A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 6
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Repetição de palavras... às amo!



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Cruzei os braços sobre o peito para me livrar do frio que sentia internamente. Os homens, em silêncio, continuaram trabalhando e, menos de uma hora depois, as carroças se dirigiram para a estrada. Mas uma delas permaneceu. A que estava ali dês da minha chegada.

Inquieta e atormentada pelos eventos do dia, olhei para a escuridão, pensando no que eu deveria fazer. A exaustão me tentava a procurar o calor daquela cama grande que dominava o quarto. Estava quase me afastando da janela quando um movimento nas sombras atraiu minha atenção. Abrindo um pouco mais a cortina, esperei.

A apreensão tomou conta de mim, ao ver uma sombra grande, as abas de um casaco sopradas pelo vento e os ombros largos. O reconheci antes mesmo de enxergar seu perfil.

Edward Cullen. Um monstro na forma de homem. E, aparentemente, rei dos ladrões.

Fui acordada pelo som do relógio do corredor. Era meia-noite. Ergui-me, com todos os sentidos aguçados, ouvindo também um som estranho de alguma coisa raspando do lado de fora da porta. Prendendo a respiração sentei na cama, tensa.

Decidi levantar e caminhei até a lareira para pegar o atiçador de ferro que estava no chão. Com mãos trêmulas, agarrei o frio metal. Antes de me deitar, tinha acendido o lampião, sem coragem para ficar no escuro em um ambiente tão desconhecido e amedrontador.

O som se repetiu, mais audível. Agora, a luz do lampião iluminava a fechadura e eu vi a chave ser empurrada até cair no chão de madeira. A maçaneta se moveu devagar e, com um rangido leve, a porta se abriu.

Aterrorizada, ergui o atiçador da lareira quando Edward entrou no quarto.

— O que o senhor está fazendo aqui? — perguntei, os lábios ressecados, sem saber se ficava espantada ou aliviada.

Equilibrando um prato em uma das mãos e uma garrafa de vinho na outra, Edward se abaixou para pegar a chave do chão. Depois de tornar a trancar a porta, colocou a chave na pequena mesa ao lado da cama, assim como o prato e a garrafa de vinho. Em seguida, tirou o pesado casaco e o pendurou no prego em que eu havia colocado minha capa.

— Por que está aqui, sr. Cullen? — eu repeti, mantendo o atiçador erguido.

Ele me fitou. A luz do lampião acentuava a curva sensual dos seus lábios e a perfeição dos seus traços.

— A hospedaria está lotada. Estou aqui para partilhar a cama.

Ele devia estar brincando. Apertei com mais força o atiçador e o observei, enquanto ele tirava o paletó e o pendurava na coluna da cama. Notei que faltava um botão, e mal consegui respirar quando vi, com o canto do olho, que ele abria a camisa e a tirava de dentro do cós da calça. Minha pulsação acelerou ao ver o peito sólido exposto. Ele ergueu a barra da camisa e tirou uma pistola do cinto.

Senti os lábios secos e um calor intenso ante a visão da pele nua e da trilha de pelos ruivos.

— Partilhar a cama? Acho que não, senhor.

— Planeja me atacar? — Ele apontou para o atiçador.

— Se for preciso — eu declarei, corajosamente.

— Vá em frente — ele resmungou.

Ante essa ordem, meu coração disparou, deixando-me ligeiramente tonta. Mal podia acreditar que Edward tinha me salvado daqueles homens horríveis para depois perpetrar o mesmo ato vil. Seria minha virtude parte do preço que ele cobraria do meu pai? Caminhou até a cabeceira da cama e brandiu sua arma, embora seus braços estivessem quase paralisados.

— Que tipo de monstro é o senhor? — perguntei, sem conseguir me controlar.

— Um monstro cansado. — Ele pôs a pistola no chão ao lado da cama e virou-se em minha direção. — Agora, seja uma boa menina e pare de me ameaçar.

O fitei, assombrada. Ele esperava que eu lhe desse as boas-vindas? Que permitisse que ele se deitasse na minha cama? Ressentida, percebi que parte mim desejava tocá-lo, apoiar a mão sobre o peito largo, sentir a pele macia, boca e... Furiosa comigo mesma e com ele, reuni uma coragem que eu nem sabia que possuía.

— Eu lutarei com o senhor — murmurei. — Eu o golpearei na cabeça.

Eward me estudou durante um momento, passando o polegar sobre o lábio inferior.

— Gostaria que não o fizesse...

— Não serei rendida facilmente por sua...

As palavras sumiram quando ele, com muita facilidade, tirou o atiçador da minha mão e o jogou no chão. Fitou-me, com olhos brilhantes sob a luz do lampião. Então, eu senti o perfume dos cabelos, das roupas, da pele, um aroma cítrico, além de um calor que devia ser só dele.

Apesar da minha ignorância em tais assuntos, reconheci a sensação. Eu desejava aquele homem terrível e belo. Tentei controlar minha respiração arfante. Meu pulso estava acelerado em um ritmo selvagem, minha mente gritava alertando-me que devia fugir, mas não me movi, hipnotizada pelo calor que pude identificar nas profundezas daqueles olhos. Oh, céus! O que havia de errado comigo?

Abri a boca para exigir que ele se retirasse imediatamente, que...

Naquele momento, Edward me beijou, experimentando minha boca, saboreando meus lábios, tocando-me com a língua. Apenas em meus sonhos mais secretos imaginei ser beijada, e nunca com tanta intensidade.

Os lábios dele tinham gosto de cravo-da-índia, de vinho e... de homem. O quarto pareceu girar. Mas eu não sentia nada a não ser Edward me beijando. Esqueci de odiá-lo. Esqueci de tudo exceto das carícias da língua que me explorava e do calor que quase me fez desfalecer. Agarrei o tecido solto da camisa dele, minha única âncora naquela tempestade que me tragava.

— Bella...— Ele se afastou, fazendo o suave linho do tecido escapar dos meus dedos. Dando um passo para trás, passou a mão pelos cabelos em um gesto de frustração e suspirou profundamente, soltando os braços ao longo do corpo, os punhos cerrados.

Era evidente que lutava para conter uma grande emoção.

Depois de um momento, me fitou, parecendo perturbado, para logo em seguida contrair os lábios.

Estaria contrariado comigo?

Quando Edward tornou a falar, sua voz era áspera.

— Perdoe-me. Fui abusado.

Não, ele estava contrariado consigo mesmo.

Olhei para baixo, para meus pés e tornozelos nus que a roupa de dormir não cobria. Não lutei com ele como prometi. Em vez disso, me rendi a ele de uma maneira humilhante. Lágrimas corriam por meu rosto. Com movimentos frenéticos, tentei ajeitar os lençóis da cama, para deitar-me e me cobrir. Precisava também esconder a evidência do meu temerário abandono de minha imprudência.

Edward deu um passo em minha direção.

— Espere. Deixe que eu faça isso. Você está fazendo uma confusão.

Eu empurrei a mão dele quando ele pegou a ponta do lençol, retraindo-me ao perceber o que acabei de fazer.

— Sr. Cullen...

— Edward.

— É sr. Cullen para mim.

Ele não disse nada, apenas pegou os lençóis e rapidamente os arrumou. Por que ele tinha que ser tão gentil? Seria mais fácil odiá-lo se ele não agisse daquela maneira, se ele me tratasse mal. Seria mais fácil proteger-me dele. Por que eu era tão fraca a ponto de um beijo me perturbar tanto?

Endireitando-se, ele pegou o prato de comida que trouxe e voltou-se para mim.

— Como eu estava dizendo... não desejo que lute comigo. Quero apenas comer e dormir, e, pela manhã, desejo acordar ao alvorecer para tratar de negócios. Não há lugar para lutas e discussões nos meus planos.

Tampouco eu estava em posição de brigar, pensei. Era sua escrava, sua criada, certamente menos do que nada aos olhos dele. Como se lesse meus pensamentos, ele falou casualmente.

— Se insistir em brigar, terei que amarrá-la à cama.

Aquelas palavras me fizeram gelar. Uma ameaça vinda de um homem que acabou de me beijar com paixão? Sim, é claro. Ali nós não estávamos em um jogo de paixão e afeição, ou respeito. Eu deveria sempre me lembrar disso.

Com um suspiro, Edward pôs o prato de volta à mesa, colocou as mãos em minha cintura e conduziu-me até um dos lados da cama. Antes que eu pudesse reagir, ele ajeitou um travesseiro e deitou-se sobre os lençóis a meu lado.

— Qual é o seu plano para mim?

— Eu sei o que não planejei. —percebi que ele olhava para meus lábios e, logo em seguida, fitou-me.

Aquele olhar enviou uma onda de calor para todo o meu corpo, confundindo-me, e eu me concentrei em uma rachadura no teto até controlar a respiração.

— Por que viemos aqui? — eu ousei perguntar.

— Porque tenho negócios a tratar.

As palavras dele me provocaram desconfiança. Vi seus negócios pela janela, embora eu não tivesse intenção de confessar a ele.

Sentando-se, ele ergueu a barra das calças revelando um punhal dentro de uma bainha amarrada em sua perna. Soltou-a, colocando a arma sobre a pequena mesa, ao lado da garrafa de vinho. Pegou, então, o prato de comida e colocou-o sobre meu colo. Serviu-se de uma coxa de galinha antes de dizer:

— Logo terminarei meus negócios. Agora, coma.

Pisquei. Havia uma pistola no chão e um punhal na mesa. Edward não era o cavalheiro que os habitantes de Forks imaginavam. Não... eu estava rapidamente me convencendo de que ele era um contrabandista, o pirata que Esme havia dito.

Respirando fundo, olhei para a montanha de comida na minha frente e fiquei atônita ao perceber que estava com fome. Mordendo o lábio, o vi pegar a garrafa de vinho da mesa e colocá-la entre as pernas. Engolindo em seco, desviei o olhar.

Aquele homem, aquele estranho, me tinha tirando do meu pai, me tinha tiranizado, aterrorizado e me colocado em perigo. Mas também tinha me proporcionado conforto, matado minha fome e me mantido aquecida. Ele me defendeu de estupradores e salvou minha virtude, talvez até mesmo minha vida.

Continuei o observando. Ele parecia ter se esquecido de mim. Estava com a cabeça inclinada levemente para trás, descansada sobre a cabeceira da cama, os olhos fechados enquanto mastigava. Tive o instantâneo desejo de lhe acariciar o rosto, e tive o olhar atraído para seus lábios.

Lembrei do nosso beijo. Um beijo intenso, delicioso, arrebatador, que me afastou da realidade. Aquilo era insano. Fiquei apavorada ao ser atacada, mas ali, deitada ao lado de um homem de moral duvidosa, não sentia medo.

Desculpe-me. Fui abusado.

A constatação de que eu o tinha perdoado era um veneno amargo. Sim, eu o perdoei embora não encontrasse lógica naquilo. Ele era meu inimigo, um homem cruel e frio que representava tudo o que eu deveria desprezar. Mas, depois de apenas algumas horas passadas ao lado dele, estava me apaixonando.

A constatação me deixou arrasada. Desesperei-me ao pensar que desejo que sentia por coisas inatingíveis tinha feito com que eu tecesse fantasias com um monstro que colocou meu mundo de cabeça para baixo. Por isso, nunca me perdoaria.

— Isabella, você precisa comer. — Pegou uma coxa de galinha do prato e a ofereceu a mim.

Estava saborosa, crocante por fora e macia por dentro, e, antes que pudesse perceber, eu a devorei, bem como um bom pedaço de pão.

Terminada a refeição, ele pôs o prato sobre a mesinha e pegou a garrafa de vinho. Ofereceu primeiramente a mim, que recusei, meneando a cabeça. Levou a garrafa à boca, inclinando a cabeça para trás para tomar um bom gole antes de me oferecê-la mais uma vez.

O fitei intensamente por alguns segundos, sabia que os lábios dele haviam tocado o gargalo, que a língua tinha sorvido as gotas que tinham ficado ali. Com o pulso acelerado, estiquei o braço para pegar a garrafa. Tomei um bom gole e ao tirá-la da boca, passei a língua lentamente pelo gargalo. Percebi que ele me encarava, os olhos escuros e pesados.

— Tomou o suficiente? — perguntou, a voz de repente grave e profunda. Eu assenti e devolvi a garrafa, que ele depositou sobre a mesa, antes de apagar a lamparina.

— Boa noite, Isabella. Durma bem.

Edward virou-se de costas, e em segundos, a cadência suave da sua respiração indicava que ele havia adormecido.


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Notas finais do capítulo

Não sei quando irei postar novamente. Minha vida virtual de certo é muito mais fácil que a real, mas prometo que voltarei a postar em breve. Juro de mindinho :)

Ps.: Peço desculpas se os capítulos estão grandes de mais ou muito pequenos, também. ;)
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imagem: http://noeling.deviantart.com/