In Purple Eyes escrita por Caramelkitty


Capítulo 9
Vingança a partir do zero


Notas iniciais do capítulo

Sabe aquele momento em que nós queremos muito tomar o lugar da nossa personagem? Pois bem, eu quero ser a Cristaly para ficar com o Endy!!!!
Ele é tão *.* (enfim, vcs perceberam)
Eu editei esta imagem com o paint (sim, aquele programa para edição de imagens da idade da pedra -.-) por isso desculpem se não ficou boa. De qualquer maneira, aí esta o Endy! Ele é tão perfeito ^ ^
O capítulo de hoje tem muita batalha, muita ação e muita tragédia.



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Deixei os dois creepers na clareira com um leve remorso. Eu prometera, apesar de por vótuo de meu próprio silêncio, que iria protegê-los de forma a eles não virem a ter uma vida como a que eu levo agora. Mas o que posso fazer? O apelo do meu desejo de vingança é mais forte do que essa súbita solidariedade que me tinha acometido. Então eu os deixei depois de avisá-los de que eu poderia não voltar. Laura pareceu perceber isso muito bem, ela é uma criança de extraordinária inteligência. Sei que ela saberá guiar o irmão pelas auspiciosas estradas da vida. O que me assombra é o facto de eles não se poderem proteger sozinhos. Duas crianças num mundo inteiro de perigos. Bem, a culpa não me irá corroer por muito tempo. Nenhum outro sentimento o fará, para falar a verdade. Estou ansioso por isso. Por sentir cada dor nas células dos seres desprezíveis que mataram os meus pais. E depois... depois não irei sentir mais nada, porque não tenho mais qualquer razão de existir. Por isso não precisava de me preocupar mais. Por momentos um pensamento perspassou-me: estaria eu a ser egoísta? Talvez, mas não fora minha culpa que aqueles dois tivessem aparecido no meu caminho. Aliás, se não fosse eu, eles estariam mortos. Essa leve percepção fez-me ter um arrepio. Não gostava da ideia daquelas crianças no chão, jorrando sangue, com os cabelos loiros espalhados pela terra.

Cheguei às muralhas. Elas eram altas, fortes e espessas. Transmitiam imponência para alguns, temor para outros, segurança para os que lá viviam, mas para mim apenas representavam um obstáculo incômodo a ultrapassar. Escalar tudo aquilo seria impossível, procurar qualquer brecha também seria inútil. O único elo a fazer a ligação entre a capital do mundo humano e um vasto mundo, era o portão. Tinha de engendrar um plano. Não podia entrar simplesmente, logo seriam lançadas dezenas de setas sobre mim. Decidi esperar o cair da noite. A noite era o deleite do predador. Seria muito mais fácil entrar na torre de guarda envolto naquele breu. E assim foi. Esperei até o sol se pôr atrás das colinas. O céu escurecia passando aos seus tons rosas e violáceos. Uma carroça que transportava fruta irrompeu de entre as árvores. Os guardas que estavam ao portão fizeram-na parar e revistaram-na. Eram hábeis no que faziam, vasculhavam cada canto da carroçaria, cheiravam a fruta e viam se ela não era oca. Se o fosse era provável que escondesse algum objeto proibido no seu interior. Um dos guardas baixou-se para examinar a parte de baixo da carroça. Era um velho truque esse. O truque que usaria. Depois de eles terem dado o visto de passagem, materializei-me para debaixo da carroça. Não tinha muito tempo para pensar, num impulso segurei-me às tábuas soltas e a carroça avançou, comigo de pendura. Eu só esperava que a carroça parasse logo, aquela posição era terrivelmente incômoda. Finalmente as rodas pararam de chiar. Soltei-me silenciosamente e espreitei. A carroça parara em frente a uma mercearia. Num momento em que o dono dela e o carroceiro estavam voltados de costas, esgueirei-me e confundi-me com o negrume de um beco escuro.

Avancei pelas sombras, como um gato da noite, tentando passar despercebido. Não havia quase ninguém na rua exceto pelas patrulhas de guarda que marchavam pelos caminhos principais. Normalmente os que eram empedrados. Esquecidas ficavam as ruelas de areia e terra pelas quais eu me deslocava. Segui uma das patrulhas, sempre de longe. Assim que vi que para continuar a segui-los teria de me expor, materializei-me para cima de um telhado. Assim continuei a avançar, longe o suficiente para que eles não ouvissem os estalidos. Era algo irônico, para falar a verdade. As botas barulhentas que usavam para marcar o passo abafavam qualquer singelo ruído que um ser produzisse. Se eles se movimentassem como ladrões, conseguiriam prender qualquer sombra. Mas, como sempre estavam emparelhados nas suas armaduras de latão, com as suas botas barulhentas, seguindo em formação quadrado... por darem tanto nas vistas, mostrando ser a lei... eram incapazes de ver na sua frente algo que não quisesse ser propositalmente visto. Ou talvez fosse a minha prática como ladrão. Se quem tem essa profissão já é naturalmente sigiloso, então o que dizer de um Enderman? As minhas mãos começaram a formigar de ansiedade quando finalmente vi a patrulha entrar numa torre estreita e alta. Magra porém, devia ter no máximo uma divisão por andar. Agora é que começava a parte realmente difícil da missão. Materializei-me para este último telhado. Um sino estava preso na estaca de madeira com um longo cordão que descia até ao rés do chão. Era bastante óbvio o mecanismo daquele sino de alarme. Qualquer guarda na torre se se sentisse ameaçado podia puxar o cordão que logo o sino ecoaria pela cidadela. Procurei nas minhas vestes até achar um cubo de bronze. Tinha aproximadamente o peso daquele sino reluzente. Demorei quase um quarto de hora para conseguir substituir o sino pelo cubo de bronze. Tive que segurar o badalo e desatar os fortes nós. Posto isso pousei-o na biqueira do telhado. Encravado ficou o badalo, o sinal de alarme geral. Que desastre se alguém olhasse para o telhado da torre neste momento. Veria um Enderman e um sino espetado. Depois de ter atado o melhor que pude o cubo de bronze, o que foi bastante difícil já que ele não tinha um formato muito apelativo ou qualquer buraco onde pudesse enfiar o fio, desci, diretamente por ali. Fui parar a um espaço feito de madeira parecido com o cimo da capela de uma igreja. Desci as escadas sempre com um passo atrás, pois poderia deparar-me com uma patrulha de guarda a qualquer instante. Não demorei a avistar os primeiros adversários que teria de enfrentar. Estavam a guardar uma sala. Não hesitei. Qualquer atraso poderia ser a minha morte. Materializei-me atrás de um dos guardas e sufoquei-o com as mãos. O outro logo se virou e tentou acertar-me um golpe com a sua espada. Desviei e dei-lhe um soco que o fez cair por terra. Logo a seguir, peguei a espada e enterrei-a nas costas do homem que tentava levantar-se. A movimentação fez com que eu me voltasse. O outro homem, de cara roxa pelo quase enforcamento a que eu o sujeitara, estava a arrastar-se pelo chão. Puxou o cordão, mas o som do sino não ecoou. Antes que ele tivesse tempo de se espantar quebrei-lhe o pescoço. Arrastei os corpos para dentro da sala e fechei a porta. Em breve estranhariam a falta de guarda a vigiar a sala, mas eu esperava que nesse momento eu já tivesse dado o fora daquele lugar. Olhei em volta na nova divisão onde me encontrava. Soltei um grunhido frustrado ao ver espadas, machados, aljavas de setas, e todo o tipo de armas espalhadas por ali. Aquela era uma sala de armas e não uma sala de registros. Preparava-me para sair dali quando quatro guardas arrombaram a porta. Começaram a gritar para incitar outros, enquanto avançavam para mim com as espadas em punho. Peguei na primeira espada que havia por ali e materializei-me por trás deles infligindo-lhes profundos golpes pelas costas. Setas foram disparadas. Tentei materializar-me outra vez, mas não consegui evitar que uma delas me atingisse. Removi-a do meu ombro e logo me protegi de mais uma leva de setas, rolando para trás de um escudo. Novos guardas chegavam, eu tinha que acabar logo com isto. Não tinha tempo para duelos frontais, teria que usar golpes considerados baixos pelos nobres cavaleiros. Materializei-me mais uma vez, desta vez para cima de um balaustre de madeira sobre a cabeça dos guardas. Eles fizeram formação em círculo, costas contra costas, uns nos outros.

– Onde está o monstro? – Perguntavam olhando para os lados. Eu saltei para cima das cabeças deles. Apoiado nos seus ombros fiz logo o crânio de dois chocar com violência. Ficaram inconscientes. Com a espada que ainda tinha na mão cortei o pescoço de um terceiro. Humanos são tão fracos! Um novo guerreiro entrou desembestado na sala exibindo um machado. E devo admitir que desta vez foi um sufoco, ele fez-me recuar até quase cair num espaço aberto. Travei o machado com a espada, mas o homem era forte e musculado, fez descer o machado até quase me fazer cortar o pescoço com a própria espada. Apesar da situação meio tumultuosa consegui materializar-me novamente e o guerreiro viu-se a cravar o machado no ar. Com a própria força caiu no espaço vazio, indo estatelar-se no rés do chão da torre. Um novo guerreiro veio acudi-lo. Fui rápido a pensar. Cortei o fio, e o cubo de bronze neutralizou o suposto salvador do outro. Corri pelas escadas até encontrar uma nova sala. Não podia demorar muito mais, com o barulho que a minha batalha fizera, muito em breve toda a cidade saberia do Enderman infiltrado. Entrariam em ação os exterminadores que eram bem mais hábeis que simples guerreiros. De um ou dois eu daria conta mas se atacassem todos de uma vez, em grupo, poderia haver alguma dificuldade. A nova sala aonde me encontrava era muito mais apelativa para o que eu procurava. Haviam algumas estantes com livros, dúzias de papéis e uma secretária aonde estava sentado um velho de barbicha branca e óculos de aro dourado. Quando me viu soltou um guincho de medo. Gotas de suor escorriam-lhe pelo rosto.

– Não me mate, não me mate, não me mate,... – Só sabia repetir enquanto tentava esconder-se debaixo da secretária. Empunhei a espada de diamantes e fiz a lâmina refletir-se nas lentes graduadas daqueles óculos. O homem entortou os olhos e mirava aflito a lustrosa lâmina, com o corpo estremecendo de pavor.

– Se quer que eu poupe a sua vida, dê-me a folha dos extermínios dos guerreiros de há 12 anos atrás. – Repliquei ameaçadoramente.

O homem apressou-se a procurar a folha, enquanto eu ouvia uma agitação cada vez maior do outro lado da porta. Com as mãos a tremer, ele estendeu-me um papel. Enquanto eu me apressava a verificar a autenticidade dos fatos no papel que o velho me entregara, este, sem que nada o fizesse prever, pegou na vela que tinha ao seu lado na secretária para iluminar os escritos e atirou-a para cima de mim. Dei um supetão na vela fazendo o pedaço de cera partir-se em dois.

– ESTÁ AQUI! ESTÁ AQUI! – Gritava. Realmente humanos eram demasiado desprezíveis para serem poupados. Confiar em algum, nem que fosse por algo tão mínimo, resultava na desgraça que se via perante os meus olhos. Nem para poupar a vida aquele rato fora capaz de calar a boca. Pois ele achava que eu estava a brincar? Pois eu não estava! Enfiei a espada na garganta dele e os chamamentos de imediato cessaram. O alarido fora no entanto o suficiente para atrair os guardas. Eu tinha de desaparecer dali. Já verificara que o papel era o original e que era exatamente o que eu procurava, não me servia de nada quedar-me por ali mais tempo. Retirei a espada da jugular do humano fazendo mais sangue jorrar para os papeis espalhados numa bagunça pelo tampo da secretária. Guardei a espada nas vestes pretas. Era uma boa espada, melhor do que qualquer uma que tivera a coincidência de experimentar. Saltei pela janela no momento em que arrombavam a porta. Materializei-me a poucos metros do chão e aterrei suavemente. As ruas já estavam um caos. A luz dos archotes fazia com que toda a aldeia parecesse estar a arder. Até haviam aldeões que deixavam as suas casas, com forquilhas na mão, para ajudarem a pátria. Sair de uma aldeia em alvoroço parecia quase impossível no momento. Deixaria a calmaria apoderar-se daquelas mentes vagas para deixar a aldeia. Mas precisava de um lugar no qual eu pudesse esconder-me. Corri de beco em beco sempre seguido pela multidão ululante. Até me deparar com uma carroça que eu conhecia muito bem. Tinha uma gaiola forjada no lugar que deveria transportar a mercadoria. Era uma carroça de um exterminador ou de um caçador de bruxas. Neste caso em particular abrigava nas suas garras um zumbi que se arrastava quase inconsciente para tentar ver a causa do tumulto.

– Um jovem Enderman! O que faz por aqui sozinho?

– Talvez isso não lhe interesse! – Repliquei. Porque todos os zumbis eram intrometidos?

– Talvez tenhas razão! Mesmo assim, não posso deixar de querer ajudar um camarada. Ou poderás acabar igual a mim. Preso numa gaiola, mortalmente ferido, ... – Os meus olhos detectaram o sangue negro que manchava a camisola lilás meio rota que o zumbi vestia. Fora um disparo de uma besta, muito provavelmente. – Na praça central da aldeia há um poço. Eu vim de lá! Sou um espião e estive durante dez anos a cavar um túnel desde uma árvore até esse poço. Já que morrerei, que seja útil a alguém o meu feito.

Tive a intenção de destruir a gaiola com a espada e libertar aquele zumbi mas acabei por não o fazer. Ele estava muito ferido, seria um estorvo. Além disso, duvidava que ele aguentasse para ver o nascer de um novo dia.

– Obrigado.

– Espalha bem essa falha da capital Rarecraft! Um dia, nós acabaremos com os humanos!

– Um dia o faremos!

Segui as indicações do zumbi prisioneiro e consegui chegar à praça central. Lá estava o poço de que ele me falara. Meio carcomido pelas ervas daninhas, parecia abandonado. A ordem perfeita das patrulhas de guarda fora desfeita e agora só via guerreiros espalhados procurando em cada beco. Pensei em materializar-me diretamente para dentro do poço, assim não haveria nenhuma chance dos guardas me encontrarem, mas depois pensei duas vezes. O poço poderia não estar seco e a água sem dúvida iria ferir-me. Aproximei-me do poço tentando passar despercebido. Logo que consegui chegar perto do objeto empedrado, puxei o balde que não era usado há anos e desci nele. Como eu suspeitara, o poço ainda continha uma grande quantidade de água. Suspenso entre a corda e as paredes escorregadias do poço, eu procurava o túnel já exasperado. Eu queria acabar com aquilo, queria sair daquele lugar. Uma pedra solta foi a minha indicativa. Removi-a com dificuldade, já que os meus pés e braços estavam ocupados em suster-me. Por fim lá consegui enfiar-me no pequeno buraco e avancei pelo túnel que se alargava cada vez mais até chegar ao ponto de eu poder andar sem estar agachado. A uma boa distância do poço, sentei-me e comecei a ler a folha de papel que me custara tanto a conseguir. Os extermínios de 1414. Li e reli aqueles papeis mais de mil vezes com os olhos cada vez mais arregalados. Eu só podia estar a ler mal. Devia haver outra folha, devia ter havido um esquecimento. Segundo o escrito, os exterminadores não tinham morto nenhum Enderman no ano de 1414. E isso queria dizer que os humanos que tinham morto os meus pais não eram exterminadores. As minhas buscas simplesmente pareceram ser reduzidas a pó. A esperança já nem a lupa se conseguia ver. Humanos comuns tinham morto os meus pais. Essa simples ideia me deu vômitos. Não era possível que humanos vulgares, sem qualquer treinamento, tivessem tido a capacidade de esquartejar o meu pai. O meu pai, por quem eu sempre tivera grande admiração. Mas os fatos estavam ali, a tinta preta da pena de falcão. Senti o meu coração murchar. Não iria obter a minha vingança. Era impossível eu encontrar os assassinos dos meus pais. Eu não tinha nomes, eu não tinha qualquer pista, só sabia agora que eles não eram qualificados na arte das armas. Eles não eram guerreiros! E isso amplificava de forma avassaladora as minha áreas de busca. Eu podia passar uma vida inteira sem nunca conseguir encontrar quem eu procurava. Da estaca zero! Eu estava de novo sem nada! Sentia-me frustrado como uma criança de cinco anos a quem negam um doce. Eu só queria... só queria poder fazer com que eles sofressem. A sua dor seria a minha eterna felicidade. E quão longe os assassinos estavam da minha fúria. Pensar que eles poderiam estar a viver uma boa vida, rodeados de vinho, mulheres e dinheiro, essa simples ideia me enojava. Eu queria que eles sofressem tanto quanto eu. Porque mataram os meus pais? Eles nunca fizeram nada. Eles não participavam em batalhas, eles não eram agressivos, eles nunca sugaram sequer uma alma. Eu lembrava-me daquele dia como se fosse hoje. Era a memória da minha infância que mais vezes me assaltava sem sobre aviso. E eu não pude deixar de reviver essa cena uma vez mais. Eu chegava a casa, com os braços carregados de flores. Era aniversário da minha mãe e eu tinha passado a tarde na floresta a colher flores para ela. Só conseguia pensar no seu sorriso quando recebesse o presente. Sorriso que eu nunca cheguei a contemplar. Quando cheguei em casa vi o corpo completamente esquartejado da minha mãe. Os longos cabelos negros tinham sido arrancados. O vestido também estava um trapo, com longos rasgões a enfeitarem-no. Na altura eu era demasiado criança para perceber o que isso podia significar. Lembro-me que na altura apenas fiquei horrorizado com uma coisa e somente. O sangue que se espalhava pela madeira. As flores caíram das minhas mãos e, no segundo a seguir, também eu caía de joelhos. Abanei o corpo sem vida da minha mãe, chamava, chamava por ela incessantemente, as lágrimas queimavam-me a face enquanto eu começava a aceitar a realidade que me fora imposta. Eu sabia que ela estava morta. Eu sabia que não podia fazer nada para remediar a situação. Perdido, desolado, com a alma estilhaçada, só conseguia pensar no meu pai. Ele era o meu herói, o meu ídolo. Enquanto eu apreciava estar com a minha mãe, receber do seu carinho, sentir-me segura nos seus braços, com o meu pai era diferente. A minha mãe era o meu ponto de refúgio, o meu pai era o modelo que eu queria seguir quando fosse grande. Forte, poderoso, ensinara-me coisas que ainda hoje me eram úteis. No entanto, apesar do corpo forte, das habilidades que seriam bem empregues numa guerra, ele tinha um coração maior que o do mundo inteiro. Revoltava-se contra a nossa natureza de Endemans. Morreu sem nunca devorar uma só alma de humano. Na minha infância eu também imaginara que aquele fosse o meu destino. A minha inocência e felicidade faziam-me acreditar que venceria qualquer tentação. O que diria agora ao meu pai? Eu já não era um orgulho para ele, eu fora fraco, eu devorara muitas almas, eu era eu. Endy! E era tudo menos bom!

Depois de ter abandonado a casa, em busca do meu pai para lhe pedir ajuda deparei-me com o terror pela segunda vez. Ele estava morto também! Esquartejado, com um ar de eterno sofrimento na face. O cheiro humano infestava o local. Parecia que tinham feito de propósito, para me provocar. Pertences humanos estavam por todo o lado. Restos de um acampamento, a arma que deixaram espetada no coração do meu pai. Desde esse dia eu nunca mais fui o mesmo! Perdi-me por completo. A minha dor de tão forte, tornou-se um entorpecimento. Eu não me importava se matava, se não matava, eu não me importava mais com que era certo ou errado, eu vivia para a minha vingança. Eu vivo para a minha vingança. E nada mais!

Rasguei o papel que tinha nas mãos com uma raiva descomunal. Encarei a espada de diamantes que estava encoberta pelas minhas vestes ensanguentadas. Não seria melhor acabar de vez com tudo isto? Abanei a cabeça. Não, eu ainda tinha um filhos da puta para matar! Eu não iria padecer nas garras do submundo sem os levar comigo. As almas deles. Eu queria condená-las a uma tortura sem fim. Eles iriam sofrer a vingança do Enderman. Eles iriam se arrepender de ter morto os meus pais.

Recompus-me o melhor que consegui e retornei pelo caminho de regresso. Ao chegar à clareira fui tomado de surpresa por um abraço de Laura.

– Endy, voltaste! – Ela disse, parecendo verdadeiramente aliviada. Uma estranha comoção preencheu-me o peito. Afastei-a e perguntei:

– Onde está o Brian?

– Ele foi embora a correr por causa de uma coisa que eu disse. Senhor Endy, temos de encontrá-lo! Ele deve estar perdido. Eu quis ir atrás dele, mas eu pensei que se eu fosse, quando o senhor voltasse não iria encontrar ninguém. Eu já estava agoniada pela demora. Se tiver acontecido alguma coisa ao Brian eu não vou me perdoar.

Ela começou a chorar. Abaixei-me até ficar ao mesmo nível que a pequena creeper e prometi-lhe de coração:

– Vamos encontrar o Brian, Laura. Eu prometo!


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Notas finais do capítulo

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