Counting Stars escrita por Petrova


Capítulo 11
Eu Não Me Importo


Notas iniciais do capítulo

Me desculpemmmmmmmm, eu estou em semana de prova, minhas aulas começaram e eu estou definitivamente sem tempo para nada, estou escrevendo uma fic por semana, e hoje consegui escrever cs com muuuuuuito esforço, espero que me perdoem, vou tentar atualizar o mais breve possível, eu não abandonei a fic, gente, fiquem calmas! Eu responderei os reviews amanhã, estou com bastante sono e preciso dormir, ignorem os erros porque acabei de escrever e não reli ainda!
Espero que gostem!



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XI - Eu Não Me Importo

Ouvi batidas exageradas na porta do meu quarto, mas acreditei que não passasse apenas de um sonho desprezível em que você supõe que está acontecendo, mas não passa de apenas ilusões de sua cabeça. Eu tentei voltar a dormir. Mas só tentei mesmo. Ouvi passos depois de ouvir a porta abrir, acreditei que minhas ilusões estivessem mais fortes ou talvez eu tenha sonhos realmente muito reais. Espreguicei-me e tentei me mover na cama até que uma forte luz inundou o meu quarto e minha visão turva.

– Que diabos é isso? – gritei ao arrastar meu rosto para debaixo do travesseiro.

– O sol. Agora vamos, acorde. É domingo! – ouvi Ellie dizer e pelo seu tom de voz, ela não estava tentando ser doce, estava sendo rígida.

Da noite passada, depois que briguei com Ellie, eu lembro vagamente dela ter tentado falar comigo depois, não posso afirmar se era verdade.

– Dê um tempo, mãe! – eu murmurei enterrendo-me meu rosto no travesseiro.

– Nick, levante, vamos! – eu senti suas mãos empurrarem as minhas costas.

Céus, era domingo e ela ainda queria me acordar?

Quando Ellie tentou mais três vezes me arrastar para fora da cama e ambas as tentativas falhas, ela desistiu finalmente, embora ainda deixasse a janela aberta fazendo os ridiculos raios de sol se infiltrarem no meu quarto e atingirem meu corpo e meu rosto com muita intensidade. Esse calor chega a ser estupidamente irritante.

Bufei.

Eu tinha duas opções, certamente se eu continuasse na cama uma hora Ellie iria voltar e me estapear até me fazer sair, e a segunda opção era me levantar por livre e espontanea pressão. E eu sabia também que havia muita pouca chance de eu retornar ao meu sono.

Empurrando com muita raiva os lençois e arrumando coragem eu decidi sair da cama. Parecia que eu tinha estado numa maratona porque todo o resto do meu corpo estava em caos, sentia meus membros pesados, a minha cabeça latejante, fora de sintonia. Se existia uma probabilidade de eu estar aqui, era de mesma proporção de minha mente estar viajando para outro lugar bem distante. Espregicei-me e me arrastei cambaleando até a porta do banheiro antes que pensasse mais um pouco e decidisse ficar na cama até o mundo acabar. Eu não lembro de ter ido para cama e me aprontado para dormir, ou mesmo se eu tinha feito algo além disso. Eu só lembro que eu estava com muita raiva e prometi a mim mesmo que eu não seria alguém como meu pai. Depois de deixar Ellie era para trás e subir até meu quarto sentindo que ia quebrar tudo ao meu redor, eu ainda me recordo de me fazer prometer que não iria mais me importar com as pessoas. Agora parecia fácil pensar sobre isso.

Decidi tomar um banho. Arranquei minha toalha e entrei para tomar uma ducha. A agua era fria e me acalmava devido aos quarenta graus que repercurtia lá fora. Envolvi minha cintura com a toalha e andei até a pia do banheiro para escovar os dentes e fazer a barba. Com o peito da mão limpei o espelho embaçado e peguei minha escova de dentes. Não demorou muito para que eu ouvisse outra insistência de Ellie, ela bateu incansavelmente sete vezes na minha porta enquanto eu tentava forçadamente me lembrar de alguma musica barulhenta do The Maine que me fizesse esquecer de Ellie e sua tentativa de vir falar comigo. Eu não queria conversar, queria que as pessoas se ferrassem, estava óbvio isso?

No entanto, não adiantou em nada. Ainda consegui ouvir as batidas na porta de Ellie e me zanguei por causa disso. Lavei a boca e cuspi a agua. Arrastei-me para fora do banheiro e xinguei alto um palavrão que Ellie me amaldiçoaria e abri a porta. Mas, para minha surpresa, não era a minha mãe. Era o John.

– Ah, merda.

– É bom vê-lo também, Byron. – John sorriu. Por que ele estava sorrindo? – Boa tarde caro amigo. – ele me saudou depois de passar pela porta e entrar, indo se sentar na minha cadeira que roda. – Você por acaso sabe que horas são, Byron?

Eu dei de ombros e bufei. Andei em direção ao banheiro e peguei meu creme de barbear, ignorando a chegada do John neste horario tão duvidoso.

– Vou te ajudar com essa dificil pergunta. São apenas duas e dez da tarde. Você faltou ao café da manhã e ao almoço. – ele também deu de ombros, mas diferente de mim, ele não estava dando a mínima, ele estava mais para sarcastico.

Eu continuei em silencio.

– Ellie me ligou. – ele comecou a falar. – Ela estava muito preocupada, achou que você estava morto ou coisa do tipo. – eu não o respondi. – Você por acaso está usando drogas? Está chapado, Nick? – desa vez ele gritou.

Eu revirei os olhos e lavei o rosto. Ele parecia estar agindo como fosse meu pai. Eu ouvi a cadeira sendo arrastada e John se movendo até mim.

– Qual é, Nick? – ele resmungou da porta do banheiro. – Você anda fumando de novo? Você anda saindo com aqueles caras da pesada? Porra, Nick, quem dorme tanto tempo assim e acorda vivo? Por acASO VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO

Eu fechei com força a porta do espelho e me virei para ele. Ele não parecia estar agindo, ele estava agindo como fosse meu pai.

– Me deixe em paz, John. – eu gritei. – Eu sei que meu pai é um idiota, mas não preciso de alguém para substitui-lo, ficou entendido, John?

Ele revirou os olhos, mas não disse nada. Eu me movi para o quarto e fui até o meu guarda-roupa para me vesti. Passei a cueca boz por baixo da toalha e vesti uma calça moletom e nada de camisa, o dia estava ridicularmente quente demais para usar mais de uma peça de roupa. Quando pendurei a toalha, John estava me olhando acusatório, os olhos apertados, pensamentos conturbados passando pela sua cabeça. Eu já queria evitar a minha mãe, eu não ia aguentar ter que ouvir as perguntas e os sermões de John. Eu não estava com o meu melhor humor para isso. Depois de pegar um vislumbre do meu reflexo no espelho, percebi que ganhei olheiras e eu meu corpo parecia tenso, meus musculos pareciam fatigados. Eu parecia cansado. John deve ter percebido isso, porque ele me olhou como se eu estivesse doente ou mesmo que eu tinha algo muito terrível estampado no rosto. Ora, eram olheiras, o que há demais nisso?

– Não acredito, Nick, que você ficou chapado ontem a noite e apareceu bebado para sua mãe.

– Eu não estava chapado, John. – resmunguei. – Eu não cheguei em casa bebado e não fumei, faz alguns dias que não fumo até. Satisfeito?

John me olhou como um detetive. Quase ri, mas eu estava tão amargo que se por acaso eu desse uma risada, ela parecia mais um doloroso som de alguém doente. Depois de me sentar na cama, eu olhei de má vontade para o John.

– O que você veio fazer aqui mesmo?

– Sua mãe, eu já disse. - ele deu de ombros e depois se sentou na cadeira, onde estava a alguns minutos atrás.

– Sim, Ellie te ligou, - revirei os olhos. – comos e você se importasse.

– Claro que me importo, Nick, nós somos amigos desde o jardim de infancia. Eu sou seu melhor amigo, se você não se lembra. – ele murmurou, parecia magoado. – Eu te conheco como se fosse eu mesmo, sei que tem algo de errado com você, algo aconteceu e não quer me contar.

Eu me caleo.

– O que foi? É o carro? Eu cheguei ontem e você não tinha voltado, tinha sumido. É por causa disso? Eu peço desculpas, Nick, mas você é meu melhor amigo, eu não posso ficar sem falar com meu melhor amigo.

Eu tentei dizer alguma coisa, mas não consegui. Minha voz falhou e eu não o olhei. Acho que foi porque eu não consegui. O que eu diria? Que minha vida é uma droga e meu pai não faz mais parte dela? O que eu diria ao meu melhor amigo?

Eu não tinha ninguém de certo modo, quem eu confiaria se não fosse no meu melhor amigo?

– Não foi o carro.

– Então o que foi? – ele parecia ansioso e preocupado.

Suspirei profundamente.

– Charles ligou. - eu disse.

John não se mexeu, mas quando eu o observei, sua expressão carregava espanto.

– O quê? – ele arregalou os olhos. – Quer dizer, e aí?

Eu engasguei o meu proprio silencio. Percebi que precisava dizer isso a alguém, precisava tirar isso do meu peito, como uma terapia. E de repente eu já tinha contado tudo. Contei que ele estava noivo, que ia se casar, contei que ele podia estar até contruindo uma nova família, que talvez quisesse falar comigo sobre eu comparecer ao seu casamento, contei tudo. Parecia aliviar minha tensão, a dor de cabeça. Até a raiva diminuiu, parecia que John podia me entender, que eu podia contar com meu melhor amigo, até parecia que tinha jeito.

Talvez não houvesse uma solução, mas eu me sentia melhor. John ficou calado nos próximos segundos, sua feição nada fácil de se compreender até que ele me encarou com aqueles enormes olhos castanhos.

– Isso é, bem, isso é... – ele não disse nada, tentou, mas não conseguiu.

Eu dei ombros.

– Eu sei. – no fundo eu sabia o que ele queria dizer. E no fundo o agradeci por isso, não precisava me dizer algo construtivo, só em me ouvir com atenção e interesse já era o bastante.

John respirou fundo e perguntou:

– O que você vai fazer?

Eu pensei, um pouco confuso.

– Como o quê? – estreitei o olhar para ele antes de me afundar na minha cama.

Ela estava quente porque Ellie abriu a janela e tinha um dia estupidamente aberto e quente lá fora, já era doloroso demais sua vida estar uma droga e por assim o dia estar uma beleza para que as pessoas possam ter um motivo a mais para saírem de casa e mostrar para o mundo – o mundo que eu digo são os vizinhos – de que a vida está ótima.

Eu sinto tanta inveja dessas pessoas, as que só se preocupam com o que vão vestir ou sobre uma nota baixa de um teste qualquer.

– Bem, não sei Nick, quero dizer, o que você vai fazer em relação ao seu pai? Quer dizer, você vai... para o... você sabe. – ele estava tão confuso quanto sua feição podia expressar.

Se John estava assim, eu estava cinquenta vezes mais. Mas eu sabia do que ele estava falando, ele estava dizendo sobre o casamento.

– Eu não vou, claro que não. – disse bem alto. – Seria como mentir para mim mesmo, ser quem eu não sou. Ser quem eu não sou agora, pelo menos. – e desviei minha atenção, imaginando que rumo meu futuro poderia seguir.

Eu não sabia. E por fim, essa era a minha única certeza: não ter certeza sobre nada. Eu estava perdido, na verdade, eu estava sem prosperidade, a noticia do casamento do meu pai me tirou do meu proprio mundo, dos meus planos. Eu estava perdido.

E John me entendia, embora Ellie não estivesse na mesma categoria. Pelo menos era um avanço, eu poderia xingar meu pai de inumeros palavrões para John e ele não me faria ouvir sermões sobre como devemos amar incondionalmente nossos pais, mesmo aqueles que te abandonam e se casam anos depois de sumirem. John e eu tinhamos quase que uma singularidade. Perdemos alguém a quem confiávamos muito. Nossos pais. Ambos temos dores particulares. A minha dor, infelizmente, não parecia ter um final, arde todo dia. Eu não sabia se Charles me amava, se ele se considerava meu pai ou se ele já pensou em se desculpar e voltar para casa, a dor da dúvida é muito mais cruel.

John não tocou no assunto então não seria eu quem despertaria essa triste história novamente.

Era muita inconveniência Charles estar a dezenas de quilometros de distância de mim e eu aqui, falando dele como se algum dia ele se importou com o estado do seu filho. Ou de sua família. De sua outra e antiga família.

E acabei pensando sobre o que ele estaria fazendo agora, se sabia sobre a discussão que tive com Ellie sobre ele, se ele estava aflito sobre minha resposta em relação ao casamento, se ele estava pensando em mim. Suspirei. No fim das contas, eu não queria saber, não ia me importar onde ele estava e com quem estava, esse não era. Não o novo eu.

Porque no fim, isso não me importava, eu repito, eu não quero ser mais o velho Nick Byron, eu estava prestes a sair da escola para me formar e eu obviamente não precisaria ficar aqui, nessa cidade, podia ir para qualquer lugar, juntar dinheiro, comprar um carro ou alugar um bem velho, um qualquer que tivesse um tanque cheio e disponibilidade de viagem. Eu iria finalmente me mandar daqui, conhecer o mundo, o mais longe possível dessa América.Visitar a Europa, conhecer o cartão postal de cada cidade famosa, trabalhar meio periodo numa lanchonete temporariamente, conhecer novas pessoas ou até mesm aprender idiomas novos, talvez tentar ser outra pessoa em outra lingua. Podia aprender o espanhol e fingir não ser daqui, de Mountown, da Pensilvania. De não ser um Byron. Qualquer que fosse meu destino, eu não iria estar aqui para sempre, e eu não me preocuparia com as consequencias porque me importar, essa palavra significante, eu não irei nunca mais conhecer o significado. E sobre o futuro, bem, eu pensaria mais tarde.

– Então, - John me despertou. – você jura para mim que se eu te fizer uma pergunta você não virá com uma resposta maldosa devida a um novo traço de personalidade sua chamada “arrogância”?

Eu fitei tediosamente John, ele estava jogando no computador a alguns minutos, estava naufrago na minha cadeira e me olhava suplicante. Eu estava acertando bolas de papel no lixeiro enquanto isso.

– Manda.

John não ficou surpreso.

– Sei que você está deprimido, com essa coisa de estar pra baixo, sabe, meio triste, digamos que até irritado, do tipo que levou uma surra feia e ainda está sentindo as dores de uma ressaca conjunta...

– Que tal pular para a parte que você não me descreve, John? – eu o interrompi e acabei errando a mira fazendo a bola acertar centimetros antes do lixeiro.

Fiquei furioso e acertei uma bola em John. Ele gemeu, tinha acertado o topo de sua testa.

– Sorte sua isso ser de papel. – ele apontou o dedo indicador para mim.

– Sorte sua isso ser de papel.

Ele me ignorou e eu dei uma risada baixinha. Eu não estava cem por cento bem humorado.

– Continue, John, não tenho o tempo todo. – eu disse e ele concordou com a cabeça.

– Você sabe, hoje é a festa na casa de Allison, aquela que Lucas nos disse. – ele foi cuidadoso. – E, Nick, a Mary vai estar lá e, eu te contei? Bem, eu a vi no clube, ela me viu jogar e até sorriu para mim quando consegui fazer um gol, nós chegamos até dizer algumas palavras e ela perguntou se eu ia para a festa, eu disse que ia, mas não posso ir de bicicleta ou de taxi, não acha?

Eu processei atentamente suas palavras, muito tempo aliás, John estava ao ponto de se ajoelhar e me implorar se fosse preciso. Eu poderia lhe torturar só pela lembrança dele e Ellie me acordando como se fosse um belo dia para mim.

– Olha...

– Você nem precisa ir, se não quiser, só me impresta o carro, porque eu não posso pedir para a minha mãe. Você já me viu pedindo o carro da minha mãe para ir numa festa? Seria uma catastofre. Por isso pensei em você. Eu acho que seria muito melhor se nós dois fossemos juntos.

– Eu ia dizer...

– Espere, espere, Nick, você não está pensando direito. – ele me interrompeu. – Eu nem terminei. Nós somos amigos desde sempre, eu tento fazer todas as suas...

– Cala a porra da sua boca e me deixar falar, cara.

John ficou quieto, um pouco assustado até.

– Como eu ia dizendo. Eu vou, John.

– O, o que? – ele gaguejou, sua boca estava levemente aberta num sinal de demencia, ele estava num estado de não crença. – Vo-você disse sim?

Eu balancei a cabeça. John pulou da cadeira e se jogou na cama, caindo em cima de mim e me abraçando. Eu o empurrei tão rápido quanto ele se aproximou. Estava quente, eu estava suado e ele ainda vinha me abraçar?

– Vá com calma, John. – eu resmunguei.

John balançou a cabeça e se recompôs.

– Okay, okay.

Eu suspirei.

– Agora escute as ordens. Eu vou passar na sua casa as dez horas, entendeu? Se aquela festa estiver um porre, eu me mando com o carro, você vem se quiser, entendeu? – eu me levantei da cama.

– Sim senhor, quer dizer, claro, então... – ele sorriu. E depois me abraçou ligeiramente. – Eu te daria um beijo na testa agora, Nick, mas não vou abusar.

– Dê um fora daqui, cara.

– Eu vou te agradecer pelo resto da vida.

– Sua mãe deve estar louca atrás de você. – apontei para a porta.

– Tudo bem, tudo bem. Até mais tarde.

Eu levei John até a saída por questões educacionais, claro, até que Ellie implorou para que John ficasse e até ligou para a mãe dele, fazendo com que ele ficasse até a hora do almoço. Talvez ela esteja surpresa por John ter conseguido me tirar do quarto e com o humor até razoável.

Nós ficamos conversando sobre coisas vagas, foi um pouco estranho, estávamos tentando não falar sobre a noite de ontem. O idiota do John ainda contou para Ellie que iriamos a uma festa hoje, ele mentiu sobre ser muito reservado e só estaria a galera da nossa sala com a supervisão dos pais da anfitriã. E para piorar, Ellie ainda acreditou, sério, acreditou mesmo. Depois disso, ela engatou uma conversa animadora sobre a escola e o time de futrbol, queria saber tudo sobre nossos jogos e as datas de nossas partidas. Nem parecia a minha mãe de tão tagarela. Ela estava realmente se esforçando para apagar as sombras da nossa conversa ontem a noite. Ela não tinha com o que se preocupar, longe de mim sentir raiva dela, Ellie foi a única pessoa que lutou por mim e não desistiu de me tornar uma pessoa melhor, mesmo não se saindo tão bem assim... é só olhar para mim.

Mas, mesmo assim, não tinha como culpar Ellie pelos problemas que começaram a aparecer depois da separação.

Quando John foi embora, eu vi a esperança de Ellie quase que sair pela porta, literalmente. Acredito que ela estava pensando que eu iria me revoltar, quebrar seus pratos e a decoração da sala, me trancar no quarto e sabe-se lá o que ela esperava eu fazer lá dentro. Talvez usar drogas, ficar chapado, beber, essas coisas que ela costuma assistir nas suas séries americanas. Mas para sua e minha surpresa, eu não fiz nada, literalmente nada. Eu fiquei a maior parte do tempo assistindo umas séries que John me trouxe a uns dois meses atrás que deixei jogado por algum comodo da casa e magicamente encontrei. Além disso, David esteve comigo, estava me tirando do sério com tantas perguntas, mas eu até gostei de tê-lo aqui, embora Ellie tenha mandado-o sair depois de notar que minhas séries eram um pouco... inapropriadas. Ela o mandou estudar, jogar, ficar no computador, qualquer coisa que o mantivesse longe dos meus seriados inapropriados.

E para falar a verdade, o seriado não passava de assassinato e muito sangue, nada que o David já não tenha visto no seu video-game, mas Ellie tinha outros objetivos. Ela tomou seu lugar no sofá e começou a ler uma revista aleatorio enquanto me bisbilhotava a cada segundo, notando meu comportamento. Ela estava esperando me ver explodir? Eu nunca teria essa resposta.

E para minha liberdade, eu tinha recebido uma chamada tardia do tio Jack me chamando na oficina. Era tudo que eu esperava para me ver livre das observações de Ellie. Depois da ligação, eu só me lembro de me virar para Ellie e dizer:

– Tô saindo. – e saí.

Ela nem questioniou, talvez tenha prestado atenção no meu telefone ou as mulheres tinham a audição três vezes mais aguçada que os homens, bem, eu não sei, só percebi que ela não pareceu estar a beira de um ataque de pânico por eu sair assim sem mais nem menos logo em um momento que ela parecia querer conversar.

Quando liguei o carro e observei a varanda, eu me lembrei que isso não era apenas uma rota de fuga para o que quer que Ellie pensou em conversar comigo, mas, também, para ela. Se o assunto fosse sobre Charles, como eu suspeitava, Ellie não ia querer defênde-lo o tempo todo, ela estava tão magoada com ele quanto eu e fazer esse tipo de serviço era a mesma coisa de ir contra a sua vontade. Ellie não tinha superado, mas arranjou uma forma de agir e superar provisioramente este assunto, uma forma que era evoluida demais para mim.

Liguei o motor e acelerei para fora da garagem. O por do sol estava na mesma direção que peguei para a oficina, isso fazia meu rosto e meus olhos arderem. Arranquei meus oculos da bolsa e os coloquei Fazia quanto tempo que eu não pegava o carro e saia para relaxar? Assim, sem rumo?

A ultima vez havia sido a alguns meses atrás, eu estava tão cheio da minha vida e de mim mesmo que resolvi sumir, como eu não podia sumir de mim mesmo, eu resolvi sumir dos problemas da minha vida, temporariamente, só para ganhar fôlego, renovar as energias e não mandar nenhum deles para aquele lugar lá. Eu não fui muito longe, peguei o carro e andei sem rumo, passei alguns dias em um hotel e voltei quando Ellie ameaçou chamar a polícia. De qualquer forma só a sensação de liberdade provisória me fez sentir falta neste momento, porque esse momento é uma daquelas situações que é saudável dar um tempo e não acabar magoando alguém sem perceber, sem querer. Se minha vida estava tão precária de amigos, como ficaria se eu arranjasse briga com os unicos que eu tinha? Seria quase que insuportável.

Quando saí do centro da cidade e passei pelo hotel restaurante que eu pegara junto com Diana, lembrei-me de nós. Nós no ultimo andar do prédio contemplando as estrelas, parecia que naquele momento tudo ia dar certo. Eu até fiquei feliz, juro mesmo, pude sorrir como quem sorri com os olhos. Sorrir com pureza. Eu até achei que todo aquele sentimento intenso poderia dar certo, bem, eu nunca estive tão perto emocionalmente e fisicamente de uma pessoa como eu estive com Diana, eu estive feliz, realmente, como não ficava a muito tempo. Parecia durar, parecia valer a pena.

Mas eu não sei mais.

Quero dizer, o que eu sabia sobre o amor? Nada. Ele parecia tão inconstante, tão impuro na maioria das vezes. E muito fácil de se confundir com atração. Era isso que eu sentia por Diana? Atração? Eu não queria magoá-la com meus sentimentos confusos, era mais como uma máquina defeituosa. Não sei se o encantamento sumiu, como quando troca a noite pelo dia. Eu não saberia dizer o que houve com ela, não agora, não depois de tudo, porque eu realmente não sabia o que estava acontecendo comigo. Parece com aquelas situações em que você toma remédio de realidade. Acorda para a vida e vê que tudo não passou de um sonho bem real, bem idealizado, só que sonhos na maioria das vezes acabam quando acordamos, dificilmente você consegue revive-los na noite seguinte, você certamente se deita para dormir e sonha com uma história diferente, um capitulo com novos personagens, uma hora acorda do pesadelo e no outro dorme com um sonho encantado. O amor é como sonhos. Ele é inconstante.

E eu não queria magoar os sentimentos de Diana, eu me importava demais com ela para que ela descobrisse que havia depositado suas esperanças em alguém que não sabe amar, alguém não sabe diferenciar tesão e amor. Eu sentia algo por ela, sentia algo que fazia meu corpo esquentar, algo que só ela defintivamente tem. Mas esse era o problema, o que eu sentia poderá não ser puro, Diana merece mais. Não eu. Uma pessoa que não tem certeza de nada, uma pessoa que lhe traria inconstantes duvidas, decepções, um pacote mal embalado e conteudo quebrado. Eu só sei que alguém como Diana não deve ser magoada, alguém tão boa e pura como ela não deve ser feito de tristezas. Ela merece melhor, o melhor para ser exato. E tenho que admitir que neste momento eu estou muito longe de ser o melhor para ela.

Tio Jack estava do lado de uma geringonça bem velha com a pintura vermelha desbotada, parecia uma Picape das antigas, o capô descascando e mostrando grandes partes do ferrugem do automável. O que o tio Jack estava aprontando?

Quando Jack me viu e acenou para mim, estacionei o carro na beirada da estrada e fechei a porta atrás de mim quando pulei para fora. Ajustei meus óculos no rosto e caminhei cuidadosamente na pista movimentada. Com ele, estava o Jacobe o Paul. Jacobtinha um cabelo negro na altura do maxilar, não era magro, era musculoso enquanto o Paul era mais baixo, tinha o cabelo raspado, mas parecia frequentar a mesma academia do seu companheiro.

– O que posso ajudar? – ajustei meus óculos no topo da minha cabeça e apertei os olhos para o motor exposto do carro, onde tio Jack observava.

– Essa belezura só precisa de um empurrãozinho. – Jack disse como quem está vendo um convercível e não uma picape mais velha do que seus cabelos brancos.

– E, pelo jeito, - eu inclinei meu corpo para frente e observei o carro. – um motor novo, pneus novos, lanternas da dianteira novos, ah, uma pintura nova. Bem, acho que se comprar um carro novo e jogar este no meio do caminho é mais economico. E racional.

– Ela só está mal cuidada.

– Isso é está gritando por um ferro velho, tio. Não tem jeito. Vamos deixar esse carro aí e esperar que alguem faça o trabalho sujo.

– Não fale isso, - Paul me cutucou. – seu tio que irá fazer o trabalho sujo.

– Como assim?

– Jack comprou o carro.

Eu quase engasguei.

– Comprou?

– Não foi bem assim, Paul. – Jack se moveu para o lado para me olhar.

– Me expliquem essa história melhor.

– Você sabe quem é o Ben Bennet, não é? – Jacobse levantou do chão e se pôs ao meu lado.

– O velho da rua Lionel? – eu perguntei só para confirmar.

Paul e Jacobconfirmaram com a cabeça antes de Jacobcontinuar:

– Ele desafiou seu tio a arrumar o carro, se ele conseguisse, Ben não precisaria vender e ainda pagaria toda a reforma. Caso não conseguisse, Jack daria uma entrada no carro para ficar com ele e Ben com o dinheiro.

Eu fiquei irado.

– Onde foi que vocês fizeram essa aposta? Enquanto estavam bebados?

– Não bebados, - ele riu. – estávamos apenas na segunda lata de cerveja ainda. – ele resmungou para mim erguendo suas sobrancelhas brancas.

Eu revirei os olhos e olhei para Jacob.

– E o que mais consta nessa aposta?

– Parece que os primeiros gastos serão de Jack, até lá, se ele conseguir alguma coisa Ben o paga, se não... – ele deu de ombros como se não precisasse continuar.

Eu entendi tudo.

– E como você aceitou isso, Jack?

Ele deu de ombros rindo.

– Você sabe que eu não fujo de um desafio. – e piscou, limpando as mãos na calça e andando até a porta do carro.

Eu me afastei e me juntei ao lado dos caras. Jacobestava todo sujo de graxa, por isso me mantive mais longe dele o possível e não muito perto da passagem dos carros na pista. Nós três olhávamos tio Jack dar uma uma boa observada nos pneus traseiros do carro antes de voltar para a porta dele.

– Isso é impossível, olha como está a situação desse troço?

– Não está tão mal.

– Tio, essa coisa tá gritando “pegue tétano”.

Jack revirou os olhos e me ignorou. Isso é um tiro no pé. E certeiro.

Jacobriu e Paul me respondeu:

– Eu avisei ao Jack quanto a isso, parecia que ele via outra coisa no lugar de uma picape caindo aos pedaços.

– Jack adora uma caridade. – Jacob gritou para Jack ouvir.

Parece ter ouvido porque ele revirou os olhos depois de dar dois chutes no pneu para verificá-lo.

– Impossível! – murmurei para mim. - Aquele velho fez um bom negócio.

– Vai dizer isso ao seu tio.

– É quase que uma ofensa desafiar um Byron. – e Jacobe Paul riram.

Eu sabia mais do que ninguém como era o gosto de um desafio. Doce, misterioso e viciante, só se satisfaz por completo quando vence. Os Byron na sua maioria tem alma de vencedores e apostadores, eu não sou de apostas, mas nunca fugi de um desafio, é quase que aguçar minha vontade, é dar comida aos tubarões e esperar que eles comam. É quase inevitável.

Eu levei Jacobe Paul para a oficina, enquanto Jack fazia um passeio com a lata velha para observar no que ela estava pior, porque de ruim ela já tinha o todo. Nós ficamos uma hora completa jogando basquete enquando comentávamos o jogo de sábado passado de futebol, as primeiras classificações para a copa do Mundo. Mal notamos a geringonça da Picape voltando e tio Jack nos chamando para o trabalho duro.

Quando me dei por conta, depois de boas horas ajustando parafusos, tirando pneu, observando se o motor esquenta com facilidade ou não, verificando o grau de tetáno das portas enferrujadas e outros detalhes, já estava na hora de ir para casa. Faltando dez minutos para as nove John me ligou e perguntou se minha mudança de humor alterou minha promessa feito a ele. Não mudou e por incrível que pareça passar a tarde com meu tio e os meus velhos amigos me fez ficar feliz. Não menos revoltado, mas feliz. Jack e Sam ficaram para ajustar alguns detalhes, eles só iriam embora quando o relogio apitasse nove e meia, por isso, resolvi levar Jacob para casa já que elemorava a alguns quarteirões antes da minha casa.

Quando eu finalmente cheguei em casa e subi para meu quarto, eu notei que havia um envelope dobrado em cima da mesa do meu computador. Isso não estava ali antes.

– É do Charles. – Ellie apareceu de repente.

Eu quase me assustei.

– Eu não quero saber, mãe.

– Só leia, Nick, faça esse esforço.

Eu não a respondi e depois disso, Ellie percebeu que não arrancaria nada de mim. Ellie fechou a porta do quarto depois de sair. Eu não leria a carta, eu não estava pronto, por isso eu a empurrei para dentro da gaveta e decidi que não remoeria mais nenhuma lembrança do meu pai.


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Notas finais do capítulo

comentemmmmm! Respondo os review depois, estou sem tempo, beeeijossss