"Nunca deixe ninguém te dizer que não pode fazer alguma coisa. Se você tem um sonho, tem que correr atrás dele. As pessoas não conseguem vencer, e dizem que você também não vai vencer. Se quer alguma coisa, corra atrás."

~A Procura da Felicidade

...

Abri os olhos devagar e suspirei me sentindo alegre pelo carro estar parando. Desde o acidente passei a odiar carros ou qualquer outro veículo que use combustível, minha bicicleta era mais interessante do que qualquer automóvel. Ouvi ela rir ao meu lado e a olhei feio.

– Não tem graça, Hina-chan!

Logo a obaa-san se virou para olhar pra nós com os olhos fechados e um sorriso travesso nos lábios. - 'Olha, eu sou o Naru-chan que tem medo de olhar as janelas do carro'.

– Baa-san!! - gritei e ela gargalhou sendo acompanhada pelo ojii-san e pela traidora da Hina. Emburrado olhei pra qualquer canto que não fosse para eles. Estávamos indo para a praia e nem assim eles me deixavam em paz, recentemente descobri que tenho que manter a Hina-chan longe deles. São muita má influência.

Quando o carro parou saímos e a primeira coisa que vi foi aquela imensidão azul. O mar era maior do que eu poderia imaginar, foi então que entendi por que piratas conseguiam o que queriam, tinham uma grande extensão de rotas de fugas. "Piratas são espertos. Queria ser um também".

– Naruto-kun. - me virei e vi a Hina-chan sorrindo. Ela estava linda naquele vestido azul clarinho. Linda demais. "Sempre fofa..."

– Corre, corre, corre. Comida, comida!! - disfarcei uma risada quando vi a pirralha da Hanabi correndo em direção a areia descalça e voltar depois gritando que ela estava quente. Balancei a cabeça negativamente não acreditando como uma criança poderia ser tão boba. "Opa... eu ainda sou uma criança."

– Hanabi, venha nos ajudar a levar a comida, menina esfomeada! - Hizashi, o ji-san da Hina praticamente gritou para a pirralha que pisava na areia quente, choramingava e voltava a pisar. Hizashi diferente de Hiashi, era um homem gentil que tenho a maior admiração. Ele não trata meus avós e eu mal por não termos mais dinheiro, ele com certeza nem parece ser oji-san da "princesa Hyuuga". Hina-chan me disse que ele a tratava como filha por que seu próprio filho, Neji, havia morrido quando assaltantes abordaram a esposa e eles em um shopping. Neji acabou levando um tiro fatal.

Nós arrumamos tudo para o passeio na praia e almoçamos - apesar de Hanabi beliscar a comida toda hora mais tarde. Era como estar em familia novamente, era bom, aconchegante. Quando o sol estava quase indo "dormir", chamei a Hina-chan e agarrei sua mão caminhando com ela na areia a beira do mar. Rapidamente a noite caiu e as estrelas começaram a aparecer uma a uma.

– Naruto-kun. - Hinata me chamou e olhei feliz. Senti minhas bochechas corarem apenas por que as delas estavam coradas. - Vamos fazer uma troca equivalente? - seus olhos brilharam quando me encarou e eu apenas assenti concordando hesitante.

– Qual? - perguntei e a vi corar mais ainda.

– Eu prometo sempre, sempre e sempre estar com você. Ao seu lado em qualquer situação e você me promete o mesmo. O-o que... acha?

Eu a olhei surpreso pela firmeza da qual ela dizia aquelas palavras e sorri de orelha a orelha, então a abracei e juntando nossas duas mãos eu a respondi. - Eu prometo. Sempre, sempre e sempre estar do seu lado, Hina-chan. E mais... prometo sempre protege-la, nem que isso custe minha vida!

...

O silêncio do quarto jamais tinha sido tão bom e melancólico como nesse últimos dois dias. Ultimamente ando me perguntando o motivo de eu ainda estar vivo, talvez Kami-sama me odiasse ou simplesmente não achasse graça em me ver feliz.

"Que tolo você é Naruto". Pensei e ri sozinho. O som vagou pelo quarto e então o silêncio continuou. "Achou mesmo que conseguiria viver feliz para sempre ao lado de Hyuuga Hinata? As chances dela ter a mesma doença eram altas e mesmo assim você fantasiou..." Apertei fortemente o cobetor olhando fixamente para uma corrente de prata com o pingente de uma lua em cima da cômoda. "Casamento... com uma grande festa depois... baka! Nem falar pra ela como se sente você foi capaz!"

Depois da noticia completamente chocante que Hinata me deu, simplesmente me tranquei no quarto sem ir na escola pelos dois dias seguintes. Pode parecer drama ou algo assim, mas na verdade é mais do que isso. "Ela pode morrer hoje, amanhã ou daqui alguns anos... mesmo assim nosso trato será quebrado". Devo admitir que me acostumei com a presença da Hina-chan, não apenas se acostumar. Ela faz parte da minha vida, minha rotina, meu futuro. Todos meus planos para meu 'futuro glorioso' tinham o nome de "Hyuuga Hinata" no meio, era impossível aceitar a possibilidade de que ela não estaria mais neles.

Hyuuga Ayano morreu dois anos depois que foi diagnosticada com câncer. Ela foi tratada desde o primeiro momento e a quimioterapia apenas atrasou o processo de sua morte. Mas Hinata era diferente... "Hinata é frágil... muito frágil, e ninguém é capaz de perceber isso..."

Levantei da cama em um pulo assustado e xinguei-me de todos os nomes possíveis. "Ela é diferente. Hinata pode parecer ser forte mas sei que ela é um bebê chorão. Deve estar bem mais abalada do que eu. Que imbecil eu fui!"

Apanhei minhas roupas da escola do chão e fui direto para o banheiro, assim que terminei de tomar banho desci para a cozinha correndo, vi Jiraya com os olhos tristonhos encarando o jornal em cima da mesa e Tsunade parecia pensativa enquanto encarava um canto qualquer.

– Que cara mais horrivel, ojii-san. - ele me olhou assutado e se levantou indo até mim e me dando um tapa na cabeça -. Itai!! Qual o teu problema velho?

– Nunca! - ele agarrou meus ombros e me balançou freneticamente, apenas revirei os olhos e sorri - Nunca nos faça ficar preocupados contigo está ouvindo? Está querendo nos matar do coração, garoto?

– Pensei que eu fosse o doente aqui. - falei sarcástico e olhei pra obaa-san que continuava a encarar o nada - Ei, velha...

– Me chame de velha novamente e você não terá mais uma língua para falar - ela me olhou irritada e logo desviou como se não quisesse me encarar. - Vai pra escola?

– Vou! - respondi decidido e peguei uma torrada em cima da mesa -. Preciso falar com a Hina.

Os dois se olharam como cúmplices de um crime e depois olharam pra mim com pena. Arqueei uma sobrancelha e engoli o pão fitando-os desconfiado. - Hm... podem falar, casal de velhos espertinhos.

– É Hinata, Naruto. - Jiraya falou suspirando pesadamente. Estranhei e temi que algo ruim tivesse acontecido por causa da doença -. Parece que ela irá embora para outro país tentar o tratamento, e sim nós sabemos, na verdade o mundo inteiro parece saber. Hyuuga Hajime fez questão de falar para a imprensa.

Agradeci mentalmente por nada ruim ter acontecido, pelo menos não como eu imaginava. Bufei e fui até a sala pegando minha mochila sem me importar com o material. Ouvi os dois gritarem me chamando mas ignorei-os e continuei indo em direção ao ponto. Não pude deixar de reparar que Hinata não estava lá. Hyuuga Hajime era o ojii-sama de Hinata e membro do Conselho Hyuuga, uma parte da família muito irritante de velhinhos que podiam mandar até mesmo em Hiashi por terem mais idade e como diziam 'experiência'.

Assim que cheguei na escola recebi os olhares dos alunos e rapidamente as fofocas se espalharam como veneno. Ouvi várias coisas e algumas interessantes como 'ele está sozinho', 'a princesinha Hyuuga não veio com ele', 'parece que ela não vem mais'. Senti vontade de socar a cara de alguém, não por eles, mas por Hiashi. "Só por que ela está com a doença não significa que não pode mais viver sua própria vida!"

O dia foi totalmente entediante sem Hinata. Ninguém falava comigo, mas isso não os impedia de falar sobre mim, apenas alguns valentões mexeram comigo no corredor quando era a hora da troca de salas. "Isso não aconteceria se a Hina-chan estivesse aqui. Ninguém se atreveria a fazer algo contra filha do todo-poderoso-Hiashi."

Na saída o céu estava nublado e parecia que iria chover a qualquer momento, eu nunca levava um guarda-chuva comigo e em dias assim ia até o nosso bondoso diretor pegar um. No caminho para a diretoria vi uma garota loira no meio do corredor, a reconheci na hora e apressei meu paço. Foi inútil.

– Naruto! - me encolhi quando ela me chamou e continuei a ignorando, de nada adiantou. Ela me seguiu. - Naruto, espere, onegai! - me virei impaciente e ela parou assustada e se recompôs para me olhar com aquele olhar que eu tanto odiava. - Eu... queria falar sobre a Hina...

– Se quer falar dela com alguém, vá procurar por suas amiguinhas, Ino. - a respondi rudemente, algo que não sou de fazer. Mas era a Ino. Ela não merecia algo mais que isso -. Elas adoram falar sobre a Hinata.

– Eu não falo mais com elas, eu juro! - revirei os olhos e voltei a andar, a loira se pôs na minha frente andando de costas -. Me ouça, lhe imploro! Você não é assim, e o Sasuke-kun gostaria que me desse uma chance. - parei de andar ao ouvi-la mencionar o teme e encarei seus olhos azuis hesitante - Isso seria um sim?

Desviei o olhar e coloquei as mãos no bolso da calça. Sempre me senti incomodado perto de Ino. Ela era mais alta do eu!! - O que quer?

A Yamanaka sorri abertamente e apertou a alça da bolsa fortemente antes de falar. - Eu soube da Hina. Olha... pra começar... quero me desculpar. Mais uma vez...

– Você não me deve isso, Yamanaka. Deve pra ela.

– Eu sei 'tá bom? - Ino gritou com sua voz esganiçada e controlei minha vontade de tampar os ouvidos. Tem coisa mais irritante? Alguém me livra disso -. Mas... voltando ao assunto. Se eu conheço o otou-sama dela tão bem como você conhece, então sabemos exatamente como vai ser daqui pra frente! Hinata não veio pra escola o que significa que ela não virá mais até que esteja fora do país. Hiashi a fará ficar dentro do quarto como se estivesse evitando que a doença piore apenas pelo contato com as pessoas. Ele a isolará do mundo, Naruto! Hinata não nasceu para ser presa! Por isso... quero fazer algo por ela. Quero ajuda-la. Quero me redimir.

Olhei para Ino surpreso. O que ela disse não era mentira. Hiashi iria fazer de tudo para que Hinata não acabasse como sua okaa-sama, moveria o céu e o inferno se possível, e para isso a manteria longe de qualquer pessoa. "Ele vai estragar a vida dela... por mais curta que seja". Pensei imaginando como Hanabi deveria estar se sentindo.

– E o que sugere? Que cheguemos em frente a mansão dos Hyuuga com uma placa falando que somos contra? - minha voz saiu mais irônica do que eu queria -. Ou quem sabe aparecer com um balão e sequestrarmos ela.

– Sequestro não seria má ideia. - a loira deu de ombros e me lançou um sorriso traiçoeiro. - Conheço pessoas que te ajudariam.

– Não sou um criminoso, Ino. Mesmo que Hinata viesse comigo por querer, Hiashi espalharia pelos quatro cantos do mundo que eu era um sequestrador que queria dinheiro da família em troca dela.

– Desde quando liga pra ele? - ela apontou seu longo dedo para mim, com suas unhas irritantemente rosas e sorriu -. Conheço um garoto, ele se chama Sabaku no Gaara e ele tem conhecidos que tem conhecidos. Ninguém saberia onde vocês estariam a não ser nós e ninguém revelaria nada por maior que fosse o dinheiro oferecido. - sussurrou como se alguém fosse ouvir a conversa -. Posso distrair os empregados e os seguranças com um escândalo em frente a mansão Hyuuga. O-ho... eu sairia em todo quer jornal. "Yamanaka arma escândalo e Hyuuga Hinata desaparece". Isso soa tão... legal.

Ino colocou as mãos na cintura convencida de si mesma e analisei melhor a ideia dela.

Não era tão mal assim.

Sorri e estendi a mão para a Yamanaka que retribuiu o sorriso e apertou minha mão. - Parece que chegamos a um acordo, Namikaze Uzumaki Naruto.

– É o que parece. No entanto... - tirei do bolso a corrente de prata com pingente de lua e o coloquei no pescoço -. Só aceito esse acordo com uma condição.

Ino me olhou completamente desconfiada. Ela sabia que boa coisa não sairia de mim.

– Qual...?

– Uma troca equivalente!
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