Counting Stars escrita por Petrova


Capítulo 10
Três Marias, A Ordem e Desordem


Notas iniciais do capítulo

eu estou muito ocupada, minhas aulas começaram, eu to fazendo curso de redação e vou demorar um pouco mais a postar as fics, não terei data agora prevista, desculpem anjos
espero que gostem
esqueça os erros, eu acabei de escrever e são 22:45, estou com sono e meio abobalhada
boa leitura



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Capitulo X - Três Marias, A Ordem e Desordem

Diana mora num condomínio do bairro Valley, normalmente você pode encontrar muitas casas para alugar lá, é um dos bairros mais em crescimento da cidade, mas ele não é grande, só é bem requintado. Ela tem uma casa de tinta amarela, um jardim bem cuidado pelo jardineiro pago, grama verde e uma cerca branca limitando a entrada. Seu carro já estava na garagem, aquele que tio Jack prometeu consertar. Lilian tinha feito questão de ir até ao meu tio para entregar-lhe seu telefone caso o carro já estivesse pronto, evitando assim que eu interferisse em alguma coisa. Agora fazia sentido ela não ter me deixado agir sozinho com meu tio, ela não gostava muito de mim e quanto eu estivesse mais longe da sua família, melhor. Lilian fazia o tipo de mãe protetora, ainda mais que Ellie.

Diana e eu estávamos andando lado a lado, falando sobre coisas avulsas, vinha algo na mente e eu dizia, era espontâneo. Enquanto passávamos por alguns lugares típicos de Mountown, ela lembrava que não tinha esse tipo de atração na Filadélfia, como também o jardim Delanie, algo que ela nunca tinha visto antes, nem mesmo nos mais variados lugares chiques que ela frequentou, já que levei a considerar pela casa e pelo preço que custa o aluguel dela, que sua mãe tem um emprego prestigiado e seu pai certamente é bem remunerado, mesmo depois da separação. Após passar do topo da ladeira antes de chegar no bairro Valley, a lua se encontrava confortavelmente bem apoiada como se tirasse um segundo para se apoiar no piso de asfalto no alto da ladeira, antes do bairro. Ela estava redonda, completa, era uma lua cheia, mas não era de um branco convencional, era de um amarelado brilhante, como se uma aura angelical surgisse nas laterais envolvendo-a, como Diana estava agora. Seus cabelos dourados, livres e soltos nos seus ombros, sua pele ganhando uma cor bronzeada e angelical, como a própria lua.

Eu só podia estar louco comparando a garota ao meu lado a um anjo e a uma aura de lua, mas eu não podia evitar, Diana me deixava estranhamente filosófico e um adepto a metáforas.

Quando chegamos a casa dos Grey, eu disse um ligeiro adeus para Diana e ela abriu a porta da entrada da sua casa, acenando e sorrindo para mim antes que eu recomeçasse o meu caminho. Sua casa ficava perto de onde estávamos no prédio Delanie, mas ficava incrivelmente muito longe da minha rua, até lá seria uma longa caminhada e no relógio já passavam das oito. Este seria o momento perfeito para eu recomeçar a xingar o John, e mesmo que eu quisesse demonstrar meu descontentamento de ter que andar mais de dois quilômetros até a minha casa, eu não conseguia focar em John, meus pensamentos ainda estavam no jardim, na superfície do prédio Delanie, onde Diana estava me perguntando sobre a história de tudo aquilo, de como a senhora Delanie arquitetou esse plano.

– Antes dos meus avós se casarem, - segui Diana até a beirada do altar de madeira e nos sentamos ali, depois do por do sol. – Ennis e Delanie conheciam uma boa parte da família da minha avó, como seus irmãos. Eles foram muito receptivos ao casal estrangeiro, minha avó até compareceu ao casamento como convidada de honra.

– Sério? – Diana ergueu as sobrancelhas. – Sua avó deve ter sido encantadora.

– Ela era uma grande mulher. – eu completei, sentindo uma pontada de saudade. – Eleanour sempre teve aptidão com jardinagem, então foi por isso que Delanie decidiu perguntar a ela como deveria montar um jardim no ultimo andar. Elas arquitetaram juntas por um longo tempo, o aniversário de casamento de Ennis e Delanie estava perto, meus avós já tinham se conhecido e agora só faltava os últimos toques do jardim para ele estar pronto.

– Então o jardim era um presente de casamento?

– Era. – eu fiz que sim com a cabeça.

– Ela era uma mulher muito inteligente e hábil então. – Diana encarou outra vez as flores, sorrindo como se dependesse de um sorriso, tão intenso e profundo.

– Eu acho que ela estava apaixonada. É bem diferente. Delanie era sim uma mulher geniosa, mas para pensar em uma coisa dessa, só estando verdadeiramente apaixonada então.

Diana pensou um pouco.

– As pessoas deveriam se apaixonar mais vezes. – ela soltou de repente surpresa consigo mesmo por ter dito essas palavras. – Quero dizer, as pessoas quando se apaixonam elas fazem coisas que nunca ousariam a fazer antes, o amor parece que muda e transborda.

– Eu particularmente acredito fielmente só em amizade. Eu acho amor um sentimento muito fraco, ele não segura as pessoas, não para sempre.

Diana bufou.

– Você é amargo, Nicolas. – ela disse geniosa. – Só porque temos experiências com desastres amorosos, não quer dizer vamos acreditar que esse sentimento não existe.

– Eu não disse isso. – retruquei. – Eu disse que ele é inferior.

– É porque você ainda não se apaixonou, Nicolas. – Diana me encarou com aqueles enormes olhos acusadores. – Quando você escolher uma garota, quando seu coração escolher alguém entre todas, alguém que deve valer a pena e que te faça bem, feliz e que estremeça seu mundo, que vire ele do avesso, você vai descobrir que o amor é o sentimento mais poderoso que existe, ele só não pode ser a única resposta para tudo, as pessoas se apaixonam, mas elas precisam se sintonizar para que perdure.

Eu me calei por alguns segundos até que eu ganhasse fôlego para dizer alguma coisa. Diana podia estar certa sobre isso, mas eu não tinha a mesma certeza. Considerei que Diana já tivesse se apaixonado por alguém, mas preferi, pelo bem da minha sanidade, que eu não queria saber dos outros caras com quem ela saía. Isso me deixava um pouco irritado e irado, coisas ruins acontecem quando fico irado.

– Você pode estar certa. – murmurei. – Mas eu não tenho a mesma certeza, eu não sei muito sobre o amor, Diana, eu nunca vivi um. – eu a olhei dessa vez, seus olhos redondos e agora claramente escuros, mas esverdeados encarando-me com muita curiosidade.

Eu nunca havia me apaixonado por alguém, mas se eu pudesse escolher, se eu pudesse ter algum poder sobre isso, eu certamente a escolheria. Só de pensar em tê-la dessa forma, me dava uma vontade absurda de beijá-la, tocar seus lábios suavemente e fazer seus corpo tremer. E eu teria feito isso, se Diana não tivesse preferido voltar a olhar o céu escurecendo do que a mim. Diana estava tentando evitar a tensão que existia entre nós dois quando nos encarávamos dessa forma.

– Uma vez, quando eu era criança, eu disse para minha mãe que queria trabalhar vendendo flores.

Levei um segundo atordoado para tirar meus pensamentos do seus lábios e processar suas palavras.

– É mesmo?

– Verdade. – e ela sorriu para mim. Diana se espreguiçou no batente do altar e deitou suas costas no piso apoiando suas mãos no alto da barriga e respirando calmamente enquanto admirava o céu.

Eu me movi lentamente para fazer o mesmo.

– Por que você queria vender flores? – perguntei, retomando a minha curiosidade para o assunto que ela tinha puxado.

– Eu não queria exatamente porque gostava de vender flores, eu gostava das reações das pessoas quando ganhavam flores. – Diana respirou fracamente, calma. – Minha mãe costumava ganhar rosas vermelhas em datas especiais e ela sempre parecia tão feliz, eu gostava daquele humor. Relacionei flores a sorrisos, eu queria que todas as pessoas sorrissem daquela forma, eu queria que todo mundo desfrutasse de sorrisos achando que uma rosa vermelha poderia trazer isso.

Eu poderia estar olhando o céu e reparando nas mesmas coisas que ela via, mas diferente disso, eu estava mirando seu rosto parcialmente, as linhas das suas expressões e ela parecia mais jovial do que nunca.

– Era um pensamento estúpido, eu só tinha sete anos.

– Não é estúpido, Diana.

– É infantil. – ela retrucou.

– É brilhante. Por exemplo, eu não sei sobre as rosas, mas – eu a interrompi. – você ficou muito feliz quando te mostrei o jardim, o tipo de sorriso invejável. Sua teoria acabou de ser comprovada.

Diana sorriu para mim, deixando-me ver seu rosto por inteiro, seu simétrico e belo rosto com feições leves e suaves.

– Obrigada. – ela disse baixinho. – Você tornou uma bobagem em algo mágico. Lilian achou toda essa coisa uma loucura enquanto meu pai dizia que eu era só uma criança e que eu podia ser o que eu quisesse. E sonhar o que eu quisesse também.

– Eu posso imaginar.

– Não que eu esteja transformando a minha mãe em um monstro. Ela é a pessoa mais realista que eu conheço, ela só não tem muitas habilidades em como não destruir os sonhos dos seus filhos. – Diana riu amargamente.

– Você deveria dizer a ela, Diana. – eu disse de repente. – Sobre o que você quer fazer quando terminar o colegial. Porque você não pode simplesmente esperar que no fim ela perceba o que está fazendo e diga para você fazer o que quiser.

Diana suspirou profundamente.

– Eu sei que você está certo. – ela respondeu. – Mas eu não posso fazer isso, eu não consigo fazer isso, não agora, a vida dela despedaçou totalmente depois da separação, ela precisa de boas noticias. Eu sou a boa noticia.

– Fazer o que você ama não é uma boa noticia para a sua mãe? Aquela que quer que você seja feliz?

– Nicolas... – ela me repreendeu. – Você não entende. – Diana me encarou.

Eu bufei.

– Nunca vou entender.

– Vamos mudar de assunto, por favor. Entenda minhas escolhas.

– Entender eu não vou conseguir e muito menos vou aceitar, mas posso esperar que você ainda possa fazer algo para mudar isso. – eu a encarei de volta, sem bobear o olhar. – Você merece o que há de bom, Diana, você merece isso, merece suas próprias escolhas.

Ela ficou em silencio processando o que eu havia acabado de dizer. Eu não podia ter sido mais franco que isso, Diana não era uma desconhecida, ela ainda tinha segredos, todo mundo tem, mas quanto mais eu os desvendava, mais ela se tornava incrível.

– Me fale sobre o futebol. – Diana perguntou de repente

– O que quer saber?

– Quero saber de tudo, o por quê de você ter entrado no time, tudo. – observando sua expressão, não era só uma maneira de mudar o assunto rapidamente, ela estava interessada.

– Okay. – eu assenti para ela. – Eu sempre gostei de futebol, mas nunca fui do time. John queria isso mais do que eu, acho que foi por isso que consegui entrar mais rápido nos testes.

– John? – ela perguntou enrugando sua testa.

– O garoto louro que anda comigo. Alto, usa cinza frequentemente, ele adora fazer piada...

– Ah, o que tem uma queda pela Mary?

– O quê? – eu fiquei surpreso. – Como você sabe disso?

– Nós temos aula de inglês juntos. Eu sempre chego cedo na sala, então quando ele me viu sentada numa cadeira atrás da Mary, ele implorou que eu trocasse de lugar.

– E você trocou. – suspeitei, arqueando a sobrancelha.

– Mas é claro! – Diana exclamou. – Ele estava me implorando, ele estava, estava quase se ajoelhando aos meus pés. E quando a aula começou, ele não parava de encará-la, então juntei os pontos.

Não me contive, sorri um pouco até se tornar uma gargalhada alta de tremer os ombros.

– O que foi? – ela me encarou. – Por que está rindo?

– Desculpe, - eu disse abobalhado, recuperando-me da risada. – até você percebeu que ele gosta dela. Mary deve ser a única pessoa daquela escola que não tem a nítida visão que o John a venera.

– Eu acho que ela não percebeu ainda. Mary parece ser tímida. – Diana comentou. – Ela é inacreditavelmente legal, mas não do tipo que fica observando as pessoas ao seu redor.

Diferente de mim, pensei.

– E também só cheguei a conclusão que ele gostava dela quando ele veio implorar pela carteira, então juntei os pontos.

– Ele já deu vários pontos para Mary juntar, - murmurei, John sofreu bastante por essa garota e isso me irritava. – talvez ele só não faça o tipo dela.

– Tipo?

– É, os não certinhos, os problemáticos. Como John, como eu. – eu a olhei rapidamente, mas desviei para encarar o céu. Ele estava de um azul límpido, tão bem iluminado que não ficava sombrio nem nebuloso.

– Não acho que ela seja esse tipo. – Diana defendeu.

Ela também não me encarou, tínhamos a mesma vista, um céu claro e limpo, sem nuvens e constelado, um salpicado de estrelas abrilhantando.

– Nunca havia visto o céu desse jeito. – eu sussurrei inebriado, passava um vento sossegado aqui, de calmaria, levando consigo cheiro de terra úmida, mas não estava nem perto do que poderia ser uma chuva.

Eu ouvi a respiração de Diana se soltando calmamente.

– Acho que você só não olhou direito. – ela me respondeu, depois de um segundo em silêncio.

– Tem razão.

Nós ficamos quietos nestes segundos, olhando o céu e o adimirando em silêncio, desta vez sem se preocupar com a rapidez que ele se prolongou. Estava bom, eu ouvia tanto a minha respiração como a dela e talvez vice e versa, eu podia ficar ali a noite toda, apenas contemplando, sem hora para voltar. Numa reação de surpresa, Diana se virou para mim rapidamente e perguntou sorridente:

– Você quer saber de um segredo?

– Segredo? – enruguei a testa. – Claro.

Eu me inclinei para Diana afim de conseguir ouvi-la.

– Okay... – ela começou, mas não terminou, ela tinha um sorriso envergonhado no rosto.

– É algo tão difícil de dizer? – eu perguntei depois de alguns segundos terem se passado.

Ela fez que sim com a cabeça. Imaginei que fosse ou pessoal ou muito embaraço.

– É sobre seu passado? – tentei fazê-la falar enquanto perguntava. – Você não é da Filadélfia? Você não tem 17 anos?

Diana caiu de costas no chão novamente, sem nenhum baque doloroso e começou a rir.

– O quê? Estou falando sério, Diana. – eu resmunguei, mas achando isso muito divertido. – Seu nome é mesmo Diana? Você usa lente de contato?

Ela se virou para mim.

– Lente?

– É, seus olhos. Eles são verdes, depois castanhos, depois mel, eles são muitas cores.

– Eu não sou o Edward Cullen, Nicolas.

Eu franzi a testa.

Quem?

– Você não conhece esse personagem?

Eu fiz que não com a cabeça.

– Ele é um vampiro. – ela respondeu, apoiando seu corpo nos cotovelos. – Ele é sinistro, um vampiro moderno. É meio estranho porque ele não queima no sol. Ele brilha.

– Vampiro que não queima no sol? Tem certeza que você acertou de filme? – eu dei um meio sorriso, me divertindo.

– Ele é como os diamantes, a formação deles são antigas, como os vampiros, eles, em sua maioria e de maior poder, são antigos. Por isso brilham. Em algumas culturas, nas lendas sobre os vampiros, eles não queimam no sol.

Eu apoiei minha cabeça nos meus braços flexionados para trás, encostados na madeira.

– Isso é interessante, mas isso ainda não explica o motivo de você ter olhos assim.

– É genetica, Nicolas. – Diana corou. – Meus olhos são assim, infelizmente.

– Mas eles são lindos.

Diana corou outra vez.

– Eu também gosto dos seus. Gosto de olhos escuros, quase negros, são raros. – ela falou quase para si mesma, eu podia jurar que ela estava envergonhada.

Eu não disse nada, eu não soube dizer nada, só travei, que tipo de cara trava só por ter os olhos elogiados? Isso é estranho. E frustrante. Eu não diria nada, não havia como responder, minha cabeça estava pensando nos seus elogios ao mesmo tempo que cinco palavras precipitaram para fora, mas tão baixas que ela não pode ouvir:

– E eu gosto de você.

Diana ajeitou seu corpo novamente e se virou para o céu, mirando-o sem questionar.

– O meu segredo era um pouco diferente. – ela começou a dizer, agradeci por ela não ter me ouvido dizer aquelas cinco palavras, eu ficaria constrangido.

Mesmo que não houvesse razões concretas que eu devesse ficar envergonhado, afinal, gostar, ora, é saudável, as pessoas gostam, isso é amizade, é apreço, não é casamento, um pedido de noivado, as pessoas se gostam, é natural, quando se gosta você tende a ficar perto, não quer dizer que eu estou me apaixonando, é diferente.

Então decidi esperar que ela continuasse.

– Está vendo as três Marias? Bem ali? – ela esticou o dedo para o alto.

Apertei minhas pálpebras e segui na direção que apontava, parando exatamente em três estrelas enfileiradas ordenadamente, uma atrás da outra.

– Isso é fantástico. – eu notei em entusiasmo. – Eu nunca as vi antes.

– As Três Marias? – Diana me perguntou com as suas sobrancelhas erguidas.

– É como são chamadas? – eu não desviei os meus olhos daqueles pontinhos ordenados.

– Sim, é como elas são chamadas popularmente. – ela fez que sim com a cabeça.

Levei um segundo para afastar os olhos e bisbilhotar Diana, quando a vi me encarando.

– Por que está me olhando como essa cara de espanto?

– Não é espanto. É surpresa. – ela respondeu. – Nicolas, como você nunca as viu? Elas estão ali o tempo todo, são as mais óbvias. Uma atrás da outra, seria muito fácil percebe-las, assim, olhando mesmo que por acidente.

– Eu nunca prestei atenção, na verdade, eu nunca fui bom em aulas de astronomia. – murmurei.

– Incrível, mesmo que você olhasse perdido para o céu, ainda veria as tr...

– Okay, eu entendi, você também entendeu sobre minha terrível aptidão de perceber o óbvio, agora continue com seu relato.

Diana revirou os olhos.

– Tudo bem. – ela resmungou. – Minha mãe tem algumas livros de astronomia em casa quando ela ganhou ainda nova, no colegial. Uma coisa que Lilian e eu temos em comum é a admiração por astronomia.

Eu assenti, interessado para que ela continuasse.

– As Três Marias fazem parte do cinturão de constelação de Orion, o caçador.

– Caçador?

– É da mitologia grega. É uma longa história. – ela me respondeu, mas como me viu esperando que ela contasse mais detalhas, Diana resolveu falar sobre Orion. – Ele era um herói, amado pela deusa grega Àrtemis, mas o irmão dela, o Apolo, não aprovava o relacionamento dos dois. Então, num certo dia, Apolo enviou dois escorpiões para matar Orion, enquanto desafiava sua irmã, Ártemis, que era outra caçadora, na pontaria, e no fim ela acabou atingindo Orion em um descuido, matando-o enquanto ele corria dos escorpiões.

– Isso é trágico.

– Mitolia Grega é na maioria trágico. – Diana riu. – Ártemis pediu ao Zeus para colocar Orion e os escorpiões entre as estrelas, depois que percebeu o erro terrível que cometeu. Essa é a história de Orion. Agora a história das Três Marias é mais diferente.

– A delas, ou a sua?

Diana sorriu.

– Como eu ia dizendo, minha mãe, no tempo que ainda era casada com meu pai e estava grávida de mim, ela tinha todos esses inúmeros livros sobre mitologia e astronomia. E uma vez, quando ela foi participar do ultrassom, o médico fico surpreso ao detectar que minha mãe não esperava só uma criança, mas sim três.

– Mas você e Sarah não são gêmeas. E de mesma idade. – eu ressaltei, agora parecendo frustrado por pensar que sua mãe tenha perdido os outros.

– Deixe-me terminar. – Diana resmungou. – Então. Enquanto o doutor examinava outros documentos fora do quarto, Lilian me disse que naquele momento ela tinha pensando em homenagear os trigêmeos, caso fossem meninas, de Maria, Maria Amélia e Maria Antonieta.

Eu tive que sorrir, muito surpreso.

Maria Antonieta?

– Por que está rindo? É um nome bonito. – ela me repreendeu.

– Sim, claro que é. Agora vejo que além de mitologia e astronomia, sua mãe adora história também. – eu caçoei, rindo um pouco.

Diana revirou os olhos.

– Mas não aconteceu. – ela me interrompeu. – As maquinas estavam dando erro e por isso apareceu como se ela tivesse trigêmeos.

Eu assenti.

– Então, qual das Marias você seria?

– Bem, eu perguntei a Lilian e ela me respondeu que se eu tivesse feito a mesma pergunta quando eu tinha sete anos, ela me diria que seria apenas Maria, pela graça e simpatia. Mas agora, um pouco mais velha, ela me disse que meus cabelos loiros e meus olhos claros traziam a lembrança da Maria Antonieta.

Eu bufei.

– Eu já vi retratos de Maria Antonieta no livro de história. – eu olhei firme nos seus olhos. – Você é muito mais bonita que ela.

Diana riu.

Depois de ouvir o som cantante da sua risada, ela me perguntou sobre minha família. Não era sobre o meu pai ou a separação, era algo além disso. Eu falei sobre o tio Jack, ela se lembrou rapidamente do cabelo grisalho e do carro, ela implorou que eu levasse outro agradecimento a ele quando o visse. Além dele, eu lembrei dos meus avós, os Byron, da minha relação com Ellie e do meu irmão David. Ele era um ano mais novo que Sarah e certamente não tinha o prazer de trazer os mesmo problemas que Sarah traz, como Diana havia me contado de suas inúmeras brigas com a sua irmã mais nova. Diana não tinha problemas com crianças, ela só tinha problemas com a sua irmã, já que ela havia trabalhado por alguns meses como babá do seu primo Peter nas férias. David talvez iria gostar de conhecer Diana, Ellie certamente iria adorar, tudo em Diana era perfeitamente adorável.

Quando despertei para meu caminho, já era um pouco mais de oito e cinquenta.

A rua do meu bairro chegou mais cedo do que eu esperava, talvez eu devesse agradecer pelos meus pensamentos comprimidos em não relutar a se lembrar daquele jardim no ultimo andar do prédio Delanie e no rosto de Diana. A sua voz serena ao falar sobre sua vida na Filadélfia, sua paciência ao me ouvir dizer sobre meu pai, sua fisionomia de cumplicidade à minha infelicidade interior e a magóa.

Quando me aproximei para perto da calçada da minha casa, a luz da varanda se ascendeu parcialmente, um amarelo apagado, meio preguiçoso. Esperei encontrar John com um sorriso ordinário perguntando aonde eu estava e porque tinha chegado tão tarde em casa, mas apesar do carro estar estacionado na garagem, não era o John que estava no alpendre.

Estava claro que não era o John, até para os padrões de Mountown, quase nove horas ainda era muito cedo para o John Clewart. E se ele estivesse aqui, sua noite teria sido um fiasco ou ele teria me ligado, o que não ocorreu. Havia algo de errado que eu não notei quando passei do portão de entrada e subi os degraus do alpendre.

– Mãe?! – eu perguntei adivinhando antes mesmo de vê-la sentada em almofadas laranjas num banco vermelho do alpendre, ela estava segurando o telefone entre as mãos e um envelope estava lacrado em cima do seu colo.

Não era algo natural de se ver, mas me deixou frustrado. Ellie estava estranha, estava quieta, talvez até irritada, mas não explicaria o motivo do telefone no seu colo.

– Desculpe não ter avisado onde eu estava. – eu disse quando me aproximei. – Eu deveria ter sido mais prudente.

– Está tudo bem, Nick.

– Tem certeza? – eu me sentei ao seu lado. – Você não está parecendo nada bem, mãe, você está estranha.

Ela respirou com dificuldade.

– Eu preciso te dizer algo, Nick. – sua voz suou baixinha.

– É sobre a escola? Advertência? – enruguei a testa, mas como ela não me respondeu resolvi continuar: – Mas que droga, eu não acredito que eles vieram te encher o saco, mãe, eu sei que colecionei inúmeras advertências só no começo das aulas, mas, por exemplo, essa semana eu fiquei livre. Tirando matemática. E literatura.

Ellie não me interrompeu.

– Eles querem que eu saia da escola? – perguntei, um pouco mais baixo. – É o ultimo ano, eles não podem fazer isso.

– Não é a escola, Nick. – Ellie tinha os dedos tremulos quando fechou os olhos e tentou não demonstrar que estava com medo. – É sobre seu pai.

– Meu, meu pai?

Ellie soltou um suspiro frustrado.

– O que tem meu pai, mãe?

– Não fique com raiva, meu filho, - Ellie se aproximou desesperadamente, tocando-me no rosto e largando o telefone nas almofadas. – eu não me importo mais com isso, eu ainda amo seu pai, mas não como alguém que eu queira dividir a vida, apenas como um bom amigo. Só não fique com raiva.

– Com raiva? Por que está me dizendo isso, mãe?

Minha mãe piscou aflita, engasgada com algo preso em sua garganta, algo que deveria ter me dito no exato momento em que pisei naquela varanda.

Inúmeros pensamentos afrontavam minha cabeça nesse momento. Charlie tinha decidido voltar? Era por isso que Ellie temia minha raiva? Por ele retornar? Eu não saberia reagir a essa noticia, eu ficaria com raiva, mas sentiria um alivio confortante dentro do peito, o alivio de que Charlie tenha, finalmente, entendido que ter ido embora fora tudo um erro, ele estava transtornado, estava confuso com a sua própria vida, por isso ele partiu, mas percebeu, mesmo um pouco tarde, que não deveria abandonar a família que criou, a família que ainda o amava. E que ainda o esperava.

Eu ainda tinha essa esperança? Que tudo podia voltar a ser como antes e eu pudesse ser feliz novamente? Eu era tão ingênuo para chegar a este ponto?

– O que aconteceu com meu pai, Ellie? O que houve com o Charlie?

Ela suspirou pesadamente.

– Seu pai me ligou. – Ellie estreitou a voz. – Seu pai vai se casar, Nick.

– O quê?

Charles ia se casar? Casar, como, com outra mulher? Outra que não era a minha mãe? Por quê? Ele tinha construido uma nova família? Talvez ele tenha até filhos, novos para me substituir e ao David, ele havia seguido em frente e tudo que eu pensei estava totalmente errado. Charlie não nos queria de volta, ele queria nos destruir ainda mais.

– Charles vai se casar, quero dizer, ele conheceu uma pessoa nova? – gaguejei um pouco atônito, minha garganta seca

– S-s-sim.

– E quem é ela? É da capital? Como ele simplesmente nos diz isso? Como ele te diz isso por telefone, mãe?

– Nicolas, - ela choraminga meu nome. – me escute. Eu sei que isso parece ruim, mas não é o fim do mundo. É considerável pelas circunstâncias.

– Considerável? – eu quase gritei. – Isso não é considerável, mãe. – eu me levantei, passando meus dedos tremulos pelo cabelo e andando de um lado para o outro.

– Se acalme, Nick.

– Que merda! – eu gritei. – Ele passou quatro anos longe, foi embora, enquanto eu carregava a dor de ter gritado com ele, de ter mandado que ele fosse embora e que nunca mais aparecesse. Eu me senti culpado por toda a merda que ele fez. – eu chutei a grade do alpendre. – E agora, depois de tudo, ele dá um telefonema avisando que está noivo e que vai se casar? Mas que porra.

Eu chutei outra vez a grade e mais outra, até meus dedos latejarem, mesmo que por pouco tempo, porque meu corpo ardia de raiva para prestar atenção na dor dos meus dedos. Eu voltei a chutá-la. Antes que eu percebesse, eu estava chorando, as lágrimas saíam quentes dos meus olhos, queimavam minhas bochechas de puro ódio e dor.

– Nick, pare, pare por favor. – Ellie estava chorando também. – Você não entende.

– Ah, não, não, eu estou entendendo tudo perfeitamente.

– Quem dera estivesse.

– Ele nos traiu mãe. – eu gritei outra vez, sentindo minha pele quente e vermelha. – Ele foi embora e agora vai se casar, isso é uma traição.

– Não, não, não Nick. Ele seguiu em frente. Eu entendo, eu entendo, Nick. Você devia, ele é o seu pai, você deveria desejá-lo felicidade, mesmo que o amor que ele procure seja com outra mulher.

Eu não disse nada, agarrei o ferro da varanda e dobrei meu corpo para frente, minha raiva e a dor se misturando, minhas lágrimas encharcando meu rosto enquanto eu escondia minha fragilidade de Ellie.

– Eu e seu pai sempre fomos amigos antes de tudo, ele foi embora, eu sei, eu sofri com isso, mas ele merecia ser feliz, Nick, e não estava sendo comigo.

– Eu não me importo, mãe, eu não me importo. – eu gritei. – Ele nem tentou, mãe, ele não tentou voltar.

Ellie segurou meus ombros, forçando-me a olhá-la.

– Você não pode culpá-lo, Nick, você o mandou embora de nossas vidas para sempre.

A dor ardeu no meu peito.

– Eu tinha treze anos! – eu me virei para ela, sentindo a dor novamente quase arrancar a minha pele. – Só treze anos, mãe.

Ellie também tinha o rosto encharcado de lágrimas, ela segurou meu braço e me abraçou. Ellie era muitos centímetros mais baixa do que eu, mas naquele momento, eu nunca me senti tão protegido em um abraço como estava.

Eu sabia que ela e meu pai haviam chegado a um acordo entre eles, eles haviam se separado e ambos aceitaram, mas eu não conseguia me sentir aliviado por isso, eu já tentei. Mas agora nada parecia funcionar.

Neste momento, nada que Ellie me dissesse iria fazer alguma diferença. Eu passei muito tempo da minha vida imaginando como Charlie estaria, o que ele estava fazendo, se alguma vez ele já pensou em voltar para casa, se ele perguntava de mim, de como eu estava, se ele ainda se importava comigo, com o meu desempenho na escola. Eu pensava muito, passava noites em claro, ouvindo meus pensamentos, assistindo minhas lembranças e depois adormecia cheio de saudade. Queria ter feito alguma diferença. Queria ter, ao contrário dele, lutado para que nada disso tivesse acontecido.

Mas teria mudado alguma coisa?

Eu não sei e nunca terei a certeza disso. Porque agora não adianta mais. Enquanto na minha vida cada dia parecia pior que o outro, Charlie estava seguindo em frente, sabe-se lá se alguma vez ele sentiu vontade de voltar no passado e se esforçado mais, como pai e como marido. Eu queria que ele tivesse, que ele sentisse algum arrependimento. Eu estava errado.

E nesse momento, eu não queria lhe proporcionar mais nenhuma chance, não queria nem vê-lo ou muito menos ouvi-lo. Não queria ser igual ao Charlie. O que uma vida se importando me trouxe? Eu me importei com meu pai e agora ele estava longe e construindo sua própria família, enquanto eu, neste exato momento, estava quase reprovando em física, literatura e inglês, matemática eu ainda podia dar alguns suspiros, mas e o resto? O que se tornou? Nada, absolutamente nada, minha vida de tornou um caos de nada.

Eu estava com raiva, eu estava magoado e eu ainda sentia muita dor, se eu pudesse me desligar por algum momento, eu faria, mas não era possível. Minha única possibilidade era sair dessa cidade o mais depressa possível, terminar o colegial e sumir, não fazer laços, não ter com quem sofrer.

Agora tudo parecia estar ao avesso. Minha vida voltou a estaca a zero: a da desordem.


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Notas finais do capítulo

o que acharam?
acho que corrigi tudo que deveria