O tempo estava bom, céu azul claro sem nuvens e mesmo assim eu não sentia a miníma vontade de sair do sofá e parar de jogar. Era sempre assim, todos os anos. Eu ficava em casa me distraindo até que o dia se tornasse noite e o sol nascesse novamente. Jiraya e Tsunade ficavam fora de casa fazendo alguma coisa que provavelmente era visita-los. Eles sabiam que não adiantava tentar falar comigo sobre isso, eu nunca saía de casa no único dia de comemoração ás okaa-samas.

Observei os dois notebooks em cima da mesa e dei pausa no jogo encarando curioso a propaganda que dizia "Haha no Hi*: Compre um presente para a melhor mulher de sua vida". Sorri involuntariamente e fechei o notebook voltando a jogar. As propagandas sempre estavam cheias de flores e na televisão com certeza só passava gente falando desse dia especial. "Eles tem alguma noção de que isso dói de uma maneira impressionante em pessoas como eu?"

Ouvi o celular tocar e rapidamente atendi deixando no viva-voz sem prestar atenção no nome na tela.

– Quem é? - perguntei atento ao jogo e ouvi uma risada suave, quase deixei o controle cair de minhas mãos. - Maldição Hinata! Quer me matar garota?

– Gomen, Naruto-kun. - ela riu novamente e gritei ao ver que meu personagem estava morrendo -. Jogando, Naruto-kun?

– É a única coisa que faço, Hina-chan. - era a verdade. Em dias assim eu só jogava e acaba não comendo nada. Apenas distração -. É estranho você ligar essa hora, pensei que estivesse visitando o túmulo da sua kaa-san.

– Fomos mais cedo hoje. Insistência minha, era o único jeito já que Hanabi sempre foge quando estamos prestes a sair. Sabe disso... - Ah, eu sabia. Hanabi sempre ficava mais agressiva que o normal no segundo domingo de maio e por isso era difícil força-la visitar o túmulo de Hyuuga Ayano e quando menos se percebia ela já não estava em casa. - Naruto-kun, poderia pausar o jogo um pouco?

– Pra que? - perguntei e só fui perceber o quanto fui rude com ela depois do seu silêncio bastante intimidador -. Gomenasai.

Ouvi ela suspirar. - Apenas pause. - fiz o que mandou e peguei o celular -. Poderia agora, por toda a gentileza, abrir a porta? Eu estava apertando a campainha á horas!

Levantei rapidamente assustado e corri pra porta destrancando-a e me deparando com a Hina-chan com os cabelos presos em um coque e um vestido branco. Parecia até uma boneca de porcelana. - Gomenasai, gomenasai! - juntei as mãos me sentindo culpado.

– Tudo bem, Naruto-kun. - Hinata sorriu e olhou para dentro da casa fazendo uma careta ao ver os notebooks e o vídeo-game. - Você não tem jeito. Mas hoje será diferente! - a Hina-chan me mostrou um pano na mão direita e me fez virar de costas colocando-a em meus olhos. - Agora deixe-me colocar isso e...

– Epa, epa, não se aproveite do meu tamanho! - roubei aquele pano dela e a olhei meio irritado -. Que isso?

– Está se chamando de baixinho? - senti uma veia saltar na minha testa e bufei -. Vamos... me deixe vendar seus olhos. Onegai.

Encarei a Hyuuga e suspirei completamente vencido. Os olhos grandes e brilhantes... esse truque era muito baixo, muito, muito baixo. Deixei que ela me vendasse e fechasse a casa, depois saímos andando, não sabia para onde iriamos ir mas pude sentir cheiro de flores e doces para todo lado, ouvi risadas e gritos escandalosos de crianças, eu pudia perceber que algumas passavam por nós correndo e pelo aroma que deixavam, levando rosas.

– Hina-chan... pra onde estamos indo?

– Acalme-se Naruto-kun. - a voz de Hinata estava suave e aparentemente feliz. Paramos e ouvi ela atentamente. - Onegai, dois buquês dos melhores cravos que tiver. - Um arrepio subiu minha espinha e tentei me soltar das mãos de Hinata mas ela me segurou com firmeza. Eu entendi perfeitamente pra onde ela estava me levando e eu com todas as forças do universo queria ser uma pessoa alta, forte e que não se rendesse aos olhos de uma hime para qualquer coisa. "Kami-sama... me ajude!"

Logo voltamos a andar e eu começar a tremer. Hinata apenas apertava mais forte a minha mão enquanto subíamos, virávamos e virávamos novamente. O cheiro de flores se tornou mais forte, agora misturado à grama e o silêncio - que se prestasse bastante atenção, era quebrado por alguns murmúrios de pessoas.

De repente paramos e eu sabia exatamente o por quê. Soei frio sentindo as mãos da hime desamarrando a venda, quando a claridade me atingiu fechei os olhos me sentindo inútil e covarde.

– Naruto-kun. - ouvi a voz de Jiraya que com certeza estava acompanhado de Tsunade e isso apenas me deixou ainda mais nervoso. Minha respiração ficou desregulada e meus olhos começaram a arder. Eu não queria ver, não queria me lembrar.

– Naruto. - a mão de Jiraya pousou sobre minha cabeça bagunçando meus cabelos. - Está tudo bem... Shh, está tudo bem, estamos aqui, sempre vamos estar aqui com você.

Jiraya pareceu se distanciar e Tsunade me abraçou, o abraço dela sempre era forte e reconfortante, como o abraço da okaa-san. - Já nos despedimos deles, então estamos voltando. Vamos esperar lá embaixo... - e então ela sussurrou pra mim - Seja forte, Naruto. Enfrente seus medos - e me soltou.

Minha respiração voltou ao normal, mas ainda tremia um pouco. O que eles estavam fazendo, doía... doía muito... - Naruto-kun. - a voz meiga de Hinata me fez me virar e olha-la. Seus olhos transmitiam uma segurança inimaginável que nunca vi antes. Ela segurou minhas mãos e sorriu docemente. - Fale com eles, fale com sua okaa-sama. Conte tudo... suas alegrias, suas tristezas, suas inseguranças, seus medos. Conte à eles sua vida, Naruto-kun. Não tema o que não existe... o passado... é passado, você tem que olhar para o futuro, mas se nunca abandonar aquilo que mais teme nunca poderá alcança-lo. Já sabe... estaremos lá embaixo te esperando.

Hinata soltou minhas mãos e passou por mim. Fiquei alguns minutos parado sem ter coragem de olhar para as lápides, respirei fundo e devagar me virei para olhar.

"Uzumaki Kushina - 10/07/19XX á 03/09/19XX"

"Namikaze Minato - 25/01/19XX á 17/11/19XX"

Sorri nervoso e segurei a vontade de chorar. "Isso é tortura..." Me agaixei em frente da lápide da okaa-san e abri a boca várias vezes antes de falar algo. - Oha...yo... - sussurrei e respirei fundo novamente -. Finalmente eu vim... mesmo que forçado... ei... otou-san... gomenasai não ter vindo no seu enterro, fui um grande baka, não é mesmo? Gomen... - funguei e me sentei pensando por onde começar -. Eu estou bem... o oji-san ainda é um velho pervertido e fala coisas indecentes a todo momento, mesmo com a obaa-san por perto, já ela parece ficar mais forte ainda com a idade. Você ficaria assim okaa-san? Eu fiz um amigo, ele se chamava Uchiha Sasuke... mas faleceu um tempinho atrás. Ele era muito bom sabiam? Sempre me ajudava em tudo e me levava pra jogar na casa dele. - eu ri e suspirei.

"Me sinto um pouco triste de estar aqui... mas... sabe kaa-san... aquela garota que estava aqui se chama Hyuuga Hinata. Ela é a pessoa mais importante para mim agora. Ela que me ajudou quando a senhora morreu, me ajudou de um jeito que nem eu sei explicar bem. Eu a amo com todas as minhas forças, ela é tudo pra mim, assim como a senhora era. Okaa-san... sinto sua falta... sinto muito a sua falta. Dos seus abraços, dos seus beijos, das suas broncas por eu comer doces antes do jantar, da hora que você me colocava para dormir e contava histórias de super-heróis. Sinto falta... de tudo... de como era antes e lamento por faze-los se preocupar comigo... Sou bobo, não?"

"Kaa-san, quero que saiba que sempre será minha super-heroína número um. A minha preferida, a mais forte, a mais bonita e a mais inteligente. Nunca esquecerei do que fez por mim e por todos os outros. Você salvou a vida de várias pessoas e ainda a minha. Me pergunto se existe uma okaa-san melhor do que a que eu tive... não... que eu tenho." - sorri e continuei -. "Arigatou por cuidar de mim, por ter se preocupado tanto comigo... por ter me dado tantas lembranças felizes. Okaa-chan... Aishiteru."

Dei um grande sorriso e me despedi do otou-sama prometendo voltar logo. Me levantei e desci para ir ao encontro da minha família, eles me esperavam em frente ao grande portão do cemitério e quando me viram sorrindo, sorriram também. Vi Hinata acenar com seus olhos brilhando de orgulho, acenei de volta e levantei a cabeça para fitar o céu.

"Ei kaa-san... sempre me proteja, certo?"

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"Mãe é uma só, não importa a cor, raça, origem... Mãe é mãe e temos que dar valor, pois quando elas não não estiverem mais aqui em vida, sentiremos falta da presença quente que sempre nos aconchegou."

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