"Nada dura para sempre, nem as dores, nem as alegrias. Tudo é aprendizado. Tudo na vida se supera."

~Caio Fernando Abreu

...

– POV'S INO

Depois da minha conversa com Naruto a única coisa que eu tinha em mente era sobre a "troca equivalente" que aquele baka havia proposto. Era um absurdo! Totalmente impossível de acontecer.

"Faça pela Hina-chan, Ino! Argh, maldito Uzumaki! Todos eles são iguais!". Pensei me lembrando de Uzumaki Nagato, um parente bem distante do baka que talvez nem saiba que existe. "Se o Naruto soubesse que existe ainda alguém da família vivo, além de seus avós, ele ficaria completamente perdido".

Encarei a fechadura da porta de casa por alguns instantes antes de abri-la. Fui recepcionada pelo silêncio incomodo da casa gigante. Os móveis brancos continuavam da mesma maneira e empoeirados. "Ela não voltou... nenhum dos dois voltaram... por que ainda penso que voltarão?"

Morar com um otou-sama ausente já era ruim, mas morar em uma casa vazia sem mais risadas de Yamanaka Fumiko e as piadas ridículas do onii-chan era... complicado. É como se não tivesse uma casa realmente porque em uma casa tem alguém que sempre está lhe esperando. "Eu não tenho ninguém... aceitar a 'troca equivalente' de Naruto talvez não seja tão ruim. Não vou perder nada do que já não tenho. Meu futuro foi decidido á muito tempo, só tinha esperança de que eu poderia muda-lo..."

Pensei em Hinata e na pequena Hanabi - pequena não... já deveria estar grandinha e com um namorado. Ri e me deitei no sofá encarando o teto. "Vou aceitar... pela Hinata. Apenas por ela!"

Peguei meu celular e procurei o número de Gaara. Senti minhas bochechas corarem e respirei fundo exitando em ligar. "Pela Hinata..."

Esperei e esperei e isso só me deixou mais ansiosa. Eu nunca soube o motivo, mas o Sabaku mexia comigo de um jeito inexplicável. "Acho que são os olhos..." corei mais um pouco e me assustei quando atenderam a ligação.

– Quem é?– uma mulher atendeu o celular do ruivinho, pelo jeito rude reconheci na hora.

– 'Temaaari-saaan'! - falei animada, me espreguicei relaxadamente e totalmente aliviada por não ter sido Gaara a atender -. Ohayo! Me diga... tem como vocês conseguirem um acordo por mim com o Nagato-san?

Ouvi ela rir e revirei os olhos. - Não me diga que se meteu um 'rolos complicados ai em Konoha. É uma raridade a patricinha mimada dos Yamanaka querer um acordo com o Nagato.

– Nem sempre fui assim... - sussurrei mais pra mim mesma. - Mas não é exatamente isso. Ainda vou me envolver em algo grande, e quando digo grande, é extraordinariamente grande, tendo o nome Namikaze Uzumaki e Hyuuga na caixa de presente.

Temari assobiou e riu novamente. - Uzumaki? Yamanaka danadinha, conheceu gente interessante ai em Konoha. Que tipo de acordo quer com Nagato?

– Quero um abrigo. - Temari ficou em silêncio como sinal de que não tinha entendido -. Quero um lugar para que meus amigos possam ficar, em troca darei qualquer coisa que Nagato quiser. Menos dinheiro, ele sabe que nunca darei dinheiro.

– Bem... isso será complicado. Poderá depender de quem são seus "amiguinhos".

– Ele saberá no dia da entrega do presente. Sobre o que Nagato quiser...

– Bem... tenho quase certeza que ele pediria algumas pessoas para a nossa grande família.

Suspirei e passei as mãos no cabelo. - É difícil encontrar pessoa que abracem nossa causa, mas se Nagato fornecer ajuda para meus amigos farei o possível.

"Pela Hinata."

...

.

POV'S NARUTO

Encarei o teto do quarto e sorri involuntariamente ao lembrar do sorriso da Hina-chan. Me perguntei como ela estaria, se estava comendo bem e cuidando da saúde. Respirei fundo sentindo um certo desconforto e busquei mais ar. "Está piorando..." Fiz uma careta e me sentei na cama encarando a parede, logo ouvi batidas na porta.

– Entre.

Era Jiraya com um copo de água. Observei curioso o fato do cabelo dele estar solto - o que ele nunca permitia, e seus olhos estavam apreensivos. Preocupados.

– Estou obrigando você a tomar! - ele estendeu o copo e com a outra mão me mostrou alguns comprimidos. "Ele sabe..."– Pode enganar Tsunade por ela sempre ver Minato em você e mima-lo, mas nunca ache que poderia me enganar. Você pode ter nosso sobrenome, mas também é filho de Uzumaki Kushina. Conheço o jeitinho esperto que herdou dela.

Bufei e desviei o olhar. Eram meus remédios que o médico havia pedido para eu tomar todos os dias á quase um ano. Jamais falei isso para Hinata por que saberia que ela ficaria literalmente 'louca' pelos meus problemas cardíacos estarem finalmente se revelando.

– Não vou morrer por ficar sem tomar isso alguns dias. - lancei um sorriso irônico para o velho que continuou a me encarar seriamente. Soltei alguns resmungos baixos e peguei o copo e os comprimidos tomando-os rapidamente. - Feliz?

– Muito. - Jiraya cruzou os braços com um olhar vitorioso. Soltei um chiado que mais parecia um rosnado e ele se sentou na minha cama - Conseguiu saber algo sobre a situação de Hinata?

Neguei com a cabeça e dei de ombros. - Se quiser saber das fofocas espalhadas por todas as direções daquela escola, pode perguntar ao Orochimaru, ele pode soltar seus venenos, mas também gosta de recebe-los dos outros.

Jiraya gargalhou e fitou o teto. - Não fale assim. Ele é um bom homem e um bom diretor - revirei os olhos e observei o velho mais atentamente. Jiraya também estava triste pela Hina-chan. Todos nós adoramos ela como se fizesse parte da familia. Era inaceitável o fato de que podemos perde-la -, mas realmente, Orochimaru é um velho venenoso. Sabia que ele já fez Tsunade ficar contra mim duas vezes? Ainda me pergunto o que nos faz continuar com essa amizade.

– Por que... opostos se atraem?

Rimos alguns instantes e então ficamos em silêncio, aproveitando a companhia um do outro. Era estranho ficar ao lado do ojii-san sem trocar farpas com ele, era como se fossemos normais.

– Sasuke me disse uma vez isso... quando ele descobriu que... que... - corei um pouco e sussurrei - que eu gostava da Hina-chan. Ele disse que eu era baka de mais para ficar perto de uma dama.

– Ele estava certo! - olhei-o furioso e Jiraya me encarou sorrindo. Ele colocou a mão na minha cabeça e bagunçou meu cabelo -. Tsunade também era uma 'dama refinada', apesar de não parecer. Ela foi criada para ser a melhor esposa que se poderia ter e eu era apenas um homem ignorante e pervertido. - "Jiraya admitiu. Kami-sama, você viu isso? Ele admitiu ser um pervertido!"– Com Minato foi diferente, criamos ele para ser um bom homem e sua kaa-san era uma mulher que foi criada na pobreza e se esforçou muito para se tornar uma ótima médica, ela realmente tinha uma personalidade forte. Vivia tentando bater em mim.

– Isso foi um tipo de lição de vida? - perguntei confuso e Jiraya deu de ombros.

– É... dificil dizer... mas bem... quero que saiba que estamos aqui Naruto. Sei que está mal por causa da noticia sobre Hinata, afinal quem não ficaria? Hinata é nossa amiga, nossa companheira e eu e Tsuna a temos em nossos corações como temos Minato e Kushina. Todas as pessoas importantes para você estão sofrendo com tragédias - eu sabia que ele se referia a Sasuke -, mas é bom saber que não queremos que faça nada precipitado, pois se você tem Hinata como a pessoa mais importante em sua vida... para Tsunade e eu... você é a única coisa que nos resta.

Arregalei levemente os olhos e então Jiraya saiu do quarto sem mais nenhuma palavra, me deixando no silêncio novamente. A verdade era que eu nunca havia pensado como os velhotes iriam se sentir sem mim e se encarar por esse lado a ideia de Ino se tornava menos tentadora. "Se algo acontecer comigo eles ficariam sozinhos... Completamente sozinhos... mas... é a Hina-chan..."

Encarei o colar na minha mão e suspirei. Queria falar com Hinata mas provavelmente se eu tentasse entrar na mansão Hyuuga seria barrado e colocado para fora pela força bruta. Aqueles seguranças poderiam até gostar de mim mas quem pagava o salário gordo deles era Hiashi e nem em toda minha vida trabalhando todos os dias na lanchonete Akimichi's eu conseguiria pagar um único salário deles.

"Espera... hoje é quinta, não?"– Pisquei os olhos várias vezes e então arregalei eles e segurei a vontade de gritar de raiva. "Hoje é quinta!! Hoje é o meu dia de substituir o Genma na lanchonete! Argh, como sou baka!"

Me arrumei apressado e sai em disparada para a rua, correndo como se minha vida dependesse disso. Eu trabalhava na lanchonete Akimichi's há quase dois anos e sinceramente... era a melhor coisa do mundo. O filho do Chouza-sama, Chouji era quem cuidava do lugar e era responsável pelas contas e blá blá, e ele vivia "furtando" um pouco disso e daquilo me fazendo acompanha-lo sempre... e sempre levávamos bronca do Chouza-sama.

Senti o ar fugir dos meus pulmões mas não me importei e logo avistei a lanchonete e a Chiyo-obaa-san em frente a ela com uma expressão nada amigável. Parei bruscamente e apoiei as mãos nos joelhos recuperando o ar, minha visão ficou um pouco turva mas ignorei e respirei fundo.

– Está atrasado. - acenei com a cabeça nervoso e ela suspirou -. Está tudo bem?

– Hai, hai... - respirei fundo mais uma vez e sorri - foi apenas uma leve tontura, nada de mais.

– Não subestime seus problemas, Naruto, eles podem se virar contra você. - dei de ombros e vi Chouji comendo alguns bolinhos. "Ele nem me esperou!"–. Eu... soube de Hinata.

– Todos sabem. - dei um sorriso irônico e caminhei até o balcão olhando os doces atrás do vidro -. Os Hyuugas são piores do que o diretor da minha escola, me pergunto onde está o que o povo chama de 'disciplina Hyuuga'.

– Certo, certo - Chiyo reparou que se continuasse com aquele conversa eu ofenderia até mesmo as gerações anteriores dos próprios anciões Hyuuga - Já para o trabalho, temos uma encomenda para ser entregue. E pare de falar coisas inúteis pro Konohamaru, está fazendo o garoto se tornar um preguiçoso.

Eu ri e fui acompanhado por Chouji. Enquanto o tempo passava me lembrava de Hinata. Ela adorava tortas, cup cakes, sucos e tudo mais que fosse de limão. "Tortas de limão sempre foram suas favoritas". Me debrucei em cima do balcão entediado e observei Konohamaru indo e vindo para todo lugar atrás do que fazer. Chiyo gritava com ele e sempre se parecia ainda mais com Tsunade. Chouji continuava a comer bolinhos e outras coisas que via pela frente. Um dia vi ele comer as batatas fritas que eram de um cliente, Chiyo logicamente ficou super irritada e quase quebrou o cabo da vassoura na cabeça dele.

Bati a testa contra o balcão e assim fiquei. "Sem Hinata aqui, não tem graça nem mesmo contrariar a Chiyo-obaa-san."

– Achei você! - olhei para frente surpreso. Era Ino acompanhada de outra pessoa que eu não sabia quem era, ele tinha os cabelos ruivos e parecia uma criança. - Fui na sua casa mas o seu ojii-sama pervertido falou que tinha vindo trabalhar aqui. Se quer saber, não imaginei que trabalhasse.

– Tenho que fazer algo na vida além de ficar no meu quarto entediante ou na casa da Hina - revirei os olhos e dei a volta no balcão -. Além disso, alguém tem que comprar meus jogos, são caros sabia disso?

Ela me ignorou e puxou o garoto para frente na sua frente - Esse é Akasuna no Sasori, um daqueles conhecidos que tem conhecidos. Ele é amigo do meu onii-chan e vai fornecer a você toda a ajuda que precisar quando... - ela abaixou o tom de voz e olhou para os lados desconfiada - quando você pegar a Hina. Espero que cuide bem dele!

– Aham, claro... não espere! Como assim 'espero que cuide bem dele'??

– Oras, ele vai ficar com você! Sasori-kun é muito sensível e um garotinho muito bom, será comportado e fará tudo para ajudar. Gosta de ramen como você e sempre dorme com duas cobertas, ok? O trate bem.

Olhei para Ino furioso e apontei para o ruivo - Está falando que ele vai ficar comigo? Tipo... na minha casa??

– Exato! Sasori cresceu praticamente para isso. Sabe... as pessoas que conheço fazem coisas boas e coisas... ruins. O onii-chan achou o Saso-kun e cuidou dele com o objetivo para situações assim.

– Situações assim?

– Situações de perigo. - ela deu de ombros e a fitei espantado.

– Que tipo de pessoas você conhece, sua louca?

– Sério Naruto. Sasori poderá ajudar você na hora que algo der errado, e também tem outras pessoas dispostas a ajuda-lo! - Ino sorriu e me perguntei como ela conseguiu se envolver com pessoas tão estranhas e aparentemente perigosas -. Posso garantir que você e a Hina estarão em ótimas mãos e todos, absolutamente todos estão dispostos a arriscar tudo pelos dois.

Encarei-a desconfiado e então olhei para o ruivo que parecia estar de olho nos doces atrás do vidro. Pensei no que poderia dar errado e o que aconteceria se tudo ocorresse bem. Eu e Hinata seriamos 'fugitivos' e receberíamos ajuda de pessoas que nem se quer sabíamos quem eram ou se poderiam ser realmente confiáveis. Era loucura... mas aceitável.

Fui para trás do balcão e peguei uma das pequenas tortas de limão e ofereci ao ruivo com um sorriso malicioso no rosto. - Gosta de doces, Sasori-kun?

.

.

.

"Tema e ame as pessoas que desconhece, pois o dia de amanhã ainda é indeciso."

.

.

.