde estão os elfos?"

A outra mulher torceu o nariz, num gesto de contrariedade. "Estão ficando cada vez mais raros de se achar, praticamente em extinção. A nova diversão dos Comensais é treinar feitiços nos elfos, quando não tem cobaias próprias à disposição. Grande parte dos elfos que não estavam atrelados à nenhuma família conseguiu fugir da Inglaterra, mas, ainda assim, alguns permaneceram no país, e bem... não foi algo bonito: estavam sendo usados como alvos para feitiços e treinamentos de Maldições Imperdoáveis, junto com os nascidos trouxas. Eles merecerem respeito tanto quanto qualquer outro ser." Ela terminou a última frase mais inflamada e Gina sentiu uma nova onda de simpatia.

Gina abraçou os joelhos, ainda sentada na cama, e se distraiu com seus próprios pensamentos. Sequer percebeu a tempo que estava murmurando algumas palavras.

"Você se daria muito bem com Hermione." Ela falou baixinho e se arrependeu na sequência. A garota parecia que tinha levado um choque; depois de um instante de hesitação, ela se aproximou da porta e se certificou de que estava mesmo fechada.

"Você está se referindo a Hermione Granger?" Ela perguntou sem rodeios e Gina sentiu medo de que ela fosse contar aos seus superiores – sejam lá quem eles fossem – sobre suas relações ilícitas. Já começava a relembrar suas falsas raízes escocesas, quando se deu conta de que não adiantaria mentir: quantas bruxas chamadas Hermione seriam defensoras de elfos? Tentou calcular a probabilidade, mas desistiu antes de ficar desanimada com a resposta.

"E se eu estivesse?" Ela respondeu com a voz desprovida de emoção.

"Eu acharia, no mínimo, muito estranho." A jovem olhava Gina com olhos perscrutadores, como se quisesse arrancar a verdade dos menores sinais corporais que a ruiva concedesse.

Gina, por sua vez, permaneceu imóvel, fria. Sua convivência com Draco, afinal, tinha servido para alguma coisa. Levou um tempo até que a garota falasse novamente.

"Afinal de contas, quem é você?" Ela disse abruptamente e seguiu falando, sem esperar pela resposta. "Me disseram que você era a mulher de um poderoso do Ministério, que ficaria aqui como um pequeno castigo do marido. Achei que fosse uma dessas dondocas, mulheres de comensais, com a cabeça cheia de bomba de bosta e que gastaram mais do que deviam dos galeões do marido. Não seria a primeira nessa situação, realmente."

"As coisas nem sempre são o que parecem ser." Gina disse, sem querer falar nada que pudesse comprometê-la ou revelar que ela era realmente a mulher de um dos poderosos do Ministério e que, para muitas pessoas - começando pelo seu próprio marido -, ela tinha efetivamente bomba de bosta na cabeça.

"Mas se falou da Hermione e da causa dela de uma maneira tão… íntima, você pode ser um pouco melhor do que eu poderia imaginar…" A garota deixou a idéia no ar.

Gina se agarrou à esperança como um náufrago que se agarra a um pedaço de madeira à deriva no mar. "Eu não sou como essas mulheres de quem você falou. Luto muito para esconder meus verdadeiros ideais, dia após dia, para proteger as pessoas que eu amo. Hermione, inclusive. Proteger a Resistência." As palavras saíram numa torrente, que se não estivesse tão desesperada para sair dali, ela teria evitado a todo custo.

"Como veio parar aqui, então?" A garota parecia verdadeiramente intrigada. "Se o Ministério soubesse disso, a senhora já estaria em Azkaban…"

"Escute, ah…" E Gina se deu conta de que não sabia o nome da garota.

"Anne."

"Escute, Anne, é justamente por isso que você precisa me ajudar. Não podem desconfiar dessa parte da minha vida ou eu serei entregue para algum dementador. Quanto mais tempo eu ficar num lugar como esse, mais tempo estarei em risco e o meu filho também. Ele é tudo que eu tenho na vida e preciso voltar, para protegê-lo."

"Você tem um filho...?" Anne disse introspectiva e Gina quase comemorou. Tinha um palpite de que à menção a uma criança teria algum efeito na mulher mais nova.

"Sim! Tenho que voltar para ele e para ajudar minha família. Por favor, Anne, pode me ajudar?" Ela segurou a respiração, esperando a resposta.

Anne pareceu muito pensativa por um longo momento antes de responder. "Se você não é a mulher de ninguém importante…"

A consciência de Gina pesou tanto que quase não conseguia se mexer, mas não poderia ficar mais um minuto ali e então mudou radicalmente de abordagem. "E eu posso te levar para ficar perto de pessoas que podem te proteger. Para perto de Hermione!"

Os olhos da garota se arregalaram, ficando do tamanho de dois pratos azuis; pela primeira vez, ela aparentou ter a idade que tinha, sendo apenas uma jovem da idade de Dave. "Sério?! Ela é a bruxa mais sensacional do nosso tempo! Dizem que a genialidade dela é sem limites e ela ainda defende causas de pessoas como eu…" Anne terminou a frase baixinho, como se estivesse com vergonha de dizê-la em voz alta.

Gina se levantou da cama lentamente e passou os braços em volta dos ombros franzinos da garota, que permitiu o contato. "Ela é tudo isso e muito mais." Ela sorriu gentilmente, ao se lembrar da amiga. "Anne, eu preciso que você me ajude a sair daqui e, depois que tudo tiver acabado, quero que vá para O Caldeirão Furado em Londres e espere lá. É uma troca justa: você me ajuda a sair daqui e eu te ajudo a ficar do lado de pessoas que valem a pena, que podem te proteger." Ela falou, sem deixar tempo para a garota pensar na hipótese de que fuga de Gina poderia ter um peso maior do que ela dava a entender. "De qualquer forma, não podemos ser vistas juntas e tampouco você pode ficar aqui, depois que eu for embora. Certo?"

Anne assentiu levemente. "Acho que sim."

E tudo que Gina pôde fazer foi se conter para não pular de alegria.

***

Nos minutos que se seguiram elas elaboraram planos de como tirar Gina de lá sem levantar suspeitas imediatas, se perdendo em esquemas, hábitos que precisavam ser aprendidos e alternativas caso o plano principal não desse certo.

"Então é isso," Gina disse, repassando o plano em voz alta, para se certificar de que Anne havia memorizado os detalhes, assim como ela. "Estamos na cela 50, no terceiro andar do prédio da prisão de Glastonbury, onde ficam somente duas duplas de guardas, geralmente entediados por guardar prisioneiros de luxo. Você desce para pegar algumas peças de roupas usadas pelas meninas que trabalham aqui, com a desculpa de que vai me trazer roupas de cama mais de meu agrado, como ordem expressa do meu marido."

Anne assentiu, completando. "Quando eu voltar, você terá alguns minutos para trocar de roupa e descer. Fique sempre com a cabeça baixa, não olhe para eles, transborde medo. Isso é tudo que esses comensais estúpidos querem de gente como eu. Se houver algum problema, você está substituindo uma funcionária do andar; eles não sabem nossos nomes, então você só precisa ser convincente no que disser."

Gina tirou do pescoço um pingente que usava, que pertencera a sua mãe e que ela tinha ganhado no dia que fora embora do Chalé das Conchas, com um James ainda recém-nascido nos braços. Se projetando para frente, ela colocou as mãos de Anne entre as suas.

"Eu nem sei como agradecer Anne. Ao me ajudar a sair daqui, você está salvando a vida de muitas pessoas que são queridas para mim." Anne pareceu um pouco confusa pelo comentário, mas em nome da pressa o deixou passar. "Quando chegar no Caldeirão Furado, esteja com isso em mãos; vão saber que eu enviei você."

"Só espero que tudo dê certo, para nós." Ela sorriu fracamente, guardando o pingente no bolso do avental. "Acho que você já pode ir. Eu sairei em alguns minutos, pelo outro lado do corredor. Você terá poucos minutos, lembre-se."

Com um último aceno de despedida, Gina saiu do quarto, vestindo as roupas simples e claras que Anne havia lhe dado. Colocou todo o cabelo por debaixo da velha touca de Anne; sabia por experiência própria que aquele tom de vermelho era uma lástima quando tudo que ela mais queria era discrição. Não podia negar que estava trêmula ao passar pela primeira dupla de guardas, que conversavam amenidades sobre quadribol. Quando ela passou, um deles a acompanhou com o olhar e chamou sua atenção, falando bruscamente.

"Por que diabos não vi você entrando, menina?" Ele perguntou, arqueando uma sobrancelha muito grossa. "Você é nova por aqui?"

Ela juntou toda a coragem que tinha e se preparou para responder, tentando não arrebitar o nariz numa postura belicosa. "Fui mandada para substituir Laura, senhor. Ela não pôde vir hoje, novamente. Eu devo ter entrado antes de vocês assumirem seu posto, senhor. A prisioneira da cela 55 deu muito trabalho hoje. Tive que esfriar sua comida porção por porção, refazer sua cama quinze vezes antes que ela achasse que estava bom o suficiente e ouvir todas as suas lamúrias. Imagine o senhor que ela me contou que o marido tem a mania terrível de…"

"Chega, chega!" Ele interrompeu, como Anne disse que faria com certeza. Tudo que os guardas não tinham paciência para fazer é prestar atenção nos seus prisioneiros, por mais irônico que isso parecesse. "Onde está a garota magrela que subiu com a comida para a vadia do Malfoy?"

Gina controlou a língua antes de responder, mas não pôde evitar um leve rubor. "Ela está cuidando das demais cela da ala leste. Eu vou descer para levar a roupa suja da prisioneira do 55. Ela derrubou toda a comida em cima do tecido, veja só." Ela falou, erguendo o embrulho de roupa, que continha sua própria camisola.

Os homens a dispensaram com um leve gesto de repulsa, como se ela fosse a coisa mais desimportante que eles tiveram o desprazer de colocar os olhos naquele dia. Gina quase sorriu.

Ela resistiu bravamente a vontade de sair correndo como uma louca; sabia que a pior parte era passar pelos guardas do terceiro andar: os outros se dariam por satisfeitos e pensariam que toda a verificação já fora feita pelos seus comparsas. Mediu a velocidade dos seus passos, desejando fortemente que Anne tivesse a mesma sorte que ela e conseguisse sair de lá ilesa e seguir para O Caldeirão Furado.

Segundo andar, primeiro andar, térreo, tudo vinha como um sonho.

Ela passava pelos cômodos essencialmente iguais, enquanto os outros empregados circulavam rapidamente pelo local, nem se dando ao trabalho por questionar o porquê de Gina estar lá. Pessoas novas tinham que aparecer constantemente porque as velhas desapareciam com uma freqüência incrível, segundo Anne.

E antes de dar por si, ela já estava no portão fortificado da prisão, falando num tom cansado com um velho porteiro, exatamente do jeito que Anne havia explicado. "Meu turno acabou, preciso ir!" Ela disse, escondendo o nervosismo.

"Essa vida é boa hein! Trabalham pouco e vão embora cedo!" O velho respondeu mal-humorado, se preparando para abrir o portão.

"Eu trabalho feito um elfo!" Ela exclamou, sabendo que esse era o tipo de conversa habitual com aquele velho homem. "Já estou aí dentro há horas!" O que não era uma mentira, ela pensou amargurada.

Ele respondeu com uma reclamação quase inaudível e tocou a varinha no portão, abrindo-o com um estrondo desagradável. No instante seguinte, Gina estava do lado de fora de Glastonbury.

Por Merlin, estava fora da prisão!

Respirou fundo, sentindo os olhos marejarem com a expectativa. Precisava chegar a Londres nesse exato momento, mas como aparatar sem sua varinha?

Apertou o passo, mas não o suficiente para deixar sua ansiedade aparecer, e regulou sua respiração até achar a viela que conduzia à rua mais movimentada de Glastonbury. Só estivera ali uma vez, acompanhando o pai e os irmãos numa viagem ao lugar onde o Rei Artur estava enterrado, mas ainda se lembrava de alguns detalhes; Gina tinha crescido ouvindo seu pai dizer que seu nome, assim como dos seus irmãos, tinham origem nas histórias do lendário rei e protegido de Merlin, o maior bruxo de todos os tempos.

Em outra situação, ela teria adorado passar mais uma vez pelas lojas e visitar as ruínas da pequena cidade. Entretanto, aquela não era uma situação normal: precisava voltar para Londres antes que entardecesse, para que, pelo menos, pudesse despachar as poções que já tinha feito para seus irmãos. Rony buscaria tudo quando a noite já estivesse estabelecida, para evitar atenções desnecessárias.

Ela ergueu os olhos para o céu, tampando os olhos da luz do sol, e chegou a duas conclusões: A primeira, era que fazia um dia lindo. A segunda, que já devia ter passado da hora do almoço.

O lugar agora basicamente vivia do turismo baseado no bruxo mais famoso de todos os tempos e era muito movimentado. Ela sabia que deveria seguir até a colina mais famosa da cidade, Glastonbury Tor, que era o principal ponto de onde saiam as chaves de portais. O grande problema era como conseguir uma: Gina não tinha dinheiro com ela e, mesmo que tivesse, todas as chaves de portal legais eram controladas pelo Ministério; no momento em que ela registrasse uma, teria Draco nos seus calcanhares. Apesar da sensação involuntária no baixo-ventre que a acometia quando pensava nele desde aquela manhã, vê-lo era a última coisa que ela queria naquele momento.

A caminhada pela colina íngreme, mais conhecida pelos bruxos como a antiga ilha de Avalon, propiciava uma bela vista de Summerset e, à sua base, havia uma pequena loja que negociava chaves de portais. Gina decidiu que o melhor seria esperar ali até poder executar a outra parte do seu plano, que consistia basicamente em colocar sua melhor cara de menina desamparada para conseguir pegar uma carona até Londres.

Não era um plano especialmente bom, mas Carlinhos sempre dizia que quando ela colocava no rosto aquela expressão, nem mesmo Snape recusaria a ela um sapo de chocolate.

Ao decorrer de vinte minutos, ela tinha recebido uma proposta de um beijo em troca da carona, de um bruxo de meia idade que acabou com o dedo do pé inchado devido ao um pisão de Gina; ouviu a proposta de uma mulher que queria que Gina registrasse a chave de portal (provavelmente também estava fugindo de alguma coisa) e foi abordada por um adolescente que queria fugir de casa e diria que ela era sua irmã mais velha. Entretanto, a consciência materna de Gina fez com que ela convencesse o garoto voltar para casa sob ameaça de uns bons cascudos.

Quando já estava suspirando resignada diante da ideia de que sua expressão de pedinte não era realmente tão boa, uma bruxa de uns sessenta anos se aproximou dela, com o rosto enrugado marcado por compaixão.

"Minha filha, o que está fazendo aqui parada, nesse frio?"

Gina, que estava na verdade esbaforida e com calor devido à adrenalina da fuga, tomou ares angelicais. "Fui roubada, senhora!" Ela respondeu, dizendo a si mesma que não estava mentindo totalmente. "Vim visitar a cidade com uma amiga, mas agora perdi a chave de portal que dividíamos para Londres porque levaram minha varinha e todos os meus sicles!" Ela fungou, para dar mais veracidade à história.

A velhinha balançou a cabeça em negação, numa atitude simpática aos problemas fictícios de Gina. "Estamos vivendo tempos terríveis, minha filha! Não temos mais segurança sequer entre os nossos. As vezes me pego pensando se eu não vivi demais, enquanto outros bons morreram tão cedo, como o Indesejável-Número-Um..."

Gina quase abraçou a velhinha, que apesar de ter medo de citar o nome de Harry, ainda o via como alguém que morreu lutando por um mundo melhor, livre de Voldemort.

Ela não esperou a reação de Gina e passou o braço por dentro do braço da ruiva, começando a guiá-la na subida da colina. "Vamos, menina, ajude uma velha a subir essa colina horrorosa. Te levarei até Londres; estou indo para lá visitar minha filha Janette. Imagine você que ela se recusa a sair da cidade, apesar do domínio mais direto de Você-Sabe-Quem sobre a região. É uma teimosa cabeça dura e inconsequente."

Gina, que não podia sob hipótese alguma condenar Janette por ficar estupidamente perto da influência de Voldemort, se limitou a ficar quieta. A velhinha continuou falando. "Eu queria que ela ficasse perto de mim, mas nem sempre podemos proteger nossos filhos como queremos, não é mesmo?" Ela falou, pontuando a frase com suspiros tristes, enquanto subia a colina íngreme com passos lentos, usando o braço de Gina como apoio.

"Acho que não…" Gina concordou distraidamente e, sem entender a razão ao certo, ela desabafou. "Eu estou esperando um filho. Com todo esse cenário de guerra e revolta, eu sequer sei se é certo trazer um bebê ao um mundo assim. Eu -eu não sei o que fazer com ele…" Ela falou torcendo as mãos. Sentiu lágrimas pressionando seus olhos e teve que piscar para que elas não caíssem.

A velhinha deu um tapinha carinhoso na mão de Gina, como se pudesse espantar as dúvidas da mulher mais jovem. "E o pai da criança?"

"Eu acho que ele não vai ficar muito feliz com a ideia." Ela fungou, dividida entre chorar pela situação e dar risada de um possível apoio paterno de Draco. "Nós não nos damos muito bem, para usar um termo menos forte."

A velha mulher a olhou com penetrantes olhos escuros. "Em algum momento devem ter se dado bem o suficiente para gerar essa criança." Ela disse e Gina ruborizou automaticamente. "Mas isso não importa, minha querida. Nossos filhos são o maior presente que podemos ganhar e eu tenho certeza de que depois desse momento de dúvida você vai amar seu bebê mais do que a si mesma, independente da vontade do pai dele, da situação do mundo e de Você-Sabe-Quem. No primeiro sinal de vida que ele der, você já estará apaixonada." A velhinha disse, mostrando um sorriso onde faltavam alguns dentes, mas que não deixava de ser amavél.

Gina caminhou em silêncio, absorvendo as palavras da mulher e colocando suas ideias em ordem. Estava com receio de admitir para si mesma que estava com medo.

Já era ruim o suficiente ter que isolar James do mundo, porque ele não podia ficar perto da sua família - dado o estigma de ser filho de Harry Potter -, além de não poder expor o garoto verdadeiramente à sociedade, justamente pela mesma razão. E agora seu bebê também seria afastado da família dela - por ser filho de quem era - e seria isolado do pai, que nunca o aceitaria. Gina tinha certeza que a última coisa que Draco queria era um filho dela..

Draco…

Ele era seu verdadeiro medo. E se ele tirasse o bebê dela? Se a obrigasse a se livrar dele? Ou se o mal tratasse? Não, ela não permitira. Pelo menos por enquanto, esconderia essa informação dele a todo custo, afinal de contas, eles não viviam exatamente uma vida de casados. Ocultar informações de Draco Malfoy era quase fácil.

Ou assim ela queria que fosse.

"Pode parar de apertar minha mão, querida." A velha mulher falou, sorrindo. "Ninguém vai tirar seu bebê de você." Ao reparar na expressão intrigada de Gina, ela completou rapidamente. "Ora, não preciso ser legilimente para saber o que se passa no rosto de uma mãe. Tive quatro filhos, sei como é." Dessa vez ela riu verdadeiramente.

Gina então se deu conta de que estava apertando demasiadamente o frágil braço e pediu desculpas baixinho. Seguiram até o topo da colina, onde seguraram num martelo velho trazido por um funcionário da loja de chave de portais. Quando Gina sentiu as sensações típicas da utilização desse meio de transporte, já tinha na mente a convicção de que queria o bebê e nada nem ninguém a fariam mudar de ideia.

Ela tinha fugido de Glastonbury, mas ainda estava presa à sua verdadeira prisão: sua realidade. Enquanto não parasse de ignorar o fato de que estava grávida e de que teria que lidar com isso, não estaria totalmente livre.

Mas não mais.

Se deu conta de que desde que começara a desconfiar da sua gravidez já sabia que teria esse filho, independente da vontade de Malfoy. E que o amaria do mesmo jeito que amava James.

Já era mais do que hora de parar de fugir.

***

Com a testa em cima da mesa do seu escritório, Gina se sentia totalmente exausta, com fome, com uma dor de cabeça de um troll e com cada músculo do corpo dolorido. Havia dormido naquela posição, provavelmente por um tempo razoável, porque seu pescoço – a única parte do corpo que não doía antes – estava mortalmente dolorido agora. Ela teve que piscar para se lembrar do que tinha acontecido naquele dia, ainda apoiada na mesa.

Chegara em Londres no meio da tarde e graças a uns trocados trouxas oferecidos pela bondosa velhinha, Gina conseguira chegar até o Beco Diagonal, tentando andar calmamente até sua loja. Só teve tempo de tirar a touca de Anne liberando os longos cabelos ruivos, de correr escada acima até seu escritório - assustando alguns funcionários pela sua vestimenta estranha - e de mandar Dave correndo até sua casa, para buscar sua varinha, trazer notícias de James e dizer a Della que ela tivera um pequeno contratempo naquela manhã.

Quando Dave voltou esbaforido com sua varinha e dizendo que seu filho estava bem – ainda que com saudades dela -, ela começou a trabalhar duro, como há muito tempo não fazia. Juntou todos os ingredientes de que dispunha para as poções para a Resistência, se trancou no seu laboratório e encheu caixas com poção nas horas seguintes.

Certamente elas não seriam tão boas como eram as poções que levavam dias para ficar prontas, mas pelo menos sua família teria algo para lutar, para resistir. Um frio percorreu sua espinha ao pensar em quantas lutas mais precisariam ser lutadas, onde eles poderiam chegar vivendo daquele jeito, perseguidos em todas as esquinas.

A noite já adentrava cerrada pela janela e ela se perguntou há quanto tempo havia dormido. Quando ouviu um plop característico da aparatação, levantou a cabeça rapidamente, acostumando os olhos à penumbra.

"Você está com uma cara péssima!" Uma voz saiu do canto escuro do escritório.

"Você é sempre tão gentil, Rony." Ela falou sarcástica, alongando o pescoço.

O ruivo ergueu a varinha e num gesto acendeu as velas e a lareira. "Ser discreta não significa que você tem que viver no escuro e com frio, Gina."

"Eu..." Ela bocejou no meio da frase. "... perdi a noção da hora. Tive um dia infernal e passei a tarde inteira fazendo o que pude de poções para vocês."

Rony ficou com a ponta das orelhas levemente avermelhadas, o que era visível até mesmo no ambiente mal iluminado. "Ah, obrigado. Vai ser muito útil, de verdade. Conseguimos evacuar a maioria das pessoas do lugar e retirar os alimentos estocados. Agora é só entre o Ministério e a gente." Ele falou, subitamente concentrado.

"Vocês sabem que o Ministério vai atacar e o Ministério sabe que vocês sabem. Qual o sentido disso, afinal?" Ela perguntou, ainda massageando o pescoço.

"Da nossa parte, é finalmente a chance de bater de frente com o Ministério diretamente; nada de atentados isolados, coisa pequena que vínhamos fazendo nesses últimos anos. Antes o Ministério tentava abafar nossas ações como eventos irrelevantes e agora, com um ataque desses, está dizendo abertamente que nós somos uma ameaça. E é nossa chance de mostrar que estamos ficando cada vez mais fortes." Ele sorriu irradiando orgulho e Gina teve que acompanhar a expressão do irmão. "Da parte do Ministério, imagino que a intenção seja capturar ou exterminar os líderes da Resistência."

Subitamente, ela se empertigou. "E se..."

"Não vai acontecer nada, Gina." Ele a cortou, tranqüilizador. "Não será um ataque suicida, nós temos planos para qualquer eventualidade, Jorge já cuidou de tudo. Mas com certeza esse não será o último confronto dessa magnitude, isso eu posso te garantir."

"Foi o que eu imaginei." Ela disse, suspirando. "As poções estão nessas caixas. Imagino que você vá fazer o feitiço inextensível da Hermione, para carregar todas na mochila."

"Sim, vou. Esse feitiço é demais, não é?" Rony falou, entusiasmado.

"Eu diria que a Hermione é demais." Gina respondeu, cheia de malícia na voz.

Ficaram uns instantes em silêncio, enquanto ele guardava as caixas na mochila. "Eu me casei com ela, há dois anos."

Se não estivesse sentada, Gina certamente teria caído. "Por que infernos você nunca me contou?!" Ela conseguiu dizer, esganiçada.

"Bem, nossa relação não é das melhores, não é? Depois de tudo…" Rony falou sem jeito, dando de ombros. "Além do mais, você sabe que quanto menos informação você tiver, menos você se expõe. E expõe a gente também."

"Então por que está me contando agora?" Gina perguntou, com tristeza permeando sua voz.

"Porque eu achei que você ficaria feliz em saber. Saber que, apesar da guerra e tudo mais, ainda conseguimos ter uma vida decente." Ele deu um sorriso travesso, com os olhos verdes brilhando no escuro.

Ela se levantou e foi até ele, abraçando-o. "Fico muito feliz por você e Hermione."

Rony assentiu com um sorriso tímido e um silêncio voltou a cair sobre eles.

Aproveitando-se do clima amistoso com Rony, ela se lembrou de Anne. "Rony, preciso de um favor seu e é de extrema importância." Sentiu que seu irmão ficara tenso, mas ela continuou mesmo assim. "Amanhã chegará uma moça loira n'O Caldeirão Furado, que estará com o pingente que a mamãe me deu no dia em que parti com James. Eu a conheci na prisão de Glastobury essa manhã e..."

Rony engasgou audivelmente. "O que você estava fazendo na prisão de Você-Sabe-Quem hoje de manhã?"

"É uma longa história. Você só precisa saber que essa moça, Anne, me ajudou muito hoje e é por causa dela que essas poções ficaram prontas a tempo. Só que, ao me ajudar, ela acabou se complicando com o Ministério. Ela precisa ir para o lugar onde vocês estão alojados por uns tempos."

"Gina, nós não sabemos se podemos confiar e..."

"Ela me ajudou de verdade!" Gina perdeu a paciência. "Eu não pediria algo assim, se não fosse realmente importante ou não tivesse certeza. Mande alguém encontrá-la amanhã e tire suas próprias conclusões; mas não se esqueça de que é graças a ela que vai haver qualquer chance de sobreviver hoje a noite."

Ele ainda parecia contrariado. "Ok, mandarei alguém para falar com ela, mas não posso garantir nada..."

Gina nem deixou que ele completasse a frase. "Ela é um aborto, Rony. É tão perseguida quanto você e o resto da nossa família." Nesse ponto o irmão pareceu convencido e Gina aproveitou a deixa para mais um pedido. "E apresente Hermione para ela! Parece que sua esposa tem uma fã número um." Ela deu uma risadinha, já mais relaxada.

Rony a olhou por alguns instantes, antes de dizer cauteloso. "Eu digo todo dia para mamãe que você está ficando louca, mas, pela primeira vez, eu estou começando a acreditar nisso de verdade." Ele disse, colocando a mochila nas costas e se preparando para aparatar.

"Hm, eu cresci numa casa com seis irmãos mais velhos, me apaixonei e tive um filho com um adolescente que sofria tentativas de homicídio todo ano, me casei com um homem que detesta quem eu sou e ajudo constantemente a Resistência contra o Governo vigente." Ela falou com o dedo no queixo, fingindo uma postura pensativa. "Talvez eu seja só um pouquinho louca."

"Colocando nesses termos…" Rony deu de ombros, contendo o grande sorriso. "Se cuida, Gi."

"Se cuida, Rony. Mantenha-me informada!"

Mal ela acabou de dizer as palavras e ele já tinha aparatado.

***

Quando seu irmão foi embora, Gina se sentou no pequeno sofá do escritório jurando para si mesma que, apesar da saudade mortal de James, só iria para casa quando tivesse notícias da Resistência.

Depois de uns instantes de vigília, a gravidez, a fuga matinal e a preparação de poção vespertina começaram a se juntar e, sem maiores resistências, Gina voltou a dormir. Entrou num sono gratificante que só foi quebrado quando ouviu a porta do escritório se abrindo rápida e bruscamente. Num pulo, ela se sentou subitamente alerta, tateando a varinha por baixo da capa.

"Não sei porquê, mas alguma coisa me dizia que encontraria você aqui." A voz arrastada de Draco se manifestou da porta, depois de uns segundos de silêncio tenso.

Com a mão na varinha, Gina permaneceu imóvel e quieta, muito devido ao fato de não estar completamente acordada. Draco, por sua vez, cruzou a sala entrando no campo de visão dela e se sentou na cadeira próxima à mesa de trabalho do escritório, olhando-a por alguns instantes antes de voltar a falar.

Por um momento insano, a única coisa que Gina conseguiu pensar foi no beijo que eles haviam trocado naquela manhã, no que parecia ser um século atrás; lembrando do beijo que tinha sido estranho, intenso... devastador?

E por outro instante mais maluco ainda, Gina achou que eles conversariam sobre aquilo, tentariam entender em que terreno perigoso eles estavam adentrando. Entretanto, parecia que Draco tinha preocupações mais imediatas.

Assim como eu, Gina pensou de forma resoluta, afastando as lembranças das sensações do toque e dos lábios dele.

Ele interrompeu seus pensamentos.

"Suponho que eu deva te parabenizar. O que seria uma vitória fácil do Ministério acabou numa luta bem mais acirrada, graças às suas poções." A voz dele era fria, impassível, distante, como se ele estivesse comentando sobre o tempo.

Dessa vez, por mais que ela tentasse, não conseguiu identificar emoção no rosto fino e pálido, ainda que Draco devesse estar furioso.

Malfoy olhou com mais atenção para suas roupas humildes e desgastadas, para seu cabelo longo, desarrumado, e Gina viu o brilho de algo como reprovação cruzando os olhos cinzas.

"O que aconteceu?" Ela perguntou com a voz rouca, ignorando o ar hostil e as eventuais recriminações que ele pudesse ter a respeito da aparência dela.

Ele sacou a varinha e começou a brincar com ela, como se estivesse com o pensamento distante. "Matamos e morremos. Tudo o que se faz em situações como essa." Ao ver Gina empalidecer, ele completou parecendo entediado. "Nenhum dos seus coelhos foi abatido, Weasley; só capturamos peixes pequenos hoje. Agora tire do rosto essa expressão de apreensão: nada me causa mais tédio do que essas suas demonstrações sentimentais." Ele bufou, levantando alguns fios loiros que caíam pelo rosto.

Gina nem levou em consideração o insulto. Só estava mortalmente feliz por ninguém da sua família ter morrido, por mais egoísta que isso parecesse. E, em algum recanto devidamente escondido e ignorado do seu interior, também ficou aliviada por Draco estar aparentemente bem.

Seus pensamentos estavam tão turvos pelo cansaço, pelo sono e pela alegria, que ela os manifestou em voz alta. "Você se machucou?"

Draco levantou uma sobrancelha, como se ela tivesse feito uma pergunta muito idiota. "Óbvio que não. Eu não fui para a linha de frente de combate. Ainda não achei necessário."

Gina rolou os olhos. Certamente Draco Malfoy, o símbolo da covardia, não arriscaria seu traseiro aristocrático numa batalha cuja vitória não era certa.

"Não esperava outra coisa de você." Ela disse mordaz, se encostando no sofá em busca de apoio.

Eles permaneceram um tempo em silêncio e o único movimento da sala era a varinha de Draco, que girava entre seus longos dedos ritmicamente.

"Eu me pergunto," Draco disse se inclinando para frente e parando de mexer com a varinha subitamente "como você conseguiu fugir de uma prisão onde as fugas são tão comuns quanto os assaltos ao Gringotes."

"Tive sorte..." Gina respondeu distraidamente, pensando que aquilo não era uma mentira, de forma alguma. Ter encontrado Anne servindo em Glastonbury era como ter ganhado na loteria, mil vezes. Ela não disse nada por um tempo e quando fez menção de completar com algo que não comprometesse Anne, Draco a interrompeu com um gesto altivo da mão.

"Melhor, não me conte. Eu vou mandar investigar isso pela manhã. Por essa noite, eu acho que não preciso aumentar minha dor de cabeça." Ele levou o dedo indicador de cada mão até as têmporas, massageando ritmicamente, de olhos fechados.

"Você não me deixou escolha." Gina falou, sem entender ao certo porquê se justificava. "Não podia me dar ao luxo de ficar presa enquanto você atacava com mais força minha família, meus amigos."

"Não esperava outra coisa de você." Ainda de olhos fechados, ele usou a resposta que ela havia dado anteriormente, com sua voz fria e monótona, como neve recém-caída. Definitivamente, Gina não soube como interpretar as palavras nesse novo contexto.

Draco abriu os olhos, endireitou sua postura e se levantou para ir embora, ajeitando a capa com um cuidado metódico. "Vou te avisar uma última vez, Weasley. Estou ficando cansado dessa sua rebeldia e chegando no limite da minha paciência." Ele parecia entediado e Gina sentiu a raiva começar a borbulhar dentro de si. "Eu não vou permitir que você transforme minha vida num inferno ou que continue arriscando seu pescoço - e o meu, por consequência."

"Eu faço minhas próprias escolhas, Malfoy." Foi a única coisa que ela conseguiu articular sem se referir a ele com as palavras bastardo e imbecil. "Então não fale comigo como se eu fosse sua propriedade!"

Draco, que já tinha lhe dados as costas, se virou para ela olhando-a sério, com a máscara de indiferença que era seu rosto não revelando nada. "Mas a questão é que isso é o que você realmente é." Ele respondeu suavemente e Gina quase sufocou de raiva. "Eu paguei por você o preço mais alto que alguém pode pagar por algo: paguei com a minha liberdade e com o meu orgulho. Então sim, Weasley, você é minha propriedade." Ela estava totalmente atônita com a afirmação e ele não esperou que ela reagisse.

Quando já estava na porta, ele pareceu se lembrar de dizer alguma coisa e recuou um passo. "Parece que terminamos empatados, mais uma vez." E se virou para ir embora, como se aquilo fosse a coisa mais normal a se dizer.


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