Cinzas escrita por Ludi


Capítulo 12
Contrato


Notas iniciais do capítulo

Não era para esse capítulo sair agora. Não mesmo. Não ia ter muito tempo antes de modificar umas coisas que eu queria e dar os retoques típicos do perfeccionista. Mas quer saber? Não preciso. Tem algo mais importante do que isso. Tem alguém esperando por esse capítulo. Alguém que me emocionou e me honrou com as suas palavras.

Então, como todos os outros, esse capítulo é seu, Rose. Eu peço desculpas antecipadamente, porque sei que ele contém elementos que provavelmente não agradarão a todos os olhos. Entretanto, espero que você possa gostar.

Vamos entrar em um arco problemático dentro da história, principalmente porque houveram coisas que não me agradaram tanto, mas tiveram que ser assim.

Eu reitero o que eu disse no capítulo anterior, sobre o ódio que necessariamente há entre eles, principalmente no que se refere ao Draco. Por favor, tenham isso em mente, vai ser crucial nos próximos capítulos.

E também se lembrem do clichê! Tem um muito grande nesse, que fiquei até com vergonhiiinha de escrever, haha. Mas foi necessário, creiam-me. ; )

Sobre os comentários: guardei todos eles comigo no coração e é por eles que eu tenho vontade de prosseguir.



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Com um ruído seco típico da aparatação, Gina se materializou numa ruazinha estreita, em frente à entrada que dava acesso à Mansão Malfoy em Wiltshire, onde o acordo deveria ser selado.

Viera sozinha porque, em primeiro lugar, não havia ninguém para acompanhá-la. Segundo, sob hipótese alguma queria compartilhar a vergonha interna que ameaçava se apossar dela; o 'acordo' - como ela mentalmente chamava sua chantagem - tinha custado os escrúpulos que Gina havia achado, erroneamente, que tinha perdido há muito tempo.

Espantou seus sentimentos de remorso, ergueu o queixo na melhor pose altiva que pôde e se encaminhou em direção aos portões de ferro trabalhado. Quando ela levantou a mão para tocá-lo, o portão se abriu magicamente, com um barulho fantasmagórico de dobradiças rangendo.

Ela estava sendo aguardada.

Alguma partezinha dela realmente queria que o portão tivesse permanecido fechado. Quem sabe ela não daria de ombros e fosse embora, na melhor atitude 'pelo menos eu tentei'. Mas ele tinha se aberto e lá estava ela, adentrando os terrenos da Mansão Malfoy.

Engoliu em seco e partiu para encarar o destino que ela mesma provocara. Entretanto, as palavras do Malfoy não paravam de martelar sua cabeça; ela tinha tentado apenas conseguir proteção, mas será que não tinha se metido em um ninho de cobras?

Suspirou, seguindo durantes minutos - que mais pareciam horas - por um caminho direto coberto por sebes de teixo, que pareceram totalmente desagradáveis aos seus olhos. Quando tivesse a chance, mudaria tudo aquilo, daria mais vida ao lugar; diante do pensamento, Gina quase se estapeou, se recriminando por pensar em tarefas domésticas na Mansão Malfoy.

O percurso era tão grande que ela teve tempo de, ao passar por uma fonte, colocar a mão na água límpida. Até mesmo tinha dado um pulo quando um pavão tão branco quanto a doninha branquela cruzou seu caminho e, quando se entediou da longa caminhada, repassou mentalmente todo o discurso que havia preparado. Depois de minutos, ela finalmente chegou aos degraus que levavam à entrada da casa, propriamente dita.

Respirou fundo.

A porta se abriu revelando um elfo soturno e orelhudo que se curvou profundamente diante dela.

"Seja bem-vinda, senhora. Edril está aqui para servi-la." Ele disse ainda olhando para o chão, meio a contragosto.

Gina, definitivamente sem disposição para lidar com elfos domésticos mal-humorados, foi direto ao ponto. "Há alguém esperando por mim?"

"Peço que me acompanhe, senhora." O elfo disse, se curvando levemente.

O interior da casa era suntuosamente decorado, com carpetes que rescendiam a fragrâncias agradáveis e muitos espelhos. Os quadros acompanhavam Gina com olhos hostis, enquanto ela passava pelos corredores cheios de objetos que ela tinha certeza que valiam mais do que a Toca inteira.

Suspirou, sentindo saudades de casa. Aquela mansão era tão... Não-Weasley.

O elfo pareceu ler seus pensamentos, quando a deixou num cômodo que se assemelhava a um escritório. "Espero que não se sinta muito incomodada, senhora. Logo será recebida." E aparatou, abruptamente.

Não pela primeira vez, ela se sentiu sozinha.

Se abraçou, analisando melhor o ambiente. Correu os olhos pelas poltronas aconchegantes, pelos móveis duplamente lustrados, pela lareira ricamente decorada...

Havia algumas fotos em cima dela, onde Gina foi buscar informações que distraíssem sua mente agitada. Com certa estranheza, viu Malfoy com aproximadamente quatro anos, brincando com uma vassoura, sorrindo e acenando para o fotógrafo. Viu Narcissa orgulhosa ao lado de um Lúcio Malfoy, imponente e orgulhoso da esposa. Viu os três juntos, sentados num luxuoso sofá com a postura ereta, numa foto mais formal: pareciam uma família feliz; em perspectivas tortuosas e distorcidas, mas, ainda assim, feliz.

Gina estava distraída, pensando em quantas baixas os dois lados da guerra já haviam sofrido, quantas vida tinham sido destruídas, quando tocou com o indicador o rosto do menino loiro da foto, que sorria inocente.

"O amor é lindo, não é?" Uma voz displicente disse da porta, cujo dono estrava na sala. "Já está suspirando só de ver a foto do Draco."

Ela se virou para a porta, sobressaltada. Não podia acreditar nos seus olhos! Depois de tantos anos…

"Blaise!" Ela teve que se controlar para não ir abraçar o amigo-inimigo, sem saber ao certo a razão da alegria em vê-lo. Talvez porque Blaise sempre significara constância e ela traduzia constância como segurança. Estava realmente feliz em vê-lo. "Não achei que eu fosse botar os olhos em você nunca mais!"

"Sentiu saudades? Vejo que não, já que vai se casar com outro." Ele fingiu mágoa. Ela percebeu que, apesar do jeito sempre discreto do sonserino, com o passar dos anos ele se tornara um pouco mais extrovertido. Ela sorriu.

Aliás, a bem da verdade, os anos foram gentis com Blaise Zabini. E o bastardo estava bonito. Os olhos quase negros captavam todos os movimentos a sua volta e seus dentes brilhavam alvos, toda vez que ele esboçava um sorriso que nunca se formava por completo. Suas vestes claras contrastavam com sua pele negra, criando uma harmonia exótica que não passava despercebida aos olhos de ninguém. Não pôde deixar de compará-lo com seu 'noivo', que era pálido demais, arrogante demais, gelado demais. Quase fez uma careta.

Blaise era carismático onde Draco era antipático. Blaise era envolvente onde Draco era intransponível. Ambos tinham um ar de prepotência em volta de si. Ambos tinham um grau de introspectividade. Mas Blaise falava e manipulava, enquanto Draco se fechava e usava o silêncio como arma.

Entretanto, ela não se enganava: os dois eram potencialmente perigosos.

"Nunca daria certo entre nós, Blaise. Eu não faço seu tipo, lembra?" Ela disse, rindo.

"Como poderia esquecer?" Ele se aproximou e beijou sua mão levemente, indicando uma poltrona confortável para que ela se sentasse. "Então, vejo que conseguiu se livrar da guerra, depois de tudo." Ele disse, indo preparar um copo de firewhiskey para si, apesar de ainda ser de manhã. Ela ficou tensa na hora, não queria falar sobre a guerra – sobre sua família – e Blaise farejou seu medo no ar. "Não se preocupe, Ruiva. Esse é meu negócio: guardar segredos. Sou uma espécie de advogado da sociedade bruxa. As pessoas me procuram para resolver pequenos problemas – legais ou não. Eu uso das minhas conexões, contatos, e obtenho sempre resultados satisfatórios." Ele parou, para dar um gole na bebida. "Como vê, se conhecimento é poder, eu sou alguém bem poderoso nesse novo mundo." Ele sorriu, dessa vez por completo, se assemelhando ao um predador. "Informação e conhecimento são duas moedas que nunca saem de moda."

"Obrigada pela aula de como ser um egocêntrico manipulador, Blaise." Ela quase mostrou a língua ainda de bom humor, apesar de toda aquela situação.

"Você não precisa de aulas para ser egocêntrica e manipuladora. Muito pelo contrário, aliás. Depois do que Draco me contou, você deveria largar essa história de poções e se dedicar a ensinar a nobre arte de ser sacana."

"Zabini!" Ela corou violentamente, sem palavras.

"Já passamos da idade de ter pudor com as palavras, Ruiva." Ele disse fazendo um gesto displicente com as mãos. "Falando nisso, sabe o que eu gostaria de saber mesmo?" Ele se inclinou para frente, curioso. "O que você usou para convencer Draco a se casar com você?" Os olhos negros brilharam de curiosidade e a frase dele não escondia o espanto com aquele casamento. Gina ficou levemente ofendida com a atitude.

"Se ele não contou para você, quem sou eu para dizer qualquer coisa? Talvez ele tenha se apaixonado." Gina disse e colocou na cara seu sorriso mais inocente.

Blaise deu risada e ela notou que ele estava bem mais sorridente. "Me surpreendeu, Ruiva. Sempre achei que você tinha algum potencial, mas não tinha ideia do quão sonserina você poderia se tornar." Ela nem teve tempo de se ofender com o 'sonserina', porque no instante seguinte, o semblante de Zabini ficou repentinamente mais sério. "Parece que vocês estão falando sério mesmo."

Gina bufou. "Claro que estamos falando sério, Blaise! Ou você acha que eu vim aqui para tomar chá e relembrar os velhos tempos com Malfoy?" Depois de um instante de silêncio, onde Blaise se tornara pensativo, ela completou. "Podemos tratar dos detalhes, então?"

"Depois de trocar umas palavrinhas." Ele disse, introspectivo novamente.

"O que você quer, Blaise? Eu preferiria resolver isso o mais rápido possível." Gina disse, cruzando as mãos decididamente sobre o colo.

"O que eu quero...?" Zabini apoiou a mão no queixo, pensativo. "Eu quero que você desista dessa idéia. Quero que aceite a proposta generosa que ele fez para você, pegue seu filho, suma da Inglaterra. Eu quero que você vá viver sua vida, Ruiva."

Gina o olhou, espantada. "Por que diabos eu desistiria, depois de tudo que passei para chegar até aqui? Seu pedido é comovente e eu agradeço a sua preocupação comigo e com meu filho, mas eu não vou desistir." Ela falou com sinceridade.

"Já te contei que minha mãe se casou sete vezes? Sete vezes casada, sete vezes viúva…" Ele perguntou, com os olhos cravados nela. A mudança de assunto a desconcertou.

"Não…" Ela mentiu, sentindo um mal-estar inexplicável. Já tinha ouvido histórias a respeito da mãe de Blaise Zabini: belissíma e mortal. Entretanto, a última coisa que ela queria naquele momento era falar abertamente sobre as fofocas mais sinistras com relação a Sra. Zabini.

"Geralmente procuro tirar minhas experiências dos erros dos outros. Errar por si mesmo é muito custoso, como você sabe. Então, por causa da minha mãe, acho que posso me considerar bem experiente quando o assunto são os casamentos que não acabam bem…" Ele deixou as palavras no ar, por instantes, antes de completar olhando para o gelo que havia restado no copo sem bebida. "Casamento, como todas as outras coisas, é o que você faz dele. Depende das expectativas que as pessoas tem quando se casam, de como elas agem e reagem enquanto vivem juntas. Mas depende, principalmente, dos motivos pelos quais você se casa." Blaise parou, deixando que ela assimilasse a ideia. "E agora eu pergunto, quais são os seus motivos, Ruiva?"

Medo e egoísmo foram as primeiras palavras que cruzaram a mente dela, mas Gina preferiu uma abordagem diferente."Blaise, você não entende…"

"É claro que entendo." Ele a interrompeu suavemente. "Você é que não compreende que está plantando ódio entre vocês dois. E essa barreira é tão intransponível quanto aquelas que nosso amigo Draco colocou em si mesmo, para se isolar de tudo. Sinceramente, não esperava isso de uma orgulhosa grifinória."

"Eu não tenho escolha!" Gina disse, finalmente exasperada. "Aprendi que quando queremos atingir um objetivo, devemos estar dispostos a sacrificar alguma coisa… Nesse caso, estou pondo em jogo algo que é muito precioso para mim: minha autoestima e meus princípios. Mas eu não tenho escolha…" Ela repetiu, dessa vez sem tanta convicção na voz como ela gostaria.

"Sempre há uma escolha. E você está fazendo uma crucial nesse exato momento. Ainda assim, quer continuar com isso?"

"Eu preciso continuar com isso…"

Ele suspirou, parecendo resignado. Ela se sentiu aliviada: Blaise continuava sendo um bom entendedor das nuances humanas; não a pressionaria além do necessário para mostrar seu ponto.

"Então vamos aos negócios." Ele retomou seu jeito de empresário, foi até uma mesa, pegando uma pena de repetição rápida e posicionando-a com um papel no braço da poltrona onde estava sentado. "Apesar de Draco ter deixado claro a seriedade da situação, ele impôs somente três condições, que você deve aceitar para darmos continuidade a isso."

"O que ele quer?" Ela perguntou, entre curiosa e exasperada.

"Primeiro – e bastante óbvio – ele quer o objeto da sua chantagem; assim que o casamento ocorrer, você deve entregar tudo que pode usar contra ele. E para garantir que isso ocorra, ele quer um voto perpétuo." Ele terminou de dizer e perscrutou o rosto dela em busca de reações. Ela ficou ligeiramente incomodada com o fato de ter que fazer uma promessa que envolvesse sua vida, ainda que os riscos fossem quase nulos: ela nunca pensara em não entregar as lembranças de Harry. De qualquer forma, achou a exigência justa; ela havia feito o mesmo com ele, afinal. "A segunda condição é que vocês não partilhem a mesma casa. Aparentemente ele não quer te ver na Mansão da família dele." Não conviver com Draco Malfoy? Essa parte era fácil, ela pensou um pouco mais aliviada.

"E a última?" Ela perguntou, por fim.

"Ele exige que você honre o nome que vai carregar. Isso significa, basicamente, que você deve cortar relações indiretas com pessoas que possam prejudicar o nome da família dele." O olhar de Blaise foi tão significativo que não foi preciso falar mais nada.

Ela precisaria se afastar da Resistência.

A pena de repetição rápida parou de escrever no exato momento em que Blaise parou de falar.

Gina suspirou. Depois buscaria um jeito de lidar com aquela exigência mais adequadamente, mas, por enquanto, o melhor seria ser condescendente. "Eu concordo exatamente com essas palavras."

Blaise a olhou desconfiado, dando de ombros na sequência; resolveu que, afinal de contas, não era um problema dele. E ele era muito bom em não se importar com problemas que não eram os dele.

"Suponho que você queira estabelecer suas condições também… Logo Draco estará aqui, lerá os termos e poderemos terminar essa parte."

Gina respirou fundo. "Eu quero o casamento realizado e que eu seja reconhecida publicamente como a legítima mulher dele, apta a receber toda a proteção que o nome dele pode trazer. Quero também que ele proteja meu filho de Você-Sabe-Quem." Ela fez uma pausa pensativa, antes de completar. "E para isso, eu exijo um voto perpétuo." A pena anotava tudo freneticamente.

Blaise assobiou baixinho. "Você tem noção da situação em que está colocando-o?"

Ela assentiu, evitando que sua consciência se manifestasse, a todo custo. Depois de alguns minutos sem que nenhum dos dois falasse, Blaise segurou a pena na mão, imobilizando-a antes de abrir a boca.

"Posso sugerir outra condição?"

"Ao meu favor ou ao dele?" Gina perguntou, subitamente cansada.

"Ao seu."

"E por que você faria isso? Pensei que estivesse aqui representando seu querido amigo." Ela falou, com um leve tom de sarcasmo.

"Imagino que seja porque eu goste verdadeiramente de você." Os dois sorriram ao mesmo tempo, relembrando das conversas do passado, de palavras trocadas baixinho pelos corredores de Hogwarts. Ele cravou os olhos escuros nela.

"E qual seria essa condição?" Ela perguntou, ainda sorrindo.

"Eu não esperava te encontrar novamente nessa vida, Ruiva, mas eis você aqui, contra todos os prognósticos do Universo. E ainda por cima obrigando Draco a se casar com você… Eu não concordo com essa idéia, mas agora acho que é preciso torcer para que seja minimamente suportável para vocês dois – embora eu duvide dessa possibilidade."

"Obrigada pelo otimismo, Blaise." Ela fez uma leve careta.

Ele continuou, como se ela não tivesse dito nada. "Por isso eu te aconselho, Ruiva..." Ele fez uma pausa dramática que quase fez Gina prender a respiração. "Exija a consumação do matrimônio."

Se ela não estivesse sentada, certamente teria caído para trás. Onde ficava a ideia de casamento na base da chantagem, sem real compromisso? Ela sentiu que seu rosto pegava fogo. Abriu e fechou a boca três vezes antes de responder, de forma idiota.

"Consumação?"

"Não faça essa cara de virgem ofendida. Nós dois sabemos o que isso significa." Ele fez um gesto de descaso.

"Só estou surpresa… Não imaginava que os casamentos pudessem ser anulados se não forem consumados. É tão… Arcaico."

"Não é esse o ponto. Sabe que bruxos não anulam o casamento por causa disso e nem Draco tem a intenção de desfazer nada, quebrando o contrato de vocês." Blaise pareceu levemente sem paciência. "Mas a questão é que ele está fazendo um casamento forçado e tudo o que sente por você é ódio."

"Eu imagino que sim." Ela murmurou, tentando dar de ombros. "Não me importo com o que ele sente ou não, contanto que não possa me fazer mal. Tudo que eu quero é a proteção que o nome dele me trará. Se ele me despreza e não quer conviver comigo, que assim seja" Ela completou, levantando um pouco o nariz e cruzando os braços.

"Você quer que ele não te faça mal? Então está cometendo mais um erro. Você não conhece o homem com quem vai se casar: Draco é mimado, orgulhoso, rancoroso. Nesse exato momento, sua posição é forte, porque tem algo que o obrigou a se render aos seus desejos. Mas não vai ser assim para sempre, não é? Depois que você ceder o objeto que ele quer, não terá mais nada para prendê-lo." Ele parou um instante, para dar a ela tempo de pensar sobre o assunto. "É necessário que você tente dominar Draco de alguma forma. Se não o fizer, estará se condenando a uma existência bem deplorável, que vai acabar uma hora ou outra expondo vocês dois diante de Você-Sabe-Quem."

"Ele não vai conseguir fazer nada para me prejudicar…" Ela falou com os dentes cerrados, como se estivesse pronta para partir para a guerra. E, de certa forma, realmente estava.

"Pense melhor, Ruiva. Depois do casamento, você não vai ter poder sobre ele. E não adiantará pedir o perdão dele por tê-lo colocado nessa situação: os argumentos sentimentais não tem nenhum peso para ele. Acho que você já consegue concluir sozinha de que vai precisar dominá-lo pelos sentidos."

"É uma espécie de domínio perigoso, Blaise. E frágil." Ela começava a entender onde ele queria chegar.

"Cabe a você tornar isso forte. Do contrário vai estar encrencada."

"Eu entendi seu ponto, Zabini." Ela cortou o que ele estava dizendo e ruborizou, querendo acabar logo com aquela conversa. Entretanto, como era típico, não resistiu à curiosidade que veio na sequência. "E quem garante que ele vai permitir que eu chegue perto dele mais de uma vez? E quem garante que eu quero isso?"

"Acho que você é esperta – e bonita—o suficiente para jogar esse jogo. Garanta uma noite e as outras virão, aos poucos e constantes. Se certifique de que ele vai estar na suas mãos, pelo menos nesse sentido." Os olhos muito escuros brilharam com malícia. "Isso não significa, é claro, que você vai ganhar a primeira batalha." Ele disse, se tornando misterioso.

"O que você está querendo dizer, dessa vez?" Ela estava começando a ficar impaciente, não sabendo se isso se devia ao seu rosto queimando de vergonha ou ao assunto delicado que Blaise insistia em trazer a tona.

"Draco não liga para as mulheres, de forma geral." Blaise disse convicto e ela arregalou os olhos diante da afirmação do rapaz; foi suficiente para que ele entendesse o que ela estava pensando. "Ah, você continua entendendo tudo tão literalmente! Ele certamente aprecia mulheres, mas não liga especialmente para elas. Não é um conquistador e eu arriscaria mesmo a dizer que ele não tem muito jeito para isso. É claro, há Astória, mas ela é um assunto para um outro dia…" Ele parou para que ela registrasse a informação. "A verdade é que as mulheres são como todas as outras coisas para ele: se não trazem vantagens, são rechaçadas. Colocando em termos mais gentis, a fama dele não é de ser um homem gentil. Ou quente."

"Não me interessa como Draco Malfoy se comporta nesses momentos, Blaise! Tudo o que eu quero é…"

"Tornar minha vida um inferno. E vejo que está sendo feliz no seu intento." Falou a voz arrastada de Draco Malfoy, vindo a passos rápidos da porta. "Já acertaram os detalhes?" Completou, olhando diretamente para Blaise.

"Penso que sim. A Sra. de Woodcroft aceitou todas as suas condições." Não escapou aos ouvidos de Gina como a pronúncia do nome havia saído sarcástica da boca de Zabini. "Ela te entregará os objetos que você deseja, assim que se casarem e prometeu honrar seu nome. Ah, e respeitará a cláusula de não residir com você." Dessa vez foi a vez de Draco bufar sonoramente, levantando alguns fio muito loiros que caíam no seu rosto. "Gostaria de repassar as condições dela?" Blaise perguntou, num tom profissional.

"Eu já conheço e aceitei os termos dela. Podemos ir para o próximo passo." Ele falou, sem sequer dar sinais de que sabia que Gina estava na sala.

"Na verdade, há mais uma condição, Draco." Blaise disse, sua boca se curvando numa dica de sorriso.

O jovem loiro se jogou na poltrona próxima a que Blaise estava sentado, quase de frente para Gina e ela ruborizou automaticamente, por antecipação. Não havia concordado com aquilo, mas por ter visto um pouco de verdade nas palavras de Blaise, resolveu que era melhor permanecer calada. Por enquanto.

"Diga." Ele grunhiu, não escondendo seu descontentamento. "Ela quer que eu leve o pirralho para algum parque de diversões?"

"É algo mais prazeroso, eu suponho, mas não menos divertido." Blaise mostrou seu sorriso mais lupino e Gina se encolheu automaticamente. "Ela quer que o casamento seja consumado, para validar todo o contrato."

Draco ficou automaticamente tenso na poltrona, ereto como se estivesse sentado numa cama de pregos. Seus olhos se arregalaram e pareceram gelo, antes de tomarem a tonalidade escura e perigosa que Gina aprendera a conhecer. Ele havia ficado com as bochechas levemente rosadas, mas agora voltava a ficar pálido, lívido de raiva.

"E como eu devo provar que honrei essa cláusula?" Ele falou emanando uma raiva fria, olhando para ela finalmente. "Quantas pessoas deverão assistir à cena, Ginevra?" Era a primeira vez que ele dizia o nome dela e isso enviou uma onda de arrepios involuntários pela sua espinha. "Vai ser difícil provar qualquer coisa nesse sentido, com uma mulher que já é mãe, que sabe-se lá com quem já andou e que anda se esfregando em todos, até nos funcionários da sua loja."

"Ora, seu bastardo!" Ela havia se levantado, pronta para sacar a varinha e arrancar aquele sorrisinho que ele mostrava das maneiras mais dolorosas possíveis. Como ele ousava? Só tinha chegado nesses extremos com Harry e…

Ela parou, não iria se justificar para Draco Malfoy. Respirou fundo e se recompôs bravamente, falando com mais calma do que realmente sentia. "Está com medo de mim, Draco? Prometo que não vou azarar você na hora… Provavelmente você não sabe como é lidar com uma mulher com vontade própria, mas não é bem assim que a coisa funciona…"

Ele fechou o semblante novamente, pronto para uma réplica que certamente faria explodir definitivamente o gênio de Gina, quando Blaise os interrompeu.

"Vamos, meninos. Estávamos indo muito bem. Só falta essa parte." Blaise estava se divertindo abertamente com a situação.

Ela estava prestes a abrir a boca para sugerir que Zabini e Malfoy poderiam consumar o casamento juntos se quisessem porque ela não partilharia mais dessa condição, quando Draco foi mais rápido do que ela.

"Aceitamos, Blaise." Ele disse e um sorriso cruel distendeu seus lábios finos. "Temos um acordo."

Para Gina, que teoricamente propusera a nova condição, só restava ficar calada e ver tudo ser acertado.

Maldito fosse Blaise Zabini!

***

Blaise insistira em acompanhá-la até a porta depois de assinarem o contrato, enquanto Draco continuara impassível na poltrona do escritório, submerso em seus silêncios.

Eles caminharam até a porta da mansão, sem trocar palavras, até que, chegando no saguão, ela não pôde mais conter a língua.

"Que situação mais odiosa você me colocou! Deveria fazer você retirar essa cláusula absurda do contrato!" Ela explodiu, fechando as mãos em punhos, para evitar estapeá-lo.

"Agora já está feito, Ruiva. Além do mais, quando se assume uma conduta odiosa desde o princípio, o máximo que você pode fazer é firmar suas posições." Ele disse, cruelmente.

Os ombros dela caíram visivelmente e ela suspirou cansada. "Se te agrada saber, Blaise, minha consciência está pesando bastante." Ela respondeu um pouco mais calma, sentindo a alfinetada da frase dele.

"Vou torcer para que seja só sua consciência que se complique. O que você escolheu para si também não tem perspectivas muito boas."

Ela não tinha resposta para aquilo. Então Blaise fez uma leve reverência e a deixou ali, remoendo suas palavras.

***

Gina passou o resto da tarde na loja, recebendo clientes, arrumando contas, contatando fornecedores, lidando com gente do Ministério. Estava exausta e sendo bem sincera consigo mesma, gostaria de ficar ainda mais cansada. Precisava ocupar a mente com algo que não fosse seu iminente casamento. Agora que o contrato fora assinado, não tardaria a arrumar preparativos, fazer convites, comunicados. Merlin, como ia falar com sua família sobre isso? Esse era um ponto que havia evitado pensar. Olhou pela janela, tentando adiar mais um pouco sua ida para casa. Estava caindo uma tempestade infernal do lado de fora.

Ela suspirou resignada. Precisava ir para casa. Morava num sobrado confortável não muito longe do Beco Diagonal, que era seu orgulho. Era o lar que tinha construído para ela e James.

Deu as últimas instruções a Dave, recomendou procedimentos para o fechamento da loja e aparatou na porta de casa. Apesar da tentativa de se proteger da chuva, acabou se molhando da cabeça aos pés.

Queria muito ver o filho e descansar, mas notou uma movimentação estranha na sala de casa: assim que entrou no hall, Della surgiu na sua frente, com olhar de quem pede desculpa.

"Tentei dizer que a senhora não estava, mas eles disseram que ficariam até que a senhora aparecesse."

"Está tudo certo, Della. Só se certifique de que James está na cama, por favor." Gina disse, anestesiada pelo dia. Estava certa de que 'eles' seriam mais clientes que evitaram procurar a loja, para não atrair sobre si atenções indesejadas. Ela já passara por casos assim diversas vezes. Normalmente repreenderia as pessoas pela intransigência e ousadia de se colocarem na sua sala de estar sem serem convidadas, mas não hoje. Estava cansada demais para brigar.

A chuva continuava a cair incessante e ela via os relâmpagos cortando o céu através das janelas. Combinava bem com seu humor. A sala estava escura e Gina não hesitou em deixar sua varinha a postos, em caso de problemas. Numa cena típica de filme de terror que ela assistira enquanto frequentara o lado trouxa de Londres, um relâmpago particularmente intenso riscou o céu, transformando a noite em dia por um milésimo de segundo, no instante em que Gina entrou na sala.

Havia quatro homens lá dentro, em diferentes posições. Um olhava a chuva, o outro se aquecia numa lareira cujo fogo estava fraco. Um terceiro brincava com uma espécie de isqueiro, sentado num sofá e o quarto se resignava a girar a varinha zombeteiramente entre os dedos. Quatro homens grandes. Quatro homens ruivos. Quatro homens com cara de poucos amigos.

Um ano tinha 365 dias. Uma quantidade razoável de dias para que as coisas dessem errado. Mas foi justo naquele terrível dia que seus irmãos resolveram visitá-la. E ela desconfiava levemente da razão, ainda que não conseguisse entender como eles haviam descoberto.

Era raro vê-los juntos.

Era raro vê-los, de toda a forma.

Eles evitavam sair juntos e evitavam vê-la, com exceção de Jorge. Gina entendia, porque era perigoso demais para os dois lados. Mesmo assim, não pôde deixar de sentir vontade de abraçar cada um deles, passar a mão pelo rosto bem barbeado de Percy, fazer Rony se abaixar para abraçá-la, passar os dedos pelo cabelo de Gui… Mas ela tinha convicção de que não era hora para isso.

Havia algo errado…

Não era nem seguro para eles que ficassem juntos assim. Com dor no coração, Gina sabia que se abatessem um dos seus irmãos, os outros se vingariam. Entretanto, se abatessem todos de uma vez, na sua casa ainda… Sacudiu a cabeça, para espantar o pensamento.

Ela sabia que eles eram as cabeças do movimento rebelde.

Percy era o responsável pela organização e levantamento de recursos para a Resistência. Os cofres de todos os envolvidos na Ordem foram bloqueados pelo Ministério e eles sobreviviam através das economias mantidas fora do Gringotes e de pequenas doações feitas por simpatizantes – Gina, por exemplo, era uma daquelas que doavam vultosas quantias.

Gui representava a união do movimento, mantinha as relações políticas, recrutava novas pessoas e era o que mais tinha contato com o mundo 'exterior'. Por consequência, o que mais se expunha, principalmente em visitas a outros países, notadamente a Romênia, onde Carlinhos e seus contatos organizavam uma força contrária aos avanços de Voldemort na Europa Oriental.

Rony era o braço armado da Resistência: treinava e comandava ao lado de Hermione. Gina nunca deixava de se surpreender com a disciplina e devoção que as pessoas dedicavam a Rony; de alguma forma, a morte de Harry havia endurecido algo dentro de seu irmão, assim como tinha feito nela, tornado-o o alicerce da Resistência, o porto seguro das pessoas que tinham esperança de um mundo melhor.

Jorge, por sua vez, cuidava da estratégia dos ataques, mapeando todos os movimentos, surpreendendo, provocando, sempre um passo a frente do Ministério. E era Jorge quem encarava Gina naquele momento.

Ele parou de girar a varinha e com ela, acendeu as velas do aposento: com Gina em casa, podia se justificar a movimentação no cômodo.

"Olá, Ginoca." Ele disse. O apelido era carinhoso, mas a voz tinha um 'quê' de repreensão que não combinava com Jorge. "Viemos te entregar o jornal."

Ele foi em direção a ela e entregou a edição vespertina d'O Profeta Diário. Curiosamente perto da parte das notinhas destinadas a óbitos, a foto de Draco Malfoy – que olhava para o fotógrafo de braços cruzados e com cara de poucos amigos – era seguida da manchete: "PODEROSO DO MINISTÉRIO DA MAGIA SE CASA EM SEGREDO COM MAGNATA DA FABRICAÇÃO DE POÇÕES"

Draco Malfoy, 24 anos, chefe do Departamento de Execuções das Leis da Magia do Ministério da Magia, divulgou nota oficial no começo da tarde onde afirmou ter se casado com a imigrante puro-sangue escocesa Ginevra de Woodcroft, pertencente de um ramo inferior da família de Hengisto de Woodcroft e a maior comerciante de poções de Londres, numa cerimônia íntima e discreta.

Fontes próximas ao casal afirmam que eles começaram a se encontrar há alguns meses, em visitas à loja da agora Sra. Malfoy, e sempre tiveram relações muito amistosas.

Esse parece ser o começo de uma relação mais estreita entre o Ministério e a indústria das poções, contra as turbulências vividas nessa época.

"Filho da puta!" Foi tudo que ela conseguiu dizer. Como ele ousava jogar a notícia, como se ela não tivesse pessoas à sua volta para preparar? Obviamente, ela não ia admitir uma pontinha – mínima – de desgosto por não ter tido sequer uma recepção para seus amigos da loja, que serviria como uma espécie de compensação pela ausência da sua família.

E o ponto mais relevante: ela precisava que todos soubessem da união. Certamente, colocar uma nota n'O Profeta tinha algum grau de exposição, mas ele poderia pelo menos ter dado um maior destaque para a notícia e não colocá-la ao lado do obituário, como se ele tivesse sido condenado a uma sentença de morte! Sentiu que estava ficando vermelha.

Seus irmãos pareciam ter interpretado suas reações de forma incorreta. Foi Percy quem primeiro abriu a boca, ajeitando os óculos de aros grossos e dando as costas à lareira.

"Eu sabia que deveria haver algum mal-entendido, tentei convencer os outros a não virem, mas não adiantou muita coisa. Como você pode imaginar, essa notícia causou um estardalhaço e tanto." Ele disse.

"Nossa, Gina, você deveria ter visto a cara da mamãe quando leu isso." Jorge parecia descontraído de novo. "Ela só não mandou um berrador para você porque papai impediu dizendo que o Ministério facilmente descobriria onde estamos."

Ela sentiu uma súbita vontade de perguntar onde eles estavam dessa vez, mas a voz de Rony a interrompeu.

"É muito bom ver que apesar de tudo você ainda tem um pouco de juízo, Gina. Imaginar você com o Malfoy é como imaginar uma veela paquerando o Hagrid." Ele brincava com o isqueiro, presente de Dumbledore.

"Tem alguma idéia das razões do Malfoy para ter feito isso, Gina?" Gui falou desviando sua atenção da janela pela primeira vez e fixando os olhos verdes nela; suas cicatrizes davam a ele um aspecto assustador, à meia luz. Ela engoliu em seco. Gui era seu irmão mais sensitivo, o único que descobria as coisas que ela não queria revelar.

Querendo ganhar tempo, ela passou por eles e atiçou o fogo na lareira com a varinha, fez um feitiço rápido para se secar e se sentou numa poltrona, colocando a varinha protetoramente sobre o colo. Talvez fosse precisar mesmo de proteção.

"Eu não sei porque ele fez isso." Sentiu três dos seus irmãos suspirarem aliviados; Gui, entretanto, aguardou pacientemente. Ela deixou correr alguns instantes antes de completar. "Mas isso não significa que seja tudo mentira. Não me casei com Draco Malfoy, mas vou me casar, em breve." Não tinha coragem de olhar para nenhum deles, mirando seu colo ao invés disso.

O silêncio que se seguiu foi mortal. Se sentiu tão fortemente julgada que achou que fosse sucumbir diante da pressão que os quatro pares de olhos claros faziam sobre ela.

Eles estavam definitivamente atônitos.

"Desde o momento em que você decidiu ir embora, eu achei que você estava tomando a atitude mais egoísta da sua vida. Mas isso já é ultrapassar todos os limites do bom senso." Rony disse, sem esconder o espanto.

Aquele era, definitivamente, o pior dia para aguentar os ataques de Rony.

"E quem você pensa que é para me julgar, Ronald? Você certamente é um exemplo de altruísmo!" O sarcasmo escorria das palavras dela, para esconder os ferimentos causados pelas palavras do irmão.

"Chega, vocês dois!" Gui raramente usava aquele tom e os dois irmãos mais novos se calaram automaticamente. "Gina por que você faria uma loucura dessas? Você está expondo sua identidade, a Resistência e principalmente expondo James."

"Malfoy já sabe quem eu sou e sobre minhas contribuições com a Resistência. E também sobre James." Ela falou, com tristeza permeando sua voz. "Ele não vai fazer nada para prejudicar a mim ou ao meu filho." Pelo menos eu espero que não, ela completou mentalmente.

Se era possível, os quatro ficaram mais atônitos ainda. Percy pareceu não conseguir fechar a boca por alguns instantes e Rony estava tão vermelho que parecia que ia explodir. Jorge levou a mão a orelha que faltava inconscientemente, num gesto que ele tinha acostumado a fazer quando estava confuso.

"Você está dizendo que Malfoy vai casar com você e cuidar de James?" Rony falou, esquecido do mal-estar anterior. "Gina, ele está apaixonado por você?"

"Não!" Ela ruborizou absurdamente, chocada com a ideia de se casar com um Malfoy apaixonado.

"Então…?" Percy disse, claramente esperando uma razão com um mínimo de lógica para aquilo.

Como explicar para seus irmãos o que tinha feito, sem se sentir pior do que estava?

"Eu tenho uma… coisa, que é muito importante para o Malfoy. Então, fizemos uma troca. Eu forneço para ele essa coisa e ele casa comigo e protege o James de Você-Sabe-Quem." Ela falou, atropelando as palavras.

"Que coisa seria essa, Gina?" Rony disse, ficando com as orelhas ainda mais vermelhas. A pergunta, feita em um tom totalmente constrangido, fez Gina entender as idéias que estavam passando pela cabeça do irmão.

"Não é nada disso, Ronald!" Ela disse, pensando que se ficasse mais ruborizada a tonalidade vermelha ficaria tatuada na sua testa. Será que ele realmente achava que ela desceria tão baixo? "Ele simplesmente quer um objeto que eu tenho e que poderia complicá-lo."

O silêncio que se seguiu era quase tão insuportável quanto os olhares dos seus irmãos, até que Jorge explodiu numa sonora gargalhada.

"Você está forçando o Malfoy a se casar com você?! Irmãzinha, eu não quero mesmo ser seu inimigo! Fred ficaria orgulhoso! Bem, não propriamente orgulhoso por você se casar com a doninha, mas você entendeu." Ele falou, entre risadas.

As risadas de Jorge não foram suficientes para deixar o ambiente menos tenso e Gina desconfiava que a menção ao nome de Fred tivesse alguma coisa a ver com isso.

"O que faz você imaginar que o Malfoy vai cumprir o acordo, seja ele qual for?" Percy perguntou, diretamente.

"Ele vai fazer um voto perpétuo." Foi a resposta simples.

Jorge, já recuperado das risadas, assobiou baixinho.

"Ele realmente quer alguma coisa de você, Ginoca. E eu não sei ao certo se isso te coloca numa posição de vantagem ou não…"

"E o que acontece com a Resistência?" Percy fazia mais uma pergunta legítima. Era um fato consumado que a lealdade para com sua família seria (mais) contestada diante desse matrimônio. E havia também o outro lado da moeda: Draco Malfoy poderia proteger a Resistência também?

"Tudo continua como está, com relação a isso; vou continuar ajudando vocês" Ela disse, omitindo o fato de que Malfoy tinha explícitas intenções de fazer com que ela cortasse relações com a família. "Nada foi falado diretamente sobre a Resistência."

"Eu espero que você entenda todas as implicações desse ato, Gina. E também espero que você não se arrependa." Gui falou, levando inconscientemente as mãos até as cicatrizes do rosto, indiretamente causadas por Draco Malfoy.

A cabeça dela ia explodir.

Mais silêncio. Nervos a flor-da-pele.

"Droga, Gina! Eu não acredito que você está fazendo isso com a gente! Fazendo isso com ele!" Gina não precisava perguntar quem era o 'ele' da frase de Rony: estava bem claro que seu irmão sentia que essa era mais uma traição à memória de Harry. "Se unir a um dos nossos principais inimigos, ao cara que está caçando a gente como se fossemos animais, o cara que fez tudo a vida inteira para nos prejudicar! Isso é sujo!"

"Harry está morto! Quanto tempo mais você vai demorar para perceber isso, Rony?!" Ela respondeu no mesmo tom, já com lágrimas ardendo nos olhos enquanto seu irmão se encolhia como se tivesse recebido um soco.

"Quem é Harry, mamãe?" James estava de pijamas na porta da sala, esfregando os olhinhos de sono e arrastando no chão um ursinho de pelúcia em forma de dragão.

"Nós te acordamos, meu amor?" ela correu para abraçar o menino, enxugando o rosto com as costas da mão no processo. "Não é nada importante agora. Vem, vou te colocar na cama e te contar uma história. O que acha?" Ela perguntou baixinho, não dando tempo para o menino perguntar sobre os quatro homens na sala.

"A do bruxo e seu caldeirão saltitante?" Gina concordou e o menino sorriu. Ainda sonolento, ele levantou a cabeça e disse bocejando. "Ah, olá Jordan! Eu senti sua falta."

"Eu também senti a sua, garotão." Jorge acenou, sorridente.

"Você está cometendo um grande erro, Gina." Rony falou, já aparentando estar mais calmo, no instante em que ela saía da sala com James no colo.

Ela o ignorou.

Depois de subir as escadas e entrar no quarto, Gina colocou o menino na cama com cuidado, deitando-o na superfície decorada com o símbolo dos Chudley Cannons. Gina deu um meio sorriso ao lembrar como James tinha sido teimoso - exatamente como Rony - na escolha do seu time de quadribol preferido, mesmo sob os protestos dela.

Esticou seu corpo ao lado do dele, passando os dedos pelos cabelos castanhos escuros do garoto.

"Eu preciso te contar uma coisa, James." Ela disse, engolindo em seco.

"Antes da minha história?" O menino perguntou bocejando, aninhando o rosto no corpo da mãe.

"Hm, hm." ela fez um som afirmativo. "Eu decidi que vou me casar. Você vai ter um padrasto." Ela não sabia se devia completar com um 'não é legal?'.

Ele permaneceu uns instantes em silêncio e imóvel. "Ele vai ser meu pai?"

"Não!" Ela respondeu imediatamente, um pouco mais esbaforida do que teria desejado. "Mas vai te proteger como se fosse."

"Quero um pai para voar comigo, jogar quadribol, poder apresentar para o Mike, não para me proteger!" Ele estava fazendo birra agora, como sempre fazia quando pensava no filho do vizinho que o importunava de vez em quando. Ela quase não controlou a vontade de rir em pensar em Draco Malfoy resolvendo problemas domésticos como aquele. "Quando vou conhecer ele?" Perguntou subitamente desperto, como se tivesse lembrando de repente que haveria mais alguém entre Gina e ele.

"Você já o conhece, pelo menos de vista. É Draco Malfoy." Ela perscrutou o rosto meio escondido do filho, em busca de reações.

"Ele é estranho. Parece meio… triste. Acho que ele não vai querer jogar quadribol comigo." Ele suspirou, resignado. "Mas se você gosta dele, prometo que vou tentar gostar dele também." James tentou sorrir, sendo vencido na batalha contra o sono, pouco a pouco.

"Eu não sei se gosto dele, meu amor." Ela murmurou. "Mas pelo menos não o odeio." completou para si mesma. James já dormia.

Ela ficou lá, esperando James entrar num estado avançado de sono, perdida nos seus pensamentos, entre sua consciência pesada, coração angustiado e a tentativa de ter a certeza de que fizera aquilo que deveria ter feito.

Quando voltou à sala, a única coisa que restava dos irmãos eram as marcas de chuva no carpete caro.

Não pela primeira vez, ela se perguntou se suas novas relações colocariam uma pedra no que restava do seu elo com sua família.

Gina se jogou na poltrona, abraçando os joelhos e apoiando a testa neles. Era hora de começar a pagar pelas suas atitudes.


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