Quando ela voltou, estava no banho, tomando uma ducha gelada para acalmar os nevos.

– Oliver. – Disse abrindo uma fresta da porta. – Tome, isso deve te servir.

– Obrigado.

– Sem problemas.

E saiu dali, me deixando sozinho para pensar que, de tudo o que passamos hoje, esse era o momento mais incerto de toda a noite. Estar na casa dela, fazer parte da noite dela, atrapalhar sua rotina. Ela parecia tão amiga, tão prestativa. Talvez eu tenha negligenciado atenção a ela, as coisas andavam difíceis em casa com minha mãe, no trabalho com Isabel e descobrir que Merlyn era o pai de Thea, era de enlouquecer qualquer pessoa. E ainda tinha Sarah, que acabara de voltar ao mundo dos vivos.

Saindo do banheiro, vi que ela preparava algo na cozinha, podia sentir um cheiro maravilhoso. Não sabia que ela cozinhava, mas pelo jeito parecia ser muito boa nisso. O que mais Felicity Smoak poderia fazer de melhor? Parece que para ela, salvar minha vida, me dar abrigo, roupas secas não era o suficiente. Porém eu estava gostando daquilo.

– Não para de chover um segundo lá fora. – Olhei pela janela como se estranhasse aquela mudança climática na cidade naquela época do ano.

– E a chuva te preocupa tanto assim?

– Eles podem estar nos procurando lá fora.

– Já falei com o Dig, ele disse que não virão aqui. É melhor você ficar aqui por uns dias.

– Por quê?

– Você precisa se recuperar. Cair de um prédio não te deixa mais imortal, sabia?

– Quem pode dizer com certeza?

– Ora, eu! – Ela pegava dois pratos. – Eu te vi cair e eu estava lá para te levantar. Acho que não é o momento de sair e enfrentar um homem bem armado e preparado, sem estar cem por cento recuperado.

­– E amanhã? Como vou escapar da Isabel, preciso estar na empresa.

– Quanto a isso, deixe comigo. Darei meu jeito. – Sorriu pra mim.

E foi naquele sorriso que reparei todo o resto, ela estava com um roupão branco e felpudo bem colado ao corpo, os cabelos molhados caiam pelo rosto de uma maneira que ficara encantadora, sem muita maquiagem, ficara tão linda que fiquei desconfortável com aquele pensamento tão rude.

Ela me olhava com um sorriso nos lábios, como se soubesse que eu estava a encarando tempo demais, porém a única coisa que disse depois daquele silêncio terrível, foi como um balde água fria.

– A roupa de Joey ficou boa em você.

Ela tinha que falar no “Joey”.

– E quem é esse cara? – Dei a primeira garfada no espaguete que ela preparara. Nunca havia comigo um espaguete tão bom. – Algum amigo, ex ?

– Oh não! – Ela deu sua melhor risada. Céus, era como música. – Ele é só um conhecido. Na verdade falo mais com a mãe dele. Na verdade, ele não está, foi estudar e tentar uma bolsa para conseguir entrar em um time de futebol universitário. Você já teve dezoito anos, sabe como é.

Então ele era apenas uma criança. Como pode relevar uma criança a esse ponto de importância na vida dela.

– Então, ele tem dezoito?

– Sim, ele é não é um homem feito nem nada. – Me olhou desconfiada. – Por quê? Achou que eu pudesse ter algo com ele?

– Oh não, Felicity! – Apressei-me a dizer, antes de sentir um alívio. – Mas não sei, você pega as roupas dele com a mãe e está tudo bem, no mínimo poderiam ser amigos próximos, assim como nós.

– Nós temos um relacionamento profissional também.

– Oh, não faça isso com o seu coraçãozinho. – Dei meu costumeiro sorriso que conquistava todas as mulheres, mas ela mal pareceu nota-lo. Não funcionava com ela? A queda me fez perder o jeito?

– Não faço. Bom, vou arrumar a cama. Coma tudo.

– Ok, mamãe.

– Quieto, Oliver. Tenho idade pra ser sua irmã mais nova.

Se ela soubesse que jamais conseguiria olhar para Thea desse jeito.