Counting Stars escrita por Petrova


Capítulo 13
O Que Eu Preciso


Notas iniciais do capítulo

MEU DEUS ME DESCULPEM
eu fiz esse capitulos há semanas mas nao tive como postar, porque estava sem meu computador onde ficou o arquivo, e além do mais estava no fim das minhas provas na escola e perto de começar os vestibulares, então me desculpem mesmo mesmo mesmo
boa leitura meus amores



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/501362/chapter/13

XIII - O Que Eu Preciso

Eu não a encontrei quando voltei para dentro da festa, pensei em todos os lugares possíveis da mansão, mas não parecia haver sequer um lugar que ela poderia estar. Tentei sair perguntando para as pessoas – aquelas que ainda estavam sóbrias pelo menos – sobre o seu paradeiro e tudo que recebi foi um “não a vi”.

Depois de contar os minutos que perdi procurando-a, percebi que não tinha a mais remota chance de Diana ainda estar aqui. Ela havia partido há muito tempo.

– Onde você estava cara?

Eu conhecia aquela voz.

– O que aconteceu com você, John? – eu corri para ele.

Ele estava no alto da escada, solitário, embora ainda houvesse uns três casais se pegando loucamente nela ela. Ele parecia mal, não como alguém que estava sofrendo, mas também como alguém que parecia completamente embriagado prestes a vomitar a qualquer momento. Não pude deixar ignorar o quanto ele parecia triste e mesmo que eu estivesse caminhando numa corda bamba com Diana, eu não deixaria meu melhor amigo de lado. Por isso, sentei-me ao seu lado e ficamos em silêncio, mesmo quando tudo ao nosso redor parecia estourar em sons.

Parecia uma daquelas situações em que um filme passa sombreando a mente na mesma velocidade de um relâmpago. Eu já havia vivido essa situação bilhões de vezes antes com ele, sempre o mesmo motivo. Quantas vezes John se sentou nessa mesma escada depois de encher a cara ao se ver falhando mais uma vez com a Mary? Quantas vezes o vi e nunca fiz nada? Nada, neste sentido, era a de não saber o que fazer quando não fazia ideia do que ele podia estar sentindo. Pousei a mão sobre as costas de John e pensei. Nunca havia sentido isso antes. Talvez, uma vez, em pequenas proporções. Ou proporções que eu não conhecia, não fazia ideia. E nem estava falando do meu pai.

Quando Diana disse as palavras, era como se eu pudesse sentir um moinho de coisas pressionando todos os lados do meu coração. Não era eufemismo. Parecia um corpo frágil sendo pressionado pelas quatro paredes de um cômodo, aproximando-se, latejando, apertando, aprisionando, machucando. Era uma sensação diferente, era quase se presenciar os pulmões procurando oxigênio, os olhos uma fresta de luz que fosse, um raio de esperança. Havia alguma coisa de diferente acontecendo comigo, com Diana. Com nós. Algo forte o suficiente para me fazer questionar minhas próprias forças.

A minha situação podia ser tão próxima ou mais diferente ainda do que John poderia estar sentindo, mas parecia ruim o suficiente para me deixar péssimo. Mas, nesse momento, meu melhor amigo parecia sentir todas as dores do mundo por nós dois.

– John... – eu o chamei. Espalmei levemente suas costas para despertá-lo. – Você está bem?

Ele não me respondeu.

– Está conseguindo falar pelo menos?

Ele fez uma careta, ainda encarando o degrau inferior.

– Estou puto, cara. – era um sinônimo de bêbado também.

– Não é de se estranhar, tem dezenas de pessoas sem o que beber aqui porque você tomou de conta de boas garrafas de cerveja. – dei um meio sorriso. John quase sorriu, depois voltou-se para sua careta amarga. Houve uma pausa, havia muita gente dançando ainda e faltava muito pouco para uma hora da manhã. Não era de se estranhar que as pessoas estivessem mais loucas do que o normal. Estavam mais soltas e o alcool tomava seus corpos e suas mentes. Eu bem lembro desse efeito.

– Sabe o que eu estava pensando? – ele me perguntou de repente, mas não era para que eu desse uma resposta digna ainda. – Na Mary.

Gemi de desgosto.

– Sim, que novidade. – ele me deu uma carranca. – Desculpe. Continue, por favor!

Ele suspirou. Nem ousou a beber um pouco do liquido que tinha no seu copo descartável, porque caso fizesse, ele botaria tudo para fora.

– Você acha que ela gostou dele?

– Do boneco Ken? – dessa vez ele riu. Eu também ri. – Com toda certeza não. Vai por mim, eu acho que ela sabe sobre você... ou pelo menos ela te nota. Eu sei que ela te nota, mas é tão insegura quanto você, cara.

John não mudou a careta.

– Pensando bem, eu deveria ter ido.

– É, deveria.

– Fui um manézão, cara.

Eu tive que rir.

– Ainda bem que você sabe disso. – respondi, inclinando-me um pouco para frente. – Agora, está se sentindo melhor? Depois de desabafar?

Ele resmungou alguma coisa, depois levou um longo segundo para que eu pudesse entendê-lo.

– Sabe quando vem a ressaca no dia seguinte depois de ultrapassar os limites na noite anterior? – eu fiz que sim, mesmo sem saber a que ponto isso daria. – Ela é tão insuportável, parece que você está preparado para ver seu estômago saindo pela boca. E você só consegue pensar no quanto está mal.

– E o que isso quer dizer?

– Quer dizer que estarei tão preocupado em não vomitar meu estômago, que mal sentirei meu coração partido. E de novo. – ele deu uma risadinha sem humor.

– John... – eu o repreendi. Pelo o que? Eu nem sabia, talvez por amar a Mary. E sim, ele a amava, era louco de não amar, não podia sofrer o diabo em terra se não tivesse borboletas no estômago quando a visse.

– Era isso que eu queria dizer. Quando perguntou se eu estava bem. De qualquer forma, amanhã eu estarei bem dessa dor, mas hoje não.

Foi nesse exato momento que eu compreendi o que falavam sobre a ressaca. Mas não se engane, não é aquela causada pela bebida, o descontrole com o alcool, muito pelo contrário, é aquela de provar a companhia de alguém fora dos limites, seja ela longe ou perto, aquela ressaca de quando alguém vai embora. Nos contornos do amor platônico. E a dor, bem, ela não é nem um pouco mansinha. Senti uma vez algo parecido, quando meu pai se foi, com a mesma facilidade que alguém consegue enjoar de um jogo que jogava diariamente, da mesma forma que alguém passa a esnobar um tipo de sabor de pizza porque já comeu de mais ou de um sorvete que embrulha o estômago, tão fácil enjoar e trocar por outro. Tudo parece fácil e prático. Mas, alguma vez, na sua mais remota insanidade, já questionou se o jogo não sente sua falta? Ou se a pizza espera tristemente que você a escola entre tantos sabores? Ou o sorvete que você trocou por outro, será que ele não se sente esquecido? Com certeza, isso nunca deve ter passado pela sua cabeça. Como perguntar a algo inanimado seus sentimentos?

É a mesma pergunta que me faço em todos esses ultimos anos. Eu não sou um sorvete, um sabor de pizza ou um jogo ultrapassado. Sou uma pessoa, de carne e osso, sangue bombeando pelo corpo todo, coração pulsante, ainda vivo, ainda sensível – mesmo que as vezes – e um pouco idiota – mais do que posso respirar. Diferente dos inanimados que não ligam para nossas preferências, que não se importavam se o trocamos por um melhor ou mais novo. E mesmo que toda essa comparação e mistura de sentimentos sejam uma droga, era dessa mesma forma que eu me sentia. Alguém que ninguém queria. Sinto-me como se a minha data de validade estivesse esgotada, ultrapassado a data limite antes do tempo previsto para o uso, como se na banca houvesse chegado um produto melhor, mais novo, eu me sinto como eles, qualquer um deles.

É frustrante, um pensamento composto por emoções deprimentes beirando o abismo, é como se o mundo estivesse prestes a explodir, caindo lentamente sem ninguém perceber. Mas, na cruel realidade, ele não está e tenho que me conformar com a verdade porque o mundo nunca espera que você se reconstrua e se erga para enfrentá-lo. Ele é a máquina mais importante de uma fábrica com um só dono, nós somos os produtos em mercado e ele nunca espera que você se quebre. Mas, se um dia acontecer, ele não é responsável pela seu concerto. Ele é responsável pela sua substituição.

Somos substitutos de alguém que já se foi. É a triste realidade. E eu nunca fui muito religioso.

– Estou louco, John. – murmurei para ele. O que estava acontecendo comigo?

Minha cabeça para querer explodir ao mesmo tempo que parecia tão leve quanto uma gota de água. Era estranho.

Foi nesse meio segundo de duvida que percebi que John não disse nada nem se moveu. Ele ainda estava ao meu lado, mas não chorava, nem resmungava. Talvez a bebida tenha lhe dado uma trégua.

– John? John? – eu o cutuquei com o cotovelo. Foi mais rápido que eu pensei. Ele ergueu o pescoço muito rápido, achei que tivesse acordado-o de um devaneio ou de um cochilo, mas na verdade ele estava ganhando impulso para vomitar. Não levou mais que dois segundos para que ele despejasse para fora todos aqueles litros de cerveja. Foi nojento, mas tentei aguentar por ele.

Os casais que ali estavam fugiram todos, reclamando e fazendo caretas. Eu mostrei meu dedo do meio para eles como desculpas. Eu odiava ser educado, principalmente quando era melhor ser um pouco imbecil as vezes.

– Ah, cara, que nojo.

John resmungou alguma coisa. Eu pulei para fora da escada e tentei achar guardanapos na mesa. Tinha uma boa quantidade de camisinhas ali em cima. E algumas abertas, vazias. Isso me enojou mais ainda. Todo mundo sabe que as pessoas que ficam aqui depois da uma hora, são porque estão ocupadas estando bêbadas demais ou arranjaram uma transa fácil.

Achei vários pares de guardanapos. Era o suficiente.

Voltei correndo para a escada. John parecia ainda muito pálido, mas pelo menos havia parado de vomitar.

– Pegue isso, cara. – ele me obedeceu.

Após um longo segundo vendo-o desjeitosamente limpar os cantos da boca, eu tive uma ideia. Ele não tinha condições de voltar para casa, ao contrário da mãe dele, Ellie não me faria responder um questionário sobre o que bebemos ou ingerimos nesse festa, ela tinha certa confiança em mim, e tirando os cigarros que eu fumava e as cervejas que bebia, nunca cheguei perto de nenhuma droga ilícita.

– Consegue se levantar?

Ele me notou agora, mas me olhava zonzo, fora do foco. Ele fez que sim. Tentei não pisar no vômito, indo para as laterais e indo em sua direção. Segurei seus braços e o puxei para frente, ele tentou realmente impulsionar o corpo também até que pude envolve-lo com os braços e começarmos descer a escada. Lentamente, aos poucos, caminhamos para a saída.

– Você vai ficar na minha casa essa noite, cara, a Sra. Clewart vai ter matar se te ver nessa situação.

Ele nem se preocupou em me responder alguma coisa, estava apenas tentando se manter em pé ao meu lado. Nesse momento, minha preocupação era tentar não me encontrar com a Allison, ela certamente me faria parar afim de dizer alguma de suas coisa ou pelo menos me fazer ficar, mas como John estava ao ponto de vomitar em cima de alguém eu atenderia primeiro meu amigo.

Surpreendemente, consegui levá-lo até o meu carro sem interrupções. O coloquei no banco com um pouco de dificuldade, porque, de alguns segundos para cá, ele desandou em reclamar e não se esforçava um centímetros para me ajudar.

– Porra, ela não vê? – ele gritou, por sorte já dentro do carro. – Eu nunca vou atrás das outras garotas, somente dela. Poxa, eu não sou tão idiota assim.

Revirei os olhos. Ele certamente não se lembra da lista de garotas que ele já pegou por frustração. Contorci-me no meu banco, absorvendo todas as suas reclamações e ainda aturando o odor insuportável do alcool que me deixava um tanto zonzo. Embora, fora minha irritação com as suas reclamações, senti-me hesitante ali, sem saber o que dizer para que ele se sentisse um pouco melhor.

– Estou tão puto... – disse, esfregando os dedos no cabelo.

– É, e bêbado também. – deixei escapar, sorrindo para mim mesmo.

John não me xingou. Ele soluçou umas três vezes e depois se ajeitou no banco.

– Que sensação estranha. – disse de repente.

– Qual delas?

Ele demorou um segundo, mais embriagado que o normal, sua posição inconstante.

– A de ter a esperança esmagada depois de agir com ingenuidade achando que poderia acertar dessa vez.

Eu não soube respondê-lo.

– Nick...? – ele choramingou meu nome. – Você está aí?

– Sim, John.

Ele ficou quieto por um tempo.

– O que eu tenho que fazer?

– Sobre o quê?

Ele se contorceu no carro meio irritado.

– Sou tão idiota, estava prestes a conseguir, mais fui tão medroso... o que eu faço?

– Você mesmo admite, John. Precisa de coragem.

Depois de uma pequena pausa, caí numa gargalha quase me engasgando. Parecia até divertido, como se fosse bem humorada e não coberta com uma camada de ironia e outra de arrependimento.

– Do que está rindo?

– De mim. Falando de coragem. – despedi-me do meu riso. Agora estava tão sério quanto alguém que é arrancado de um sonho muito bom.

Como eu podia aconselhar meu melhor amigo sobre ter coragem se eu havia deixado Diana ir embora sem lhe dizer as minhas verdades? Era a primeira vez que eu tinha ficado quieto ao seu lado, sem conseguir dizer as palavras certas. Nada disso teria acontecido se eu tivesse sido um pouco menos covarde e dito que minha estava uma droga.

Porra.

Ela também tinha que fugir daquele jeito? Eu tinha implorado por sua amizade e tudo que ganhei foi sua ira. Ela estava furiosa pelo quê? Como ela havia me dito, não tínhamos tido tempo para nos afeiçoar assim, romanticamente, da mesma forma como alguém se torna o sol do sistema do outro. Afinal, não éramos amigos acima de tudo?

Amizade é diferente de amor, é o único ciclo sentimental que segura as pessoas de verdade, sábias palavras Nick, por acaso você fez algo para comprová-las? Não, não é seu idiota? Você consegue ser mais imbecil que seu pai.

Em que mundo você achou que isso fosse dar certo?

Na verdade... Quem é que entende as mulheres, afinal?

– Chegamos. – despertei. Havia chegado finalmente em casa.

John estava enterrado no banco, havia parado de falar e parecia bastante desolado, prestes a cair num sono profundo.

Saí do carro e para abrir a porta do lado em que o John estava. Ele não conseguiria sair dali sozinho. Quando abri a porta, tive que segurá-lo pelo reflexo, ele quase despencou para fora, as pálpebras meia lua, fechando-se aos poucos. Eu tinha que levá-lo logo para dentro, porque certamente eu não conseguiria levá-lo no colo sem nenhuma firmeza de suas pernas.

Não sei como consegui, mas ergui seu corpo com meus braços e o puxei para fora, colocando seu braço esquerdo sobre meu ombro e com o meu direito segurando sua cintura. Ele riu.

– Isso faz cócegas, seu merda.

Queria socá-lo até a morte, mas ignorei. Arrumei fôlego e o puxei mais para frente para fechar a porta do carro e alarmá-lo. Ele dormiria na rua essa noite, o bairro era bastante seguro. Pelo menos até essa noite. Com bastante esforço, levei-o até a entrada da minha casa, puxando as chaves para abrir a porta e encostando-o na parede para não fazê-lo cair. Nos primeiros quatro minutos, gastei entrando na casa e fechado a porta. Nos próximos, foi andando ao seu lado pelo corredor. A maioria das luzes estavam apagadas, fora a ultima que levava até o quintal. Com ela pude notar que já era duas da manhã. Ellie e David já estariam na cama há muito tempo.

O inferno mal estava perto. Faltavam as escadas. Era como se eu pudesse ver minha derrota daqui de cima. Mas consegui. Ignorando seu bafo de cerveja na minha cara e os primeiros sinais de sono e do seu ronco, eu o puxei até o andar de cima e nessa velocidade até meu quarto. A primeira coisa que pensei foi em largá-lo na minha cama, livrando-me do seu peso.

O alívio foi prazeroso.

Procurei lençol e um travesseiro no guarda-roupa para John o mais depressa possível. Quando os achei, voltei-me para ele. Estava sentira a maciez do meu já em seu rosto, sua boca entreaberta, roncando e babando, meu lençol esturricado embaixo do seu corpo. Isso só podia ser uma piada

Andei até e tentei puxar primeiramente meu travesseiro.

– Qual é, vamos lá! – mudei para meu lençol. Ele parecia mais pesado que uma foca agora. Meus olhos já ardiam de tanto mantê-los abertos, estava começando a ficar sonolento. Depois de umas três tentativas, consegui trocar seu travesseiro pelo meu. Agora ele mantinha sua boca muito bem afastada. Como não havia chances de pegar meu lençol, deixei ele se enrolar nele como uma cobra atiçada e fiquei com o que encontrei no guarda-roupa.

Agora, pensando sobre o assunto, eu me perguntei aonde eu iria dormir. Olhei o cômodo inteiro, e embora eu estivesse procurando um lugar confortável para dormir, o que me chamou atenção foi um bilhete perdido em cima da mesa do meu computador. Procurei em abri-lo.

Era da Ellie.

Caso chegue a ver este bilhete antes de me ver, quer dizer que estou dormindo. Tentei passar pela meia-noite, mas quando tocou os primeiros minutos, não consegui ser tão forte para te esperar. Não te vigiar dessa vez não significa que eu aprove suas escolhas, principalmente suas saídas noturnas. Por uma parte, quer dizer que eu confio o suficiente em você para esperar vê-lo são e salvo em casa. A outra é porque entendo suas rotas de fugas para esfriara cabeça.... Mesmo que você possa não ver isso como eu vejo, não quero que pare de falar comigo. Posso entender se quiser um tempo, e...

Vai ficar tudo bem, vamos enfrentar isso.

Ellie

Achei graça do bilhete. Não porque tudo isso fosse engraçado, mas sim porque apesar de tudo, ela ainda se esforçava para não me ver desistindo. E, dessa forma, não tinha como eu desistir da única pessoa que ficou do meu lado.

Agarrei meu travesseiro e o lençol qualquer, e me estirei no tapete ao lado da – minha – cama aonde John ainda dormia. Mesmo sentindo minhas costas arderem um pouco e principalmente pelo desconforto do tecido nas costas, tentei relaxar para não ficar mais puto do que já estava por ter cedido minha cama.

A ultima coisa que eu lembro antes de cair no sono, foi a voz embriagada de sono e alcool do John: garçom, mais uma rodada de bebida.

N

O dia amanheceu ensolarado, e embora eu amasse quando o clima estava aberto e quente, nada dublado e congelante, lembro-me de acordar por dois simples motivos: meu despertador ameaçou explodir no criado mudo ao lado da minha cama e segundo, John acordou abobalhado e assustado, pulando da cama e seus pés acertando-me as costas com força e velocidade, correndo até a pota do banheiro como se eu tivesse me camuflado no tapete.

Eu o xinguei bastante.

– Que merda... – estiquei-me no chão, tentando acordar e dissipar a dor das costas sendo amassadas. E além disso tentando controlar a raiva. Eu deveria ter sido mais egoísta, não ter sentido pena do meu melhor amigo embriagado e com dor de cotovelo.

Levantei-me com um pouco de falta de ar, cocei minhas pálpebras fechadas e massageei o topo do dorso do meu nariz, tentando amenizar a minha dor de cabeça, mal tinha bebido na noite passada e estava acordando de ressaca. Parecia sim que as coisas poderiam ficar piores do que já estavam. Enquanto John ainda estava trancado no banheiro – que porventura é meu – ouvi passos que entregava a chegada de Ellie. Quando ela apareceu na brecha da porta, empurrando-a aos poucos quando me viu sentado na beirada cama, percebi que ele queria falar sobre o bilhete. Ou ter certeza se eu estava social essa manhã.

Ela tamborilou os dedos na borda da porta e me olhou, depois para o quarto, depois para mim novamente.

– Bom dia.

Sorri.

– Você está bem? – perguntou-me, sua mesma preocupação matinal. – Parece pálido. Você bebeu, não foi?

– Não na quantidade que espera, na verdade, nem na quantidade que eu esperava. Só estou com dor de cabeça, noite mal dormida. – menti um pouco.

Ela fez que sim com a cabeça, mas não parecia melhor, ela estava apenas tentando não se aprofundar no assunto. Estava me rodeando.

– Se quer saber, eu li o bilhete. – eu sabia que era sobre isso sua curiosidade.

– Leu?

– É, e... – aproximei-me. – Está tudo bem mãe. Vou sobreviver.

– Oh, Nick. – Ellie ultrapassou a entrada e veio até mim, abraçando-me. – Eu não queria que você passasse por isso de novo.

Não respondi.

– Um dia você irá entender, meu filho. – ela massageou o meu cabelo como sempre fazia quando eu era criança, olhou-me nos olhos e me beijou a testa, procurando me alcançar. Tive que diminuir a altura para que ela o fizesse. – Nunca abandonarei você, tenha certeza disso.

Eu não precisava ouvi-la para acreditar nisso. Eu acreditava.

– Farei um café reforçado para você e para o John, OK?

– OK.

Depois disso, ela saiu do quarto e foi para o corredor, a porta já fechada.

Depois de alguns minutos pensando e recapitulando as palavras de Ellie, observei a aparição do John. Seu rosto inchado, mas ele tinha um sorriso pacificador no rosto. Acreditei que ele estava ali há um tempo.

– Ouviu?

Ele fez que sim.

– Não quis interromper.

Eu sabia.

– Ah, e desculpe cara. – ele disse, não sabia se era por ontem ou pelas minhas costas. – Por tudo.

– Está tudo bem, John. Vamos tomar café, vai ser melhor para você, sua mãe vai arrancar sua pele fora se te ver com cara de ressaca.

John fez uma careta.

– É melhor eu ligar para ela então.

Eu fiz que sim. Trocamos os lugares, ele veio para a cama e eu fui para o banheiro.

Um pouco mais de dez minutos depois, estávamos reunidos com David e Ellie no café da manhã. Meu irmão fazia um questionário gigantesco do que fizemos ontem, principalmente para John. Ele parecia a vitima favorita dele esta manhã.

– Deixe John um minuto em paz, Dave, você irá torturá-lo a manhã inteira assim.

Ele fez uma careta.

– Mas o que ele tem, então?

John se encolheu na cadeira, mastigando uma panqueca quentinha que Ellie trouxe.

– Quando você tiver dezesseis, dezessete anos, você vai entender.

– Ah, não vai não. – Ellie me olhou feio. – Ele é novo demais, e ainda será.

Dei um meio sorriso.

– Não é sobre bebidas, mãe. – eu disse, sem dissipar o sorriso. – Estou falando de sentimentos. – curiosamente, todos me olharam nesse momento. - Você entenderá isso, David. De um jeito até que se confunde. É como cair no sono, lento, gradual e sem perceber. As vezes estamos no lugar certo, na hora certa, mas, infelizmente, algumas vezes agimos de maneira totalmente errada.

Houve uma pausa silenciosa, meu foco estava num pote de manteiga enquanto todos estavam em mim. O que eu acabei de dizer?

– Só existe uma explicação para um cara dizer isso. – David disse, rindo-se.

– Estando apaixonado. – John sussurrou do meu lado, ele finalmente agora parecia sorrir, embora eu estivesse seriamente furioso.

– Mas que bobagem. – bufei, bebendo o resto do meu suco.

Ellie não disse nada, mas John e David estavam gargalhando, achando engraçado. Depois de uns dois minutos rindo, Ellie mandou que David parasse de me atormentar

John pareceu ter finalmente despertado do seu transe e começou a devorar todos os vestígios de comida ali na mesa. Por sorte, o horário gritava para que fossemos para o carro, ainda teríamos um dia exaustivo de aulas. Bem-vida segunda-feira.

Despedi-me de Ellie e David e me encontrei com John no carro. Tive que emprestá-lo uma bolsa antiga e um caderno que David mal usara. Em poucos minutos, já havíamos dobrado a ultima esquina para a escola.

Quando entramos no carro, era como se um silêncio crescente nos dominássemos, tão grande e desconfortável que as lembranças da noite passada vieram a tona e mais forte. Sentia aquela mesma frustração, talvez com John fosse mais intenso, mas era como se eu tivesse feito algo tão errado que fosse me atormentar a vida inteira.

Respirei fundo e soltei o ar calmamente, a sensação deveria ser reconfortante, mas lembrava mais como minhas costelas sendo quebradas. Era uma dor bem mais profunda. Depois de cinco segundos, nomeei de Diana.

Seu nome me veio a cabeça tão rápido quanto a visão dela no estacionamento. Preferi não pensar nela a manhã inteira, mas agora era quase impossível. Ela estava com mais duas garotas, que por agora não me interessavam muito. Habitual jeans, habitual blusa com mangas dobradas até os cotovelos. Habitual como sempre, atraente também.

Estacionei meu carro numa vaga qualquer que não gravou na minha memória e de soslaio olhei para John. Ele tinha a minha mesma visão. Foi então que percebi o por quê disso. Era Mary que acompanhava Diana no estacionamento e Allison também. Uma diferença de poucos metros que estávamos, elas estavam logo aqui, Mary a direita de Allison e Diana a esquerda, pareciam falar sobre alguma coisa em particular, mas Diana mal movia os lábios ou o corpo na direção delas. Poderia jurar que tinhas muitas coisas em mente.

Talvez ela tenha pensado em mim também, a noite toda. A manhã inteira. Ah, que idiotice a minha.

Pulei para fora do carro e peguei minhas coisas, esperando que John aumentasse a velocidade dos seus passos. Fiquei me debatendo nos dois primeiros segundos enquanto John ajeitava o cadarço do seu tênis que por ironia do destino resolveu se soltar agora.

– Por que que você... está... assim? – John ficou me encarando, procurando arranjar as palavras certas depois que ergueu-se e pegou suas coisas.

Eu apontei para a direita. Ele entendeu o recado.

– O que é que você tá planejando?

– Apenas me acompanhe, cara.

John não teve como discutir, eu o ultrapassei naquele segundo e aumentei os passos, caminhando o mais ligeiro. Eu e ele estávamos caminhando para a entrada ao mesmo tempo que Diana e Mary. Não levou mais que meio minuto para nos esbarrarmos três metros antes da entrada e Allison notar minha presença. Era isso que eu queria. Ela sempre tinha algo para falar e suas amigas sempre esperariam por ela.

Mas, era decepcionante agora olhar para Diana depois de observar as feições de Allison. Ela não parecia nada feliz em me ver, muito embora também não estivesse furiosa ou zangada, ela só estava surpresa. E uma ligeira sensação de fuga me passou pela cabeça, ela queria sair dali o mais depressa possível. Mary estava como sempre razoavelmente bem, sem nada a acrescentar e nada a retirar, ela parecia... normal. Até demais.

– Bom dia, - resolvi dizer, havíamos ficado bastante tempo em silêncio.

– Bom dia e que dia. Você nem me fez a gentileza de avisar que tinha ido embora noite passada.

Meu sorriso se fechou. Que droga de assunto, Allison.

– Desculpe.

– Tudo bem. – revirou os olhos. – Claro, sim, eu também senti falta de um “adeus” do John também. Estava tudo tão ruim assim?

– Claro que não. – John e eu falamos no mesmo momento. Fiquei até encabulado.

– Estava muito... divertida. – John explicou, rindo-se, mas era mais aquela ironia matinal de que eu me lembro bem.

– Foi uma boa festa. – e dei meu primeiro bote. Olhei para Diana e a encarei quando dizia. – Não podia ter sido melhor.

Bingo. Ela desviou os olhos. Para minha surpresa, ela trocou olhares com Mary e pareceu um daqueles sinais secretos, quando duas pessoas guardam confidências.

– Obrigada. Só espero que das próximas vezes vocês não fujam.

Dei um sorriso amarelo.

– Desculpe. Surgiu um problema extra, mas tudo bem.

Allison não pareceu entender, mas Diana sim e era isso que me bastou. Ela rapidamente me deu um olhar intenso e desviou no mesmo momento, como se não esperasse que eu dissesse isso.

– Prob...

– Sem querer ser chato, mas tá na hora da gente ir. – John falou de repente, cortando Allison. Eu o agradeci.

– Interessado em literatura, John?

– Sempre. – ele deu um meio sorriso. Ele estava me ajudando, percebeu os olhares trocados entre mim e Diana. Eu o agradeci mentalmente.

– Então vamos. Todos juntos. – Allison sorriu para mim, Diana e Mary começaram a segui-la como estavam fazendo-a antes.

– Posso falar com você um instante?

Todos olharam para mim.

– Eu? – Diana ficou surpresa.

– É rápido.

Estranhamente, ela e Mary trocaram novos olhares, mas a confirmação que ela fez, queria dizer que Mary estava dando abertura para Diana falar comigo. Mary sabia de tudo?

Allison não disse, apenas esperou que Mary se aproximasse para irem juntas. Eu não estranharia que começasse uma conversa de questionamentos, suposições sobre o que eu queria com Diana. Mas isso também não me importava.

– Arrumo um lugar pra você. – John disse, acenando para Diana logo depois.

Foi um segundo confuso, ambos olhamos meu amigo se afastar, esperando que algo acontecesse, esperando que alguém começasse a dizer, mas nada aconteceu. Estava faltando alguma coisa. Bem, eu ainda não sabia o que era, mas como a ideia tinha sido minha, decidi começar a falar.

– Eu preciso falar com você.

Ela me olhou, esperando.

– Você... – comecei, faltando-me palavras para formar. O que eu queria mesmo quando a chamei aqui? – Você está bem.

Diana fez que sim, ainda surpresa.

– Sim, estou. E você?

– Não muito bem. – confessei. – Tem acontecido algumas coisas... algumas coisas que não esperava.

– Como o quê?

Eu não respondi.

– Você devia confiar um pouco mais em mim, Nicolas.

Senti-me aliviado de como ela me chamou.

– É complicado.

Ela bufou.

– Por agora, a única coisa que eu queria saber é por que você fugiu de mim?

– O quê?

– Sobre ontem, Diana. Você... você deu no pé e nem disse tchau.

– Eu não fugi. – ela se defendeu.

– Não, com toda certeza não, você só me deixou sozinho e foi embora. – zanguei-me. – Eu ainda te procurei por toda parte, eu... realmente te procurei.

– Eu, eu não quero falar sobre isso, eu... temos aula de biologia hoje e esqueci de fazer uma atividade extra que ele passou para o final de sempre. Realmente, preciso ir.

Ela mente muito mal.

– Então você vai fugir de novo?

– Não estou fugindo, eu realmente preciso ir. – e foi, da mesma maneira que fugiu na noite passada. Rápido e fácil.

Era claro que ela não tinha nenhuma atividade extra para fazer agora. Estava sempre submetida a fazer planos, tudo planejado, nunca deixaria nada para ultima hora, era do seu estilo ser organizada e exemplar. Isso me enfureceu até alma.

Fiquei puto, arranquei em velocidade para dentro da escola e esperava que uma bola de fogo caísse aqui e queimasse tudo. Ou alguém resolvesse nos dar a liberdade de ir para casa e fazer o que quisesse até o outro dia.

Na primeira porta a direita, entrei para a aula de Literatura. John estava na habitual cadeira, ao lado da minha. Estava com a mesma feição de não se importar com nada nem ninguém, mas agora só parecia um pouco mais curioso. Queria saber sobre a minha conversa com Diana. Uma hora, talvez, eu contaria, mas agora eu estava tão fulo da vida que não conseguiria dizer nada. Nada, pelo menos, gentil.

Sentei-me na cadeira ao lado da sua como fazia todos os dias, naufraguei ali e esperei que o sinal viesse para me salvar.

Quando a Sra. McFoster entrou na sala, o tempo parecia dançar na minha frente. Minha cabeça estava em Marte, mas meu corpo inerte ainda permanecia numa cadeira desconfortável dentro de uma sala assistindo aula de Literatura nos minutos mais insuportáveis feito pelo o homem.

O sinal tocou. Foi uma surpresa para mim. John acertou a minha cabeça com o caderno do meu irmão que lhe emprestei e achei que ele tinha dito “acorda”. Levantei-me preguiçosamente, uma boa parte da turma já tinha dado no pé e eu ainda estava enrolada com as minhas coisas. Ajeitei o boné na cabeça na posição que queria dizer “não enche” e me preparei para ir embora. A Sra. McFoster tropeçou no pé da cadeira e caiu a minha frente, derrubando papéis para todos os lados e o rosto de cara no chão. Senti-me envergonhado por ela, que coisa estranha. Ajoelhei-me para ajudá-la, procurando o máximo para levantá-la e pegar seus papéis. Em alguns segundos, estávamos ambos de pé.

– Obrigada, Nick. – ela agradeceu, suas bochechas redondas bem vermelhas. Olhou-me através daqueles óculos redondos, olhos bem azuis, sardas pelo rosto e o cabelo cacheado da cor de avelâ. Não teria menos que trinta e seis anos.

– Era o mínimo que eu poderia fazer. A senhora está bem?

– Sim, estou, muito obrigada mesmo.

Eu a ajudei com o restante dos papeis, realinhando-os na mesa, até que percebi um anuncio de emprego.

– Ah, é o café que vai abrir? – perguntei de repente.

– É, você conhece?

– Sim, passei algumas vezes por lá, mas nunca entrei.

Eu a olhei, entregando seus papéis. A Sra. McFoster me olhou estranho.

– Até depois, professora.

Antes que eu chegasse a porta, ela me parou:

– Já que você está aqui e... – Eu me virei. - Nick, eu posso te perguntar uma coisa?

– Claro, pode fazer.

N

Depois de alguns minutos a mais na sala de literatura e mais duas aulas cansativas de matemática, John e eu estávamos nos preparando no vestuário para um novo treino. Nosso jogo contra os Kings Allen estava próximo e o treinador não se demorou em nos fazer suar atrás de uma vitória sem opções. Era ganhar ou ganhar. Tivemos que interromper o horário livre para adiantar os treinos, se quiséssemos ir para as regionais, tínhamos que pegar pesado. Era sobre isso que eu e John começamos a falar depois de colocarmos nosso uniformes e irmos em direção ao campo.

Dez minutos depois de corrermos em volta do campo para aquecer além dos alongamentos, Phill nos dividiu em pares na toca de bola no meio do campo. Nada diferente, John e eu éramos inseparáveis até na escolha do técnico. Seth e Lucas estavam ao nosso lado direito, Gabriel e Ian ao lado esquerdo, como sempre, nosso melhor jogador nunca a bria a boca para dizer alguma coisa quando Lucas estava em cena. Era uma situação embaraçosa. Mas naquele momento, o campo ficou miúdo em relação a aparição de Diana e Mary. No intervalo não era de se estranhar que as pessoas saíssem da escola e fossem caminhar pelo lado de fora da escola. Era tão normal, mas eu não conseguia tirar meus olhos dela.

Que idiota. Você a viu dezenas de vezes hoje e não parava de sentir a mesma coisa, Nick. Seu idiota. Nada mudou, mesma roupa, mesmo cabelo colocado de lado, mesmas expressões... Não, espere.

Ela me avistou. Foi engraçado. E muito rápido. Ela estava mais linda do que o normal, as feições mais leves, os olhos semicerrados, um sorriso cortês do lado. E... foi muito rápido.

John gritou para mim e a próxima coisa que vi antes de perder o foco foi uma bola redonda e dura acertar a minha cara há uns seis metros de onde eu estava. Caí de costas no chão, sentindo minha visão falhar por um curto espaço de tempo.

Naquele segundo, John e os outros jogadores me cercaram em volta para logo depois serem afastados pelo meu treinador.

– Nick? – está me ouvindo. Ele apitou de repente. Tive que proteger meus ouvidos nesse momento. – De quem foi a brincadeira imbecil?

Houve uma pausa reconfortante.

– Cinquenta flexões, Beeats, da próxima vez eu te deixo no banco.

– O Edgar errou a bola, treinador. Desculpa, Nick.

Eu não estava nem aí para quem tinha acertado a bola em mim, eu só queria me levantar. Mas para o treinador foi bastante diferente. Não sei se Diana percebeu, mas a próxima coisa de que me lembro, depois do treinador discutir com o Ethan, foi de ser levado até a enfermaria pelo Phill quando demorei para raciocinar quantos dedos erguidos ele tinha na mão.

A Sra. Patel era uma mulher de cabelos brancos, estatura pequena e trabalhava como enfermeira na escola, embora ela já tenha feito parte do grupo de médicos do hospital principal. De alguma forma ou ironia do destino, ela decidiu se aposentar e cuidar dos casos ridiculos de adolescentes, por exemplo, que levam boladas no rosto.

Acredito eu que a Sra. Patel não gostou nada de chegar a idade avançada e assim se aposentar, deve ser por isso que ela aceitou o convite de nos supervisionar aqui na escola.

distração? – a Sra. Patel perguntou para mim com aquele olhar de que sabe que estou mentindo.

Ela me perguntou como aconteceu o acidente e eu menti claro. Cocei em volta do machucado como se pensando em algo melhor para falar.

– É. – disse eu sem mais nenhuma mentira em mente.

Acho que a batida dificultou só um pouco meu raciocínio rápido.

Ela balançou a cabeça e colocou o band-aid com cuidado em cima da minha sobrancelha fraturada. Oh, que exagero, foi só uma bolada e ela achava que estava fazendo uma vista no meu cérebro como se eu tivesse tido um traumatismo craniano do que apenas um corte pequeno e superficial acima da sobrancelha por causa da bola.

– Aí!

– É só não mexer a cabeça.

Bufei. Sra. Patel era uma mulher dificil.

– Pronto, agora pode ter alta. – eu sorri, ela estava mesmo achando que isso era uma emergência de hospital.

– Finalmente.

Um segundo mais tarde, quando eu estava me levantando para ir embora, alguém bateu a porta. A primeira coisa que me veio a mente foram os caras do time, certamente vindo até aqui para zoar do meu “ferimento”.

– Está esperando alguém?

– Deve ser os caras do time. – resmunguei.

Sra. Patel revirou os olhos para mim.

– Típico jogador popular...

Eu achei graça nisso.

– Olhem aqui, se vieram fazer badern... – ela se pausou, a porta ainda entreaberta. – Ah, sim, ele está aqui. – sua voz diminuiu consideravelmente e me virei para descobrir o responsável por deixá-loa tão mansinha.

– Diana?

Isso sim era surpresa. Ela entrou desconfortavelmente na pequena sala da enfermaria, os ombros encolhidos como se estivesse aqui segurando uma bandeira branca de paz. A Sra. Patel me olhou pelo ombro adivinhando o motivo por toda essa distração no campo, erguendo as sobrancelhas e fazendo cara feia. Depois, saiu de fininho, achando graça.

Ela disse algo como: vou assinar seu boletim na diretoria, volto em um instante.

Mas quem prestou atenção? Eu mesmo não, sabe aqueles momentos que te pegam de surpresa e mal consegue elaborar um dúzia de palavras coerentes para falar?

Nós ficamos num silencio terrível, estava quase virando rotina se sentir desconfortável desse jeito, mas, era até engraçado, eu me sentia bem por ela estar aqui, algo dentro de mim borbulhava de tanta excitação. Vindo de um lado menos impróprio, claro, do coração. Da cabeça. A de cima. Bem, eu ainda estava um pouco perdido. Eu estava, na verdade, sentindo aquela coisa... como se chama... Ah, esperança!

Merda, a bolada tinha sido mais forte do que pensei.

– Hm, você está bem?

Eu me encostei na cama e me sentei.

– Foi só um corte. – apontei para minha sobrancelha direita.

Diana examinou.

– Mas parecia ser grave.

Que droga, até ela pensou que fosse. Existem coisas mais serias que acontecem dentro de um campo, como perna fraturada, braço quebrado e tudo que aconteceu comigo foi somente uma bolada. Sentia-me um marica agora.

– Não foi nada demais, é que a Sra. Patel transformou isso em um caso de urgência. Mas estou firme e forte.

Ela sorriu. Senti-me iluminado.

– E você, o que veio fazer aqui? –

– Allison pediu que eu viesse pegar umas, hum, coisas de garota para ela. – e tanto quanto ela ficou constrangida, eu fiquei. – Então resolvi passar aqui e ver como você estava.

Eu assenti e depois disso não sabia o que dizer. Talvez eu começasse com: me desculpe por ontem. E depois eu poderia terminar com algo que a fizesse rir e lembrar que acima de tudo, nós somos amigos.

– Sobre ontem...

– Não quero falar sobre ontem. – ela me interrompeu.

Eu fiquei irritado.

– Mas precisamos, você não me deixa terminar nunca.

Sua feição agora estava transbordando irritação. Ótimo, além de mim, alguém também estava cuspindo fogo.

– Sim, eu deixei, e você falou tudo, Nicolas. Nós somos apenas amigos e OK? – ela estava magoada... porque ela estava magoada? – Eu já entendi se quer saber.

Cheguei a conclusão que eu deveria desistir. Ela não merecia as minhas tentativas, mesmo falhas, de tentar consertar as coisas. Foi nesse exato momento que tomei uma decisão. Levantei-me da cama e deixe-me olhá-la por uma ultima vez no dia.

– Você está certa. Eu disse tudo que deveria dizer, o suficiente. Mas você não foi capaz de entender. – ela não disse nada. – Eu disse que precisava de alguém que pudesse ser meu amigo. E nesse momento, você foi tudo, menos uma amiga.

Então lhe dei as costas e fui embora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Counting Stars" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.