A Bella e o Monstro escrita por Leprechaun


Capítulo 10
Capítulo 10


Notas iniciais do capítulo

Escrevi esse capítulo ao som de Deteriorate do Demon Hunter (♥). Para quem estiver interessado:
www.youtube.com/watch?v=3QJwVeuvmjQ
A letra é linda e a melodia me acalma.



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A carruagem rangia, à medida que nós distanciávamos da casa de Gianna. Eu tinha as mãos apoiadas no colo, e minha mente estava ocupada com coisas terríveis e assustadoras.

— Eu a instruí para que ficasse longe de Emmett —Edward falou, suavemente.

— Sim — concordei, virando o rosto para a janela, fingindo interesse na paisagem. — Mas talvez não o tenha instruído para se manter afastado de mim.

Edward suspirou, mas não olhei para ele.

A terra dos dois lados da estrada era estéril e com poucas habitações. Apesar do sol, meu humor era cinzento e austero. As palavras de Emmett tinham sido terríveis. Ele se afastara diante da aproximação de Edward, mas a repulsa que as acusações dele tinham suscitado em mim permanecia.

Era óbvio que queria me assustar. Teria falado a verdade?

—Bella, se ele a tivesse tocado ou ferido, eu teria cortado ambas as mãos dele.

Edward disse apenas meu nome, mas senti o tom de voz mexer com algo no meu coração. Por fim, virei-me para ele. Por um instante, prendi a respiração, e, então as palavras saíram de uma vez:

— Você é hábil com um punhal?

— Extremamente. — Sorriu, cínico. — E com uma arma, e com meus punhos. Houve um tempo em que minha sobrevivência dependia mais dessas habilidades do que da minha inteligência.

Meneei a cabeça, ciente de que aquela admissão nós aproximava de alguma forma, apesar de não saber bem do quê. Edward era franco comigo. Não queria demonstrar o que não era.

Abaixando a cabeça, olhei para as mãos, fechadas com tanta força que os nós dos meus dedos estavam esbranquiçados.

— Não me olhe dessa maneira, Bella. Não pedirei desculpas nem pelo que eu fui e nem pelo que sou.

Eu sustentei o olhar dele. O sol penetrou na carruagem, tocando seu cabelo, beijando as mechas com luzes douradas e brilhantes. Os olhos, sempre mutáveis, eram agora mais amarelos do que verdes. Eu gostava de olhar para ele, duro e másculo, a mandíbula forte sob a barba por fazer, a curva lasciva dos lábios era um convite a beijos.

Era perigosa aquela dor doce e sombria que pressionava meu coração e me fazia desejar tocá-lo e pressionar meus lábios contra os dele. Lembrei-me da visão que tive dele na hospedaria, o peito desnudo e forte sob a camisa aberta à luz do candelabro e...

A risada de Edward arrancou-me dos meus pensamentos.

— Não me olhe desse jeito.

— Oh... —Me remexi no banco da carruagem, desviando o olhar, e me senti enrubescer. Ele podia ler meus pensamentos. — Onde venderá os barris que escondeu na casa de Gianna? Por que os deixou tão longe?

— Não pretendo vender aqueles barris. Eles servirão a outro propósito. Dois coelhos com uma só cajadada.

Franzi o cenho. Que utilidade poderiam ter barris de conhaque a não ser serem vendidos para obter lucro?

Não tive oportunidade para questioná-lo porque a carruagem diminuiu a velocidade e parou. Pela janela, vi dois cavalos na estrada, um sem cavaleiro e outro montado por um homem usando um casaco empoeirado e um chapéu preto caído sobre o rosto.

Tensa, olhei para Edward, que me observava intensamente.

— Você me deixa perplexo, Bella. E me faz sentir... mais leve. Você é esperta e corajosa. E me faz rir. Eu não esperava isso.

Fiquei alarmada, sem saber identificar o motivo e, instintivamente, tentei me afastar, mas era tarde demais. Edward já havia envolvido minha cintura com um dos braços e pressionando-me as costas com o outro. Puxando meu corpo contra o dele.

— Me solta! — meu protesto não soou mais que um sussurro, tentando me desvencilhar do seu aperto.

— Não — murmurou, a boca próxima ao meu ouvido

Então ele me beijou, os lábios famintos, quentes e úmidos.

A língua dele escorregou contra a minha de um modo que me fez ofegar, e as sensações começaram a percorrer-me, aquecendo-me, derretendo-me. Nunca tinha imaginado ser possível deleitar-me tanto ao sentir os lábios de um homem, a respiração que se mesclava à minha, os dedos que se enroscavam em meus cabelos e... respirando pesadamente, Edward se afastou, tenso.

Eu queria abrir a porta da carruagem e sair para o vento frio para poder acalmar o fogo que me consumia. Senti também vontade de chorar e um desejo insano de ficar perto dele.

Franzindo as sobrancelhas, Edward passou os nós dos dedos pelo peito, para cima e para baixo, como se quisesse aplacar uma dor.

— Você... — Meneou a cabeça. — Jasper está armado e atira muito bem. Estará a salvo ao lado dele. Além disso, tem a pistola que eu lhe dei.

Ao ver-me concordar, ele abriu a porta e desceu da carruagem.

Quando o verei de novo?

Tentei me convencer de que não me importava. Pura tolice. Um vento frio me atingiu como um abraço gelado, e eu me inclinei para olhá-lo, confusa, o coração e o corpo ainda vibrando com seus toques.

Edward respirou fundo e fitou-me com intensidade antes de fechar a porta e se dirigir ao cavalo, montando com graça. O animal raspou os cascos no chão e relinchou, e logo os dois cavaleiros partiram.

Observei até que a silhueta dele desaparecesse no horizonte. E, mais uma vez, a carruagem se moveu. Conforme o tempo passava, me cansei de apreciar o mesmo cenário. Comi um pouco, embora não tivesse nenhum apetite. Não podia evitar a preocupação com o bem-estar de Edward. Inquieta, tentei pensar em outras coisas, em vão.

Finalmente, acalmada pela monotonia dos movimentos do veículo, adormeci e, quanto despertei, já era noite. Olhando pela janela, percebi que estávamos na floresta. Por entre a copa das arvores vi o céu escuro e as nuvens que, quando se moviam, deixavam passar a claridade do luar.

De repente, um tiro ecoou em meio ao silêncio da floresta. Apreensiva, inclinei-me para olhar pela janela. Podia ouvir homens gritando na estrada e o berro de Jasper enquanto os cavalos recuavam e relinchavam assustados. A carruagem corria cada vez mais rapidamente e vi a sombra de três cavaleiros. Precisava da pistola. Levei a mão ao fundo da cesta que Gianna havia preparado e peguei a arma.

A carruagem parou. Ouvi um grito e um baque pesado, como se um grande saco tivesse caído no chão. Meu coração acelerou. Jasper teria sido morto e seu corpo jogado na estrada?

Com as duas mãos, apontei a arma para a janela. Um instante depois, a porta foi aberta com força e a luz de uma lanterna brilhou no interior do veículo, cegando-me. Ouvi uma gargalhada e senti meu pulso ser apertado, obrigando-me a largar a arma. Fui arrancada da carruagem por um homem que identifiquei como Laurent, o companheiro de James na noite em que tínhamos chegado à hospedaria.

— Agora não está tão poderosa, sem a proteção do sr. Cullen, não é mesmo? Olhando para James e para mim como se fossemos lixo.

Lutei contra a força com que ele agarrava meu pulso. Olhei para os homens que o acompanhavam antes de procurar por Jasper na escuridão.

— Não me diga que esta é a carruagem de Cullen— disse um dos homens.

Laurent olhou-os, segurando-me contra o peito, apertando a arma sob meu queixo. Eu senti nas costas o outro revólver na cintura dele. Tentava me soltar, mas ele ria e apertava meu pulso cada vez com mais força. Precisava lutar, e sabia que tinha que aproveitar algum momento de desatenção para tirar vantagem.

— Se você tivesse nos dito contra quem iríamos lutar, não teríamos vindo, Laurent. Você é um imbecil se pensa que ele deixará isso passar. — Olhou para o companheiro. — Harry e eu vamos embora. Se tiver um pouco de inteligência, deixe a garota na estrada e fuja, pois ele o matará.

Dito aquilo, os dois se viraram e foram embora, cavalgando rapidamente.

Suspirei quando Laurent virou meu braço e o colocou atrás das minhas costas, os dedos ainda ao redor do meu pulso, torcendo meu braço.

— Por quê? —consegui balbuciar. — Por que está fazendo isso?

— Por quê? — ele grunhiu. — Porque James e eu éramos como irmãos e você fez com que eu o matasse.

— O quê? Eu nunca...

— Cale a boca! Você o incendiou e ele quis possuí-la. Teve que ficar na hospedaria e esperar a noite chegar. Ele ia roubá-la. Eu não entendi o que ele queria com uma vagabunda aleijada, e disse isso a ele. Mas, não... Ele estava determinado.

As nuvens se afastaram e a lua brilhou no céu sobre a copa das arvores. Pelo canto do olho, vi uma sombra se aproximar de mansinho. Jasper não estava morto.

— Determinado a fazer o quê? — perguntei, na esperança de desviar a atenção de Laurent.

— Determinado a ter você! Nós discutimos, nós... Eu apenas queria assustá-lo para que ele desistisse e pudéssemos partir da hospedaria. Mas então, James a viu na janela, virou-se para vê-la melhor e caiu sobre a minha faca. — Ele fez uma pausa, respirando com dificuldade. — Você o matou como se estivesse segurando aquela faca. E agora eu vou matar você.

Naquele momento, Jasper apontou a pistola para as costas dele, mas Laurent se virou, colocando-me entre ele e a arma, e atirou. Para meu horror, vi que Jasper derrubava a pistola e levava a mão ao ombro.

Aproveitando que, devido ao tiro que Jasper também disparara, Laurent me segurava com menos força, virei-me, ergui o joelho fraco e chutei-o do modo como pude. Gritei ante a dor que senti, e minha perna dobrou, fazendo-me tropeçar, mas, naquele momento, ele soltou meu pulso. Ergui a mão e arranquei a segunda arma da cintura dele, dando um passo para trás, esforçando-me para não cair.

Havia sangue no rosto de Laurent. A bala de Jasper passara de raspão na lateral do crânio. Acompanhei os movimentos dele, olhando-o fixamente, percebendo que ele continuava a se mover em direção a Jasper. Com inesperada rapidez e agilidade, Laurent se jogou no chão e pegou a arma de Jasper.

Não se precipite, Isabella. Você tem todo o tempo do mundo. A voz da prima Esme ecoou na minha cabeça.

Segurei a pistola com firmeza, mirei no ombro direito dele e puxei o gatilho. O coice me jogou para trás, fazendo-me perder o equilíbrio e cair no chão. Atirei a arma para longe, sentindo-me nauseada e trêmula. Laurent estava caído, imóvel.

Tentei me levantar, quando me senti ser agarrada pela cintura. Edward Cullen estava de volta.

— Meu Deus, Bella! Está ferida?

Meneei a cabeça, ainda olhando para o corpo imóvel no chão, tremendo.

— Eu... eu o matei? — balbuciei, agarrando ao braço de Edward. — Apenas queria feri-lo.

Edward olhou para o corpo sem vida. Impiedoso.

— Você mirou para ferir, minha Bella. Mas ele ainda tinha uma pistola carregada. Mesmo ferido, poderia ter atirado em você, poderia ter atingido seu coração inocente e corajoso.

— Então... eu o matei?

Edward me puxou contra o peito, abraçando-me e beijando meu cabelo.

— Você mirou para ferir, mas... eu atirei para matar.

Edward tirou o casaco e o pôs ao meu redor, pois eu tremia muito. Mas eu apenas desejava ser abraçada e confortada.

Mais uma vez, ele não permitira que o pesadelo me levasse.

Meus sentimentos eram controversos: alívio por não ter matado um homem, imensa gratidão por Edward ter chegado, e muita preocupação com as palavras dele. Atirei para matar. Quantos homens ele teria matado?

O olhar de Edward percorreu a estrada até pousar em Jasper, que tirava o casaco.

— Espere na carruagem, Bella — ordenou. — Vou cuidar de Jasper.

Ficar sozinha na carruagem escura, dominada pelos pensamentos e medos, a visão de Laurent caindo e morto no chão... Não queria ficar sozinha.

— Deixe-me ficar com você — pedi, agarrando-me ao braço dele.

Nossos olhares se encontraram e achei que ele fosse negar. Por fim, concordou, afastando-se, como se não conseguisse tolerar o contato físico.

— Desculpe-me — murmurei.

A feição endurecida se amenizou, e algo sombrio e primitivo passou pelos olhos dele. Edward emitiu um som estranho, quase um gemido.

— Estou mantendo minha civilidade, Bella. Não me toque novamente ou liberará a besta que vive em mim.

Suspirei, sem me afastar, estremecendo ante a frieza do olhar dele. Mas necessitava da força daquele homem, do seu calor, do seu poder...


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Notas finais do capítulo

Até o próximo!
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