In Purple Eyes escrita por Caramelkitty


Capítulo 7
Conversa de amigas




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Um velho poço está imortalizado no centro da aldeia. Pedra sobre pedra, foi construído com o suor e lágrimas de exaustão dos antigos, que, ao cair da noite, construíam muros de lama que mal detinham os monstros sanguinários. Os poucos que sobreviviam ao raiar do dia, deparavam-se com o problema da escassez de água pura. O poço era a salvação. A santificação da esperança. Com o tempo, porém, os humanos ganharam força sobre os mobs. Força? Não! Era pura inteligência. As muralhas tornavam-se impenetráveis e a aldeia segura. Não é que tudo fosse um mar de rosas, mas naquela aldeia, aparentemente, todo o mundo era feliz. Ou pelo menos, todo o mundo que tinha sanidade. O poço continua ali, no centro, como símbolo de prosperidade e vitalidade. O amuleto da aldeia. Não permaneceu imutável. Com o tempo, o musgo e outras plantas rasteiras criaram raízes nas fendas entre os blocos sobrepostos. A água também está longe de ser pura, foi envenenada e avinagrada com os detritos do tempo. O poço estava ali, mas já ninguém se preocupava em cuidar das águas que estagnavam sujas no interior. E no entanto, mantinham-se cristalinas. Coisa do arco da velha, diziam os mais conservativos. O poço era mágico! Conclusão a que toda a gente chegava e, posto isto, era ver os baldes e as engrenagens enguiçarem com a falta de uso, pois toda a gente tinha medo de se aproximar.

Bem, esta é a história do poço mais antigo da aldeia, onde eu passo muito tempo com a minha amiga Marc, precisamente por ser um lugar isolado. As águas cristalinas fascinavam-me, mas nunca me atrevera a beber delas. Sabia que, se havia um fundo de verdade na lenda do poço, era essa mesma. A das águas serem impuras. Fitei o meu reflexo intensamente, perdida em pensamentos. Lá estava a minha gêmea, que me indicava com que cara eu acordava todos os dias. A cara de hoje era de pura frustração. Só me apetecia desaparecer! Atirei uma pedra para dentro do poço e logo a minha imagem se desvaneceu em ondas circulares e concêntricas.

– E ele aceitou?! – Exclamou Marc, completamente abismada. – Depois de toda aquela cena que fizeste?

– Sim... – Murmurei aborrecida, com os braços apoiados na berma do poço vendo a minha imagem ressurgir à medida que a água aquietava.

– Meu... Deus... isso é...

– Horrível! – Completei.

Marc revirou os olhos.

– Eu ia dizer incrível! Mesmo tu fazendo aquele papel de menina malcriada e completamente louca, o rapaz aceitou o noivado. Ele deve ter mesmo se afeiçoado a ti, Cris. Menina sortuda, o Edu é um ótimo partido, ele é belo, inteligente, trabalhador...

– E extremamente convencido! – Completei novamente, com os olhos a chisparem ira por a minha melhor amiga insinuar que eu tivera sorte. Estas raparigas da aldeia são estranhas. Chamam sorte os pais selarem um casamento arranjado. – E ainda por cima é um exterminador de mobs.

Marc suspirou e abanou a cabeça pesadamente.

– Não entendo Cris! Realmente não entendo! Olha à tua volta e pensa um pouco a ver se não tens sorte. Lembra-te da Gabi! Ela casou a semana passada com um homem que era 30 anos mais velho que ela. Pobrezinha, tá de coração destroçado, fui visitá-la a semana passada. O homem é um bruto!

Comecei a atirar pedras e mais pedras de seguida para dentro do poço fazendo a água respingar para todos os lados, enquanto gritava.

– Errado, errado, tudo errado! Quem faz as leis humanas? Só pode ser um idiota completo para não ver o quanto elas são erradas.

Marc sentou-se na borda do poço e começou a desfazer uma folha de hera com os dedos.

Ainda não vos apresentei Marc. Ela é a minha melhor amiga. Tem um longo cabelo prateado, uma espécie de descoloração, eu e ela acreditamos que é um certo tipo de albinismo incompleto. É orfã desde muito cedo, por isso não sabe qual é o seu sobrenome. Não é originária da aldeia, ela chegou vinda da floresta quando era muito pequena. Estava ferida e desidratada e, num invulgar gesto de compaixão, os guardas decidiram deixar entrar a criança. Ninguém quis adotá-la porém, por isso ela vive sozinha, usufruindo da segurança das muralhas e plantando para sobreviver. Agora, a característica que eu mais gosto na Marc são os seus olhos, ou mais precisamente a cor dos mesmos. Ela tem heterocromia, ou seja, tem um olho com a cor diferente do outro. Fascinante, não acham? Um dos olhos é azul claro e o outro é verde. Os olhos mais invulgares e, portanto, mais atraentes que eu já alguma vez vi. O.k, podem deduzir que eu sou muito atraída pelo que, normalmente, repele as outras pessoas. Com todas estas características invulgares é de prever que ela não é bem aceita na sociedade. Acham que Marc é uma bruxa. O mais puro disparate, se Marc fosse uma bruxa ela não ia conseguir preparar uma só poção, tropeçaria no caldeirão antes. Só brincando... Marc é um pouco desastrada, mas ela é muito astuta, atenta a cada pormenor, tem memória fotográfica e tem um ótimo coração. Uma pena que a rejeição acabou por criar uma certa baixa autoestima na menina.

Olhei para o lado e vi a Gabriela. Ela seguia atrás do seu marido, cabisbaixa e submissa. A franja loira escondia os seus olhos. Lancei um olhar rancoroso ao homem de cabelo grisalho que ordenava à esposa que esta se despachasse. Gabriela, ou Gabi, era o nosso terceiro elemento, a mais nova do terceto. Agora, não tem tempo para nós, tem de servir o marido. Cedo ou tarde, todas nós sabíamos que isto aconteceria. Era o destino da Gabi, ela não tinha a força para se opor à decisão dos pais. Eu quis intervir, mas não adiantou de nada, eu mal consigo evitar que me arranjem a mim um casamento. Arrepiei-me ao lembrar-me de que já estava noiva. De que não conseguira mais evitar. Noiva do Edugé-no-dro. Apeteceu-me chorar, mas ao invés disso, mordi o lábio inferior com muita força, até fazer sangue e olhei tristemente para Marc que logo compreendeu a mensagem e me abraçou tentando consolar-me.

– Ó Cris, eu pensei, sinceramente que ias passar por cima disto! Tu sempre foste a mais decidida de todas nós!

– Invejo-te, Marc. Não és obrigada a casar, não tens pais estúpidos que te acham louca e querem arranjar-te partido. – Comentei, enquanto ela acariciava os meus cabelos.

– Eu queria casar! – Contrapôs ela. – Mas eu sou demasiado feia e inútil para algum rapaz se interessar pela minha pessoa.

Poderia esfumar a minha paciência tentando convencê-la do contrário, mas decidi antes subverter o tema. Eu tinha de desabafar sobre o casamento arranjado.

– Mas eu não vou casar com aquele ruivo com nome de lesma! Ainda tenho cerca de dois meses até ao casamento e até lá tenho tempo mais do que suficiente para fazê-lo desistir da ideia. Aquele foi só o primeiro almoço em família. À medida que o vou conhecendo também vou aprendendo os defeitos que ele mais abdomina na personalidades das raparigas e se eu souber o modelo desideal a seguir, vou conseguir romper com este noivado ridículo. Não posso deixar-me abater por uma simples tentativa que não deu certo. – Todo o discurso foi acompanhado com pequenas batidas na berma do poço.

– Mas o que ele disse exatamente ao teu pai? – Perguntou Marc, curiosa. E não era para menos, nunca nenhum partido me suportara nem durante um simples almoço ou jantar em família. Saíam de casa horrorizados.

Bufei e voltei a inclinar-me sobre o poço.

– Disse que achou o meu sentido de humor muito original. Ele percebeu também que eu não o quero ver mais, nem pintado a ouro, trazendo o seu minério inteiro nas costas, mas ele gosta de desafios. Diz que não gosta de raparigas submissas que lhe caem aos pés, acha-as monótonas. Diz que um rapaz lindo e perfeito como ele não se poderia casar com alguém que não tivesse distinção e, aparentemente, a minha personalidade «selvagem» - Fiz aspas com os dedos. – Torna-me diferente. Quer conquistar-me, aquele energúmeno.

Marc riu.

– Quem diria que o feitiço se iria virar contra o feiticeiro. Talvez se tivesses fingido ser mais uma daquelas princesinhas requintadas e comportadas...

– Se arrependimento matasse, eu já estaria na cova. Mas agora, nem adianta mais fingir, ele perceberá que é uma máscara, um truque. Como eu mencionei anteriormente, ele já percebeu que eu não quero casar de maneira nenhuma.

Marc soltou um suspiro olhando sonhadoramente as nuvens.

– Eu adorava casar-me com o Eduardo!

Olhei para ela surpresa. Quem era esse Eduardo que eu não conhecia? Perguntei-lhe de imediato, quase acusando-a de não me confiar todos os seus segredos. Éramos melhores amigas, ela tinha essa obrigação.

– Como assim quem é o Eduardo? É o Edu, o teu noivo!

Ao perceber não consegui conter a gargalhada. Ri tanto que comecei a sentir os músculos da barriga doridos. Então quer dizer, que o meu querido noivo anda a mentir à sociedade para tentar esconder o seu verdadeiro nome? Interessante... mas não me admira nem um pouco. É realmente uma tristeza ter um nome como Edugénodro, nem o pior diabo merece. Marc perguntou-me porque eu estava a rir que nem uma louca maníaca.

– É que o Eduardo que todos vocês conhecem na verdade não se chama Eduardo. Ele chama-se Edugénodro. – Marc deu um sorriso incrédulo e abanou inconscientemente a cabeça numa negação. – É verdade, ele teve que dar o verdadeiro nome ao meu pai já que quer desposar-me. Agora diz aí, ele tem ou nem tem um nome de bunda?

Marc ficou subitamente com uma expressão aterrorizada. Não percebi o motivo até ouvir um sussurro ao meu ouvido. Uma voz tão espinhosa que me provocou um arrepio na alma. Tentei respirar mas mais parecia que sufocava.

– Capeta... sua insolente boca suja! Vais arder no fogo do inferno!

Marc parecia estar num conflito interno. Não sabia se continuava imóvel, à espera que a velha fosse embora, ou se lhe atirava uma pedra. Ficou a ver a minha cara a tornar-se gradualmente roxa. Até que tudo parou e a velha se afastou, raquítica, com aquela bengala sinistra a bater no chão produzindo um som seco. Ofeguei e apoiei-me na beira do poço, como se subitamente liberta de um estranho feitiço. Toda a gente conhece aquela velha horrorosa pois ela é uma das mais ilustres figuras da igreja. Eu e Marc conhecemo-la como bruxa. Ela nunca nos enganou com aquela aparência frágil e palavras de adoração a Deus. Para mim ela é tão santa como uma cobra cascavel.

Marc sussurrou ao meu ouvido antes de se encolher toda:

– Ela me dá medo!

– Sei... a mim tudo o que me dá é nojo! A cada dia que passa, ela só dá mais evidências de que é uma bruxa. Mas se reparares num facto curioso, ela nunca me tentou enfeitiçar em público. Não se importa em me dar mostras da sua verdadeira natureza, porque sabe que se eu disser a alguém, ninguém acreditará tão somente na minha palavra. Um dia, tu e eu encontraremos o covil da bruxa e iremos desmascará-la perante toda a sociedade.

Marc aplaudiu o meu discurso.

– Apoiado. Se alguma vez vier a ter filhos, não quererei que eles sejam batizados por uma bruxa maléfica. Claro que tu não te precisas de preocupar com tal banalidade. – Era uma piada mas quando eu concordei, Marc ficou muda de espanto. – Cris... tu-tu não queres ter filhos?

Encolhi os ombros. Comecei a encaminhar-me com Marc para os limites da muralha, pois apetecia-me esticar um pouco as pernas com uma caminhada. Já estava a ficar com os membros dormentes da inércia. Enquanto andava, decidi responder à questão colocada por Marc.

– Não é que eu não queira, mas por enquanto não está nos meus planos. Conheces-me, não é Marc? Sabes que o meu maior sonho é correr este mundo, aprender cada fragmento de conhecimento que esta vida tem para me oferecer. – Acabei por empolgar-me no meu discurso e quando dei por mim já estava a saltar e a correr sobre as pedras mais altas da muralha. Marc olhou-me com preocupação, porque era perigoso eu estar a andar ali em cima sobre um precipício de 40 metros de altura. Se caísse tinha, digamos, hipóteses nulas de sobreviver. Mas eu já fiz este percurso tantas vezes que já não sinto qualquer quebra de equilíbrio, não sinto qualquer resquício de medo. Além disso, só ali em cima é que eu conseguia sentir plenamente o sabor do vento. Deixei o meu cabelo esvoaçar com a brisa, tornando-se uma segunda bandeira da capital e fechei os olhos. Por momentos imaginei que caía daquela muralha em direção à liberdade, que, por artes mágicas, eu voava por entre as nuvens em vez de me despedaçar no chão duro. Continuei ali, na altura de um líder, o meu discurso, gritando para me fazer ouvir sobre os uivos do vento. – Debaixo de cada pedra se esconde um mistério, atrás de cada folha uma nova espécie de ser vivo, em cada raio de sol uma lição de vida. Eu tenho a certeza que me divertirei muitíssimo seguindo por aquela montanha e desaparecendo do mapa.

Marc não se atreveu a subir e percebi pela sua expressão que queria perguntar-me algo, pelo que fui obrigada a deixar o meu pódio nas alturas, para ouvir o que ela queria.

– E irás sozinha ou acompanhada?

– Eu irei contigo, obviamente!

Marc recuou dois passos.

– Mas Cris... é perigoso fora da aldeia. Eu ira fazer com que nós duas fôssemos apanhadas e devoradas por mobs. Não vais querer ter uma empata como eu nas tuas aventuras. Além disso, eu sei que os adultos estão errados em muitas coisas, mas numa coisa eles estão corretos. As muralhas são a nossa garantia de sobrevivência. Passarás fome, frio, sede, ficarás ferida e penderás sem glória sobre a lâmina da espada de um esqueleto. Não quero ver o cadáver da minha melhor amiga a decompor-se a um canto de uma caverna que servirá de moradia a um zumbi. Fica, Cristaly!

Vacilei. Não esperava por isso. Marc não iria acompanhar-me. E nem eu era tão doida a ponto de fugir para sempre da aldeia e iniciar uma jornada sozinha e sem armas. Caso o fizesse tinha plena noção de que o sol do amanhecer iria mostrar o meu corpo sem vida a jorrar sangue. E eu sou nova demais para morrer! Marc estendeu-me a mão e eu aceitei-a. Ficaria na aldeia então! Mas não iria casar-me com o Edugénodro, isso já seria forçar a barra da amizade.

Começou a cair do céu uma chuva miudinha. Marc cobriu o longo cabelo prateado com o seu capuz laranja berrante e juntas avançámos para o abrigo da minha casa, ainda de mãos dadas. Entrámos na sala de jantar que era a primeira divisão assim que passávamos a porta. Sentei-me e escorri a água do cabelo. A chuva não era muito grossa mas mesmo assim dera para me humedecer bem o cabelo. Marc, como tinha o capuz, ficou resguardada e apenas teve de tirar o seu casaco laranja e pendurá-lo no cabide. Como boa anfitriã que era (mas só quando o assunto se relacionava com as minhas amigas), fiz um enorme esforço para vencer a preguiça de uma tarde de sábado chuvosa e levantei-me para ir preparar qualquer coisa para Marc comer. Passada uma hora de conversas inúteis e idiotas que geraram muitas risadas, fui retirar do forno os biscoitos caseiros com pepitas de chocolate. Enfiei um inteiro na boca e fiquei a saborear a textura crocante. A minha amiga, muito mais contida, apenas mordiscou a ponta como um senhorita educada e pediu chá para acompanhar os biscoitos. Eu mentira a Edu quando disse que não sabia cozinhar. Ele devia até ter deduzido isso! Com uma mãe que é mestre perita na arte dos cozinhados era imprescindível que eu soubesse fazer, nem que fosse um ovo cozido. Enquanto eu procurava no armário o bule do chá, já fula da vida por a peça de porcelana andar sempre a brincar às escondidas comigo, Marc comentou:

– Sabes, Cris, estou curiosa! Qual é o teu tipo de rapaz? Se não te sentes atraída por um belo ruivo de olhos verdes, então o que te atrai?

«Ahá, encontrei a fugitiva!» Pensei, empunhando vitoriosa o bule de chá da mais branca porcelana com figuras de hera gravadas na parte exterior da loiça. Podia parecer distraída, e vou confessar que realmente estava, mas tinha ouvido quase na totalidade a pergunta de Marc. E tenho de admitir que era uma pergunta legítima.

– Hum... alto, misterioso e com olhos singulares! – Afirmei depois de pensar um pouco. A parte dos olhos era indispensável. Ele tinha que ser senhor, sem dúvida, de uns olhos completamente invulgares. Como a Marc, que tinha olhos bicolores. Algo bizarro na opinião geral, mas eu achava que era precisamente isso que a tornava especial, aqueles belos olhos que tanto diferiam entre si. Se Marc fosse um rapaz talvez eu aceitasse ter um relacionamento com ele... ou ela... ele. Sorri com a confusão dos meus pensamentos. Despejei o chá a ferver nas duas chávenas que tinha colocado em cima da mesa.

– E tu, Marc? Qual é o teu tipo de rapaz? Não me vais dizer que o convencidinho do Edugénodro!

– Eu não tenho bem um tipo de rapaz definido. Para mim está tudo certo, desde que ele se preocupe comigo e que me ame de verdade. Mas eu gostava que fosse bonitinho, como é óbvio. – Ela levou a chávena aos lábios para provar o chá, mas este ainda estava muito quente, por isso Marc queimou a língua e no ato levou um susto que a fez largar a chávena que se estilhaçou em pedaços no chão.

– Oh, desculpa, Cristaly! Eu sou mesmo um desastre! – Lamentou ela, enquanto se atirava para o chão tentando reunir os cacos na mão.

Antes que eu pudesse pedir-lhe para ela levantar um pouco a auto estima (afinal, fora apenas um acidente) o meu pai entrou em casa. Passou por Marc sem lhe dirigir a palavra, como se não tivesse notado a sua presença. Mas eu sei muito bem que o meu pai só fingiu não a ver, conheço muito bem a peça que ele é! Ele, assim como grande parte da aldeia, acha que Marc é do mal, uma espécie de mob estranho mas inofensivo que o Lúcifer mandou para testar a fé das pessoas na aldeia. Essa crença só pode ter tido origem por ordem da bruxa de tão maldosa e impensável. Afinal, quem poderia imaginar que uma doce criança orfã era enviada pelo diabo? Só mesmo aquela mente doentia que gosta de criar intriga entre as pessoas. Para os conservativos tudo o que se desvie um pouco da normalidade é considerado maligno. Sabem o que eu digo? Bando de gente mais idiota!

– Cristaly, veste a tua roupa de pele.

Eu arqueei uma sobrancelha ante o estranho pedido. A minha roupa de pele raramente era usada sobre consentimento dos meus pais. Era constituída por umas calças de pêlo quentes e confortáveis e uma camisola de mangas compridas com tufos perto dos pulsos e no pescoço. Ou seja, era uma roupa de caça, nada elegante. Algo que era evitado pelas senhoras. Agora o meu pai, que sempre quisera me ver como uma menininha, a pedir para eu usar tal vestuário? Mas logo as minhas dúvidas sanaram, quando ele disse num tom claro e autoritário.

– O Edudumédrodo convidou-te para passares um dia a assistir ao trabalho dele! Ele quer mostrar à sua futura esposa como ele passa o dia a trabalhar duro.

O tom de voz do meu pai deixava claro que ele não deixaria que eu recusasse tão «generosa» oferta. O meu interior rebelou-se. Eu não acreditava que teria de passar o dia inteiro na floresta a ver aquele cafajeste a matar os pobres monstrinhos sem dó nem piedade. Oh, mas aí vai ter! Se o meu pai e o pensa-que-vai-ser-meu-marido, acham que eu assistirei à chacina de bico calado, muito eles se enganam. Até parece que não conhecem a verdadeira Cristaly!


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado.
Coitado do Edugénodro, o pai da Cris nunca irá aprender a dizer o nome do rapaz corretamente.
Eu sei que tenho feito muito capítulo da Cristaly ultimamente, mas o próximo vai ser do Brian.



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