A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 13
Capítulo 13


Notas iniciais do capítulo

Peço perdão pela demora, mas minha coluna no jornal da escola está tirando meu sangue, literalmente (cortei-me 3 vezes com papel sulfite e só essa semana. Cara, estamos em pleno século XXI, as pessoas usam o Word para rascunharem!) e minha redatora também não é nada gentil, ela afirma que minhas noções do uso da virgula e da crase são inferiores as de uma criança de 2 anos. É o cumulo. Vocês concordam com ela?
Bem, espero que vocês gostem do capitulo. Quanto ao tamanho, vou tentar compensar vocês depois. :)



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Na manhã seguinte havia neblina. O frio e a umidade me faziam tremer. Andava em direção ao cemitério, um caminho penosamente familiar.

De repente, fiquei inquieta. Virei-me, ciente de que não estava sozinha, que olhos ameaçadores me vigiavam. Não vi ninguém, mas senti uma presença. Já senti aquilo antes, no dia em que o corpo de Rosalie tinha sido retirado do mar. No dia em que Edward Cullen veio até mim.

Naquele dia, eu tive a firme convicção de que alguém me observava, primeiro nas sombras e depois nos rochedos. E agora tinha o mesmo pressentimento. Tensa, olhei ao redor mais uma vez, ansiosa, preocupada, procurando por alguma ameaça invisível. Nada vi e aquilo me fez pensar que talvez a angústia estivesse confundindo minha racionalidade, fazendo-me ver perigo onde não existia.

Estava cansada, as emoções em tumulto. As longas horas da noite haviam sido um tormento sem descanso. Tinha me enfiado sob os cobertores, o horror das palavras de Edward rastejando sobre os meus pensamentos até que a exaustão me fez conciliar o sono. Mas não foi um bom descanso.

Meu coração estava pesado por ter absorvido a miséria de Edward, como também seu sofrimento. Havia profundezas no caráter dele e tormentos que eu simplesmente não conseguia entender.

Chegando à sepultura de minha mãe, abaixei-me até a lápide. Dobrei a perna sadia que tinha condições de suportar meu peso, deixando a outra em descanso. Uma pilha de folhas secas havia se acumulado sobre a tumba, e afastei com as mãos.

Com o túmulo limpo, ia me levantar quando vi uma pequena concha rosada, meio enterrada. Peguei e a limpei. Era a concha que peguei na praia naquele dia em que tinha visto Edward. Lembrei-me de Rosalie, pálida, emoldurada pelo cabelo loiro, ao ser retirada da água.

Pondo-me de pé, olhei ao redor. No canto mais afastado do cemitério, abaixo do olmo morto, havia terra escura e fresca. Rosalie estaria enterrada ali? Sozinha, sem ninguém para cuidar dela?

Lágrimas assomaram aos meus olhos. Estranho sentir tanta empatia e tristeza por uma mulher que não conhecia. De repente, decidi que precisava descobrir o que aconteceu com Rosalie.

Talvez Esme soubesse de alguma coisa. Sim, era exatamente do que eu precisava. Uma visita e uma xícara de chá com minha prima.

— Desculpe ter demorado tanto, mamãe — sussurrei.

Passei os dedos sobre a miniatura de vidro e congelei. Não estava mais rachada. Estava intacta. Alguém a tinha consertado. Edward. Mais uma inexplicável gentileza.

Dormi mal desde que cheguei a Pattinson, sozinha na cama fria, sentindo falta do calor do corpo dele, do seu cheiro e até da cadência da sua respiração. Deitada ao lado dele na cama da hospedaria tinha me sentido segura e protegida, sensações que não experimentava havia mais de uma década. Ele tinha afastado meus pesadelos.

Respirando profundamente, caminhei entre as sepulturas, decidida a procurar a companhia de Esme. Sai do cemitério e fechei o portão atrás de mim. As dobradiças rangeram em protesto e eu parei. Olhei para o olmo morto, os galhos secos se esticando na direção do muro como dedos magros e longos. Um ruído de folhas secas pisadas chamou minha atenção. Teria alguém se movido atrás do tronco? Ou fora um galho quebrado? O grasnar do corvo cortou o ar. Suspirando, virei a cabeça, sentindo-me tola. Não havia mais ninguém ali.

Envolvida pela neblina, caminhei vagarosamente até a casa de Esme. Ao ver a fumaça saindo da pequena chaminé, sorri, pois minha prima estava em casa. Encontrei a porta aberta.

—Esme— chamei, empurrando a porta. — Alô?

Sem resposta, chamei de novo. Sai, então, para procurá-la, mas não a vi do lado de fora. A porta aberta e a fumaça na chaminé eram sinais de que ela logo estaria de volta. Sabendo que sempre era bem-vinda à casa de minha prima, entrei.

A sala simples estava arrumada e limpa e havia um cheiro delicioso de guisado no ambiente. Sobre a mesa, um só prato e uma xícara vazia. Sentei-me em uma das duas cadeiras, preparando-me para esperar. Alguns momentos se passaram e eu olhei para o prato sobre a mesa.

Era bonito. As flores me faziam pensar no sol e no verão. Passei os dedos na borda do prato. As flores... Inclinei a cabeça para o lado, pressentindo alguma coisa.

Me levantei com tanta força que a cadeira quase tombou para trás. Ofegante, não conseguia determinar o que estava sentindo, apenas sabia que a sensação era estranha e poderosa. Apoiei as mãos na mesa, certa de que havia alguma coisa errada, muito errada. Não queria mais permanecer ali. Corri até a porta e, erguendo a cabeça, deparei-me com uma sombra alta que bloqueava minha passagem. Assustada, levei a mão a garganta antes de reconhecer quem era.

— Sr. Jasper— eu quase gritei. — O senhor me assustou.

Havia preocupação nos olhos dele quando se afastou para que eu pudesse passar. Notei que ele também parecia surpreso. Ele não estava me seguindo, pois não esperava me encontrar ali.

— O que o senhor está fazendo aqui? — perguntei. — Conhece minha prima Esme?

Ele olhou para o interior da casa com uma expressão que eu não consegui identificar.

— Vim buscá-la — respondeu, por fim.

Tinha certeza de que ele mentia. Recordei que Jasper falhara em proteger-me não uma, mas duas vezes, e Edward havia ficado furioso em abas, não o incumbiria novamente de tal tarefa. Haveria alguma implicação naquilo, ou eu estaria novamente vendo coisas onde nada existia?

Abaixando a cabeça, vi folhas secas grudadas nas botas dele. Como as que vi no cemitério. Afastei aquela desconfiança. Havia folhas secas em todos os lugares. Saindo da casa de minha prima, fechei a porta atrás de mim.

Enquanto caminhavamos de volta a Pattinson, ponderei todas as possibilidades que poderiam ter precipitado a mentira dele.

E não pensei em nenhuma que não fosse perturbadora.

Retornei a Pattinson a tempo de ver Edward sair. Não havia mais falado com ele desde o encontro na praia, quando tínhamos nós beijado. Ele olhou-me e, mesmo a distancia, eu pude perceber o brilho dos seus olhos.

Aonde ele iria? Fiquei parada à porta muito tempo depois de ele ser engolido pela neblina, ao lado de Jasper.

Na manhã seguinte, eu estava desesperada para preencher as horas com alguma tarefa, para afastar os pensamentos depressivos. Procurei a governanta, a sra. Charlotte, e propus a ela limpar e arejar a ala oeste da casa, embora, eu esperasse encontrar objeções à minha sugestão. Surpreendentemente, a governanta aprovou a ideia e chamou outra criada, Lucy, para me ajudar.

Nós duas trabalhamos conversando, e passei a me sentir cada vez melhor. No final da tarde, tínhamos começado a limpar um quarto empoeirado do terceiro andar, cheio de teias de aranha penduradas nos cantos e um cheiro de desuso no ar.

Espanei as cortinas e as almofadas do sofá enquanto pensava novamente no estranho comportamento de Jasper no dia anterior. Com um suspiro, bati na almofada do sofá que soltou uma nuvem de poeira, fazendo-me tossir.

— Gostaria que permitisse que eu fosse buscar Maria e Nettie, senhorita — Lucy disse, franzindo o cenho. — Poderia dizer a elas o que deseja que seja feito.

— Não — respondi, pela centésima vez. — Não tenho intenção de me sentar para observar os outros trabalhando. Preciso me manter ocupada, Lucy.

— Sim, senhorita. — A criada virou-se para limpar o lavatório, mas seu descontentamento era claro. — Linda jarra — comentou, após alguns momentos. — Gosto das flores. — Mergulhou um pano no balde de água e o torceu, sorrindo.

— Vou buscar água limpa. — eu disse.

— Traga também mais alguns panos. — então fui até o lavatório e joguei os panos rasgados dentro do balde. Olhei para a jarra florida. E congelei.

Lembrei-me nitidamente do prato e da xícara na mesa de Esme, certa de já ter visto aquela louça, fina demais para uma cozinha tão simples.

A louça de Ginna tinha o mesmo desenho da louça de Esme.

— Está se sentindo bem, senhorita? — Lucy perguntou, assustada. — Está branca como papel!

— Não... sim... eu... — Meneando a cabeça, tentei traçar uma conexão entre minha prima e Gianna McCarty. A porcelana era idêntica, com um desenho que nunca vi na mesa de Esme antes.

Pensei em Emmett McCarty com seu comportamento sujo, suas ameaças e seu punhal. Ele estivera em Forks na ocasião da morte da pobre Rosalie. No dia em que Esme sussurrara que havia visto a luz dos destruidores de navio ao norte.

Era aquela a origem da porcelana de Ginna? Teria seu filho Emmett atraído um navio para as rochas e matado todos os sobreviventes?

— Venha sentar-se. — Lucy pegou-me pelo braço e me levou até o sofá.

Olhei pela janela, forçando um sorriso.

— Apenas preciso de um pouco de ar, Lucy.

Ante o olhar de dúvida da criada, abri a janela e respirei profundamente, olhando para fora. Devido ao adiantando da hora, o sol havia esmaecido e nuvens escuras moviam-se para a costa. O ar frio me envolveu, fazendo-me tremer.

Lucy emitia sons de angústia. Me virei e coloquei a mão no ombro da criada.

— Vá buscar água, Lucy. Como vê, estou bem. Foi apenas a poeira, nada mais.

— Trarei Maria comigo quando voltar. E não aceitarei uma recusa.

Desesperada para ficar sozinha com meus pensamentos, concordei e me voltei para a janela, ouvindo os passos de Lucy se afastando. Olhei durante algum tempo para o oceano agitado, um reflexo do caos que dominava meus pensamentos. Prestes a abandonar meu posto, uma pequena luz bruxuleante ao norte chamou minha atenção. Após piscar duas vezes, desapareceu.

As ondas bravias se erguiam antes de se chocarem contra os rochedos. Curvando-me para a frente, vi, em meio ao furor do mar, uma luz subindo e descendo como um homem bêbado, jogado para um lado e para o outro pela água agitada.

Percebi que se tratava de um pequeno navio. Pego pela tempestade, estava sendo forçado a se aproximar cada vez mais da costa traiçoeira.

Olhei de novo para La Push. Teria visto uma luz na praia, uma luz falsa, traiçoeira e má? A luz dos destruidores de navios, que tentavam atrair aquele barco para a destruição e para a morte?

Minha pulsação se acelerou e corri do quarto na esperança de encontrar ajuda. Por um instante, pensei que minha perna fosse fraquejar, mas continuei correndo, forçando o joelho fraco. Pedindo ajuda, desci a longa escada de forma desajeitada, apoiando-me no corrimão. Mais de uma vez achei que ia cair. Cambaleante, gritei e fui agarrada por dois braços fortes.

Era Edward. Seus cabelos estavam úmidos e mais escuros, devido à chuva. Ele devia ter retornado naquele momento.

— Está ferida? — perguntou, ansioso. Ofegante, eu apenas balbuciei algumas palavras.

— Um navio... Eu vi pela janela. Acho... Acho que se chocará com as rochas.

Os olhos de Edward ficaram mais escuros, as pupilas dilatadas e a mandíbula tensa.

— Está firme, agora? — perguntou seco, afrouxando a pressão sobre meus braços. — Já enviei Jasper à cidade para soar o alarme.

A expressão de Edward era fria e determinada, porém controlada. E seus olhos estavam dotados de um verde acinzentado como as ondas tempestuosas.

Senti uma forte dor no estômago.

Nunca vi um navio se partir, mas ouvi histórias muito tristes, inclusive a respeito de homens que haviam fracassado na tentativa de resgate. Edward ia ao mar para tentar salvá-los. Deus, ele poderia não voltar.

Conhecendo bem o vazio e a dor de uma perda, os arrependimentos, e desejos de saborear apenas mais um momento, não hesitei. Ergui-me na ponta dos pés e beijei os lábios de Edward, sem me importar que pudéssemos ser vistos.

— Volte — sussurrei, meus lábios ainda de encontro ao deles. — Volte para mim.

Alguma coisa escura e profunda brilhou no olhar dele, algo que não consegui interpretar. Levando os dedos à boca, olhou-me intensamente antes de assentir. Virando-se, ele atravessou o corredor e se foi no meio da tempestade, dentro da noite, para tentar salvar os felizardos que poderiam sobreviver à destruição do navio.


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