Comemos Pizza.
Quase como se fossemos adolescentes normais, reunidos e jogando conversa fora.
Quase.
Sim, estávamos comendo pizza mas ao mesmo tempo debatendo em como eu iria conseguir entrar e sair em segurança daquele lugar.
–Sinceramente, acho que Ana não è apta pra executar a missão. Ela pode pôr tudo a perder-Clara disse, me fuzilando com os olhos azuis pegando fogo.
O que eu fiz pra garota me odiar?
Parei no meio de uma mordida. Todos os garotos estavam observando nós duas, como se aquilo fosse um momento decisivo de uma partida de futebol.
–Olha , querida. -comecei, deixando meu pedaço de pizza cair no prato.-Eu vou entrar naquele cabarè , vou pegar o maldito pen drive e provavelmente dar uma surra no filho da puta que torturou uma criança de 13 anos.-sorri falsamente e continuei:-E sinceramente, a opinião de uma vadia não vai mudar a minha decisão.
Eu posso ter sido um pouco ousada, caro leitor. Mas convenhamos, ela mereceu.
Clara ficou vermelha de raiva e ela se aprumou toda, preparada pra me rebater quando a campainha tocou.
Bil se levantou e disse de costas.
–Por favor, ja temos problemas de mais.
Mesmo de costas pude sentir que ele estava revirando os olhos.
Bil abriu a porta.
–Atè que enfim, cara. Aonde você se meteu?-Ele rosnou pra alguèm na porta, que eu não pude ver quem era.
–Então, Ana...-Erick me chamou, fazendo com que eu desgrudasse meus olhos da porta.-È verdade que você deu uma surra no idiota do amigo do Lancaster?
Estreitei os olhos.
–Não foi bem uma surra...-não pude terminar a frase, Jhon entrou na sala e minha voz pareceu sumir.
Todos olharam pra ele.
–Uau, quanta atenção para um mero mortal como eu.-ele ironizou, sentando ao meu lado. Franzi a testa.
Tinha um monte de lugares para ele sentar. Porque diabos ele decidiu se atrever a sentar-se ao meu lado?
Garoto ousado! Os ombros dele esbarravam de leve na minha orelha, só pra você ter noção de como ele è uma vara de cutucar estrelas, caro leitor.
–Aonde você estava, Jhon?-Bil perguntou, a voz ganhando um tom irado do nada.
Encarei Jhon.
–Resolvendo uns negócios familiares... Vim o mais rápido possível.-ele deu de ombros.
O rosto dele foi bem esculpido por Deus, ele tinha o maxilar quadrado, a barba por fazer o deixava sexy, não tanto como os olhos o deixava, mas contribuia, com certeza.
Mas que droga, Ana. Para de pensar igual uma besta.
– O que foi , Aninha? Gosta do que vê?-Jhon murmurou.
Revirei os olhos.
–Só estou tentando imaginar como seria se eu quebrasse esse seu nariz.
Ele riu.
–Touchè.
Sorri.
–O.k, O.k chega desse amor barato e vamos voltar para o plano-Bil disse,zangado.
Qual o problema desse cara?
–Precisamos saber como vamos fazer para Ana entrar lá dentro, sem que desconfiem que ela è uma de nós-Bil disse-Alguma ideia?
–Ela poderia se passar como uma vadia. Sei que isso não vai ser dificil pra ela.-Clara disse, cruzando as pernas e jogando o cabelo curto pra trás.
–Ah, sua...-comecei mas Ben me interrompeu com um estalar de dedo-È isso!-Ele exclamou.
Todos nós olhamos pra ele com cara de interrogação, ele percebeu e riu.
–Erick e Came não descobriram que atrás daquela loja não tem um clube noturno?
Todos concordamos, menos Jhon que estava pensativo.
–Então! Ana entra como uma novata lá, pra fazer uma apresentação ou seja lá o que for que essas vadias fazem ...-Ele corou-bom, menos se prostituir, acho que a Ana não vai gostar de fazer isso-ele fica vermelho igual a um pimentão.
–Ben, eu poderia te abraçar agora-Bil disse lentamente-È uma ótima idéia.
Todos concordaram, até os gêmeos que até então se mostraram passivo a tudo, balançavam a cabeça positivamente, como se fosse a melhor idéia do mundo.
–Gente, mas...
–Qual è, Ana? Não era você quem queria fazer justiça à um garoto de 13 anos? -Mais uma vez Clara pedindo por uma surra.
–Se você não calar a boca, vou ser obrigada a quebrar todos os dentes da sua boca.
Isso foi o suficiente pra ela fechar a matraca.
Me encostei no sofá e suspirei, mas por fim disse:
–O.k, tudo bem. Vamos fazer isso!
Houve uma breve comemoração -menos da parte de Jhon, que ficara quieto-, mas logo todos pegaram seus computadores e começaram a fazer seus papéis de nerd.
–Eu vou procurar a planta daquela loja e do clube, assim vamos ter uma ideia da onde começar a procurar...-Ben disse.
–E eu vou ver as ruas que iremos usar para fugir. -Came murmurou.
Logo todos estavam caçando o que fazer.
–Vai dar uma de mulher Maravilha, Aninha?-Jhon se virou para mim.
–Bom, não sei se vou ficar bem em uma roupa de prostituta, mas o heroísmo vai além da moda, não è mesmo?
Ele não riu, como eu esperava. Invés disso ele aproximou o rosto do meu e murmurou.
–Você precisa tomar cuidado lá dentro, Ana. Eles não são amadores. Eles torturam por diversão. E matam por gosto.-A voz dele estava tão sombria que o arrepio que atravessou o meu corpo não me deixou surpresa.
–Eu vou tomar cuidado...-murmurei, encarando aqueles olhos exóticos.
–Isso è bom. Talvez você saia de lá viva.
Eu ia perguntar se ele estava zoando com a minha cara quando Bil me chamou. Desprendi meus olhos dos do Jhon e voltei-me para os nerds.
–Oi?
–Passe o seu número para Ben, ele vai mandar a planta do local pra você.
Passei meu número e fui atè Ben, fiquei atrás dele de modo que podia ver a tela do computador a sua frente.
–Então, provavelmente o pen drive vai estar no escritório. Está vendo como o clube è grande? O escritório fica nos fundos, ou seja, você vai ter que atravessar todo o lugar por isso precisa se comportar como uma das prostitutas deles.-Ben disse.
– Cada segundo perdido se torna um risco. - Gabe emendou.
Assenti com a cabeça e comecei a memorizar a planta.
–Eu liguei pro Clube, me passando como um cafetão interessado e perguntei se eles estavam pegando garotas novas. Eles disseram que precisam fazer avaliação do "produto" antes de assinar contrato-Erick falou-Pediram pra Ana ir lá amanhã.-ele deu de ombros.
Suspirei.
–Que ótimo-resmunguei.
Todos assentiram.
–Está tarde galera, vocês podem dormir aqui. Tem mais quartos lá em cima...
–Eu vou dormir com você!-Clara disse, o sorriso dela dizia que eles não iriam dormir.
Bil sorriu maliciosamente.
Torci o nariz.
–E eu vou pra casa.-disse me levantando. Estava exausta.
–Isso è uma péssima idéia.-Jhon disse.
Revirei os olhos.
–Porque?-Me virei para ele.
–Eles devem estar rondando a área, eles sabem que Lancaster mora lá. Que por acaso è seu vizinho, se eles verem você por aquelas bandas, vão desconfiar.
–Mas...
–Não tem "mas" ,Ana. Você vai dormir na minha casa, assim você mantèm o plano a salvo, sua família e sua própria vida.
Ponderei.
Ele tinha razão.
–Por que na sua casa, Jhon?-Lancaster perguntou, o olhando ameaçadoramente.
Jhon revirou os olhos.
–Por que a vossa senhoria convidou meio mundo pra dormir aqui. E você vai estar ocupado-ele apontou com o queixo para a Clara- para cuidar dela. Não è mesmo?
Pude sentir a raiva pular dos olhos de Bil.
Antes que Lancaster pudesse rebater, eu me enfiei entre os dois.
–O.k, vamos indo então ?-perguntei tranquilamente para Jhon.
–Claro, madame.-Ele disse , ainda encarando Jhon.
Qual o problema desses dois?
Eu e Jhon caminhamos atè a porta mas me virei antes de sair e coloquei minha cabeça pra dentro do apartamento.
–hã, e... Foi muito legal conhecer vocês. Vocês são uns gênios.-sorri.-Menos você,Clara. Espero que tenha pesadelos.-gritei antes de bater a porta.
Jhon riu e me levou atè o elevador.
Não percebi que sua mão estava na minha cintura.
Dei um tapa nele, que riu mais ainda.
Então só quando eu estava colocando o capacete e pronta para usar a incrível Harley que percebi que estava prestes a dormir na casa de um cara que eu só vira duas vezes na vida.