O aconchego do sono pareceu sumir tão rápido quanto surgira. Porque?
Porque o infeliz do Jhon Babaca arrancara as cobertas das extremidades daquela cama macia.
–Bora acordar, Luz do dia.-Ele disse puxando a minha perna.
Esfreguei os olhos e tentei focar seu rosto.
–Cara, qual o teu problema?-perguntei piscando atè meus olhos acostumarem com a claridade. Jhon estava parado do lado da cama, olhando pra mim como se eu fosse aqueles bebês gordos com aqueles olhos exóticos e estranhos. Os cabelos estavam molhados e jogados pro lado de um jeito estilo modelo, do jeito que o meu nunca ficava.
Ele estava sem camisa.
Sem camisa.
Mas tudo bem, eu fui altamente treinada pela CIA para casos como esse.
Revirei os olhos e apontei pra barriga extremamente chapada dele.
–Cara, não tem camisetas no teu guarda-roupa?
Ele revirou os olhos.
–A casa è minha. Posso andar pelado que sua opinião não vai mudar esse fato.
Joguei minhas pernas para fora da cama e levantei as mãos em sinal de rendição.
–Nossa, olha só como ele está. Atirando pra todo lado.-fiz uma voz de amendrontada.
Ele colocou as mãos na cintura e estreitou os olhos.
–Ás vezes parece que você tem 5 anos, Ana lee-ele rosnou.
–E você quatro, Jhon.
Ele se direcionou pra poltrona do lado e jogou as roupas que eu usara ontem, só que elas estavam limpas e macias.
–Se troque, você tem uma entrevista se não se lembra.
Revirei os olhos e abracei as roupas enquanto observava ele sair do quarto.
Me troquei e depois coloquei meus coturnos, fiz um coque nos meus cabelos e saí do quarto econtrando Jhon encostado na parede-Desta vez ele estava com uma camiseta- girando a chave nos dedos.
–Espero que aceitem góticas trevosas naquele puteiro.
Fechei a cara.
–Não sou gótica, infeliz.
Ele levantou as sobrancelhas.
–Jura? Com essa camiseta do Jack estripador e esses jeans rasgados? O coturno não ajuda muito.
Cruzei os braços.
–Olha só quem ta querendo me dar conselhos de moda. Um cara que conheceu uma camiseta hoje.
Ele colocou as mãos na barriga e fingiu dar uma risada estilo Papai Noel.
–Você e seu senso de humor cômico.
Revirei os olhos.
–Puxei isso da minha mãe...-Parei no meio da frase, e um gelo passou pela minha espinha.-Ai.Meu.Deus.
Jhon me encarou.
–Que foi?
Comecei a procurar no bolso da minha calça algum sinal do meu celular.
–Minha mãe deve estar surtando agora. Eu não avisei a ela que dormiria fora.
Ele começou a rir , não dei importância a ele.
–Meu Hades-murmurei.
–Ei- Jhon me chamou, olhei e vi ele segurando meu celular.
–Ele deve estar quase descarregado.
Peguei o aparelho e vi que tinha pouco menos que 10% de bateria. Mas seria o suficiente pra ligar pra ela e avisar que está tudo bem.
–Vem, você liga pra ela enquanto vamos pra casa do Lancaster. De lá vamos dar um jeito de você chegar atè a cidade vizinha.
Assenti e o segui enquanto lamentava as 78 ligações perdidas da minha mãe.
–Oi, mãe-disse assim que ela me atendeu no primeiro toque.
–Ana Elize Houston , aonde è que você está?-ela berrou, afastei o celular da orelha pra evitar uma surdez.
–Mãe, liguei pra avisar que eu estou bem. Eu acabei dormindo no sofá dos Lancaster. Eles não quiseram me acordar e eu acabei acordando só agora.-mordi o lábio, eu estou mentindo pra minha mãe outra vez. Jhon me encarou enquanto entravamos no elevador.
–Ana, pelo amor de Deus, você tem noção de quão aflita eu fiquei...
–Desculpa, mãe.-a interrompi.
Houve um silêncio e eu sabia que estava perdoada.
–Tudo bem. Você vem para o almoço?
Olhei para Jhon que ainda me encarava.
–Ahm, então,mãe. Uns amigos me convidaram pra ir... Han, numa pizzaria e depois vamos assistir um filme,então...-fechei os olhos me sentindo horrível.
Eu sabia que minha mãe não estava acreditando fielmente naquela história. Mas ela deve estar comparando a minha vida na outra cidade antes de me mudar. Talvez ela estivesse lembrando o quão sozinha e sem vida social minhas tardes de sábado se baseavam.
Deve ser por isso que ela suspirou do outro lado da linha e disse por fim.
–Tudo bem, não chegue tarde em casa.
–Eu te amo-eu disse abrindo os olhos.
–Eu também te amo,ruiva.-ela disse. Eu sabia que ela estava sorrindo.
Sorri também e desliguei.
O Elevador abriu as portas , eu e Jhon entramos no estacionamento.
–Sua mãe parece ser legal-ele disse enquanto me dava o capacete.
Sorri enquanto o colocava.
–Ela è.
Me segurei em Jhon no trajeto, e apoiei a cabeça em seu ombro pro caso dele olhar pra trás e não ver as lágrimas nos meus olhos.
Quando paramos em frente ao apartamento de Bil, eu entreguei o capacete de volta e sequei as lágrimas rapidamente, Jhon me encarou.
–Você está bem?
–Sim, eu só...estou nervosa.-murmurei caminhando ao seu lado para dentro do prédio.
Pelo canto do olho vi ele assentindo. Entramos no elevador.
Estávamos lado a lado, e meus dedos esbarraram nos dele mas me surpreendi com ele envolvendo nossas mãos. Olhei pra ele desconfiada e ele não retribuiu o olhar.
Desci os olhos para nossas mãos unidas, e ele apertou gentilmente a minha como se dissesse que tudo iria ficar bem.
Gostava do jeito que nossas mãos se envolviam.
As portas do elevador se abriram no andar do Lancaster e nós caminhamos atè o apartamento em silêncio. Ele apertou a campainha com a mão livre e eu voltei a encarar nossas mãos. Foi assim que Bil nos viu ao atender a porta.
Ele encarou nossas mãos e depois encarou Jhon, não consegui decifrar aquele olhar.
Desgrudei minha mão do aperto da dele e limpei a garganta.
–Cadê Henri?
Lancaster girou os olhos na minha direção e abriu mais a porta.
–Lá dentro.-a voz rouca dele me surpreendeu como sempre surpreendia.
Entrei no apartamento e os deixei ali mesmo. Vi os nerds que eu fizeram amizade na noite anterior sentados em volta de seus computadores, e Henri sentado em frente a televisão assistindo um episódio de Os Simpsons.
–Oi caras.-eu os comprimentei enquanto avançava em direção ao garotinho.
–Oi , Ana-eles responderam em unissono.
Afaguei os cabelos fartos de Henri.
–Como è que você está?
Ele me encarou e sorriu.
–Estou bem -disse e voltou a atenção para o desenho.
Suspirei aliviada e voltei para os nerds. Eles pareciam ter acabado de acordar e meio sonolentos ainda.
–Então... O que estão fazendo?-perguntei enquanto olhava ao redor a procura da vadia da Clara.
–Estamos só fazendo um hackeamento nas câmeras de segurança do puteiro.-Came disse.
Levantei a sobrancelha.
–Vocês dizem isso com tanta naturalidade que chega a assustar-murmurei.
Jhon e Bil aparecem na sala, e è visível a tensão entre eles.
Franzi a testa enquanto Bil caminhava atè mim e sussurra no meu ouvido:
–Posso falar com você?
Ele nem espera uma resposta e caminha atè o corredor, sigo ele sentindo o olhar de Jhon nas minhas costas.
–Você precisa tomar cuidado quando estiver lá, entendeu?
O corredor era pouco iluminado mas eu podia ver a urgência em seus olhos.
–Ta, eu sei. Não vou falhar a missão, Bil...
–Não estou falando do Lockart. Nem da missão.
Franzi a testa.
–Do que você está falando?
Ele me prensou na parede.
–Do Jhon.
Minha cara de interrogação respondeu a ele.
–Ele...ele não è muito confiável, Ana-ele murmurou enquanto passava o dedo anular na minha bochecha gentilmente.
Olhei em seus olhos ignorando a sensação do seu toque.
–O que...?
–Shh-ele me cortou.- não sei ao certo ainda, mas não se apegue muito a ele.
Me desvincilhei de seu aperto e o olhei indiganada.
–Do que è que você está falando? Ele è um dos nossos,Lancaster.-eu rosnei.
Ele trincou o maxilar.
–Eu só estou tentando te manter segura.
–Segura? Foi você quem me colocou numa gangue, Lancaster. Foi você quem me colocou pra executar essa missão e agora quer me manter segura? Qual è o teu problema?
Ele abriu a boca mas alguèm o interrompeu da sala:
–Ta na hora da Ana!
Fechei os olhos.
–Nao seja um babaca, Bil.-disse enquanto caminhava pra sala e o deixava na escuridão do corredor.