Counting Stars escrita por Petrova


Capítulo 9
É uma Longa História


Notas iniciais do capítulo

finaaaalmenteee o capitulo
eu teria postado na segunda, mas estava sem ideia, dai eu ia escrever ontem, só que eu estava uma pilha com o jogo do brasil e pra piorar perdemos de 7x1, foi horrivel. Coincidentemente, eu tinha sonhado que o brasil perdia de 6x2, acertei no numero de gols, mas errei a quantidade para cada
ainda estou abalada com a goleada, mas postei o capitulo, espero que gostem, obrigada pelos reviews como sempre!
boa leitura



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Capitulo IX - É uma Longa História

Na alta superfície, as grandes grades de ferro pintadas de branco brilhavam no exato momento em que o sol era laranja junto com o céu. Diana parou inerte entre o fim da escada e o começo do ultimo andar, sua mão ainda pousada na maçaneta enquanto ela olhava espetacularmente sem palavras. O brilho do sol refletindo nos finos grossos e loiros do seu cabelo jogado nas costas, ela parecia um anjo. Quando ela finalmente se moveu, eu pude ver um vislumbre do seu rosto de lado. Ela estava emocionada e maravilhada.

– Nicolas... esse lugar é... – sua falta de compreensão com as palavras certas para dizer me deixava feliz. – é tudo maravilhoso.

Diana caminhou para o altar de madeira escura onde as flores ficavam despojadas em grades e vasos ornamentais e desenhados. Ela esticou o braço e passou os dedos entre as petalas delicadas tomando cuidado para não amassar e nem arrancar sem que percebesse, uma parte do seu rosto iluminado por uma parte do sol que estava a nossa direita e a outra fazendo sombra, ela tinha os lábios levemente abertos com um sorriso pequeno e os olhos mirando sem perder nenhum detalhe daquele cantil. Subi o primeiro degrau do batente e a segui cuidadosamente olhando para onde ela ia, para onde seu olhar ia, sem perdê-la, havia tantas flores, estavam tão grandes e numerosas desde a ultima vez que eu vim. Aqui deveria ser do mesmo tamanho do salão da entrada, mas parecia minúsculo com tantas entradas e saídas, como um corredor ao lado do outro feito de flores.

Diana havia sumido por segundos, tinha dobrado a direita e ido de encontra ao outro lado, entre diversas flores de diversas cores, eu avistei primeiramente seu cabelo dourado mais do que o normal, depois seu sorriso aberto, seu olhar mirado para baixo. Entre as brechas das grades, eu pude ter certeza que Diana não era uma garota normal, não porque ela tinha algo de especial estampado no seu rosto ou se ela era boa demais, apesar de que isso eu não podia discordar. Mas Diana era diferente porque eu a tratava diferente. Eu a ouvia, eu a deixava falar, eu queria que ela falasse, eu tinha uma facilidade enorme de mostrar meus pensamentos e minhas vontades para ela, era por isso que tornava tudo assim tão diferente.

– Eu nunca vi algo assim antes. – ela disse alto sem me notar seguindo-a do outro lado da grade. – São tantas flores, isso é espetacular.

– Não posso discordar.

Diana passou do segundo corredor de flores e pulou para o terceiro e ultimo. Eu a segui sem hesitar. Havia uma enorme mesa de vidro onde estavam despojados uns cinquenta vasos se não mais pequenos com tipo de plantas que haviam acabado de ser plantadas, que ainda aguardavam toda a fase de mudança inicial. Perto delas, num quadriculado desenhado de madeira, tinha algumas ferramentas usuais para o plantio, como uma pá de mão, luvas, uma caneca com água e alguns frascos de plástico com sementes dentro. Seus nomes estavam escritos em papeis grudados em fita transparente nos frascos quando me aproximei de Diana e me coloquei ao seu lado.

– Essas devem terem sido plantadas a pouco tempo. – expliquei, correndo minhas mãos por uma minuscula planta com apenas uma folha.

– Como você sabe de tudo isso? – ela correu seu olhar para mim. Ele parecia em chamas, o sol mirava todo seu rosto, e o castanho esverdeado do seus olhos tornava-se lindamente verde cintilante.

– Eu aprendi. – disse baixinho, sorrindo de lado para ela, meu rosto contrário ao sol. – Minha avó fazia isso. Ela planejou todo seu jardim e me chamou para ajudá-la. Meu pai ainda tinha me colocado em aulas extras de jardinagem nas férias, então, tudo que eu sei devo a minha avó e a minha professora Marta Stewart.

Peguei a pá e a puxei para um vaso sem planta onde tinha sido acabado de ser preenchido por terra escura e umida. Fiz um pequeno buraco bem no meio e puxei a caixa de madeira para perto de Diana, meus dedos enterrados na areia, um pouco sujos.

– Escolha sua semente. – corri os olhos para ela, desde seu braço direito apoiado na mesa de vidro até seu ombro, seu pescoço, seu rosto e seus olhos.

Diana pegou os frascos e olhou um por um, mas não demorou muito para decidir sua escolha.

– Kalmia latifolia. – ela ergueu o frasco para mim, sorrindo com divertimento.

– A flor do estado da Pensilvânia. – eu sorri na sua direção e peguei o frasco. – Você sabe que o louro da montanha é perigoso, não sabe?

Ela arqueou a sobrancelha.

– Verdade?

– Sim. Você acabou de escolher uma flor perigosíssima, - tirei o lacre do frasco e o abri. – mas você já ouviu aquela frase que o amor é como uma flor delicada no precipício, você tem que ter coragem para colhê-la? É como essa. Uma flor delicada e bela, mas por precaução terá que ficar longe do toque das pessoas.

Diana corou.

– Eu não sabia que ela podia ser perigosa, Nicolas. Posso escolher outra. – ela colocou sua mão sobre a minha antes de tirar a semente de dentro do frasco.

– E por que você escolheria outra? – me virei e a encarei. – Só porque é uma flor perigosa, ela deve ser ignorada? Quando ela florescer, ela será deslumbrante. Lembre-se da frase, o amor é uma flor delicada, só os corajosos podem colhê-las. Só alguém que realmente entender sobre um louro da montanha vai saber colhê-la.

Peguei a semente nos dedos e devolvi o frasco para a mesa. Enterrei a semente no vaso que eu havia preparado e bati a terra até estar totalmente tampada.

– Eu não sabia que você entendia tanto de jardinagem, Nicolas. – Diana me ajudou a ajustar as coisas sobre a mesa, devolvendo a pá, os frascos e a caixa, organizando tudo.

– Essa é uma história até engraçada. – quando devolvemos tudo, eu me virei para ela, tornando-me totalmente defronte a ela.

– Uma história sobre suas inumeras qualidades. – ela cruzou os braços. – Vou adorar ouvir.

– Diana... tem certeza? Pode ser um pouco tediante.

– Temos muito tempo, Nicolas.

Eu estava tão acostumando com ela falando meu nome completo que eu não podia nunca me acostumar ela me chamando de Nick.

– Okay. Lá vai, - dei uma pausa dramática. – eu queria ser um planejador urbano. Assim que entrei para as aulas extras de jardinagem, eu não conseguia se não pensar na ideia do planejador urbano, é algo espetacular para se fazer.

Quando eu disse, voltei rapidamente meus olhos para Diana, mas assim que encontrei seu rosto, eu só vi confusão.

– Planejador Urbano? – ela me perguntou sem compreensão. – O que é um planejador urbano?

– Você não sabe? – devo ter parecido surpreso com isso, porque ela fez uma carranca perdida.

– Não, não sei. – havia um vinco na sua testa. – O que é?

– É incrível. – eu respondi animadamente rápido. – Planejador Urbano lida com o processo de criação e desenvolvimento de programas e serviços que melhoram a qualidade de vida de uma população urbana. São pessoas que buscam planejar e aconselhar maneiras de melhorar a qualidade de vida, sabe, meio ambiente, gerar possibilidades que impeçam impactos negativos. Tudo envolve planejamento e o bem estar de uma comunidade.

Eu olhei para Diana depois de um fôlego e vi absolutamente nada na sua expressão, na verdade, ela me encarava imensamente intensa e sem desviar sequer um minuto.

– Eu cansei você? – perguntei, só esperava não estar corando. – Eu disse que era um tédio.

– Não, não, muito pelo contrário. – ela finalmente deu sinal de vida. – Isso é brilhante, é incrível, Nicolas. Você fala como se amasse realmente o que deseja.

– Sério? – perguntei, uma descrença mínima ainda profunda dentro de mim.

– Sério, você está se preparando para o final do ano, não está?

– Final do ano?

– Sim, a coisa toda da faculdade. Se é isso que você quer, já escolheu qual faculdade irá entrar? É pela região? – sua animação parecia até contagiante.

– Diana...

– Minha mãe conhece alguns reitores e profissionais de engenharia, ela pode se informar para você. Você certamente terá uma recomendação da escola pelos seus esforços no time esportivo da escola. Você pode conseguir muito com isso, Nicolas, veja bem,

– Diana!

– Meu pai trabalhava numa empresa enorme de crédito bancário, era num lugar muito bonito na Filadélfia, mas depois vieram alguns problemas de custo, energia, transporte, sem contar dos problemas ambientais que enfrentaram para construir o prédio. Ele tem um amigo engenheiro que providenciou as mudanças, eu posso pedir que você tenha uma ajuda profissional extra para te encaminhar nos estudos. – ela parou já sem folego.

– Diana eu não vou entrar para a faculdade. - eu disse sem encará-la.

– Mas porque, Nicolas? Não é esse o seu sonho?

– Sim, bem, sim, um sonho, mas – eu a olhei sorrateiramente. – eu deixei isso para trás, Diana. Eu deixei estudos e preocupações para trás, eu estou um pouco atrasado demais para me esforçar nesses ultimos quatro meses antes do fim do ano, do colégio.

– Você não deve pensar assim, Nicolas. – Diana se aproximou e e passou seus finos dedos por cima da minha mão livre sobre a mesa de vidro. – É o seu futuro, não é o que você quer? Não é o que você ama?

Eu não a respondi.

– Vamos, diga. Você quer ser um planejador urbano? Um urbanista? Você quer isso, Nicolas? – ela repetiu.

– Sim, eu quero.

– Então lute, você ainda tem tempo, o quão curto isso seja, você pode fazer muita coisa. – seus olhos verdes me encaravam esperançosos e confiantes, algo que senti queimar dentro de mim.

– Você está certa. – eu sorri em agradecimento.

– Normalmente sim.

Seu rosto angelical se iluminou e foi quando percebi que eu ainda tinha seus dedos acariciando as costas da minha mão. Diana também percebeu isso porque lentamente ela se afastou como se fosse pegar em alguma coisa depois que se virou para a mesa.

– E você? – eu perguntei. – O que você quer fazer?

– Eu?

– Sim. Acabei de dizer que meu sonho desde criança é planejar programas e serviços de melhoramento urbano, agora você tem que me dizer o seu. É uma troca justa.

Diana sorriu meio sem jeito.

– É uma besteira. – ela murmurou.

– Vamos lá, Diana, me dê um crédito, eu acabei de te trazer no meu refugio e você acha que o que tem pra dizer é besteira? Qualquer coisa neste lugar vira cena de um filme épico adolescente sobre câncer.

Ela se virou e arqueou a sobrancelha.

– Por que câncer?

– Não sei. Foi a primeira coisa que veio a minha cabeça. – dei de ombros. – Minha mãe comprou uns DVDs de uns filmes atuais e ela ficava chorando no sofá de casa com um pote enorme de sorvete de creme dizendo que a menina morria de câncer e o garoto tinha que viver sem ela.

– Isso é terrível. – ela enrugou a testa.

– Sim, é. Por que as pessoas iriam assistir um filme onde a menina morre? É doloroso. – murmurei. – E masoquista. Já basta Amor para Recordar.

– Sim, o filme que você chorou.

Eu me aproximei.

– Shh, você não pode dizer isso tão alto. – pousei o dedo indicador nos lábios. – Eu tenho uma reputação para zelar.

Ela riu.

– Que tipo de reputação? – ela arqueou a sobrancelha. Porra, ela tinha que fazer isso toda hora e parecer como uma arrebatadora de corações?

– A de um jogador duro, sério.

– Ah, sim, um bad boy. – ela confirmou com a cabeça, sorrindo.

– Você acha que eu sou um bad boy?

– Você se acha um bad boy? – ela rebateu.

– Depende. – disse-lhe, escorando-me na mesa. – Se você gostar disso, eu posso ser, se você não gostar, bem, existe outras inumeras qualidades minhas.

Diana riu.

– Você certamente não é um bad boy, Nicolas. – ela se virou novamente para as flores. – Você acabou de me revelar seu cantil de refugio. E por coincidência, tem enormes porcentagens de ser considerado o lugar mais romântico da cidade.

– E?

– E que você pode usar toda essa encenação de não ser tocado, mas – ela parou, um pouco hesitante, rolando os olhos para mim e esperando que eu surtasse por ela dizer a verdade. Eu não me importava mais. – você é uma boa pessoa, Nicolas. Você tem um coração bom. Você só não tem ideia disso ainda.

Encarei os vasos a nossa frente, dessa vez evitando seus olhos mirados, uma raridade. Eu não sei o que ela queria dizer, na verdade, eu não tinha ideia alguma do que eu estava querendo, fazendo, pensando, as vezes eu me perguntava se o Nick de hoje seria o mesmo de amanhã e parece que venho me surpreendendo cada vez mais.

Eu soltei uma risada baixa.

– O que é engraçado? – ela me cutucou no ombro com seu braço.

– Acabei de notar que você ainda não me respondeu e ao invés disso mudou de assunto como uma profissional. – levantei o rosto, sorrindo para ela.

Diana ficou encolhida no seu proprio silencio. Eu me movimentei de frente para ela.

– Me diga, Diana. Qual é o seu sonho? – perguntei interessado. – Quais são seus planos para o futuro?

– Ser uma médica. – ela disse duvidosamente hesitante demais.

– É, claro. Essa profissão parecia ser tão óbvia. – suspirei ao dizer.

– Por quê?

– Você estuda muito. Ou pelo menos aparenta. – eu me relaxei e cruzei os braços. – Mas por que você não parece animada com isso?

Diana deslizou seu dedo pelas elevações do vidro quadriculado da mesa enquanto preferia não me olhar.

– É complicado. – foi o que ela disse.

– Já passamos dessa fase, Diana.

Ela suspirou, entregando-se.

– Eu não quero fazer medicina. – ela contou. – Isso surgiu no Natal quando eu tinha quatorze anos. Minha família estava reunida na ceia de jantar, meu pai estava conversando algo animador com meu avô enquanto Sarah estava ocupada brincando com a comida quando Lilian me entregou um envelope com cartões de profissão, tinha direito, tinha engenharia e medicina, nada além disso, exceto pelo cartão de medicina. Ela tinha assinado nomes de sites profissionalizantes, ela me disse que se eu quisesse medicina entre as três, eu devesse me enturmar nesses sites abertos profissionais. – Diana riu sem graça e depois me encarou.

– Você escolheu medicina por causa da sua mãe? – eu a olhei com um pouco de incredulidade.

– Ah, não me olhe assim. – ela resmungou. – Você não entende.

– Realmente, eu não entendo. – retruquei. – Você abriu mão do seu sonho, qualquer que ele seja, para satisfazer a sua mãe. Isso é ridiculo.

– Nicolas, Deus, você não entende. – ela se virou. – Você não viu o que eu vi. Eu e minha mão não éramos próximas, principalmente depois que a Sarah nasceu, alguém para ela se preocupar depois de mim. E lá estava ela compartilhando comigo seu sonho de me ver médica e formada, ela queria isso, e eu queria deixá-la feliz. Quando eu aceitei sua escolha, ela estava sempre me instigando, me elogiando, me ajudando, ela estava animada com a ideia de eu aceitar, estava tudo perfeito. Esses últimos anos eu me esforcei para medicina, não para engenharia, direito, e sim para medicina, é o que eu vou fazer.

– Mas não é isso que você quer, Diana. – eu a contrariei. – Você não vai estar feliz, sua mãe pode estar feliz, mas você não e nunca será.

– Eu posso tentar.

– Você não vai conseguir, Diana. Não quando você escolher o que você quer.

– O que eu quero, Nicolas, meu Deus, nunca será um terço do que medicina pode me dar em várias situações, - ela me olhou inconsolada e mesmo que ela estivesse firme, eu sabia que no fundo ela não tinha esperança alguma nisso. - como prestigio, condição financeira, uma base fixa.

– E o que você queria?

Diana corou envergonhada.

– É algo tão... simples, tão... – ela se pausou, depois deu um breve sorriso. – Eu quero ser pintora. Eu também participei de aulas extras nas férias quando criança e minha avó, quando ainda era viva, me levou para uma aula de artes e eu me apaixonei.

– Este é o seu sonho? – eu me aproximei. – Claro que é, você está sorrindo.

– Mas é algo que eu não vou seguir. – ela riu para si mesma. – Como um pintor vai conseguir uma base fixa, prestigio, Nicolas? Minha mãe certamente deve pensar isso.

– Mas é o que você ama. – resmunguei um pouco irado. – Você nunca tentou dizer não a sua mãe?

Ela não me respondeu.

– Certo. Acabou de me responder. – eu me virei para frente, ficando de lado para ela. – Você não pode dizer sobre sonhos, você é suspeita, Diana.

– Nicolas...

– Pode ser que você esteja certa, eu vou continuar atrás do meu. Eu acho que ainda posso ter chance, mas você? Bem, você não pode dizer não para sua mãe.

– Não é bem assim. – ela suspirou.

– Sim, parece que é. Parece que você tem medo dela. – eu me virei rapidamente para Diana.

– Não, eu não tenho.

Eu fiz que não com a cabeça.

– Hoje, na loja com a sua irmã. – eu a lembrei. – Eu ouvi uma parte da sua conversa com a Sarah, não que eu estivesse lá para ouvir, foi apenas uma fatalidade. Você pediu que ela mentisse para sua mãe, Diana, por quê?

Ela arregalou os olhos.

– Você ouviu? – ela quase gaguejou. – Não era nada, Nicolas, era uma idiotice da Sarah. – para piorar, ela estava ruborizando.

– Claro que não era. – eu a contrariei, ainda mais curioso. – Você pediu para a Sarah mentir, mas mentir sobre o quê? Sobre mim?

Ergui as sobrancelhas e a encarei, esperando que ela me desse uma resposta ligeira antes que eu mesmo suspeitasse dessa situação.

– Veja bem, - ela começou mal demais. – Lilian ela é... dura, você já deve ter percebido isso, com ela não existem meios termos.

– Sim, e aonde você quer chegar com isso?

– Eu quero dizer que ela é planejadora, nada pode sair dos seus trilhos e Sarah e eu somos partes disso, não saímos dos trilhos nunca. – seu olhar de mel segurou o meu.

Eu já tinha entendido tudo.

– Ah, saquei. – eu me afastei com uma carranca. – Sua mãe não gosta de mim.

– Ela te conheceu numa sala de diretoria depois do seu professor de matemática gritar com você. – ela tentou se explicar.

Então elas tinham presenciado o auge daquela manhã.

– Por acaso você nunca parou na diretoria? Eu não fui preso, eu não matei ninguém, eu apenas pedi que meu professor ficasse quieto para eu responder uma pergunta e ele me mandou pra fora. – eu quase gritei, irado.

– Nicolas, calma, espere, eu entendo, não Lilian, mas eu entendo. – ela segurou meu braço. – Ela é exagerada, ela é dramatica, ela tem um mural de planejamentos...

– E alguém como eu não estar nele, pelo menos não parte legal. – eu a olhei pelo canto do olho.

– Você está zangado, não está?

– Não, eu não estou. – murmurei.

– Claro que está, mas que droga, Nicolas. – ela me olhou feio. Agora, além de irado, eu estava surpreso, por que Diana estava me olhando feio? – Você não pode simplesmente ligar para o que Lilian pensa, tudo que ela acha. Ela não é embaixadora do mundo ou seu líder, ela é apenas minha mãe, ela dar ordens e dita regras que acha que vão me proteger do mundo, mas não vai. Eu não quero ser protegida por ela, eu quero me arriscar. – ela suspirou num folego. – se eu não ligo, você não deveria ligar também.

Eu rolei meus olhos para ela, encarando-a intensamente tentando entender o motivo dela ter aparecido só agora na minha vida. Era estúpido, eu sei, Diana era fantástica, era linda e ainda conseguia me dizer coisas que ninguém havia dito, ela ousava e eu não saía xingando ela por isso, na verdade, eu gostava. Eu podia estar ficando louco, me envolvendo assim como uma garota, bem, agora não se tratava de beijos, se tratava de confiança.

– Obrigado. – sussurrei. – Por você me defender.

Ela sorriu surpresa com meu tom de voz, calma e terno.

– É o que eu sempre penso. Não ligue para o que Lilian pensa, faça como eu, ignora.

Eu fiz que sim com a cabeça, olhando sem disfarçar que eu estava admirando-a. Diana ficou quieta, deixando que eu a encarasse sem tempo de limite, enquanto ela tentava de alguma maneira não fugir ou tentar evitar o que podia acontecer. Eu confiava em Diana, mas agora, eu queria beijá-la, eu iria beijá-la mesmo que eu não confiasse, eu só queria passear meus dedos pelos seus lábios e fazer o toque com os meus, deixando esse lugar um pouco mais épico. Eu toquei seu rosto e direcionei ao seu queixo, mirando-o para mim. Diana tinha a boca levemente aberta, surpresa pelo meu ato, mas não se moveu. Fiquei instigado. Aproximei meus dedos pelos seus lábios e os toquei, meu corpo eletrizado só com a sensação de tocá-la num lugar tão intimo. Eu me aproximei e segurei seu rosto, tudo em mim pedindo para que ela aceitasse meus beijos, era tudo que eu pedia, implorava, almejava, se Diana não tivesse despertado e trocado de posição, me ultrapassando, me deixando com um sorriso de canto um pouco magoado por não ter realizado meu desejo. Diana caminhou em direção ao por do sol, estávamos a tanto tempo ali que não presenciamos a passagem das horas.

Diana de frente para o sol parecia se encobrir com uma aura laranja, era angelical e surreal, meio estúpido também da minha parte ficar relacionado uma garota a um anjo e uma aura. Mas eu estava, e por enquanto, eu não tinha me arrependido disso.

– Você não me contou como descobriu esse lugar, Nicolas. – ela disse, parada lá na frente, no fim do altar de madeira.

Eu me juntei a ela.

– É uma longa história.

– Temos tempo. – ela virou o rosto para mim rapidamente.

– Okay. – eu fiz que sim com a cabeça. – O prédio foi fundado pelo casal Ennis e Delanie. Primeiramente era apenas uma republica que abrigava estrangeiros que não tinham muito dinheiro para se ajustar comprando uma casa. Ennis homenageou a republica com o nome da sua esposa alguns anos depois, quando meu avô e seus dois irmãos vieram da Inglaterra.

– A primeira casa dos Byron. – ela disse de repente. – É uma honra está aqui.

Eu sorri.

– É uma grande responsabilidade. – confirmei tendo um vislumbre do seu rosto iluminado. – Principalmente quando o planejamento do prédio foi feito pelo meu avô.

– Sério? – Diana ficou surpresa.

– Sério. Ele e Ennis trabalharam juntos para erguer toda essa estrutura. – eu alternei para ela e para o terreo. – Depois de alguns anos, quando meu avô se casou, se mudou para uma nova casa e o prédio estava erguido, a Sra. Delanie construiu um pequeno espaço botânico aqui em cima para homenagear seu marido também, era um lugar bonito, mas um pouco desorganizado. Os anos se passaram e os filhos do casal assumiram os direitos pelo prédio quando eles morreram, e a alguns anos atrás, meu pai me mostrou o jardim, ele era uma parte esquecida, boa parte das plantas tinham secado, o prédio demandava mais trabalho do que o cuidado com o térreo, então eu e me pai nos oferecemos para planejar um jardim sem remuneração alguma, contanto que nos oferecessem as ferramentas necessárias. E aqui está. – eu olhei em volta. - eu vinha aqui com mais frequencia antes, ajustava algumas coisas desde que meu pai foi embora e não tinha mais a sua ajuda. Depois parei de vim. Thomas ficou encarregado de cuidar para mim.

– Isso ficou realmente muito lindo, Nicolas. – Diana segurou minha mão. – Você fez um ótimo trabalho, você tem jeito para planejamento.

Eu sorri em agradecimento.

– Eu deveria ter vindo aqui mais vezes. Ainda precisa de algumas mudanças. – eu me movi, pulando para fora do altar e me aproximando a grade de proteção. – Eu quero fazer uma pequena fonte ali. – Diana se juntou a mim. – Eu quero tornar isso aqui mais puro e bonito o possível. Pelo menos até a faculdade.

Diana sorriu disfarçadamente.

– É bom que você esteja pensando na faculdade. – ela me olhou ligeiramente, seus olhos brilhavam.

– É algo que eu não fazia a muito tempo.

– Desde a separação, certo?

Eu fiz que sim com a cabeça.

– O que aconteceu, Nicolas? Com seus pais? – ela me perguntou.

Eu me encostei no batente e fiquei quieto no meu canto. Quando Diana havia me perguntado sobre a minha facilidade com jardinagem, sobre meus sonhos, eu não tinha pensado ligeiramente em Planejador Urbano, eu estava vagando muito longe disso, porque até então, nunca parei para pensar nisso nos ultimos quatro anos. E agora ela estava falando sobre meu pai. Porque antes, quando eu ainda tinha meu pai e éramos uma família, eu já tinha planejado tantas coisas, eu já tinha dividido com ele todos meus sonhos, até infantis demais, como daquela vez que pensei em ser astronauta quando eu tinha oito anos por causa de um desenho animado que passava frequentimente na TV. Eu queria ir para o espaço, ver a lua de perto, as estrelas e inocentemente tocar o Sol, conhecer a via láctea, os planetas e seus habitantes. Eu era inocente demais e acreditava que se aqui haviam seres, por que não nos planetas vizinhos? Uma vez eu cheguei para meu pai e perguntei como eram os habitantes de Plutão. E ele franziu a testa para mim e eu tentei animadamente lhe explicar que eu havia aprendido na aula que Plutão era o menor planeta do nosso sistema solar, então me veio a cabeça como seriam suas as casas, se eram todas muito próximas as outras e pequenas, se haviam cercas brancas dividindo-as, se os habitantes eram todos anões e se nós poderíamos visitá-los algum dia. Meu pai nunca me respondeu com palavras que eu podia entender. Afinal, dizer para uma criança que não há vida em outros planetas usando a ciência e a razão é complicado, ter que explicar que temporariamente teríamos que conviver com essas mesmas pessoas que víamos diariamente. Talvez se mudássemos para um país novo. Brasil. Ou a Índia, é aquele com mais de um bilhão de habitantes, não é? Então qual seria a probabilidade de esbarrar com as mesmas pessoas? Muito menor que a nossa, obviamente.

Mas Charles nunca me disse, ele nunca me disse... E não me diria nada, ele estava longe o bastante para que nossa probabilidade de ver um ao outro fosse menor que uma pessoa de Bombaim se encontrar com outra morando em Srinagar, na India.

– Meus pais eram perfeitos um para o outro. – Diana disse de repente me despertando, seu rosto contra o sol, encarando as flores. – Nathan e Lilian eram felizes, boa parte da vida deles eu julguei que eles eram felizes. Mas depois veio a promoção de emprego do meu pai e tudo virou um caos. Ele chegava tarde demais, Lilian não podia suportar isso, não podia suportar suas viagens, que ele estivesse crescendo.

Eu fiquei surpreso por ela estar falando. Ela estava falando sobre ela, não sobre mim, ela queria começar para que eu desse um voto de confiança.

– Vieram as brigas constantes, Sarah não conseguia dormir e eu cantava algumas musicas para ela esperando que a fizesse adormecer, ao mesmo tempo que eu pedia a Deus que fizessem eles parar de gritar. Eu não queria vê-los separados um dia. – ela engoliu secamente, seus olhos brilhantes. – Então, num dia explosivo, meu pai beijou minha testa e pediu que eu cuidasse da minha irmã. Nathan saiu pela porta naquela manhã com algumas malas. Meus pais tinham se separado.

– Eu sinto muito. – eu segurei sua mão. – Você não merecia isso.

– Eu sei. Obrigada. Acho que ninguém merece ver o pais separados.

– Então você não guarda mágoa do seu pai? – eu perguntei.

– Não, não, nunca. Eu amo meu pai.

Havia um vinco na minha testa.

– Mas se você não guarda mágoa do seu pai, porque naquele dia, no banheiro feminino, você tinha chorado por ele?

– Naquele dia meu pai tinha me ligado. – ela parou. – Quando eles se separaram, Lilian jogou para o alto seus planos e disse que iriamos nos mudar. Ela nos afastou do nosso pai, se o víamos com pouca frequencia porque Lilian não o queria em sua casa, morando em outra cidade seria ainda pior. Então quando ele consegue me ligar, eu não me importo aonde eu esteja, eu sempre vou atendê-lo. Nós ficamos conversando, coisas como: Sarah está bem? Você gostou da escola? Tem feito amigos? E sua mãe? Certas coisas eu não consigo suportar. Ele estava feliz porque tinha conseguido terminar um projeto e estava esperando um aumento. – ela sorriu de repente. – Isso é engraçado, porque quando qualquer pessoa de casa ganha alguma coisa, seja na escola ou no trabalho, nós saímos para jantar e a escolha do lugar fica a mercê de alguém. A ultima vez tinha sido da Sarah. E eu acabei lembrando que nunca mais iríamos fazer isso.

Seu rosto se entristeceu e eu tive uma vontade absurda de abraçá-la, de consola-la. Nada podia ser pior do que vê-la infeliz, ninguém poderia fazer isso, ninguém poderia ousar a machucá-la, era boa demais para sofrer.

– Eu sinto muito, Diana, eu sinto mesmo. – eu segurei sua mão fortemente.

– Obrigada. – ela enxugou uma lágrima traiçoeira e sorriu.

– Seu pai dever um cara muito legal. – eu disse para confortá-la. – Meu pai normalmente era assim, ele se importava comigo. Tínhamos um lance juntos, é um pouco idiota, mas... – eu sorri para o nada. – Nós tínhamos uma coleção do batman em quadrinhos. Ele herdou do seu pai e eu herdei dela, juntávamos dinheiro e comprávamos na banca, tinhámos uma coleção enorme... – meu sorriso desapareceu. – mas, depois, depois que ele e minha mãe começaram a discutir sobre o que estava acontecendo com eles, eu parei de sentir alegria ao ver aquela caixa repleta de revistas em quadrinho que eu tinha decorado. Meu pai recebeu uma proposta grande para sair de Mountown, minha mãe não podia ir, e depois de um tempo, acho que meu pai percebeu que Ellie estava o prendendo dos seus sonhos. As brigas retornaram até que meu pai saiu de casa e voltou uma semana depois.

Eu fiz uma ligeira pausa, tentando não ficar fragilizado com as lembranças de ver a minha mãe ao telefone desesperada por noticias do meu pai, como ela tinha faltado ao trabalho, tinha deixado alguns serviços pendurados e eu me esforçava para cuidar do David, fazendo panquecas salgadas demais para ele no café da manhã ou comprando comida com o dinheiro que eu havia juntado para a nova coleção do batman que meu pai e eu iriamos comprar.

– Eu acho que eu teria o perdoado se ele tivesse me explicado tudo, eu fiquei com tanta raiva quando ele voltou dizendo que ia embora de novo que eu gritei com ele e disse que não o queria ver nunca mais. – suspirei. – É por isso que eu o odeio. Ele não voltou. Não voltou mesmo, ele me atendeu, eu era só uma criança com raiva, se ele tivesse voltado, se ele tivesse tentado mais, eu o teria perdoado. Mas ele não tentou. E eu não quero ser esse tipo de cara, Diana. – eu me virei para ela. – Eu não quero desistir como meu pai desistiu.

– Você não vai, Nicolas. Você é melhor do que pensa.

Diana segurou meu braço e me abraçou, seus braços frágeis em volta dos meus ombros tentando me consolar. Enquanto o dia anoitecia, eu me reconfortava nos braços dela tentando não chorar pelo meu pai.


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Notas finais do capítulo

o que acharam?