A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 16
Capítulo 16


Notas iniciais do capítulo

O grande mistério da fic, enfim resolvido...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/500322/chapter/16

Despertei nos braços de Edward. A luz do sol penetrava pela janela, imprimindo às paredes e ao piso do quarto um brilho alegre. Achei que passava do meio-dia. Fechando os olhos, senti-me muito bem, sem sombra de vergonha ou de culpa. Sorri, em paz. Tinha transposto todas as fronteiras do bom senso. Havia encontrado a felicidade e o amor.

Gelei ao pensar que o amor apenas tinha valor quando era partilhado entre os dois. Do que valeria se apenas um amasse?

— Está contrariada, querida? — Edward perguntou ao vê-me com as sobrancelhas franzidas. Eu sorri.

— Assim está melhor. Você fica mais bonita quando sorri. Quero sempre vê-la sorrindo.

Me virei de lado, para vê-lo melhor.

— Somente um tolo ri o tempo todo.

— Você não é tola, Bella — ele disse, afastando uma mecha de cabelo de meu rosto.

— Não sou? — sussurrei. — Não sou a maior tola... — Apertei os lábios e Edward ficou esperando que continuasse.

Como eu nada disse, foi a vez de Edward franzir o cenho.

— Arrependimentos, amor?

Amor. Ele me chamou de amor. Teria realmente um significado?

— Sem arrependimentos. — sim, jamais me arrependeria das horas que passei nos braços dele, das delícias que ele me proporcionara. — Não, Edward, não me arrependo de nada.

Ele sorriu e, naquele momento, eu percebi que também o fiz feliz. Sua expressão era de paz e de felicidade, e meu coração se encheu de esperança.

— Você foi maravilhoso, ontem à noite — sussurrei.

— Obrigado, doçura — ele respondeu, parecendo surpreso.

— Oh, não! Não estou me referindo a isso. Quis dizer na praia. Quando salvou a criança e todas aquelas pessoas. Não me referi ao ato de amor...

— Fazer amor comigo não foi maravilhoso? — Um sorriso insinuou-se em seus lábios. — Estou desolado... Mas posso tentar de novo...

Com um movimento rápido, ele deitou-se sobre mim, rindo com jovialidade. Lembrei de ele ter dito que ria pouco. Aparentemente, eu consegui resgatar nele o desejo de rir.

— Edward, você é um verdadeiro herói. Salvou muitas vidas.

— Não fantasie sobre mim, Bella. Se eu fosse realmente honrado, como você diz, eu seria um homem muito melhor.

— Arriscou a vida pelos outros — argumentei.

— Mas nada pode apagar os pecados do meu passado, doçura, ou fazer renascer as vidas que tomei. Nem apagar o fato de que não sinto remorso.

Fui percorrida por um calafrio. Sabia que ele tinha matado. Quantos? Queria acreditar que Edward apenas matara por não ter tido outra opção, que não matara pessoas inocentes.

— Sei que você sonha, Bella. Não sonhos doces e alegres, mas sonhos atormentados e doloridos.

Não respondi, e tampouco neguei. Sim, ele sabia dos demônios que povoavam meus sonhos quando eu dormia. Ele já presenciara um dos meus pesadelos.

— Eu também sonho, querida — continuou, com a voz suave e calma. — Acordo com o suor escorrendo pelas minhas costas. Sinto o pescoço dele entre minhas mãos, o barulho do seu pescoço quebrado e a satisfação quando finalmente parou de se agitar. Mas não me obrigo a sentir arrependimento.

— Edward...

O que eu não daria para apagar aquela dor do coração dele.

Vi um brilho passar pelos olhos dele, e quando tornou a falar, sua voz não era mais que um sussurro.

— Os fantasmas estão nos meus sonhos, Bella. Esperando por mim, os olhos escuros, como cavernas sem fim. — Olhou para as mãos. — Você achou que Laurent foi o primeiro?

Emiti um som parecido a um gemido. Edward se afastou de mim e levantou-se, nu e imponente. Atravessando o quarto, apoiou uma das mãos na parede e se curvou, abaixando a cabeça e respirando profundamente. E eu chorei, desejando muito amenizar sua dor.

— Que tortura é essa de querer a filha do meu inimigo? — Edward olhou para mim. — Agora tenho que escolher entre a vingança, que alimentou minha vida todos esses anos, e você, Isabella. Você, que abrandou a dureza do meu coração. — Ele fez uma pausa. — Você, que me ofereceu paz, a paz que eu não conhecia.

— Edward — sussurrei, erguendo-me para ir até ele com cuidado, pois minha perna doía.

Apoiei o rosto nas costas dele e acariciei sua pele cálida. Ele cheirava a sol e mar, a meu sabonete do banho e cheirava a homem, puro e limpo.

— Eu tinha onze anos de idade — começou. — Estava em um navio que afundou, atraído pelos destruidores de navios. Lembro-me do som de madeira quebrando e de minha mãe agarrando minha mão, com força. Meu pai havia sumido e fomos lançados nas ondas. Agarramo-nos em pedaços de madeira e tentamos flutuar. A praia não estava longe e havia fogo. Aquilo nos deu esperança.

Lembrei da fogueira que haviam acendido na noite passada, as chamas aquecendo os sobreviventes. Mas, mesmo antes de ele ter proferido aquelas palavras, eu sabia que o fogo das recordações de Edward tinha sido aceso com outros propósitos.

— Então, vimos homens lutando contra a arrebentação — Edward continuou. — Estávamos perto deles, minha mãe gritando por ajuda, exausta, os dentes batendo de frio... Lembro-me do instante em que ela percebeu que não viriam nos resgatar. Ela tentou me proteger, implorando, enquanto eles tiravam suas mãos da prancha de madeira à qual estava agarrada e observavam, impassíveis, a luta dela para não afundar.

— Oh, Deus, Edward— murmurei, agarrando-me a ele.

Ele acariciou meus cabelos distraidamente, antes de continuar.

— Ela afundou rapidamente, desaparecendo sob as ondas.

Apesar de ele falar sempre no mesmo tom e ritmo, eu sabia que internamente ele estava arrasado pelas recordações. E eu também, com a imagem de um menino sozinho na água fria, observando a mãe desaparecer, afogada. Eu tinha a mesma lembrança.

— Você está com frio. — Edward me levou de volta para a cama. — Deixe-me embrulhá-la no cobertor, doçura, antes que se resfrie.

Mesmo naquele momento, dominado por terríveis recordações, ele pensava em meu bem-estar, no meu conforto e na minha segurança. Não protestei quando ele pôs o cobertor sobre meus ombros, deitando-se comigo e abraçando-me.

— Como você sobreviveu?

— Um dos homens me agarrou pela camisa, me tirou da água e me arrastou até o rochedo. Era um homem grande e mas magro. Não me lembro do rosto dele, mas jamais esqueci aquela voz. Ele perguntou se eu sabia nadar, e foi a única vez na vida em que eu menti bem. O espírito de minha mãe governou meus lábios — Edward me abraçou com mais força. — Eu disse que não, e ele me atirou no oceano como se eu não pesasse mais que uma pluma. Lembro-me da força da maré e das ondas brutais. E do medo. Logo percebi que nada sabia a respeito do medo.

Edward riu, um riso destituído de alegria.

Deus, como eu gostaria de afastar aquele horror. Ficaria contente em partilhar a dor com ele, de poder arrancar a agonia do seu peito. E, naquele momento, senti que meu coração dilatava e minha emoção crescia com cada palavra que ele proferia.

Realmente, eu amava Edward Cullen, contrabandista, pirata, o pequeno menino perdido. Amava-o com força, com uma força tão grande que me aterrorizava, pois apenas tragédia podia advir de um homem tão perigoso, de intenções tão cruéis. Sim, ele me magoaria, mesmo sem desejar. E eu permitiria.

— Não posso abrir mão da minha vingança, Bella — declarou, dando voz aos meus pensamentos e temores.

— Você fala em vingança, mas ainda não sei por que odeia meu pai. — segurando a colcha ao redor do meu corpo, sentei-me e o encarei, determinada a escutar toda a história e tentar plantar a semente da esperança no coração de Edward.

— Por que precisa saber?

— Por quê? Você quer destruir meu pai, minha única família, e pergunta para que eu quero saber?

— Quero poupá-la.

— Então poupe meu pai — disse. A expressão dele endureceu.

— Fui tirado das águas por um navio que transportava conhaque francês e seda furtada, e, em um dia, os cobradores de impostos prenderam todos a bordo. O capitão disse que eu tinha sido recolhido do mar quase afogado. Mas um dos cobradores não acreditou, achando que eu era um ajudante de pirata.

Olhei para ele, desanimada. Tinha conhecimento de que meu pai não foi sempre dono de uma hospedaria e, naquele exato momento, subi o que papai fez. Meu pai era o homem sobre o qual Edward estava falando.

— Ele fez com que me enviassem ao porão do navio.

O porão. Prisão dos navios à qual nem os adultos sobreviviam.

Ouvi rumores a respeito do que se fazia aos homens nos porões, e sabia que os que conseguiam sobreviver voltavam acabados e mentalmente insanos.

Meu pai havia condenado uma criança ao inferno. Uma criança que se tornara aquele homem, cheio de ódio. Deus do céu, eu não suportaria o peso daquela culpa.

— Eu peguei na barra do casaco dele e implorei de joelhos e ele me chutou como a um cachorro. Foi a última vez que implorei a um homem. — Acariciou meu cabelo, uma gentileza que fazia sentir-me confusa, uma ternura que não combinava com a gravidade do que ele acabara de me contar. — E, de repente, eu reconhecia a voz daquele homem. Eu a ouvia em meus pesadelos. Algumas noites, ainda ouço.

Ele permaneceu em silêncio durante um momento, e eu pude sentir meu coração bater furiosamente. Cada batida antecedendo a próxima, mais forte, mais dolorida, até que não pude mais mover-me e nem respirar.

Nós nos fitamos.

— Aquela voz perguntando se eu sabia nadar.

A dor era terrível e profunda, como uma lâmina rasgando-me a carne.

Meu pai. Meu pai.

Fui assaltada por recordações das bebedeiras dele, das palavras que às vezes me horrorizavam... Mas aquilo... lágrimas escorriam de meus olhos.

— Meu Deus, o que você sofreu por causa do meu pai... — balbuciei, desolada. — Pensei que ele fosse um homem bom. Um bom pai.

Estaria errada? Meu pai seria o mesmo homem que Edward conheceu?

— Um bom pai... — Ele meneou a cabeça. — Deixe-me contar-lhe a respeito de um homem bom. Meu pai sobreviveu ao naufrágio e passou toda a vida à minha procura, viajando de país em país, perseguindo o fantasma do filho que ele se recusava a acreditar ter perdido. Seus pulmões eram fracos e, me contaram depois, ele tossiu até sua vida se esvair. Morreu ainda sonhando que me encontraria.

Alguma coisa me disse que a história ainda não acabou, que ainda havia coisa pior.

— Meu pai morreu um dia antes de meus pés pousarem em solo inglês, um dia antes de eu chegar à sua porta. Em vinte e cinco de julho de 1802. Sobrevivi à prisão do navio e ao pequeno navio de um pirata apenas para mergulhar em outro inferno no meu retorno. Meu pai morreu sem ver meu rosto de novo, e eu o encontrei morto. Jurei sobre o corpo de meu pai e em memória de minha mãe que Charlie Swan pagaria pelas marcas nas minhas costas e pelo ódio em meu coração, e pagaria em dobro pelo desperdício da vida do meu pai.

Ali estava o final da história, um final terrível e trágico que eu jamais teria imaginado. Estava horrorizada demais para chorar, embora meu coração chorasse lágrimas de sangue pelo que ele sofrerá. Edward tinha pouco menos de trinta anos e sofrerá por toda uma vida.

O bom senso dizia-me que devia fugir daquele homem antes que ele me destruísse. Em vez disso, aproximei-me dele, segurando seu rosto com ambas as mãos e beijando seus lábios com muito carinho.

— Minha — sussurrei. — Sua dor é minha. O menino que você foi, o homem que você é. Todos estão no meu coração.

Edward se afastou um pouco, segurou meus pulsos e me olhou com severidade.

— Não vou ceder a você, Isabella.

— E eu não pouparei esforços para fazê-lo mudar de opinião.

Eu não sentia medo. Ele nunca me magoaria de propósito. Poderia magoar-me pelo que faria a meu pai e pelo que causaria a si mesmo.

Eu sabia que a vingança não proporcionaria paz. Do mesmo modo que a morte daquele home que tanto me trouxe dor anos atrás não me tinha confortado.

O olhar de Edward pousou sobre meus lábios, e ele largou meus pulsos.

— Nunca foi minha intenção imiscuí-la no meu ódio. Apenas desejei tirá-la daquele lugar, a única inocente nesse sórdido jogo. — Meneou a cabeça várias vezes. — Devo libertá-la, mandá-la de volta para a sua casa.

Havia quanto tempo sonhava em ser livre, voar como o corvo ou correr como os pôneis que atravessavam as florestas. Mas não podia imaginar que a liberdade seria deixar Edward Cullen.

— Mandar-me embora, Edward? Porque não sou mais útil ou por medo de que eu enfraqueça sua resolução?

— Minha resolução nunca enfraquecerá, carinho. Ela foi forjada com meu sangue.

Eu não sabia o que aconteceria, mas não poderia tomar outra estrada. Umedecendo os lábios, falei:

— Se um de nós tem que ir, Edward, deve ser você. — tentei sorrir. — Como vê, você está no meu quarto.

Com um som que era uma mescla de risada e gemido ele beijou-me, sorrindo.

— E aqui que reside a loucura.

Nossos olhares se encontraram.

— Então, somos um bom par. Se ambos somos loucos, nenhum perceberá a doença do outro.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Esse capítulo só seria postado amanhã, mas não resisti. Espero que tenham gostado e, Tininha, você tem que me dizer onde comprou a sua bola de cristal kkk.
Até a próxima gente...