Counting Stars escrita por Petrova


Capítulo 6
Segundas Opções


Notas iniciais do capítulo

cá estou aqui de volta com uma terrível noticia: não tive tempo de adiantar os capitulos, acho que Counting Stars, como as minhas outras duas fics Insanity e Dark, irão ficar só com um capitulo essa semana
espero que entendam, eu estava fazendo simulados para a escola esse final de semana e minha vó ficou doente (ela tem labirintite) sem contar que o unico dia livre que tive foi segunda e foi quando consegui escrever, ontem eu passei minha tarde comprando (mais tentando do que comprando) ingressos para a culpa é das estrelas e consegui, só que o cinema não é na minha cidade, é na cidade vizinha, então isso levou o dia inteiro!
pronto esse foi meu quase desastre!
espero que gostem desse capitulo, porque contando com esse, os proximos são meus amorzinhos, tenho muito sentimentos pelos proximos capitulos
boa leitura!



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CAPITULO VI - Segundas Opções

Eu tinha beijado Diana Grey pela segunda vez e tudo que eu sabia fazer era deixar um sorriso ordinário no rosto enquanto caminhava de volta para a ultima aula. O intervalo tinha terminado e assim que os alunos começaram a se mover, John me encontrou saindo de um dos corredores logo em seguida.

Hoje era sexta-feira, todos os alunos estavam animados para se tornarem livres, eu estaria animado para finalmente poder passar um tempo longe daqui, dos professores, das atividades, mas neste momento eu só tinha pensamentos para o beijo de Diana, sua pele quente e seus seios fartos. Só de me lembrar, senti a movimentação vindo de uma parte impropria do meu corpo, por isso decidi voltar a minha atenção ao meu amigo John que começara a falar algo que deixei de escutar desde que ele apareceu.

– O que disse? – perguntei.

John bufou.

– E para variar você não está me ouvindo. – ele resmungou com as sobrancelhas juntas.

– Estava pensando em coisas. – fui vago.

– Em coisas? – perguntou. – Ou em quem?

Meu sorriso ordinário saiu novamente.

– Porra, Nick, eu vi isso, eu vi esse sorriso. Agora me conte tudo!

Eu dei de ombros e continuei andando.

– Tem a ver com Diana? Vocês saíram juntos do refeitório. – ele tentou adivinhar. – Cara, você fez um estrago terrível, a blusa dela estava toda molhada.

Eu olhei rapidamente para ele.

– Você viu alguma coisa?

Ele fez que não.

– A galera do time comentou alguma coisa?

– Nada tão bombástico sobre a garota, só riram do estado como você a tirou de lá. – ele respondeu inocentemente. – Por quê? Está com medo que me mexam com a sua garota, Byron?

Ele empurrou meu ombro em divertimento.

– Ela não é a minha garota. – murmurei. – Mas isso não dá o direito de um de vocês chegaram perto dela.

John riu.

– Marcando território. Entendi.

– Não é nada, John. Diana só não é esse tipo de garota, de vocês ficarem falando sobre ela, de ser assediada, ela não é. – defendi.

– Você está defendo ela, cara, me conte o que aconteceu antes que eu tenha um ataque tentando adivinhar.

Passei minhas mãos pelo cabelo lembrando dos detalhes. Sorri novamente.

– Eu a beijei. – eu disse. – A beijei no banheiro feminino.

John abriu a boca, mas não disse nada.

– Porra, John, a garota manda muito bem.

– Nick, você não presta. – ele esmurrou meu ombro. – Me dê mais detalhes.

– Ela é maravilhosa, ela é doce, ela é suave e ao mesmo tempo uma tentação. – eu disse deslumbrado.

John me ouvia atentamente.

– Ora, ora. – ele cantarolou. – Agora sim você parece um adolescente apaixonado.

Revirei os olhos.

– Você nem sabe soletrar essa palavra, quanto mais adjetiva-la a alguém, John. – eu disse, rindo um pouco.

– Não desvie, Nick, porque você está no caminho. – ele disse. – Primeiro vem a atração, depois a admiração e de repente você se vê gostando de uma pessoa como se devesse a vida a ela.

– É assim que você se sente? – o olhei. – Em relação a Mary?

John não me respondeu, mas encarou seu tênis em resposta.

– Desculpe decepcioná-lo, John, mas eu não nasci para conhecer o amor e não vejo nada de positivo nele. Meus pais se separaram, você é apaixonado por uma garota que mal te enxerga, bem... Não vejo nada de positivo nisso.

– Eu sei. – John fez uma careta. – Amor é uma droga mesmo.

Eu concordei e seguimos o caminho para a nossa ultima aula, que era a de laboratório de biologia.

Pela primeira vez, em tempos, eu não me sentaria com John na aula do Sr. Harris, estaríamos distantes, ele estaria na primeira fila tentando se concentrar com toda aquela baboseira de biologia ao mesmo tempo que se esforçava para não dormir, enquanto a mim, bem, eu estaria com os olhos abertos em atenção, prontos para não perder nenhum detalhe, pronto para espera-la, por isso cheguei um pouco cedo demais. Além de mim, do John e de Diana, Lucas, Allison, Lydia, Ian e mais alguns caras do time eram dessa turma mais um punhado de pessoas que eu não me recordava muito o nome ou estava preguiçosamente cansado para fazer o esforço. Subimos alguns andares e chegamos perto do térreo onde vamos pelo menos duas vezes ao ano quando não temos conteúdos e o professor acha legal nos ver tentar lembrar todo o assunto de botânica do começo do ano. Apesar de aguentar as mesmas gracinhas de sempre, como aquela planta que parece com as bochechas do nosso diretor, é legal estar lá em cima, podemos ver boa parte da cidade, podemos sentir uma liberdade diferente aqui na escola, ao contrário de ficar trancado numa aula esperando o professor não perceber que estamos xingando-o por mensagens para outros colegas. Uma liberdade que normalmente sinto quando estou no campo. Ou as vezes quando acendo um cigarro.

Alguns alunos entraram a nossa frente e depois fizemos o mesmo movimento. O laboratório tinha paredes brancas e cadeiras de pernas finas e longas, balcões de um metro de extensão para cada dupla se sentar confortavelmente. Seis prateleiras se organizavam em duas a direita, duas a esquerda e duas no fundo, do tipo que guardava qualquer coisa imaginável, como corações de animais, partes do corpo humano em massa, desenhados de algum material resistente e pesado que sempre tínhamos a tentação de ir lá e tocar, xeretar e depois voltar para nossos cantos. John ficou um pouco perdido até que percebeu que não íamos para o mesmo caminho, ele deu dois passos para trás, deixando de me seguir e me dando um olhar de cachorro que acabou de cair da mudança.

– Eu vou sentir sua falta. – ele disse as palavras.

Eu ri e acenei para ele, me encostando no meu balcão e observando com melhor visão toda a sala. Os alunos chegavam lentamente de acordo que os minutos passavam e nosso professor, Harris, de cabelos grisalhos, de um bom físico para a sua idade, com um bigode mais branco que a tonalidade do seu cabelo e uma camisa laranja que me dava náuseas, mas eu até gostava dele, estava xeretando algumas papeladas sobre sua mesa. Harris era um dos meus professores favoritos.

Quanto mais os minutos passavam eu concordava que Diana tinha desistido, que o echarpe não tinha sido o suficiente para esconder o estrago que causei, depois de mais alguns minutos, decidi que ela estava com medo de se sentar comigo, que não tinha apreciado como eu nosso segundo beijo, por isso estava me evitando, estava tentando ser educada evitando que eu visse sua desaprovação. Comecei a ficar nervoso. John esperou Ethan se sentar para se apresentar, como se ninguém o conhecesse nessa escola. Ethan tinha um cabelo castanho bem penteado para o lado e óculos retangulares pequenos, ele tinha uma expressão séria, mas não era uma má pessoa, era até divertida, um dos poucos que teria um futuro brilhante nessa turma. Bem, agora sim eu podia elogia-lo sabendo que não sentaria nesses quatro meses restantes para o fim do ano com Diana Grey, ele não dividiria o prazer de conhece-la, e assim, me deixava muito feliz. Ou me deixava assustado por estar pensando em Diana como um território que eu deveria possuir.

Bem, era tudo por questões profissionais, ela era nova na cidade e parecia inocente demais para perceber que aqui as pessoas se escondem nessa ideia de cidade pequena e segura, inocente demais para saber que as pessoas são ambiciosas e não pensam duas vezes em maneiras de conseguir algo de alguém.

Digamos que eu estava sendo alguém que queria protege-la.

Sr. Harris começou a escrever algo no quadro quando diferenciei exatamente como uma arvore gigante, poderia se tratar de uma arvore genealógica. Não queria falar sobre descendentes, de família, eu queria Diana entrando por essa porta e encontrando-me parado aqui. Acho que estou ficando louco.

Quando as pessoas começaram a se sentar, a porta finalmente fez um ruído vago e percebi aliviado que se tratava dela. O echarpe que Diana disse era um verde escuro tricotado que combinava com sua blusa bege, quase branca e com sua calça preta justa que se ajustava em lugares perfeitos do seu corpo, como a silhueta de sua cintura, a curva do seu quadril e todo o conjunto que deixou meu nervosismo voltar.

Diana olhou um pouco vermelha para os outros alunos e rapidamente para a fila da frente, onde deveria estar acostumada a pensar que se sentaria. Ela entregou um papel dobrado amarelo para o Sr. Harris e disse algo que eu não conseguiria ouvir daqui porque estava longe demais. Por um segundo amaldiçoei estar nesse maldito lugar.

– Vejo que temos um erro, Srta. Grey. – Harris disse sendo tão educado quanto ela. Mais um motivo que me fez gostar dele. – Por pedido de um familiar, decidimos trocar dois alunos, o seu e o do Sr. Clewart, mas não se preocupe, você se sentará na ultima fila, ultima cadeira.

Sr. Harris apontou para mim e com um estalo no meu coração fingi estar atento a alguma coisa em cima da cadeira como se não tivesse sugando a imagem dos dois desde a entrada dela. Mas tudo que tinha na cadeira eram meu lápis e uma apostila surrada, além disso, desenhos eróticos que John e eu passávamos as aulas desenhando por causa do tedio. Puxei uma borracha e tentei apagar os vestígios de alguns desenhos, pelo menos para deformá-los para que Diana não soubesse que isso aqui eram peitos. Senti o suor descer pela minha nuca e depois de segundos de esforço, consegui tornar os desenhos indecifráveis. Ergui o rosto aliviado para cima e a vi andando timidamente para esse lado, desviando de bolsas jogadas no chão. John virou seu corpo para trás depois que ela passou por ele e me fez um sinal de positivo, como de aprovado e enquanto Diana estava encarando o chão que pisava, eu lhe mostrei o dedo do meio e John riu por causa disso.

Finalmente ao meu lado, Diana colocou sua bolsa delicadamente no chão e se arrastou para a cadeira ao meu lado, podia ouvir o ruído do tecido e lembrei das minhas mãos passeando por essa parte do corpo dela a exatamente meia hora atrás. Caso eu acendesse um cigarro agora, para espantar o nervosismo, eu explodiria o laboratório e ainda seria expulso e preso. Então forcei a me lembrar que não era a primeira vez que eu tinha contato com uma garota, eu nem era mais virgem, desde o primeiro ano, então toda a fase de suar frio e senti as mãos úmidas já passou, o Nick era mais maduro que isso, mais eficiente e experiente.

O Sr. Harris estava ocupado demais fazendo o esboço de uma arvore no quadro e os alunos conversando com seus parceiros que decidi fazer o que eu sabia fazer de melhor, observar. Diana tinha a manga da blusa erguida acima dos cotovelos e segurava o rosto com ambas as mãos, tinha o corpo inclinado para frente e a perna direita curvada em cima da perna esquerda, que mexia em algum tipo de ansiedade não explicada. Eu inalava a cada respirada seu perfume de flores e sentia que podia ficar louco a cada segundo, então espantei o que John me disse alguns minutos atrás: primeiro vem a atração. E eu não podia estar mais atraído do que isso, por isso senti que deveria ser menos intenso e ignorar certas observações. O Sr. Harris finalmente deixou o quadro de lado.

– Arvore Genealógica está envolvida com sequencias de genes que nos trás características próprias de uma geração e que nos torna mais parecidos com nossos pais, avós e parentes mais distantes.

Eu senti Diana suspirando ao meu lado e tive que considerar que isso também a fazia lembrar de família e separação. Enquanto nosso professor ainda falava algumas coisas sobre genética e nossos familiares, decidi que não estava com coragem para dizer alguma coisa para Diana porque estava ocupado tentando não me lembrar do meu pai. Peguei meu lápis e comecei a desenhar o que aparentemente começara a ser apenas uma figura geométrica sem sentindo algum até formar um rosto e calmamente ganhar nariz, orelhas, boca e olhos.

– Você desenha nas horas vagas? – Diana inclinou o rosto para meu lado.

Ergui meu olhar para ela. Eu estava certo, Diana também estava tentando ignorar o papo do professor.

– As vezes. – disse.

– E isso é alguém? – ela apontou para meu desenho, olhava-me sorrateiramente e depois para o professor.

– Sim, só não sei quem ainda.

Ele fez que sim com a cabeça e voltou-se para o professor. Alguém tinha que fingir estar prestando atenção no professor por nós. Ajeitei meu corpo na cadeira e me inclinei lentamente para ela, sem que percebesse.

– Não está feliz por ser minha parceira?

Diana teve um ligeiro arrepiou por minha voz estar tão perto e baixa.

– Achei que estava brincando.

– Quando quero uma coisa, eu consigo.

Ela me olhou rapidamente com as bochechas coradas.

– Você é determinado.

– Depende do estimulo, claro.

Estava surpreso comigo mesmo por ser tão direto, logo com ela, qual aprendi que não devia ser rápido, assim poderia assustá-la, mas gostei do resultado. Diana se virou para mim com a boca levemente aberta e a testa enrugada, tentando decifrar minha feição para saber se eu estava brincando ou falando serio. Eu poderia estar sendo um pouco irônico, mas estava falando a verdade.

– Devíamos prestar atenção no Sr. Harris. – disse-me com os olhos fixos.

– Ou?

– Ou o quê?

– Quando a primeira opção é prestar atenção numa aula, sempre tem uma segunda que é a que eu escolho. Qual é a sua segunda? – sussurrei.

– Prestar atenção na aula.

– Não é assim que se brinca, Diana. – eu disse com um sorriso nos lábios. – Seja mais criativa e pense em uma segunda opção.

– E por que eu pensaria numa segunda opção?

– Porque esse é o barato da brincadeira, de sonhar fora daqui sem se mover, de ter os pensamentos em um lugar que só nós sabemos e conhecemos, um lugar de ninguém mais, um refugio sem precisar sair do lugar.

– E qual seria o seu?

– Essa é fácil. – respondi relaxando-me na cadeira.

Diana ergueu as sobrancelhas.

– Então me conte, Nicolas.

– Eu não posso. – a olhei. – É um refugio só meu.

– Ele existe pelo menos?

– Claro que existe! – exclamei. – É um lugar simples, mas é muito bonito.

– Não vale, você precisa me contar, Nicolas. – ela murmurou, a curiosidade nos seus olhos.

– Talvez um dia eu possa até te mostrar, e você verá com seus próprios olhos, quem sabe teremos um mesmo refugio.

Ela corou.

Um lugar que só nós conhecemos. – completei.

*nota do autor: eu tirei essa parte de uma música que se chama Somewhere Only We Know, eu amo muito essa musica, ouçam, ela é do Keane, e é tema do filme LOLA com a Miley Cyrus.*

Diana sorriu daquela forma que só gosto de ver nela, um sorriso pequeno, mas que incendeia seus olhos inteiro.

– Até lá você pode pensar no seu. – coloquei meus braços apoiados no balcão e trouxe meu corpo para frente, nossos cotovelos agora se encostavam.

– Acho que eu já tenho um. – ela disse sorrindo e mordiscando o lábio inferior.

– Posso saber?

– Claro que não. – ela negou rapidamente. – É um refugio só meu.

Eu tive que rir. Ela estava usando minhas próprias palavras.

– É justo. – falei. – Seu refugio. Meu refugio.

– Sim. Talvez você possa conhecer algum dia.

– Então ele existe.

– Existe. Ele pode ser simples, mas – Diana tocou a ponta dos dedos na mesa e desenhou as linhas dura do balcão.

– Mas é especial. – completei.

Diana me olhou e fez que sim com a cabeça.

Quanto a ideia dos opostos, eu diria que até os mais diferentes possuem laços em comum que os tornam unidos, e pela primeira vez eu estava vendo isso em Diana. Ela estava desesperada tanto quanto eu para esquecer algumas lembranças, mas ao mesmo tempo lutando para guardar o máximo que podia, sem perder nenhum detalhe. Deixei que o silencio nos tomasse e em alguns minutos, eu tinha me perdido o quanto o tempo havia passado e as pessoas soltavam risadas e suspiros de alivio porque o sinal finalmente tinha tocado. Diana também ficou surpresa com a rapidez que os minutos se passaram, ela me olhou ligeiramente, parecendo saber que eu a encarava.

– Tenha um bom final de semana. – ela disse.

– Você também.

– Tchau, Nicolas. – ela pegou sua bolsa e saiu entre os alunos, parando um pouco para acenar para mim e sair.

Atrás dela, Allison se aproximou e começou um assunto que Diana parecia compreender bem, talvez elas já tenham conversado antes e que eu não era a única pessoa que tinha tentado me aproximar. Peguei minha bolsa e joguei meus pertences nela para me encontrar com John na saída. Eu ainda tentei encontrar vestígios de Diana, sua bolsa, seu echarpe ou Allison seguindo-a, mas não encontrei nada.

– Ei, cara, para que tanta pressa? – John me segurou pelo ombro enquanto ajeitava a bolsa nas suas costas e me olhava divertido.

Diana realmente escapou do meu campo de visão, isso era extraordinário, como alguém como ela podia sumir assim, logo de mim? Podia me gabar como um dos melhores observadores dessa cidade. Então cheguei a conclusão que quanto mais dava um passo para conhecer Diana, eu regredia outro em relação a me conhecer.

– O quê? – vir-me-ei para ele e perguntei um pouco sem educação.

Pensando na princesa e conversando com o dragão, pensei e percebi como esse trocadilho era uma droga.

– Eu estou esperando os agradecimentos.

Eu pisquei, perdido.

– Do que está falando?

– Do que estou falando? – ele riu sem muita vontade. – Porra, Nick, passei mais de uma hora ouvindo o Ethan me explicar seus cálculos sobre o surgimento da terra e levando em consideração nossos ancestrais e nossa genética, enquanto você se divertida flertando com a garota. Droga, Nick, te dei o queijo e a faca, tudo que quero agora são os agradecimentos.

John cruzou os braços falando muito serio. Paramos no meio do estacionamento enquanto eu tentava entender o que ele estava querendo com uma expressão perdida. O que se deve ter passado uns três segundos em silencio, John substituiu por uma risada escandalosa. Revirei os olhos e recomecei a andar, John me acompanhou.

– Então, está tudo bem entre vocês? – ele perguntou curioso.

Na maioria de nossas conversas na escola era sobre o que faríamos enquanto seríamos expulso das aulas. Agora o foco foi totalmente para Diana. E eu.

Não precisei responder a sua pergunta, porque só em me lembrar de nossa ultima conversa, falando sobre refúgios particulares, não evitei de sorrir.

– Espere, espere. – John entrou na minha frente esbarrando numa garota que passava por nós no estacionamento.

– Desculpe, ele sofre de espasmos musculares. – eu disse à garota que nos fulminou com um olhar penetrante.

John a olhou de soslaio.

– Até que é bonita. – ele disse olhando-a descaradamente.

Desviei do seu corpo e tentei começar a andar, mas ele me parou novamente,

– O que é agora?

Ele apontou para mim.

– Esse sorriso.

Esbofeteei sua mão antes de dizer:

– Que sorriso?

– Esse escancarado no teu rosto, seu tarado. – ele me empurrou para o lado, até que percebi que mesmo enquanto eu procurava minhas chaves, eu ainda tinha meus pensamentos em Diana. – Eu sabia que estava me escondendo alguma coisa. – John resmungou e depois me esmurrou o ombro.

– Isso fica roxo, se não sabe. – murmurei para ele.

– Não fica nada.

– Deixe-me fazer em você, para um teste.

– Desvirtuando o assunto. Primeiro sinal de culpa. – John disse. – O que vocês conversaram lá atrás?

Cruzei os braços.

– Essa de fofocar não combina muito comigo, John.

Ele revirou os olhos.

– Ela comentou sobre o beijo? – ele me seguiu até o carro.

– Não.

– Ela disse que queria sair com você?

– Não. – murmurei

– Então o que ela disse, cara?

Virei-me para ele e o encarei.

– Quer mesmo saber o que ela me disse?

Ele deu um sorriso como resposta.

– Okay, então se prepara. – eu me aproximei. – Ela se sentou ao meu lado, deixou que eu sentisse perfume do seu cabelo enquanto se aproximava de mim. Ela apoiou a mão na minha coxa e apertou. Foi o maior tesão!

– E-ela o-o quê?

– Apenas me escute. Diana tocou minha perna com firmeza e colocou os lábios no meu ouvido. Lentamente, ela sussurrou: Yo no te voy a decir lo que hablamos, idiota!

– E o que isso quer dizer? – John me encarou em êxtase.

– Em inglês quer dizer: eu não vou te contar o que conversamos, idiota.

John abriu a boca, mas fechou logo em seguida ao processar minhas palavras. Ele empurrou meu ombro e eu bati na porta do carro, rindo até senti meu estomago doer.

– Você é um filho da mãe, Nick, seu idiota.

– Filho da mãe afinal meu pai se mandou, não é? – eu o deixei por um segundo para abrir a porta do meu carro e jogar minha bolsa lá dentro.

– De qualquer forma, apesar dessa sua brincadeira idiota, vocês são o quê?

– O que, o quê? – virei-me para ele.

– Ah, Nick, se vocês vão sair, se conhecer, pensar em algo mais sério.

– Credo, John. Claro que não, faz dois dias que a garota se mudou para a cidade e você já quer que eu marque encontro com ela?

– Você já beijou ela em dois dias, cara.

– As pessoas se beijam, John. E isso não quer dizer que estou pedindo ela em namoro.

– Então você está encrencado, meu amigo. – ele se afastou do meu carro, mas não longe para pararmos de conversar.

– O que você quer dizer?

– Diana não é o tipo de garota que você fica sem compromisso, Nick. No fundo você sabe bem. É como Mary. Elas não são como as que pegamos nas festas e nem lembramos o nome no dia seguinte depois de acordar nu numa cama, esse tipo de garota não é de uma noite. Na maioria das vezes, é para namorar, e em algum casos, para uma vida inteira.

John se afastou e me deixou plantado perto do meu carro sem poder assimilar um xingamento ideal para ele. Onde ele estava tirando esses conselhos? A não ser que ele tenha sido abduzido por alienígenas e feito uma lavagem cerebral, John nunca foi romântico, nunca me disse frases feitas, para ele existia apenas uma filosofia: sexo não envolve amor, então não precisa estar apaixonado para pegar umas garotas. Este era o John que eu conhecia, mas que agora se mudou para alguém diferente. Bem, o que fizeram com meu melhor amigo?

Ainda surpreso com suas palavras, entrei no meu carro com as chaves na mão para seguir caminho para casa. Fiz o mesmo trajeto de sempre quando a sexta-feira chegava, mas dessa eu tinha pensamentos mais intensos. Os primeiros minutos passei pensando, articulando, não entendendo e desistindo. Essa coisa de relacionamentos, de fazer algo da certo está longe de eu dominar. Parecia que tudo estava me chamando a atenção, pessoas na rua, cores do semáforo, propagandas nos Outdoors ou as músicas que passavam na rádio. Qualquer coisa era mais importante do que meus próprios pensamentos.

Quando cheguei em casa e estacionei o carro, andei em direção ao alpendre e abri a porta. Ainda era cedo, mas sabia que Ellie estaria com o almoço pronto para caso eu tivesse chegado de algum treino, mas dessa vez notei algo diferente além de conversas que soavam entre Ellie e David, o cheiro de molho com camarão inundava os cômodos onde eu passava, além disso, havia o cheiro de comida sulista, algo que me remetia a reuniões familiares nos finais de semana. Caminhei até a sala, coloquei minha bolsa sobre o apoiador do sofá e me aproximei muito pouco do balcão que separava a cozinha e a sala. David estava encostado no armário e tinha um IPad entre as mãos enquanto Ellie o ouvia atentamente,

– Aqui diz que é meio copo de leite de coco. – David leu.

Ellie se esquivou para se desdobrar e ir atrás do pote de leite de coco.

– Depois? – ela perguntou voltando-se para a panela.

– Molho, o molho que a senhora preparou. – David avisou, apontando para onde Ellie estava, para uma panela em cima do fogão.

Eu só observei nos primeiros segundos, esperando que algum deles me notasse aqui.

– Depois misture tudo. – David completou rolando o dedo pela tela do eletrônico.

– Okay. Obrigada, filho.

David pegou seu IPad e voltou a se sentar na cadeira em frente a mesa, primeiramente ocupado com alguma coisa que para ele era importante. Decidi que era a hora de me aproximar do balcão, arrancando assim o olhar ligeiro de David.

– Hoje não teve treino? – ele me perguntou relaxado na sua cadeira.

– Não, hoje tenho final de semana livre.

Ellie reparou finalmente que eu estava ali.

– Ei, filho, estava aí há muito tempo?

– Não muito. – eu disse categoricamente. – Mas o bastante para ficar surpreso. Qual é desse desdobramento todo?

David demonstrou o esboço de um sorriso animador ou mesmo esperançoso.

– Seu tio Jack vem almoçar aqui. – ela me olhou pelo ombro, mas foi o suficiente para perceber que estava sorrindo.

Eu fiquei feliz. Muito feliz.

Isso é estranho, porque eu nunca me preocupava com a vinda da família do meu pai em casa, principalmente depois da separação. O elo havia quebrado, Charles nos abandonado e ido morar longe, sem noticias, pelo menos eu deixei de me preocupar e de querer saber sobre ele.

Sério?

– Aham. – David me respondeu com um sorriso digno.

– E, e ele vem só para o almoço? Vai ficar para o jantar? A senhora sabe se ele vai dormir aqui? Qualquer coisa eu ajeito meu quarto e vou dormir com o David.

– Ei, ei, calma, Nick. Ainda não estou acostumada com você falando tanto. – Ellie riu. – Por enquanto Jack só vai ficar para o almoço, mas você pode pergunta-lo se ele não quer ficar mais.

Eu fiz que sim com a cabeça.

– É, é, eu posso fazer isso. – eu disse, mas tinha as bochechas coradas.

– Só não estrague de novo, okay, Nicolas? – David me deu um olhar pentrante, como se fosse um aviso.

Eu estava sendo ameaçado por um garoto de doze anos que jogava Mario e Fifa no video game, mas não sabe quem é George R. R. Martin ou Christian Bale.

– Vou me esforçar, David. – murmurei para ele.

A total descrença d aminha familia sobre eu estar fazendo alguma coisa certa era devastora, mas compreensivel. Eu não seria o antigo Nick, mas não esperaria uma oportunidade deitado na minha cama com truinta anos ainda morando com a minha mãe. Eu seria uma pessoa diferente, e por enquanto, não sabia que tipo de pessoa eu seria.

– Não ouça o David. – Ellie se virou para mim. – Ele está com medo de você dar as costas e deixar nós como sua ultima opção.

Tinha um nó na minha garganta que eu não saberia se iria tirar a tempo de conseguir falar alguma coisa, por isso, Ellie não se importou de me esperar dizer algo.

– Mas estou feliz por seu tio Jack, parece que sua visita acendeu alguma coisa boa dentro dele e ele finalmente resolveu voltar para a antiga casa do seu irmão. Acendeu aquela faísca para voltarmos a ser uma família de novo. Sem remorsos, entende? – ela não me olhou, mas não precisava, o tom da sua voz não era acusador, muito pelo contrário, ela estava feliz por isso ter se concretizado a tempo.

Eu também estava. Dizer que as memórias apagaram, claro que não, eu ainda não me permitia sentir saudade do meu pai, e não pensava em vê-lo tão cedo, ou até mesmo tão tarde. Na verdade, eu não gostava de pensar nele, é como se eu quisesse me torturar com algo, sabe? Querer me corroer e me obrigar a entender de como tudo isso começou. Eu, por acaso, deixei de fazer alguma coisa? Tive participação nisso? É por essas e outras que eu prefiro a imprudência, a falta de responsabilidade, porque atos responsáveis e prudentes precisam que você pense, articule e o entenda, e meu ponto fraco é deixar meus pensamentos livres, vagarem por minhas decepções momentâneas e comuns, frequentes, por sinal. Isso não é saudável para mim, nem para qualquer outra pessoa, para qualquer caso, não é saudável morrer por dentro. Ser infeliz por dentro.

– Desculpe, - eu disse numa tentativa de não morrer com o assunto. – se eu deixei vocês no meu ultimo plano, me desculpem, não era algo que eu fazia propositalmente na espera que sofressem. Eu só não queria sofrer.

– Está tudo bem, Nick. – ele tocou meu rosto rapidamente. – Seja bem-vindo de volta.

Eu sorri maravilhosamente bem.

– Obrigado. – sussurrei para somente ela ouvir. – Já que estou aqui, no que posso ajudar? – perguntei animadamente ansioso.

– Bem, use sua animação para ajudar David com a arrumação da mesa, depois tire essa bolsa da sala, você a levou para a oficina ontem. E nem quero saber nas coisas que você deixa mofando aí dentro.

Nem me dei ao trabalho de responder sarcasticamente, apenas segui David pela cozinha e enquanto ajeitávamos a mesa para o almoço, nós conversávamos sobre o que ele se lembrava do tio Jack, ou outra pessoa da família. Depois acabamos falando sobre o vovô, ficamos triste por sua partida, lembramos dos presentes de natal da vovó e sorrimos de volta.

Essa era a minha família. E dessa vez eu não estragaria.


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Notas finais do capítulo

o que acharam? Não deixem de comentar1