Cinzas escrita por Ludi


Capítulo 11
Cutucando o Dragão com Vara Curta


Notas iniciais do capítulo

Oy! Esse é um capítulo interessante porque parte dele é visto sob o pov do Draco, pela primeira vez. É sempre bom entender o que se passa na cabeça dele, não é? =P

Antes de começar, eu gostaria muito de esclarecer um ponto. Por vezes, pode-se pensar que a presença constante do 'cinza' nessa história se refere ao Draco. Obviamente, isso é verdadeiro e proposital, principalmente porque ele é nosso personagem principal, ao lado da Gina; mas a idéia vai além disso. O conceito do cinza se encaixa em praticamente todos os personagens da história, com suas facetas claras e escuras, evidentes e subentendidas. E isso vale para a Gina também; dificilmente eu gosto das Ginas que são perfeitas, intocáveis, que não cometem erros. A Gina dessa história, pelo contrário, tem seu dark side e, o que é mais importante, também faz cagadas e toma decisões que são no mínimo questionáveis, moralmente falando. É o que começaremos a ver nesse capítulo.

Só mais uma coisa: a inspiração para a história surgiu de vários lugares, livros, filmes, contos. Alguns muito bons, alguns muito ruins. É uma mistura batida no liquidificador da minha mente e, o que é mais relevante, está CARREGADA de clichês. Afinal de contas, eu – assim como boa parte das pessoas que lêem fanfic - não consigo resistir ao um bom clichê, bem escrito.

É isso que eu venho tentando fazer aqui.

Tenham em mente a idéia da dualidade dos personagens, tenham em mente os clichês deliciosos, tenham em mente a dificuldade da construção da relação dos dois e, principalmente, se divirtam com o capítulo, assim como eu me diverti ao escrevê-lo.

E um beijo para Você-Sabe-Quem, que graças a Merlin não tem relação alguma com o Lorde das Trevas, e é suficientemente gentil para deixar um comentário aqui.



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"Senhora, precisa descansar! Quase não descansa há três dias..." Dave acenou para chamar a atenção de Gina. "Olhe ao redor, as coisas já estão todas em ordem. Eu e o funcionário do turno da tarde podemos nos revezar com o preparo dos ingredientes." Ele completou, parando perto da porta do escritório onde Gina andava de um lado para o outro, fazendo contas, catalogando os estragos do roubo que sofrera e ocupando a mente.

"Eu vou descansar, Dave. Assim que terminarmos aqui." Ela respondeu levantando os olhos para o rapaz, com um sorriso triste. "James já foi para casa?"

Desde o incidente do roubo das poções, James não permanecia na loja depois do fim da tarde; Gina se martirizava por sair de perto dele, mas ainda precisava fazer um inventário mais profundo do que os bastardos tiraram dela, além, é claro, do protótipo de paz que ela havia criado para si e para o filho.

Agora estava disposta a recuperar isso, custasse o que custasse.

Sabia que eles tinham levado amostras da poção Erumpente fortificada que ela havia fabricado para a Resistência e quase todo seu estoque restante, que ela mandaria para o Ministério, mas não adiantaria ficar apreensiva agora; poderia dizer que a poção fortificada tinha sido comprada para que ela pudesse estudar seu comportamento e tentasse reproduzir. Reproduzir para o Ministério, claro.

Era uma desculpa frágil e ruim, mas, no pior dos casos, ela ganharia alguns dias até conseguir por os pés fora da Inglaterra, embora ela tivesse um pressentimento de que não chegaria a tanto.

Se o plano dela desse certo…

"Sim, senhora. Della veio aqui para levá-lo para casa. Ele parecia bem mais animado. Eu prometi que ia levá-lo amanhã para dar uma volta de vassoura." Dave respondeu, prestativo como sempre.

Gina sentiu um carinho e consideração pelo rapaz que a desligou do mundo a sua volta e dos problemas com o Ministério. Dave tinha sido seu apoio durante esse período péssimo e ela não tinha se dado ao trabalho de agradecer ainda. Era como se ele fosse um irmão. Comose eu já não tivesse um número suficiente de irmãos, ela pensou acidamente. Afastando os pensamentos carregados de ironia, ela caminhou até ele, pegando levemente na sua mão. Então, se aproximou mais e deu um beijo gentil na bochecha dele.

"Obrigada por tudo, Dave." Gina falou e deu um tapinha carinhoso na mão do ajudante.

O rapaz a olhava com olhos absolutamente arregalados, como se tivesse acontecido uma hecatombe mundial. Ele nunca havia visto a Sra. Ginevra dar qualquer liberdade a ele ou chegado perto dele daquele jeito – ou perto de qualquer outro homem, até onde ele sabia. Dave abriu e fechou a boca diversas vezes antes de tentar balbuciar uma resposta, mas, quando encontrou sua voz, não era mais necessário: uma outra voz, muito mais arrastada e sarcástica se manifestou na porta.

"Espero não estar atrapalhando nada." Draco Malfoy estava encostado no batente da porta, olhando a cena com uma sobrancelha levantada e um traço de humor no rosto pontudo e aristocrático. "Um dos seus funcionários me conduziu até aqui. Disse que você me receberia, mas se estiver… ocupada, posso voltar outra hora." Ele olhou sugestivamente de Gina para Dave e então de novo para Gina, chegando a esboçar um leve sorriso.

Gina sentiu o rubor se espalhar pelo seu rosto. Quem ele pensava que era para fazer esse tipo de insinuação? O cara em que você esfregou o traseiro, dias atrás, disse a vozinha inconveniente dentro de si.

Ignorando o veneno de Malfoy e o pensamento indesejado, ela respirou fundo. Precisava de todo o sangue frio que pudesse arranjar para lidar com o que estava por vir.

"Olá, Sr. Malfoy." Ela forçou um sorriso no rosto. "Fique, por favor. Era justamente com você que eu queria falar." Ele a olhou com curiosidade crescente, sem nenhum vestígio do humor raro, de segundos atrás. "Dave, pode tomar conta da loja, por favor? Vou descer até a sala de poções com o Sr. Malfoy. Certamente ele vai se sentir mais confortável lá."

"Si-sim, senhora." Dave saiu apressado, tentando esconder o rosto totalmente vermelho, sem sequer olhar para trás e Gina não pôde deixar de se perguntar quantas namoradas seu jovem amigo já tivera. Malfoy, por sua vez, nem se dera ao trabalho de notar a presença do rapaz, depois do comentário irônico.

Malfoy permaneceu num silêncio observador alguns instantes, antes de se manifestar. "Você não parece bem." Ele olhou diretamente para ela, mas ainda parecia indiferente. Ele fazia cada frase soar como se nada fosse absolutamente importante. E, talvez, para ele nada fosse importante mesmo.

Obrigada por notar que eu não pareço bem, doninha. Foram só os seus comparsas que me agrediram de quase todas as formas possíveis, Gina pensou contrariada.

Instintivamente, Gina se olhou no reflexo no espelho da parede mais próxima. Seus cabelos, que ela tradicionalmente prendia num rabo de cavalo discreto, estavam soltos e caiam até o meio das costas; pareciam que estavam mais vermelhos, devido à palidez do seu rosto. Ela não resistiu ao gesto de colocar uma mecha de cabelo atrás da orelha e sentiu que o olhar dele havia acompanhado-a. Vestia uma calça jeans velha e uma camisa simples, que não se incomodara em trocar ao sair de casa. Roupas bem trouxas, ela fez uma nota mental, se prevenindo para tomar mais cuidado posteriormente.

Tentou sorrir polidamente. "É impressão sua, Sr. Malfoy. Já me recuperei do incidente do roubo da minha loja." Ela disse, venenosa.

"Ah, aquilo." Ele pareceu contrariado por um milésimo de segundo, mas depois voltou a colocar a máscara de indiferença que ele chamava de rosto.

"Exatamente. Aquilo. O roubo inadmissível da minha loja. Mas eu tenho certeza de que o Ministério fará de tudo para prender esses homens que me roubaram, não é?" Ela estava forçando a barra, sabia disso: como Draco Mafoy, um dos chefes do Ministério e Comensal da Morte, seria responsável por prender outros comensais, que por um acaso também eram funcionários do Ministério?

Gina estava totalmente desprotegida, a não ser que conseguisse atingir seu objetivo.

Malfoy se limitou a assentir lentamente e seguir num silêncio intimidante, que era o que ele sabia fazer de melhor, Gina já havia percebido; ele pareceu ter ficado mais entediado diante da menção do roubo e ela ficou apreensiva: precisava que ele estivesse com atenção totalmente focada nela. Resolveu tomar a palavra novamente.

"Veio para ver o preparo das poções do Ministério? Temo que não tenha muita coisa para mostrar…"

"Não tem problema." Ele a interrompeu com um gesto. "Quero ver mesmo assim."

Os dois desceram até a sala de poções em silêncio e ela apressou o passo, consciente dos olhos dele sobre si. Quando ele pensava que ela não estava olhando, havia um brilho de curiosidade naqueles olhos que hoje estavam particularmente mais azuis.

E ela teve que se chutar mentalmente por ficar pensando na variação da cor dos olhos dele num momento como aquele.

Eles deixaram o silêncio preencher o espaço, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Gina tentou se concentrar em preparar a poção para que ele supervisionasse, mas não podia evitar a tensão que percorria seu corpo; a presença física dele era muito forte, mesmo que na maior parte do tempo ele só movimentasse os olhos, perscrutadores.

Ela estava misturando uma poção do sono no caldeirão, quando tomou sua decisão. Era agora ou nunca.

Subjugar ou ser subjugada.

"Você sabe quem eu sou?" Ela perguntou levantando os olhos para ele, como se estivesse dizendo 'viu o tempo lá fora?', enquanto mexia displicentemente a poção.

A única resposta que obteve foi mais silêncio e um olhar tão penetrante que ela pensou que ficaria tatuado na sua testa se o encarasse por mais tempo. Passaram-se tantos instantes antes de Draco Malfoy abrir a boca que Gina pensou que ela nunca obteria uma resposta: já começava a pensar em outras abordagens quando ele finalmente se manifestou.

"Meu pai me contou que na família Weasley todos tem cabelos ruivos, sardas e mais filhos do que podem sustentar." Ele disse baixo, fixando o olhar no dela, sem mostrar nenhum sentimento. Por sua vez, ele tinha respondido como se estivesse dizendo 'Sim, está nublado'.

Pelo olhar distante que ele assumiu, Gina teve plena convicção de que ele já havia falado essa mesma frase antes e que estava relembrando disso em algum ponto do seu passado.

Ela arregalou os olhos, não evitando o espanto. Ele sempre soubera, então? Ela tinha esperança de que a surpresa da revelação da verdadeira identidade dela pudesse ter algum peso na decisão que ele teria que tomar em breve, mas viu que não seria possível. Um ponto para Malfoy.

Merda!

Como se a situação pudesse piorar, a menção a Lúcio Malfoy trouxe um calafrio pelo seu corpo. Era mesmo incrível a semelhança entre os dois. Draco tinha crescido e se tornado tão sombrio quanto o pai, talvez até mais; de alguma forma conseguira se tornar mais taciturno, mais ameaçador, porque Lúcio, pelo que Gina se lembrava, era mais do tipo que gostava de se gabar, de aparecer. Enquanto Draco... Ela não sabia mais o que pensar de Malfoy.

Aliás, Gina percebeu que o ponto da questão era aquele: na escola, não temia Draco Malfoy; ele era só um mimado estúpido, que falava mais do que agia. Isso começara a mudar no seu quinto ano - sexto ano dele - e com o incidente da morte de Dumbledore. E agora, tantos anos depois, ela se deparava com um homem crescido, diferente... frio. Como se o frio saísse do interior dele e irradiasse para o ambiente à sua volta.

E ela estava prestes a jogar um jogo bastante perigoso com ele. Engoliu em seco.

"Por que você não me prendeu, me denunciou, me entregou para Você-Sabe-Quem?" Ela perguntou, com a voz fraca e ainda abalada. Ainda que a possibilidade dele saber sobre a identidade dela não fosse improvável, ela não estava contando mesmo com o conhecimento prévio dele e aquilo a desestabilizara razoavelmente.

"Eu não consigo ver as vantagens que eu obteria com isso. Prestígio, talvez." Ele deu de ombros, antes de completar com a voz arrastada. "Mas já tenho prestígio suficiente para mim e minha família. Não vejo outra razão, por enquanto. O Lorde quer as cabeças da Resistência, o que não parece ser o seu caso, até agora…" Ele disse, deixando a frase morrer, como se ainda não tivesse certeza absoluta do contato dela com a Resistência, mas que tinha um palpite muito bom de que aquele contato efetivamente ocorria.

"Poderia ter feito por vingança… Pelo seu pai." Ela comentou baixinho e se chutou mentalmente, na sequência. Estava dando razões para que Malfoy a denunciasse, mas a curiosidade sempre fora um dos seus maiores pontos fracos. Ela prendeu a respiração, esperando a reação dele.

Os olhos dele escureceram repentinamente, tomando aquela tonalidade que Gina sabia que não poderia significar boa coisa.

"Por um acaso eu estava presente quando meu pai foi assassinado, Weasley. Eu vi quem o matou. E se eu não tivesse certeza que o bastardo também está morto agora, eu não estaria aqui falando com você. Estaria perseguindo-o, por essa vingança que você bem lembrou." Ele descruzou os braços, caminhando em direção a porta, antes de prosseguir. "Mas como o sabor de tudo na vida, eu vou ter que continuar sentindo o gosto amargo de não ter matado Longbottom com minhas próprias mãos. Agora já não há mais nada que importe para mim." Ele se virou para ir embora, antes de completar, mudando de assunto. "A propósito, já que finalmente colocamos as cartas na mesa, eu ainda estou de olho em você, Weasley. Nada de poções para seus comparsas." Acenou a cabeça, num sinal de despedida.

Gina estava perdida em seus pensamentos quando falou com a voz baixinha "Nem a sua mãe?"

Ele estacou de costas, parecendo ter sido atingido por um raio. "O que tem minha mãe?" Ele falou, se virando lentamente.

"Você disse que não há mais nada com que se importe. E com relação a sua mãe? Isso também é verdade?"

O rosto dele tinha uma expressão que ele exibira com frequência nos tempos de Hogwarts e que dizia claramente 'o que isso te interessa?'. Então, ele manifestou com palavras o que já estava escrito no rosto.

"Não vejo onde isso pode fazer diferença para você." Sua voz permanecia vazia, embora Gina pudesse jurar que havia um timbre diferente quando ele falou. "A maternidade te deixou muito mole, Weasley. Preocupada com as relações entre mães e filhos?" O tom era puro sarcasmo dessa vez.

O coração de Gina acelerou – mais ainda. Ele sabia sobre James? O que mais aquele bastardo sabia e não havia falado? Ela sempre fora tão discreta com relação à sua vida… A razão veio sem demora à sua cabeça: O Ministério!

Quase se beliscou pelo deslize. Se ele estivesse investigando-a – como provavelmente estava -, obviamente saberia sobre James. Não pela primeira vez, ela constatou que Draco Malfoy era um adversário perigoso: era a única pessoa que sabia plenamente sobre suas atividades do passado e do presente.

Ela ergueu a cabeça, espantando o desânimo por ter sido descoberta; entraria no jogo e tiraria aquela expressão esnobe do rosto dele.

Gina suspirou resoluta antes de responder. "É certo que a maternidade me modificou, Malfoy. Eu deixei de ser uma idealista convicta e aceitei que, muitas vezes, nós precisamos fazer sacrifícios éticos em nome daqueles que amamos. Você vai entender isso em breve, eu suponho." Ela deixou a frase no ar e ele ergueu uma sobrancelha em suspeita, mas manteve seu silêncio defensivo.

Gina o ignorou e, metodicamente, começou a organizar seus utensílios, aproveitando o tempo para conseguir organizar também suas idéias. Sabia que ele estava observando-a e, dessa vez, isso não a incomodou. Era até melhor que a tensão se dissipasse do corpo dela e conseguisse atingi-lo; de alguma forma, isso a fazia se sentir como se eles estivessem quites.

Alguns minutos se passaram até que ela abrisse a boca novamente. "Durante muito tempo da minha vida eu achei que você era um idiota mimado e insensível, por causa dos seus pais." Ela disse acenando com a cabeça na direção dele. Malfoy arregalou os olhos. Há quanto tempo alguém não o ofendia dessa forma? Ela palpitou que ele tivesse perdido o costume de ouvir certas ofensas. "Mas depois eu descobri que você não era insensível. Não podia ser, depois do que Harry me contou sobre o que aconteceu na Torre de Astronomia quando Dumbledore morreu, depois de ter me ajudado na batalha de Hogwarts e depois de ter poupado a vida do meu irmão." Malfoy ficou subitamente rígido diante da lembrança. Aqueles eram dias que os dois queriam esquecer, ela tinha certeza. "E também descobri que o fato de você ser um idiota não se devia aos seus pais. Bom, pelo menos, não se devia à sua mãe…"

"O que diabos você sabe sobre mim e sobre minha mãe? Eu estou começando a perder a paciência com você, Weasley..." Ele ainda falava baixo e sem alterar a voz, mas Gina não pôde deixar de perceber que ele estava inquieto agora.

"Sei que ela era uma mulher incrível e que ajudou Harry. Uma pena que eu só soube disso há pouco tempo."

Ele estava lívido, mais pálido ainda – se é que era possível - e Gina não sabia se era devido à pronúncia do nome de Harry ou a revelação sobre a traição da mãe. Ele se encaminhou a passos largos até ela e pegou no seu braço, sacudindo-a com certa força.

"Eu nunca me arrependi tanto de algo como estou me arrependendo agora de não ter entregado você e seu pequeno bastardo para o Lorde das Trevas. Mas você não vai ter mais a chance de abrir essa boca traidora para falar mentiras sobre a minha mãe, está me ouvindo?" Ele falou entredentes, sacudindo-a de novo e ela tentou se desvencilhar sem sucesso.

Gina tinha que levantar a cabeça para olhar para ele, e assim o fez, com os olhos castanhos tão belicosos quanto os prateados. O local onde ele apertava no seu braço direito começava a ficar dormente, mas agora não tinha volta. Ela iria adiante.

Desde que reencontrara Malfoy, nunca tinha visto ele sair de controle dessa forma; ele não gritava, mas Gina desejou que tivesse feito. Ela sabia lidar com gritos e explosões, mas não estava certa de como fazer isso contra a raiva fria que emanava daquele homem.

"Parece que não é só minha boca que é traidora por aqui. E você sabe que não é mentira! Do contrário não teria confinado sua mãe no St. Mungus, durante todo esse tempo… Não, você fez isso porque tem medo que ela deixe escapar que salvou Harry Potter para entrar em Hogwarts por você! Que o ajudou a armar um plano para derrotar Você-Sabe-Quem por você!" Ela parou e a tensão escorria entre os dois. Os olhos cinzas estavam presos nos castanhos e a mão que apertava o braço dela se tornou mais firme. "Deveria ficar orgulhoso." Ela falou a última frase com sarcasmo evidente. Também podia jogar o jogo dele.

No instante seguinte a varinha dele tinha surgido na mão pálida e estava apontando para o pescoço de Gina. Ela se resignou a ficar imóvel; não poderia tirar a sua própria varinha do bolso sem ser azarada ou coisa pior. Além do mais, ela sabia que essa era uma batalha que seria vencida com palavras, não com varinhas e feitiços.

"Na verdade, eu deveria fazer você engolir cada palavra mentirosa. E talvez eu faça mesmo… Depois de te levar para o Ministério." Ele disse sem soltá-la e ela realmente ficou um pouco assustada com a ameaça porque, de alguma forma, sabia que ela não havia sido feita da boca para fora.

"Não, você não vai." Gina tentou soar o mais fria que podia, embora estivesse fervendo por dentro. "Quando me virem sair daqui, arrastada por você, ou sumida depois de uma visita sua, vão deixar que uma certa encomenda com preciosas informações chegue diretamente até Você-Sabe-Quem. Ou até uma pessoa que possa fazer um bom proveito dela." Ela blefou.

"Merlin, você está blefando!" Ele adivinhou, mas Gina se manteve impassível. "Eu não vou cair no seu joguinho sujo, Weasley. Vou te levar daqui e nunca mais vou precisar olhar para essa sua cara mentirosa." Malfoy disse com um desprezo cortante. Ele enterrou um pouco a varinha no pescoço de Gina e pareceu não se importar em como a ponta do objeto machucava o pescoço alvo dela.

Gina engoliu em seco, mas prosseguiu com desafio na voz. "Tente a sorte. Se eu cair, você cai junto. Ou melhor, se eu cair, sua mãe cai junto. Por isso eu repito a pergunta que eu te fiz agora pouco, Malfoy: o quanto você se importa com a sua mãe?" Ela disse, se concentrando no rosto dele e não permitindo que seu medo transparecesse, de forma alguma. Ela sentiu que ele estava hesitando e isso lhe deu mais força.

"Você não tem nada de concreto para acusar minha mãe. É sua palavra contra a minha. Sua posição de traidora de sangue e amante de trouxas contra os meus serviços prestados à causa do Lorde." Ele disse arrogante, mas sem a mesma convicção de antes.

"Tenho algo mais que concreto." Ela disse, com um brilho de triunfo nos olhos. "Tenho lembranças."

Subitamente, Malfoy abaixou a varinha e a soltou. Se afastando inquieto, passou a mão pelo cabelo, como se procurasse uma solução rápida para matar Gina sem deixar vestígios. Ele olhou para algum ponto acima do ombro dela, perdido nos seus próprios pensamentos.

"De quem são essas lembranças?" Malfoy perguntou, sem fazer contato visual.

"Harry." Era uma resposta simples, mas, estranhamente, a deixava um pouco constrangida.

Draco bufou sonoramente. "Até depois de morto o Cicatriz consegue infernizar a minha vida." Ele falou, mais para si mesmo do que para ela. Saiu da frente de Gina e apoiou os braços na mesa em que ela preparava os ingredientes, encarando com extrema atenção um pedaço de pluma de pavão sobre a superfície. "Quanto você quer por elas? Você sabe, dinheiro nunca foi um problema para mim." Ela notou um tom de arrogância na voz dele que a irritou. Será que ele seria tão estúpido de pensar que ela faria isso por dinheiro?

Sim, seria, disse a conhecida vozinha interna na cabeça de Gina.

"Dinheiro não é um problema para mim também. O clima que vocês comensais impõe à sociedade é bem positivo para os meus negócios. Meus cofres no Gringotes vão bem, obrigada." Ela cruzou os braços sobre o peito, aliviada por poder se mover livremente.

Ele estava curioso. Curioso e irritado. Gina podia deduzir com facilidade o que se passava na cabeça dele: Como uma Weasley tinha a ousadia de recusar meu dinheiro? Que espécie de péssima chantagista era ela?

Malfoy só falou de novo depois de um minuto, que pareceu eterno. "O que você quer de mim então, Weasley?" Ele disse ainda olhando para a mesa e Gina quase gritou triunfante. Era uma admissão de derrota.

Ela ia conseguir o que queria.

Gina permaneceu em silêncio por uns instantes e ele desviou o olhar da mesa para fixá-lo no rosto dela. Parecia realmente tenso. A boca estava comprimida como se estivesse esperando por um soco; o olhar de tom metálico estava resignado. Ela sabia que ele queria acabar logo com aquilo.

E repentinamente, ela também queria.

Suspirou fundo, tomando coragem. "Quero influência. Quero proteção. Quero segurança." Ela parou, dando um tempo para que ele assimilasse as ideias, antes da cartada final. "Quero seu nome." Ao dizer a última frase, entretanto, ela não pôde evitar um leve rubor que subiu até suas bochechas.

A expressão de Malfoy mudou várias vezes num tempo curtíssimo de tempo. De aborrecimento passou à confusão, depois à estranheza e, por fim, quando ele finalmente entendeu as entrelinhas do que ela quisera dizer, seu rosto só demonstrou um profundo estarrecimento.

Quero seu nome.

Quero um casamento.

Gina tinha imaginado aquela cena de forma tão diferente. Estaria num jardim bonito, com os cabelos ruivos esvoaçando com o vento; teria uma flor presa neles e vestiria um vestido encantador – e não seu velho jeans trouxa. Estaria radiante com a convicção de que casaria por amor e de que seria feliz. E, a diferença principal, estaria olhando para olhos verdes como esmeraldas e não para olhos com a cor de tempestade - que com certeza eram um mau agouro. Olhos que, nesse exato momento, estavam do tamanho de dois pratos.

Malfoy a encarava como se estivesse vendo um fantasma. Ou melhor, ele já vira fantasmas - e até ficara íntimo de alguns - e nunca tinha feito aquela cara. Ele a encarava como se ela tivesse dito que ele era um filho adotado e tinha nascido no subúrbio trouxa de Londres. Simplesmente não podia acreditar no que tinha ouvido.

"Não pode estar falando sério, Weasley! Nem nos seus melhores sonhos eu me casaria com você!" Ele falou, com a voz levemente esganiçada e se apoiando na mesa, como se o mundo tivesse girado.

"Pesadelos, você quer dizer." Ela grunhiu. "Eu não quero isso mais do que você quer, Malfoy. Só estou fazendo o que é preciso para a proteger meu filho."

"Perdeu completamente o juízo, isso sim. Eu nunca misturaria o nome da minha família com..." Ele parou, parecendo pensar numa série de insultos. Quando nenhum foi bom o suficiente, ele desistiu agitando uma mão "... com alguém como você!"

Gina, por sua vez, se irritou com a expressão de nojo no rosto dele. Deu de ombros casualmente. "Então suponho que eu vá ter que procurar proteção em outro lugar, com a Resistência, talvez… Eles ficariam bem felizes de ter acesso a essas lembranças." Ela olhou inocentemente para ele. "Sabe, você tem dado bastante trabalho para eles…"

Draco respirou profundamente, como se estivesse contando até dez antes de estrangular o pescoço de Gina.

"Você tem minha palavra de que o que aconteceu na sua loja não vai se repetir jamais, você não será atacada de nenhum forma. E também de que não vou permitir que investiguem a fundo sua vida, desde que você pare de fornecer poções para a maldita Resistência."

"E desde quando sua palavra é algo confiável?" Ela quase fez um biquinho ao responder. Já tinha ido longe demais para desistir ali. Seria o que ela queria ou nada.

"Se for assim, por que você acha que eu vou cumprir esse estúpido acordo, seja ele qual for?" Ele parecia exasperado, passando as mãos pelos fios platinados, que insistiam em cair sobre os olhos.

"Porque eu quero um contrato formal de casamento. Preciso dele, na verdade. Não adianta para mim que você apenas me proteja: eu preciso que as pessoas saibam que seu nome me protege. Ninguém vai ousar fazer nada contra a esposa do chefe do principal departamento do Ministério." Ele parecia ter tomado um choque, mas ela prosseguiu. "E também porque eu quero um voto perpétuo."

Malfoy pareceu mais chocado agora, como se estivesse prestes a sair correndo. Ele respirou fundo para controlar suas emoções antes de responder. "E o que você quer que eu jure com esse voto perpétuo? Amor eterno?" Ele falou arrastando as palavras sarcásticas e levantando uma sobrancelha desesperada.

"Quero que você jure que vai proteger a vida do meu filho contra Você-Sabe-Quem." Ela disse, de olhos baixos.

Draco sequer podia se mover, quando o entendimento o atingiu como um furacão: Pela primeira vez, ele entendeu a dimensão do problema. Pela primeira vez, Draco Malfoy entendeu que iria fazer parte da vida de Gina Weasley.

A mente dele estava sendo devastada com um turbilhão de ideias.

Não era mais um embate entre Gina Weasley e Draco Malfoy, tinha ultrapassado essa esfera naquele momento. A pobretona estava com medo de Voldemort e do que o filho dela representava! Ele se xingou mentalmente, por não ter antecipado essa situação. Era óbvio que uma hora ou outra ela enfrentaria algum tipo de receio por ter concebido um pirralho do Cicatriz – isso se já não tivesse enfrentado em algum momento. Agora, parecia bastante clara a razão pela qual ela tinha se separado daquele bando de coelhos que ela chamava de família: ela estava com medo do que o menino significava para a Resistência e para Voldemort.

E agora ela estava dividindo o risco dessa criança com ele! Draco se sentia prestes a explodir. Queria azará-la, destruir aquela loja, fugir da Inglaterra, mas simplesmente se limitou a olhá-la, tentando não demonstrar nada do que estava sentindo.

Não era justo que ele partilhasse dos problemas gerados por um ou dois minutos de prazer entre o Cicatriz e a Weasley pobretona! Ele estava enojado. E com raiva, muita raiva.

Ela estava expondo Draco a uma situação perigosíssima. Jurar proteger a vida do garoto contra Voldemort às custas da vida do próprio Draco significava ir contra tudo que ele havia construído nos últimos seis anos: Ele lutara para dar a mãe uma vida digna depois que o pai morrera, lutara para reerguer o nome dos Black e dos Malfoy. Havia torturado e aguentado torturas, havia matado e escapado da morte por um triz, tinha sido um servo leal do Lorde das Trevas. Aprendera a não falhar, porque cada falha aproximava mais sua mãe de uma existência (mais) infeliz. Aprendera a fazer tudo que era mandado, sem questionar. Aprendera a dar ordens sem receber questionamentos.

Através do medo que sentira quando era adolescente, aprendera a se aproveitar do medo dos outros. Ele falhou ao não matar Dumbledore certo dia na Torre de Astronomia, mas fora seu último erro estratégico. Desde então ele crescera para se tornar o melhor. E quando não conseguia, tratava de manipular para riscar o melhor do seu caminho. Ele subira: entre os Comensais, ninguém mais se lembrava dos erros dos Malfoy – pelo menos não na frente dele. Tinha entrado no círculo íntimo dos Comensais do Lorde das Trevas e isso lhe rendera mais influência política. E isso era o que devia à sua mãe, ser bem-sucedido e reerguer o status da família.

E agora iria por tudo a perder, porque ia ter que se casar com a Weasley Fêmea e se tornar um traidor.

Traição. A palavra soava amarga aos seus ouvidos; não porque ele tivesse algum senso idealista idiota, mas sim porque estava muito confortável nessa vida que ele construíra; tinha muito dinheiro, prestígio, seu orgulho estava reconstruído.

Se aliar à pobretona significava proteger a Resistência! Sim, porque ele sabia que ela não pararia de ajudar sua maldita família e ele não poderia fazer nada contra ela.

Ela só estava pedindo o voto perpétuo para o filho, era verdade, mas não poderia dar fim na sua futura esposa sem levantar suspeitas. E se começassem a investigar o caso um pouco mais, só por curiosidade, seria seu fim. Descobririam quem era ela e principalmente, quem o filho dela era.

E o pirralho morto pelas mãos do Lorde significaria um Draco Malfoy morto, depois que tivesse feito o voto.

Como ele, chefe dos aurores e um dos Comensais mais favorecidos por Voldemort, protegeria indiretamente a Resistência e ficaria vivo para contar a história? Quase achou graça da situação, se não tivesse com vontade de torturar cada músculo daquela vadia sardenta.

Teve o ímpeto de rir zombeteiramente na cara dela e arrastá-la pelos cabelos até o Lorde das Trevas, com o filho a tira colo. Mas se lembrou da sua mãe, frágil, confusa, triste. Magoar sua mãe era a única coisa que ele não aprendera no processo de anular todos os sentimentos que poderiam prejudicá-lo, no processo de se tornar indiferente a tudo. Nem sequer conseguia ficar incomodado com o fato de que eram as lembranças dos atos da sua mãe que estavam colocando-o nessa situação.

Só conseguia pensar que isso era culpa de Gina Weasley, a pobretona chantagista.

Sua mente trabalhava freneticamente.

Não podia fazer nada além daquilo que ela queria. E a humilhação que aquela constatação trazia era tão pungente que Draco achou que sufocaria.

Mas, se iria ser o inferno para ele, não seria diferente para ela. E ele poderia fazer um voto perpétuo para fazer uma promessa em relação a isso também.

"Você vai ter o que quer." Ele disse por fim e Gina quase suspirou aliviada, se encostando à sua mesa de preparo de poções. "Apareça amanhã a tarde na minha Mansão para acertarmos os detalhes do contrato e fazermos o que deve ser feito. Você tratará com uma pessoa da minha confiança que fará todos os acertos necessários e cuidará para que meus interesses sejam protegidos." Ela já estava abrindo a boca para falar, quando ele a silenciou com um gesto. "Não se preocupe, Weasley, eu já entendi bem a idéia. Expor você é expor a mim também." Ele disse impaciente e ela assentiu. "Essa pessoa saberá ser discreta."

Gina sentia uma mistura de mil sentimentos e nenhum deles era agradável.

Sabia que o que estava exigindo dele colocaria uma pedra no que restava de humanidade em Malfoy e se sentiu pior ao lembrar que já tentara ajudá-lo, mais de uma vez. Mas era preciso.

Era preciso.

Repetiria isso como um mantra, até aceitar a idéia como verdadeira. Afastou da cabeça a imagem que seus pais, irmãos e amigos fariam dela. Afastou da cabeça a imagem que ela faria de si mesma. Calou a vozinha interna que dizia que ela pertencia ao lado dos mocinhos, que não deveria nunca chegar a esses extremos tão baixos. Chantagem, manipulação. Pela primeira vez, Gina se sentiu suja.

"As pessoas são cinzas..." ela murmurou baixinho para si mesma, distraída pelas implicações do que acabara de fazer.

Quando deu por si novamente, Draco Malfoy estava a sua frente, a poucos centímetros de distância e não parecendo ter ouvido sua última afirmação. Ele a olhava fixamente e Gina pôde identificar bem o sentimento que ele emanava por todo o corpo: ódio. Ela resistiu ao desejo de desviar os olhos dele: deveria aprender a conviver com isso agora.

Malfoy tirou as luvas lentamente, colocando-as no bolso da calça. Gina estava hipnotizada pelos movimentos: não se lembrava de ter visto-o sem luvas desde que se reencontraram e aquilo foi estranhamente particular. A mão dele continuava tão pálida – ou mais – quanto o resto, e os dedos longos da mão direita estavam ocupados em dobrar metodicamente a manga esquerda da sua camisa negra. Depois, foi a vez da manga direita. A cada movimento das mãos, ele se aproximava um pouco mais; Gina estava petrificada e já começava a ser preenchida por um terror latente. O que ele pretendia com aquilo? Chamar Voldemort?

Tentou a todo custo não olhar para a terrível marca negra tatuada irremediavelmente no braço esquerdo dele, mas estava tão exposta que Gina sentiu uma fascinação mórbida, como aquela que fazia as pessoas virarem a cabeça para ver alguém que havia sofrido um acidente de vassoura.

Ela foi recuando até que seu corpo colou na mesa e ele, por sua vez, só ficou distante o suficiente para que ela não tivesse dificuldades para respirar. Ele colocou um braço descoberto de cada lado do corpo dela, impedindo qualquer tentativa de fuga – que ela não faria de qualquer forma, dado que suas pernas não a obedeceriam, depois do desgaste mental da batalha que ela acabara de vencer.

"O que diabos você está fazendo, Malfoy?" Ela conseguiu reunir coragem para dizer, depois de um momento. E teve que agradecer mentalmente, por sua voz não ter tremido.

O rosto dele estava a centímetros da orelha dela e a sua voz pareceu ficar mais arrastada, perigosa.

"Só quero que você perceba o inferno em que entrou de livre e espontânea vontade." Com um aceno de cabeça, ele apontou os braços que a circundavam e Gina sentiu os fios de cabelo loiros roçarem no seu rosto. "Se você tentar escapar por um lado, vai me encontrar. Se tentar escapar pelo outro," dessa vez ele apontou diretamente para o braço esquerdo, que continha a marca negra tatuada. "vai encontrar o Lorde das Trevas." Ela prendeu a respiração e ele esperou mais alguns instantes, como se estivesse se alimentando da tensão que ela sabia que seu corpo estava emanando. "Espero que aproveite a experiência." Ele terminou dando um sorriso sarcástico e olhando-a fixamente, com aquele mesmo olhar quase insano que havia perturbado-a, tantos anos atrás.

E então, com um aceno que poderia ser considerado educado se não fosse carregado de ironia, ele se virou e saiu.

Gina só deu vazão aos seus sentimentos quando teve certeza que estava sozinha. Ela passou as mãos pelo rosto, como se pudesse se limpar da presença dele, das próprias decisões dela e de todas as perspectivas ruins que esse acordo entre eles trazia. Evitando as lágrimas, ela deslizou até o chão e abraçou os joelhos, ainda abalada com a presença de Malfoy tão perto dela e pelo cenário que ele tinha exposto.

Apoiando a cabeça nos braços num gesto instintivamente protetor, ela teve plena certeza de que sua vida nunca mais seria a mesma.


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