Querido Diário,

São 20 horas da noite, dia 29 de abril. Uma típica terça-feira. O tempo está começando a ficar frio, eu olhei pela janela e não consigo ver nenhuma estrela, então não tem nada lá fora pra narrar aqui. (Sim, ele me fez olhar. Ele disse que a partir de hoje eu tenho que descrever como o tempo está)

Eu estava pensando em me apresentar melhor. Meu nome é Liliane, mas como já deve saber, Pierre sempre me chamou de Lia. Eu me lembro disso. Na época de escola, todo mundo me chamava pelo meu nome, e ele dizia que isso era injusto. Veja bem, ele achava que tinha o direito de me chamar de um nome exclusivamente e particularmente seu, e depois dos apelidos abelinha, Ane e cuti cuti (esse último foi humilhante) ele ficou com Lia mesmo. E só ele me chama assim. É meio patético, mas na época, ele queria porque queria mostrar pra todos que ele era meu melhor amigo, que eu gostava mais dele do que de todos. Eu tinha até me esquecido disso.

Ele anda me infernizando pra descrever com todos os detalhes como está sendo meu dia. Ás vezes eu acho que ele pede demais. E qual é o problema se eu xinguei Matt? Não vejo como isso muda sua vida.

Meu dia começou ontem. De madrugada. Ele apareceu na porta do meu quarto segurando uma caixa de pizza e refrigerante. E o melhor de tudo é que essa pizza não estava congelada! E passamos o resto da noite jogando videogame. Foi até legal. Estamos nos comportando como duas crianças, isso sim.

Então, aproximadamente 6 da manhã (até o horário tenho que anotar. Por que ele quer que eu preste atenção até nas horas?) ele me fez tomar um banho, me arrumar (ele escolheu minhas roupas. Isso não é constrangedor?).

Só seria constrangedor se eu escolhesse suas roupas íntimas.

Desculpe, diário, por esse momento tão constrangedor. Ele é assim, cheio de gracinhas. Nós passamos o dia andando pelo centro da cidade, almoçamos no shopping e partimos pra um cinema. Sinto muito, mas não consigo me lembrar do nome do filme. Eu juro que tentei prestar atenção, mas é que... Você não quer pensar em uma coisa e ela vem. É isso.

Foi legal o dia. Se ele não tivesse me levado pra sair, a única coisa que eu poderia escrever é o quão chato foi o meu dia. O quanto ele teria sido uma merda.

Eu estou sentada no sofá e ele está em outro. Eu tive que obriga-lo a sentar longe porque ele estava atrás de mim lendo o que eu escrevia. Uma coisa é ele ler tudo isso depois, quando eu não estiver perto. Outra coisa é ele ler AGORA.

Ps: Eu só vou dar o diário a ele quando ele for embora. Isso foi uma indireta.